O Programa Integrado de Inclusão Social aplicado desde 1997 era uma preciosidade para Celso Daniel. Por isso, é possível imaginar o entusiasmo com que se apresentou em junho do ano passado na Conferência Istambul + 5 promovida pelo Habitat (Centro das Nações Unidas para Assentamentos Humanos), em encontro que também reuniu projetos realizados no Peru, Colômbia, França, Espanha, China e Índia. O encontro foi em Nova York e avaliou os resultados obtidos a partir da primeira reunião, Habitat 2, em 1996, na Turquia.
A administração de Celso Daniel apresentou na Habitat programa que envolve quatro das 137 favelas de Santo André: os núcleos Capuava, Tamarutaca, Sacadura Cabral e Quilombo II. Com investimentos de R$ 34 milhões acumulados até meados do ano passado, o Programa Integrado de Inclusão Social reúne 17% da população favelada da cidade. O financiamento do projeto tem relação direta com as viagens internacionais de Celso Daniel, nem sempre compreendidas por quem acha que os limites geográficos do Município devem ser rigidamente obedecidos: o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) entrou com 18%, a União Européia com 15%, o governo federal com 16,8%, o governo estadual com 0,2%, ONU (Organização das Nações Unidas) com 0,02% e Prefeitura de Santo André com quase 50%.
Celso Daniel resumia com simplicidade o espírito do programa que idealizou: "O problema da exclusão social está concentrado, mas não localizado nas favelas. A urbanização não garantia que as pessoas saíssem do cenário de exclusão social".
O programa aplicado nas quatro favelas é composto de nove projetos complementares: Renda Mínima, Urbanização Diferenciada, Saúde da Família, Alfabetização de Jovens e Adultos, Banco do Povo, Incubadora de Cooperativas, Santo André Recicla (reciclagem de lixo), Criança Cidadã (assistência a menores carentes), Empreendedor Popular e Ensino Profissionalizante. Trata-se de modelo de ação pública que simboliza o modo com que Celso Daniel interpretava a própria essência de cidadania, isto é, de complementaridade.
A favela Sacadura Cabral recebeu a obra de maior porte. Um agrupamento de 800 famílias assentadas em terreno abaixo do nível do córrego vizinho sofria com as enchentes. Foi preciso remover as famílias por etapas para residências provisórias, enquanto a área era alteada com aterro. As dificuldades de implantação do programa passavam inclusive pelo tráfico de drogas. O apoio da população de cada núcleo foi uma resposta de participação que Celso Daniel esperava.
Também o Programa de Modernização Administrativa ganhou reconhecimento tanto regional quanto internacional. Além de conquistar o troféu de Melhores do Ano do Prêmio Desempenho, da Editora Livre Mercado, chegou entre os 20 melhores do programa Gestão Pública e Cidadania, da Fundação Getúlio Vargas.
Sob comando da então secretária de Administração Miriam Belchior, o programa mudou a forma de funcionamento da máquina pública sob a perspectiva de melhoria da qualidade dos serviços prestados à população. Distribuída em quatro vertentes, a modernização administrativa inclui a valorização dos servidores por meio de treinamento e capacitação, total informatização, melhoria do ambiente de trabalho e criação do cargo de ombudsman.
O orçamento participativo foi outra marca da preocupação de Celso Daniel no relacionamento com a comunidade. Trouxe para Santo André um dos especialistas no assunto, Pedro Pontual, e atribuições múltiplas, de relacionamento permanente com várias secretarias municipais.
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11/07/2022 Caso Celso Daniel: Valério põe PCC e contradiz atuação do MP