A recém-criada Subprefeitura de Paranapiacaba deu início ao trabalho anunciado de colocar a Vila Inglesa no rumo da verdadeira vocação: o turismo. Mesmo tímida, a primeira iniciativa da nova estrutura administrativa sinaliza que Paranapiacaba poderá, enfim, deixar de ser um amontoado de casas de tijolos europeus abandonadas em meio a vagões velhos e enferrujados. A Praça de Lazer, evento que começou a ser realizado aos domingos no mês passado, tem reunido sete mil pessoas, mais do que o triplo do movimento normal, segundo avaliação do subprefeito João Ricardo Guimarães Caetano. "É o primeiro passo da pauta de um calendário turístico" -- promete.
Ex-diretor de Gestão Ambiental do Semasa, João Ricardo Caetano assume a inédita experiência de uma Subprefeitura responsável pelas áreas de mananciais de Santo André, que correspondem a cerca de 50% dos 174,38 quilômetros quadrados do Município. Abrange Paranapiacaba e Parque Andreense. Com status e autonomia de secretaria, a Subprefeitura integra o novo organograma que o prefeito Celso Daniel promove em sua terceira gestão. Diferentemente das mudanças conduzidas em 1997, a reforma aprovada pelo Legislativo no final de 2000 é muito mais conceitual do que estrutural. Ou seja, não interfere propriamente no desenho hierárquico. Em vez de cortes e remanejamento de pessoal, pretende dar nome correto às atribuições de cada instância do governo. Para garantir mobilidade às ações voltadas especificamente para Paranapiacaba e Parque Andreense, a Subprefeitura tem orçamento e Copel (Comissão Permanente de Licitação) próprios. Também dispõe de carros e equipes exclusivas.
Sempre lembrada quando o assunto é desenvolvimento e fomento da indústria de turismo do Grande ABC, Paranapiacaba há anos encontra-se envolta em litígios e propostas que não permitem livrar o patrimônio histórico da deterioração. Tombada pelo governo estadual, a Vila acolhe estação ferroviária e cerca de 300 casas construídas pelos ingleses para abrigar os funcionários da então São Paulo Railway Company. Edificadas em madeira, telhas e tijolos importados da Europa, as casas têm mais de 100 anos e estão abandonadas no tempo junto com os vagões largados no pátio da estação central. "Queremos implementar o turismo em Paranapiacaba mesmo antes de iniciar a restauração da Vila Inglesa" -- planeja João Ricardo.
A Praça de Lazer foi o primeiro passo. O seguinte será a realização de eventos mensais. Neste mês será a vez do Baile de Carnaval, que em Paranapiacaba pede máscaras e muita fantasia. Em março entra em cena a Copa Paulista de Trakking. Os eventos já eram realizados e prometem ganhar, a partir de agora, maior envergadura e serão mais bem divulgados, segundo João Ricardo. "O objetivo é o turista externo" -- planeja.
Desde que assumiu a Subprefeitura, João Ricardo articula conversas com as administrações de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra para desenvolvimento de atividades de turismo integrando os três municípios. "Esses contatos são imprescindíveis para se implementar ações viáveis à região, pois apostamos em projetos exequíveis" -- afirma o subprefeito. A preocupação com a viabilidade das propostas não é por acaso. O que não falta para Paranapiacaba são idéias e boas intenções. Beto Carreiro World protocolou em 1998 junto à Rede Ferroviária intenção de instalar parque temático nas proximidades da Vila. O Fórum da Cidadania pensou em criar uma fundação de direito privado sem fins lucrativos para cuidar dos assuntos de Paranapiacaba.
O que fazer com toda a parafernália de elucubrações sobre o melhor destino para a Vila Inglesa? João Ricardo Caetano é categórico: "As negociações com a Rede Ferroviária Federal continuam a cargo da Secretaria de Desenvolvimento Urbano". Desde dezembro de 1999, um dos principais empecilhos para restaurar a Vila caiu com a liquidação da RFFSA e a Vila foi colocada à venda. "A proposta de Santo André é recuperar o patrimônio arquitetônico por meio de parcerias com a iniciativa privada e dar início ao desenvolvimento sustentado da região" -- expõe o subprefeito. Paranapiacaba está entre os 100 patrimônios sob risco de desaparecer do mapa listados pelo World Monuments Fund e espera financiamentos internacionais. Quanto aos tantos outros planos para a Vila, o subprefeito garante que irá analisar todas as propostas apresentadas, separando projetos de conversas bem intencionadas.
Para recolher o máximo de informações sobre os anseios da população de Paranapiacaba e também do Parque Andreense, o subprefeito foi literalmente de porta em porta se apresentar e ouvir os moradores. "Nesses encontros expliquei sobre as mudanças que vão ocorrer" -- pontua.
Para João Ricardo Caetano, o desafio à frente da Subprefeitura é ao mesmo tempo prazeroso e gigantesco. Significa atentar para que novas ocupações irregulares não ocorram e ao mesmo tempo conscientizar a população das responsabilidades de morar em reserva ecológica e preservar as residências, já que muitas vêm sendo reformadas e descaracterizadas. A dificuldade da tarefa não intimida o subprefeito. Além da militância verde, o engenheiro agrônomo João Ricardo Caetano está familiarmente vinculado à região, em especial Paranapiacaba, onde o avô João Caetano, então maquinista da São Paulo Railway Company, conheceu Maria Carmela, nascida na Vila Inglesa, e deu início à família Abbamonte Caetano.
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