Administração Pública

De mãos dadas
à recuperação

ANDRE MARCEL DE LIMA - 05/08/2003

São Bernardo ganhou respaldo providencial na cruzada pelo desenvolvimento econômico sustentável. Longe dos holofotes e sem chamar muita atenção, toma corpo um movimento que pode contribuir para materializar o capital social de que o Grande ABC tanto precisa para superar desafios socioeconômicos. Trata-se do Imedes (Instituto do Movimento Empresarial de Desenvolvimento Sustentado do Grande ABC), cujo conceito é mais do que revolucionário para uma região historicamente fragmentada. O Imedes une lideranças empresariais de diversos segmentos em busca de soluções integradas.

"Queremos participar ativamente da elaboração de propostas e de todas as discussões sobre desenvolvimento econômico no Grande ABC" -- propaga o coordenador Fernando Longo, presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Bernardo, que tem como aliados o Sindmóvel (Sindicato da Indústria de Móveis do Grande ABC), Setrans, que reúne empresas de transporte de cargas, Acigabc (Associação dos Construtores, Imobiliárias e Administradoras de Imóveis), Sehal (Sindicato das Empresas de Hospedagem e Alimentação), além do Singrafs, que representa a indústria gráfica da região e envolve também a Baixada Santista. Participam ainda a Ordem dos Advogados do Brasil de São Bernardo e a Associação Paulista de Medicina de São Bernardo e Diadema.

A maioria representa setores em base territorial que abrange o Grande ABC como um todo. Mas a intimidade do Imedes com São Bernardo é compreensível. O instituto foi idealizado por Fernando Longo, que ocupou a pasta de Desenvolvimento Econômico e Turismo entre 1997 e 2000 e está sintonizado com os preceitos desenvolvimentistas do prefeito William Dib.

O que representantes dessas entidades fazem em reuniões mensais promovidas há pelo menos um ano e meio? Conversam, opinam e debatem sobre ações prospectivas que ajudem a colocar o Grande ABC nos trilhos. Os representantes do Imedes não entoam o coro de triunfalistas segundo o qual o Grande ABC é um gigante livre dos sobressaltos micro e macroeconômicos. Ao contrário, reconhecem que a situação da região é gravíssima porque sentem no front dos negócios os efeitos da desindustrialização que drenou 39% do Valor Adicionado nos últimos oito anos de Plano Real e abertura comercial sem medidas. Fosse diferente, aliás, a inédita mobilização intersetorial não se justificaria.

"O fato de os empresários reagirem em bloco marca mudança na mentalidade conservadora segundo a qual o indutor do desenvolvimento é apenas o poder público, quando na verdade essa missão precisa ser compartilhada pela sociedade como um todo" -- observa Wilson Bianchi, presidente do Sehal. Bianchi considera que os serviços de alimentação que representa foram o grande amortecedor da estagnação econômica e da crise industrial que abateram duplamente o Grande ABC. "Milhares de desempregados industriais abriram bares e restaurantes, levando ao canibalismo no setor" -- descreve. Ele calcula que na região existam sete mil estabelecimentos clandestinos, além de 12 mil regularizados que compõem a base do Sehal. 

Outro participante do Imedes que reforça as feridas da economia regional é Antonio de Oliveira Ferreira, presidente do Setrans, de transportadores de cargas. "Muitas indústrias migraram para o Interior em busca de melhor competitividade e de benefícios fiscais e esse movimento se reflete na diminuição da carga transportada" -- constata, apontando problema adicional: o afunilamento do mercado da região pela presença de concorrentes de outras localidades. No setor gráfico a realidade também é dura. O presidente do Singrafs, Fuad Sayar, observa que o Grande ABC continua perdendo muitas empresas para outras regiões, principalmente por conta de ISS (Imposto Sobre Serviços) reduzido e melhores condições logísticas.

Os cenários setoriais não surpreendem quem conhece a economia regional exageradamente vulnerável ao setor automotivo. O inusitado numa região de interesses historicamente pulverizados é a percepção coletiva de que os diversos setores produtivos não são ilhas isoladas, mas representam apenas gomos distintos de uma mesma laranja socioeconômica. E de que é possível transformar a situação com planejamento integrado e ações pragmáticas. É claro que o caminho da recuperação pela via da mobilização intersetorial é cheio de percalços. Se já é difícil para representantes de entidades específicas firmar acordos setoriais, imagine como deve ser complicado atingir coesão e entendimento entre representantes de extratos produtivos diferentes.

A criação de um centro de exposições e convenções é uma das propostas que o Imedes apóia na área do desenvolvimento econômico. Trata-se de antiga demanda empresarial que os participantes do movimento pretendem fazer decolar para instalar a região na rota ascendente do turismo de negócios que gera montanhas de empregos e dividendos na vizinha Capital. "Espaços disponíveis em São Paulo como o Anhembi e o ExpoCenter Norte vivem com agenda lotada, o que indica a viabilidade comercial de se criar algo semelhante no ABC" -- considera Hermes Soncini, presidente do Sindmóvel e secretário de Desenvolvimento Econômico de São Bernardo. "Com um pavilhão bem estruturado, poderíamos sediar um evento diferente a cada quinzena no Grande ABC" -- endossa João Manoel Pinto Neto, diretor do Sehal. Fuad Sayar está de olho no efeito multiplicador. "Um evento puxa vários setores da economia. Gera demanda por hospedagem e alimentação, por transporte e também por material gráfico encomendado pelos expositores".

Para que o centro de exposições seja materializado é preciso equacionar duas questões. Em relação à área, Fernando Longo afirma que o prefeito William Dib está considerando alguns espaços bem localizados propostos pelo Imedes. Sobre o velho obstáculo financeiro, os membros do Imedes acreditam que o aporte de recursos deveria vir do poder público, já que o retorno em impostos compensaria o investimento. Mas não descartam a possibilidade de viabilizar um fundo de investimento imobiliário para custear pelo menos parte do empreendimento, pelo qual qualquer interessado se tornaria acionista com aquisição de cotas.

Outra proposta diz respeito ao aproveitamento do potencial turístico da Represa Billings. A Prefeitura de São Bernardo contratou consultoria para traçar um plano turístico para o Município, mas o Imedes acredita que é preciso contribuir com muito mais. "A empresa é muito boa, porém acadêmica. Por isso, contratamos dois especialistas para um trabalho que em breve será apresentado ao prefeito" -- anuncia Fernando Longo.

O Imedes também pretende viabilizar a criação de um centro multissetorial de formação profissional. "O prefeito William Dib ficou de analisar a sugestão de erguer o centro de formação na pré-estrutura onde seria construído o cadeião, na região central" -- comenta Fernando Longo. O Singrafs já se comprometeu a equipar o desejado setor gráfico e a realizar a transição dos profissionais que seriam treinados para o mercado de trabalho. "Nosso grande problema é mão-de-obra formada. O centro de formação do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) fica no Brás, bairro de difícil acesso" -- comenta Fuad Sayar. 


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