Política

Resultado está
escrito nas estrelas

VERA GUAZZELLI - 05/03/2002

Ciro Gomes e Anthony Garotinho disputarão o segundo turno das eleições presidenciais deste ano. A previsão está escrita nas estrelas. Ou melhor, na Lua, em Júpiter e em Plutão. O astrólogo Wilson Rosa, de Santo André, utilizou informações fornecidas pelos astros que regem a política e a população para produzir estudo inusitado sobre o resultado das urnas em outubro próximo. Depois de analisar e cruzar informações do mapa astral dos cinco principais candidatos à sucessão de Fernando Henrique Cardoso, o astrólogo apresenta conclusão que contraria o cenário atual, as análises de especialistas em marketing político e as projeções dos principais institutos de pesquisa do País.

Não se trata de adivinhação nem de premonição. Wilson Rosa integra o Conselho Deliberativo de LivreMercado, é engenheiro civil de formação e estuda astrologia há 40 anos. Aprendeu a decifrar os enigmas do universo com o pragmatismo de quem soluciona fórmulas matemáticas porque abomina o estereótipo derivado da utilização indevida da ciência que estuda os astros. Com o precioso auxílio da estatística, tem se debruçado a construir projeções eleitorais astrológicas desde 1989, quando Fernando Collor de Mello venceu Lula na primeira eleição direta para presidente da República após a ditadura militar. "Acertei o resultado das três últimas eleições presidenciais" -- garante Wilson Rosa, que constrói os estudos com base em informações e datas que recolheu do mapa astral de cada candidato publicado no site www.arvoredobem.com.br, espécie de espaço virtual oficial do mundo esotérico. 

Se a lei das probabilidades compactuar com o astrólogo, as possibilidades de acertar mais uma vez são bastante reais. E se o mapa de resultados das eleições de 2002 cair nas mãos de Luis Inácio Lula da Silva, o candidato do PT passará a imaginar que o Universo conspira contra ele.  A previsão de Wilson Rosa não descarta Lula do segundo turno, mas prevê dificuldades para o petista que até agora lidera a corrida presidencial. Travará disputa recheada de altos e baixos com Anthony Garotinho que, de acordo com a última pesquisa Datafolha, já estaria empatado em segundo lugar com o ex-ministro José Serra e a governadora Roseana Sarney. Roseana, por sua vez, deve cair na mesma proporção em que o cearense Ciro Gomes arranca rumo ao Planalto. O próprio PFL já cogita descartar a candidatura de Roseana para apoiar Ciro Gomes.

As duas situações são apenas as interpretações mais visíveis do trabalho de Wilson Rosa. O gráfico do astrólogo projeta as possibilidades que os candidatos teriam de vencer as eleições em oito datas diferentes distribuídas entre o período de 15 de março e 6 de outubro. O curioso é que o estudo foi elaborado 10 dias antes do escândalo que envolveu Roseana Sarney e o marido Jorge Murad. Segundo o mapa, se a eleição fosse em 15 de março, Roseana seria a segunda colocada, atrás de Serra, justamente o candidato que mais se beneficiou com a confusão maranhense. A pesquisa Datafolha, feita após as denúncias, mostra que Serra subiu sete pontos, numa reviravolta do quadro eleitoral. 

Se alguém tentar estabelecer alguma lógica entre o que indicam as pesquisas e o que está relatado na previsão astrológica terá de convencer-se de que realmente existem muito mais coisas entre o céu e a terra. Segundo o mapa, o verdadeiro inferno astral de Roseana Sarney só começaria em meados de julho, acentuando-se no mês seguinte, praticamente às vésperas do horário eleitoral gratuito na TV. Fica difícil entender o que os astros querem dizer com isso, mas, em tese, seria o período necessário para que as denúncias surtissem efeito negativo. 

Roseana se projetou após ocupar massivamente o programa de TV de seu partido e não dispõe mais de tempo oficial antes do horário eleitoral. Ciro Gomes, que ainda não deu a cara a bater, poderia se beneficiar dessa ausência, principalmente por causa da retórica contundente e persuasiva, enquanto Lula teria nos calcanhares o populismo do homem que fez propaganda do Piscinão de Ramos até em novela da Rede Globo. José Serra aparece bem no período imediatamente após o lançamento de sua candidatura, mas depois segue em queda livre. 

Se as eleições tivessem ocorrido no último dia 13 de março, o Datafolha previa que Luis Inácio Lula da Silva lideraria com 25%, seguido de Serra, 17%; Roseana e Garotinho, 15%; e Ciro Gomes, com 8%.  O mapa astrológico de Wilson Rosa apontava exatamente em 15 de março que José Serra teria 21,65% de possibilidades de vencer as eleições, Roseana 19,5%, Lula e Ciro empatariam com 17,05% e Garotinho amargaria a última posição com 16,32%. 

“É importante frisar que os percentuais do mapa não significam intenção de voto, mas a possibilidade que cada um teria de ser eleito”. Os números podem até coincidir, mas foram traçados com base na análise das informações astrológicas e não em respostas dos eleitores, que podem mudar de opinião a cada novo acontecimento -- esclarece Wilson Rosa. O astrólogo toma o cuidado de explicar que é errado comparar a metodologia de seu trabalho com a dos institutos de pesquisas. "Os subsídios são completamente diferentes" -- frisa mais uma vez. O temor se justifica porque o assunto sucessão é instigante e pode levar a generalizações que comprometeriam a compreensão da leitura astrológica. Os institutos de pesquisa fazem medições periódicas conforme o andamento da campanha, enquanto Wilson Rosa já divulgou as situações para cada período eleitoral e não pode mudar os resultados, a não ser que haja troca ou renúncia de candidatos. 

De qualquer forma, a conclusão mais premente do trabalho feito por Wilson Rosa aponta para o óbvio. Não há um candidato franco-favorito como nas duas últimas eleições para presidente. Mesmo assim, o mapa astrológico prevê que em 6 de outubro Ciro Gomes terá 23,35% de possibilidades de ser o mais votado. Garotinho, com 21,15%, deverá disputar o segundo turno com o ex-governador do Ceará. Lula ficará em terceiro com 17,53%, Serra em quarto com 15,65% e Roseana em quinto com 15,27%. Como a margem de erro é de 3%, seria necessário que Lula chegasse aos 20,3% e Garotinho caísse a 18,15% para que houvesse mudança entre adversários do segundo turno. A matemática é sempre exata, mas em eleições muitas vezes prevalece a subjetividade porque ninguém sabe o que vai pela cabeça do eleitor. Só as urnas dirão se o até agora azarão Ciro Gomes chegará mesmo ao segundo turno e se Wilson Rosa acertará mais uma vez. 


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