Secretário de Serviços Municipais da Prefeitura de Santo André e potencial multissecretário da administração de Celso Daniel, Klinger Sousa resolveu congelar os planos pessoais e políticos. A morte do líder que o levou para a política partidária e a carnavalização de insinuações maliciosas que marcaram o noticiário da mídia colocaram Klinger Sousa em estado de paralisia. De candidato preferido do comando do Paço de Santo André até o 18 de janeiro em que o prefeito foi sequestrado na Capital, o secretário tornou-se um homem assustado e entristecido.
Engana-se, porém, quem considera que esse arquiteto e urbanista pós-graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e também pela Fundação Santo André em Administração Pública esteja no córner de um ringue imaginário. Vereador mais bem votado nas últimas eleições, Klinger Sousa está tomando fôlego do desgaste que ele e amigos mais próximos do prefeito sofreram com a série de arremetidas diversionistas que os governos estadual e federal produziram para tirar de foco a falência da segurança pública.
Por mais que tenha sofrido com a divulgação maciça de que a cúpula do governo de Santo André estaria na trilha das investigações de suspeitos da morte do prefeito, Klinger Sousa afirma que nada se compara à perda do maior homem público que o Grande ABC já produziu. Por isso, confia que a melhor maneira de homenagear aquele que ocuparia um Ministério em eventual governo de Lula da Silva é referenciá-lo em todas as atividades públicas e pessoais. "Sou um produto de Celso Daniel" -- define-se, enquanto brinca com a filha caçula Helena, de sete meses.
Havia projeção, baseada nas tendências de relacionamento do prefeito Celso Daniel com o secretariado e com sua equipe de ação estratégica, que o senhor seria o potencial sucessor na administração de Santo André, como candidato em 2004. Também se planejava sua participação no programa de governo do candidato Lula Inácio da Silva, como integrante da equipe de Celso Daniel. O que o assassinato do prefeito significa em sua trajetória?
Klinger Sousa -- A perda do Celso Daniel provoca prejuízos para a política de Santo André que ainda não pudemos avaliar. Acho que vai demorar bom tempo para que se tenha a verdadeira noção do tamanho da ausência de Celso Daniel. Não estou me referindo apenas à perda para o Partido dos Trabalhadores ou para a administração da cidade. Estou falando de perda no sentido político mais amplo, de organização dos partidos de oposição no País. O crescimento político de Celso Daniel para além das fronteiras da região dava a ele uma credibilidade que se irradiaria para a política de Santo André como um todo.
No meu caso, ao prejuízo político geral que todos vão sentir se agregam outros estragos de natureza estritamente pessoal. Perdi a liderança que me motivou a entrar na política. Perdi num sentido filosófico -- não coronelístico, como é comum no Brasil -- um padrinho político de natureza ideológica e de prática administrativa. A perda do Celso Daniel significa para mim a perda do rumo. O sentido de minha ação política estava concatenado com os ideais do Celso Daniel. Por isso sinto um vazio muito grande. Não tenho no momento perspectiva clara de como vou superar a situação.
Você se sente um órfão político do Celso Daniel?
Klinger Sousa -- Sem dúvida nenhuma. Sinto ausência de perspectiva e falta do que colocar no lugar. Nunca assumi um projeto pessoal porque fazia parte de um grupo do Celso. O projeto era do Celso. Minha ação política estava orientada no sentido de colaborar para o crescimento político do Celso.
Qual seria sua função de assessoria ao prefeito na campanha presidencial de Lula da Silva?
Klinger Sousa -- Conversamos em três oportunidades e estava se desenhando o que chamaria de assessoramento no campo operacional. Muito embora acabasse por me envolver, como os demais secretários, na formulação de determinadas políticas públicas, a contribuição que discutimos com maior detalhe estava limitada ao campo operacional. Eu era responsável por encontrar um local para montar o escritório do programa de governo de Lula. Já estávamos em negociações com o partido e a imobiliária para estabelecer o aluguel da casa. Cuidaria também da seleção da equipe operacional, como secretária executiva e assessor de Imprensa, entre outros, assim como da contratação da empresa que faria a gestão dos serviços de informática. Enfim, cuidaria de toda infra-estrutura de recursos humanos e materiais. E certamente contribuiria com o Celso Daniel na organização de seminários regionais que ele já estava estruturando.
Isso significa que a partir da extroversão política de Celso Daniel o senhor também passaria a ter contato maior com a cúpula estadual e com a cúpula federal do PT, com as quais hoje não tem muita relação?
Klinger Sousa -- Seria natural que isso acontecesse e era algo que também me animava. Afinal de contas, minha militância partidária remonta a 1990 (me filiei em 1991), o que significa que sou um petista da segunda safra, como tantos outros. Por isso, não tenho esse relacionamento com grandes lideranças do partido.
Que caminho imagina que Celso Daniel, neste momento, estaria imaginando para o senhor? O senhor conhecia o prefeito de tal forma que seria possível imaginar o que ele gostaria que fizesse nestas circunstâncias?
Klinger Sousa -- Já me peguei pensando nisso. Na verdade, o Celso foi uma figura sempre ponderada do ponto de vista político. Aliás, éramos muito diferentes. Acho que a oportunidade de termos nos aproximado derivou exatamente das posturas diferentes em relação à vida, à política, às questões administrativas.
Quais eram as diferenças mais pronunciadas?
Klinger Sousa -- Celso Daniel era um intelectual, de pensamento refinado, de elaboração bastante sofisticada de idéias. Ele trabalhava com a perspectiva de planejamento de médio e longo prazo. Refletia muito todas as ações. Era um verdadeiro enxadrista, aquele que faz um movimento mas já antecipou o terceiro, o quarto e o quinto lances. Sempre fui mais atirado, mais pragmático, mais objetivo, no sentido de não pensar nas consequências. Enfim, sempre fui mais arrojado. Quando nos colocávamos diante de determinado problema, minhas opiniões iam sempre no campo da obviedade, do senso comum, enquanto ele sempre puxava para o entendimento, para uma análise de consequências. Sempre era mais ponderado.
Quer dizer que essas diferenças acabavam por se complementarem?
Klinger Sousa -- Diria que tínhamos um trabalho comum que reunia essa fertilidade. Como tínhamos idéias antagônicas, reuníamos a oportunidade de exercitar os dois lados da mesma moeda.
O senhor acha que Celso Daniel acabou absorvendo seu pragmatismo e o senhor o senso de planejamento dele?
Klinger Sousa -- Gostaria de ter absorvido muito mais do senso de planejamento, da ponderação e do intelecto de Celso Daniel para a política. Infelizmente, essa tragédia toda tirou essa oportunidade. Voltando à questão anterior, acho que Celso estaria me recomendando que não seguisse meus instintos mais imediatistas. Provavelmente ele me pediria calma. Algo como dar tempo ao tempo, porque o tempo sempre trabalha a favor. Acho que ele estaria dizendo para eu esperar os acontecimentos.
A impressão é que o senhor terá sempre o fantasma de Celso Daniel, no sentido positivo da metáfora, a orientá-lo. O senhor acha que acabará exercitando no pós-morte de Celso Daniel muito do que não teve oportunidade de praticar quando ele vivia?
Klinger Sousa -- Vou tentar considerar sempre a lembrança do Celso para ponderar iniciativas mais imediatistas, mais arrojadas. Não vou esquecer, por exemplo, que o Celso Daniel jamais tomava uma decisão na hora em que se apresentava o problema, mesmo que a decisão fosse óbvia. Se estivesse tomando o primeiro contato com o problema, ouvia atentamente e pedia um tempo. Tenho a impressão de que muitas vezes ele nem voltava a pensar no assunto. Ele pedia um tempo só por método. Não discutia com ninguém aquele assunto e só voltava a pensar quando era instado a isso. Acho que preciso aprender essa estratégia de não oferecer resposta de bate-pronto. Essa é uma prática madura, ponderada, inteligente do ponto de vista da política, que preciso aprender.
Levando-se em conta esse traço do Celso Daniel de postergar decisões mesmo que aparentemente óbvias, em algum momento durante o sequestro o senhor imaginou que pudesse acontecer o que aconteceu? Como imaginou o comportamento de Celso Daniel durante a fase de sequestro?
Klinger Sousa -- Fiquei preocupado com o desenrolar dos fatos. Se por um lado o Celso tinha todo o brilhantismo intelectual, por outro, talvez até como consequência disso, ele tinha uma dificuldade muito grande de lidar com as coisas práticas. A impressão que eu tinha é que ele ficaria absolutamente sem iniciativa durante todo o processo.
Acha que ele não opôs resistência aos sequestradores?
Klinger Sousa -- Ele certamente não opôs qualquer resistência. O prefeito era absolutamente pacífico, incapaz de levantar a voz e de exercer qualquer gesto de rivalidade, de ódio. Era absolutamente de paz. Fiquei particularmente preocupado com os desdobramentos do sequestro quando a mídia intensificou a cobertura, quando a Polícia Federal interveio. Desconfiava que se os sequestradores não soltassem o Celso Daniel na primeira noite, certamente fariam alguma maldade. Passamos aquela noite em vigília telefônica. Ficamos eu e o Sérgio Gomes num lugar reservado, evidentemente com os telefones ligados, com orientação da polícia, aguardando qualquer tipo de contato dos sequestradores e monitorando as ações da Polícia Civil e Militar, com as quais trocávamos informações. Tudo isso na expectativa de que o sequestro seguiria a rotina convencional.
O senhor tem alguma dúvida sobre a tipologia do sequestro?
Klinger Sousa -- Sou muito aconselhado a não emitir opiniões sobre isso. Acho que é da natureza da ação policial investigar todas as hipóteses, das mais estapafúrdias até as mais lógicas. Entretanto, o conhecimento que tenho dos fatos e o acompanhamento da vida de Celso Daniel me dão a convicção de que se tratou de um sequestro que já aconteceu às centenas no Estado de São Paulo. Um sequestro de uma pessoa que estava num bom carro e que poderia, três, quatro dias depois, oferecer recursos para libertação.
O que foi mais difícil nesse período todo: o sequestro em si, o pós-sequestro com a morte ou o desdobramento policial com uma série de versões que inclusive transformaram o grupo político mais próximo do prefeito, o senhor incluído, como suspeito de participação?
Klinger Sousa -- Sem a menor dúvida, o momento do anúncio da morte de Celso Daniel, quando a confirmação nos chegou por volta das 11h15 da manhã de domingo, 20 de janeiro. Desde as 8h, conforme versão da Polícia Militar, tínhamos a informação do encontro de um corpo que supostamente seria do Celso. Mas a confirmação da identidade só ocorreu mais tarde. Havia uma série de desencontros nas informações, inclusive quanto à descrição da roupa que o Celso usava, porque até então trabalhávamos com a declaração prestada pelo Sérgio Gomes.
O que veio depois do anúncio da morte, sobretudo a cobertura de parte da mídia, representou sério desgaste psicológico à equipe de governo mais próxima do prefeito?
Klinger Sousa -- Sem dúvida. Todos nós, particularmente eu, temos lamentado o desenrolar dos noticiários. Me senti injustiçado como cidadão e tolhido no direito de reagir a esse tipo de opressão. Infelizmente, não encontrei na sociedade mecanismos que me permitissem reagir a esse tipo de linchamento público, a esse justiçamento sumário que submeteram a mim e a algumas pessoas, envolvendo-nos nessa histórica como pseudos planejadores da morte do prefeito, como eventuais suspeitos de problemas administrativos encontrados na Prefeitura. Como se tudo isso fosse novidade que tivesse vindo à tona para escandalizar toda a sociedade brasileira.
Na verdade, as versões relativas a questões administrativas são velhas, sobejamente exploradas na campanha eleitoral de deputado em 1998 e de prefeito em 2000. Versões discutidas à exaustão pela mídia regional, mas que não haviam ganhado a amplitude e as distorções na mídia nacional até que ocorresse a morte de Celso Daniel e apresentadas como se fossem verdadeiras e atuais. Hoje a Imprensa não trabalha mais com as hipóteses que nos atingiram, mas me sinto prejudicado porque não tive oportunidade de responder às acusações. Não sei quanto tempo vai demorar, mas estou buscando na Justiça a retratação, mesmo que, sem dúvida, essa medida não reponha o mal causado.
O senhor acha que o comportamento especulativo de parte da mídia está relacionado a eventuais tentativas do governo estadual de tirar o foco da improdutividade das investigações ou se deve à antecipação eleitoral de 2004 em Santo André, patrocinada por alguns setores da oposição?
Klinger Sousa -- Há combinação de três fatores. Primeiro, trata-se de movimento que antecipa as eleições nacional e estadual de 2002, na medida em que o assassinato de Celso Daniel acabou sendo politizado e se transformou numa bandeira de luta do PT contra a onda de violência que assola em particular o Estado de São Paulo, mas que de resto atinge todas a regiões metropolitanas do País. Na medida em que estava vacinado contra o assassinato do Toninho (Antonio da Costa), prefeito de Campinas, e a polícia não apresentava solução satisfatória, o PT rapidamente apresentou argumentos políticos que trouxeram para o âmbito do partido a denúncia da situação de insegurança que se deve à inoperância do Estado e do governo federal. Num primeiro momento, foi essa ação política que provocou reação. E essa reação foi no sentido de tentar trazer à tona questões de natureza administrativa que pudessem mostrar à opinião pública que os problemas estavam aqui dentro da administração do PT. Que os problemas eram originados da administração do prefeito Celso Daniel, dos amigos do prefeito Celso Daniel, do grupo com o qual ele se relacionava. Procurou-se, dessa forma, mostrar que o PT estava envolvido com a morte do Celso Daniel.
A segunda questão é o enredo. A mídia focada no interesse do público encontrou nessa história toda um enredo fabuloso, dos amigos que traem, dos amigos de negócios escusos, toda essa fantasia que carrega um gosto muito popular e que atende aos interesses mercantilistas dos meios de comunicação em geral.
A terceira questão envolve aspectos de natureza político-partidária local e regional, que deram conta de oportunizar a tragédia para obter vantagens políticas, queimando esta ou aquela figura que por ventura estivesse contrariando seus interesses. Por isso que acabamos atingidos.
As eleições de 2004 já foram antecipadas em Santo André?
Klinger Sousa -- Acho que não. A morte de Celso Daniel coloca o horizonte de 2004 muito distante de todos nós, contrariamente à análise de quando estava entre nós. A presença do Celso à frente do governo de Santo André sinalizava para a sociedade uma gestão exemplar e, portanto, deixava demarcada a trajetória que faríamos até 2004. O debate estava bastante antecipado na medida em que se sabia quais eram os atores que estavam sendo trabalhados do ponto de vista político. A morte do Celso amplia os horizontes. Joga 2004 para muito longe. Muita coisa ainda vai acontecer. Dizer que todo o desgaste gerado com a morte do Celso vai definir o quadro para 2004 é exercício de futurologia, de adivinhação.
Independentemente da exploração policial do caso, feita de forma oportunística segundo avaliação de representantes da própria mídia, o senhor não considera que a ausência de Celso Daniel como grande condutor da candidatura petista em Santo André fortalece a oposição?
Klinger Sousa -- Ouvi de um vereador frase que retrata bem a situação: Celso era um jogador brilhante, mas não conseguia jogar sozinho; precisava dos 11 em campo, embora ele sozinho fosse meio time. O PT de Santo André era um conjunto harmônico. O Celso sozinho não faria o que fez, mas o Celso dentro do PT era meio time. Hoje temos meio time em campo. Ou seja, temos meia potência.
Então a oposição ganhou com a tragédia?
Klinger Sousa -- A oposição ganhou.
Esse meio time do PT em campo é um time unido ou desunido?
Klinger Sousa -- É um time unido.
Ivone de Santana, namorada do Celso Daniel, declarou ao Diário do Grande ABC que colocou parte do PT de Santo André como alimentador das informações que atingiram o partido após a morte do prefeito. Isso não significa que o PT estaria desunido?
Klinger Sousa -- Não quero crer que uma parte dessas ilações veiculadas na grande mídia tenha partido do PT de Santo André, porque seria um desrespeito não só à figura política mas à memória do Celso. Tripudiar sobre uma tragédia dessas para obter dividendos políticos é algo que não quero acreditar. Entretanto, é fato que muitas das informações trabalhadas pela mídia foram ventiladas como originárias de parte da oposição interna do partido. Mesmo diante disso, penso que o PT vai estar unido porque todos têm consciência de que temos meio time. Portanto, precisamos de unidade para construir, a partir disso, um potencial de 70% a 80% para enfrentar os opositores em 2004.
Isso quer dizer que o PT corre o risco de perder as eleições municipais de 2004?
Klinger Sousa -- Acho que se a oposição se organizar e apresentar projeto alternativo, vai ser uma disputa dura. Só não digo que corremos o risco de perder porque a oposição em Santo André não teve nenhuma condição de apresentar projeto político para a cidade. E não será a ausência de Celso Daniel que vai criar as condições para isso. Uma coisa é nos transformarmos em meio time; outra coisa é essa realidade ser elemento que faça com que surja uma cabeça pensante que tenha projeto de futuro para a cidade no âmbito da oposição. A realidade é que a oposição em Santo André não se renova e, quando faz um movimento de renovação, se direciona para algo açodado e desbaratado, como foi o caso de trazer um alienígena, como o Celso Russomanno, para disputar as eleições aqui. Isso quer dizer que, mesmo com meio time, temos muito mais condições de oferecer segurança administrativa à cidade do que a oposição.
Esse meio time do PT não tem excesso de candidatos ao título de capitão do grupo?
Klinger Sousa -- É natural que numa situação de perda de grande liderança, que mantinha em torno de si interesses contraditórios, comecem a despontar formas de polarização de forças. Vai depender muito de todos nós amadurecer o conceito de que nossa força depende do coletivo. Algumas vaidades pessoais vão ter de ser colocadas de lado. Eu próprio estou me colocando entre aqueles que se dispõem a deixar de lado qualquer tipo de pretensão, de ambição e de vaidade pessoal, e fazer uma reavaliação do processo à luz da atual realidade, a realidade do PT sem Celso Daniel.
Sem Celso Daniel você deixará de participar do programa de governo do candidato do PT à Presidência da República porque o partido escolherá novo coordenador. Em Santo André, o senhor vai ser mantido nas funções de espécie de supersecretário que o prefeito havia definido, convencendo-o a desistir da disputa à Assembléia Legislativa, ou vai ficar mais diretamente ligado à Secretaria de Serviços Municipais?
Klinger Sousa -- Temos em Santo André um governo sob nova direção e sob comando agora do prefeito João Avamileno. Ele tem se reunido individualmente e também com o conjunto do secretariado para afinar a equipe de modo a que retome o trabalho e a energia colocados em prática na administração de Celso Daniel. Isso significa que vou continuar um secretário que vai colocar o máximo de empenho no âmbito da Secretaria de Serviços Municipais. Não pretendo, a não ser que convocado pelo João Avamileno, transcender minhas funções. Minha secretaria já é bastante volumosa e já dou minha contribuição.
Sua candidatura a deputado estadual, demovida pelo prefeito Celso Daniel que o queria mais próximo dele, vai sofrer reavaliação?
Klinger Sousa -- Essa candidatura está totalmente desgastada por causa de interpretações que a Imprensa deu a algumas reflexões iniciais que fiz sobre o processo, quando me referi à revisão de meu papel político diante da ausência de Celso Daniel. Não me referia à revisão da decisão de tocar uma candidatura. Não tenho do ponto de vista pessoal nenhuma condição de enfrentar uma candidatura agora. Estou muito abatido, tomado por profunda tristeza que vai demorar para passar. Isso é absolutamente incompatível com a possibilidade de disposição pública, de discursos, de eventos e de ações que uma candidatura exige. Jamais me passou pela cabeça a possibilidade de retomar a candidatura de deputado estadual. É óbvio que me passou pela cabeça dar outros rumos à minha ação política, e eventualmente até retomar o mandato de vereador, sair do governo, enfim, outras coisas que rediscuti e verbalizei.
O que o senhor mais quer com relação ao assassinato do prefeito?
Klinger Sousa -- Que a Polícia descubra os assassinos. Será um grande alívio, porque teremos condições de virar essa página definitivamente e partir para uma ação de resgate de todo o acúmulo do legado de Celso Daniel, de forma a transcender e efetivar sua memória em Santo André e no Grande ABC. Do ponto de vista pessoal, vai ser um grande alívio. Vai ser uma resposta mais do que absoluta contra todas as suspeições lançadas contra meu nome e dos amigos do prefeito.
Qualquer candidatura à qual o senhor se lance no futuro poderia colocá-lo entre a cruz e a caldeirinha. Se não usar a imagem de Celso Daniel como avalizador de seu nome à Prefeitura de Santo André, por exemplo, estaria alimentando aquele eleitorado desinformado e instrumentalizado pelas suspeições de encomenda à Polícia. Por outro lado, o senhor dispõe de fotos ao lado do prefeito que poderiam ser utilizadas como marketing eleitoral, mas seriam eventualmente interpretadas como oportunísticas. O que fazer?
Klinger Sousa -- Hoje não me imagino candidato a nada. Sou apenas secretário municipal pronto para colaborar com o governo João Avamileno. Entretanto, jamais vou me posicionar publicamente sobre qualquer coisa sem usar referências de Celso Daniel. Estou repetindo: vou usar referências de Celso Daniel. Simplesmente porque me considero produto do Celso Daniel. Fui forjado junto a ele e a partir dele.
O senhor se considera um discípulo de Celso Daniel?
Klinger Sousa -- Exatamente. Discípulo seria a palavra exata. De maneira alguma não tenho como não usar isso. Seria uma forma de prestar-lhe homenagem. É a maneira que terei de referenciá-lo em todas as ações que venha a tomar em todos os campos.
Faria isso independente do que ocorreu pós-assassinato?
Klinger Sousa -- Sem dúvida.
Se tivessem sido descobertos os assassinos no dia seguinte e nada daquelas bobagens fossem divulgadas, sua atitude seria a mesma?
Klinger Sousa -- Sem dúvida. É uma forma de homenageá-lo.
Dentro do PT, entre as eventuais candidaturas ao governo municipal de Santo André em 2004, há outras pessoas que poderiam contar com esse legado de Celso Daniel?
Klinger Sousa -- O próprio João Avamileno sempre esteve junto conosco, desde as eleições em 1992, quando perdemos a indicação do Antonio Carlos Granado para José Cicote. Ele também tem todas as condições de reivindicar esse legado?
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10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira