Política

Sem Roseana,
a vez é de Serra

VERA GUAZZELLI - 05/05/2002

A inusitada avaliação sobre o resultado das eleições presidenciais publicada na edição 146 de LivreMercado, em março, ganha versão atualizada que novamente contraria as projeções dos principais institutos de pesquisa do País. Com a desistência de Roseana Sarney de concorrer à Presidência da República, o astrólogo Wilson Rosa, de Santo André, refez o estudo retirado do mapa astral dos principais concorrentes e conclui que José Serra é o candidato com maiores possibilidades de vencer o primeiro turno e disputar a segunda fase com Ciro Gomes. Diferentemente do primeiro mapa, no qual Ciro Gomes e Antony Garotinho chegariam com pouca diferença ao segundo turno, agora a disputa acirrou-se totalmente entre os quatro principais políticos que permaneceram na briga, com discreta vantagem para o candidato governista. 

Mais uma vez o trabalho de Wilson Rosa caminha na contramão das pesquisas eleitorais e das análises de especialistas. A primeira comparação entre os dois mapas eleitorais astrológicos leva à conclusão imediata de que o maior beneficiado com a saída de Roseana Sarney foi José Serra. As possibilidades de o candidato tucano vencer o primeiro turno das eleições, segundo o astrólogo, aumentaram em 61,5%, enquanto as de Luiz Inácio Lula da Silva cresceram 30,7%. São números que contrariam o quadro detectado em pesquisas no período pós-descoberta do R$ 1,4 milhão em cédulas e outros documentos comprometedores no cofre da empresa Lunus, de propriedade de Roseana Sarney e do marido Jorge Murad. 

A pesquisa do Ibope realizada entre 18 e 21 de abril aponta Lula (PT) com 35% das intenções de voto, seguido de Serra (PSDB) com 18%, Garotinho (PSB) com 16% e Ciro Gomes (PPS) com 11%. O Ibope havia diagnosticado desde o início de abril a escalada da candidatura de Lula, que em março tinha índice de 25%. Serra, por sua vez, manteve-se no mesmo patamar do mês anterior. "Os percentuais do mapa não significam intenção de voto, mas correspondem à possibilidade que cada um teria de ser eleito nos períodos em que foram feitas as análises" -- frisa o astrólogo e engenheiro Wilson Rosa. 

A observação ganha tom de relevância porque, ao contrário das pesquisas que refletem o quadro político do momento, a previsão eleitoral astrológica mapeou o que aconteceria com os quatro candidatos em seis datas diferentes entre 17 de maio e 6 de outubro e não poderá ser modificada. Salvo em caso de desistência ou entrada de algum concorrente.  

O mapa feito por Wilson Rosa após a desistência de Roseana Sarney trabalha com a mesma margem de erro de 3% da primeira versão. O estudo aponta que em 6 de outubro José Serra terá 25,69% de possibilidades de chegar ao segundo turno, Ciro Gomes 22,85%, Lula 22,54% e Antony Garotinho, 21,92%. São percentuais que descartam favoritismos e que diante de todas as possibilidades matemáticas colocam qualquer um dos quatro candidatos no segundo turno. O mapa também mostra que as curvas de Serra e Garotinho começam a crescer após 21 de agosto, mesmo período em que Lula e Ciro Gomes irão sofrer queda. Final de agosto é também, teoricamente, o período em que os debates televisivos começam a ganhar mais contundência.  

Wilson Rosa sempre toma o cuidado de explicar que seu trabalho nada tem a ver com adivinhação. O engenheiro civil que estuda astrologia há 40 anos utiliza o precioso auxílio da estatística para construir os mapas astrológicos. Ele iniciou esse tipo de trabalho em 1989, quando Fernando Collor venceu Lula na primeira eleição direta para presidente após a ditadura militar, e garante que acertou o resultado das três eleições presidenciais. Wilson Rosa constrói os estudos com base nas informações que recolheu do mapa astral de cada candidato publicado no site www.arvoredobem.com.br, espécie de espaço virtual do mundo esotérico.


Quadro atual -- Se for possível estabelecer alguma relação entre a previsão astrológica e o quadro político atual, a primeira conclusão é óbvia: o candidato do governo não está economizando munição para sair-se bem na corrida sucessória. Suspeito de patrocinar a derrocada de Roseana Sarney com o episódio da Lunus, José Serra também seria o maior beneficiado com a verticalização das coligações. A regra eleitoral tirada da cartola do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) exige que os partidos mantenham nos Estados as mesmas coligações da eleição presidencial, o que aumenta as dificuldades de aliança dos adversários de Serra. 

A verticalização reflete diretamente no rumo da eleição presidencial porque as alianças significam principalmente preciosos minutos na televisão. O tempo de televisão é fundamental numa campanha presidencial. O próprio José Serra disparou 10 pontos percentuais nas pesquisas quando o PSDB massificou sua imagem nos programas gratuitos do partido no início do ano. O mesmo ocorreu com Roseana Sarney e se repete agora com Lula. Garotinho já ensaia as primeiras aparições e Ciro Gomes, reconhecidamente graduado em retórica, ainda vai passar pelo teste. Só quando o horário eleitoral começar será possível ao eleitor comparar todos os candidatos de uma só vez. Recentemente, o cientista político e diretor do Vox Populi, Marcos Coimbra, explicou que os índices nas pesquisas são fruto direto do fenômeno que promove oscilações no gosto do eleitorado: a televisão. 

Científicas ou astrológicas, todas as projeções sobre as eleições de 2002 apontam para o acirramento da disputa presidencial, diferentemente do ocorrido em 1994 e em 1998, quando FHC venceu no primeiro turno. O jogo está bem mais complicado. O governo já se mostrou mais do que disposto a emplacar seu candidato. Tanto que vozes da base governista nos bastidores do Planalto e do Congresso sussurram a existência de espécie de plano B caso a candidatura de Serra apresente sinais de estagnação. Lula não pretende perder a quarta disputa consecutiva, Garotinho renunciou ao governo do Rio de Janeiro para concorrer e é considerado pela situação como adversário até mais perigoso do que o próprio Lula que lidera as pesquisas. Ciro Gomes precisa encontrar seu rumo político, sob pena de declinar de vez da vida pública.  

Há ainda outro fator que precisa ser levado em consideração. Recente pesquisa do Vox Populi indicou que 60% dos eleitores desejam ver um nome de oposição no Palácio do Planalto em 2003. A maioria desses entrevistados, no entanto, não quer um presidente que promova mudanças radicais no País, mas que seja capaz de corrigir os pontos falhos da gestão FHC sem desviar-se completamente do traçado atual. Não à toa, assiste-se a festival de suavização de discursos e tentativas de coligações tão homogêneas quanto água e óleo. Até Serra faz críticas a pontos do governo do qual é integrante. Mais uma prova de que a ideologia quase sempre sucumbe à necessidade de angariar votos.


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