Ambiente de negócios e preservação ambiental têm muita coisa em comum em Diadema, onde empresários e Prefeitura fazem parceria para garantir qualidade de vida e potencializar a atividade econômica. A base para a cooperação é o programa Mudando de Cara, que desde 2002 vem sendo implantado na área central da cidade e nos centros de bairros. Ruas e praças remodeladas, plantio de árvores, reforma de calçadas e regularização do comércio informal são ações que tradicionalmente competem ao poder público, mas que em Diadema contam com participação crescente da iniciativa privada. O exemplo mais claro é a recuperação da Avenida Presidente Juscelino, custeada em sua maior parte por empresas locais.
A meta do programa é encontrar o ponto de equilíbrio social, urbano e econômico para um Município que tem 360 mil pessoas vivendo em apenas 30,7 quilômetros quadrados, em meio a 1.877 indústrias, 5.304 estabelecimentos comerciais e 12.767 de serviços, segundo o último censo local. É a segunda maior densidade demográfica do País, perdendo apenas para o município de São João do Meriti, no Rio de Janeiro. Com muitos problemas sociais a resolver e um orçamento de R$ 252,8 milhões, a Prefeitura teve que priorizar e otimizar os investimentos na melhoria das áreas comerciais para buscar parceria com os empresários.
O Mudando de Cara parte do princípio de que espaços urbanos organizados e agradáveis facilitam a circulação de pessoas, o que atrai investimentos. O programa foi implantado no Centro de Diadema e nos bairros Serraria, Inamar, Vila Nogueira e Campanário. Este ano, ao começar as intervenções no Bairro Piraporinha, surgiu a oportunidade de uma aliança de maior porte entre poder público e iniciativa privada. O ponto de partida foi a Avenida Presidente Juscelino, importante ligação entre a Avenida Piraporinha e o Anel Viário Metropolitano. De um lado, empresas como Siemens, Makeni, Inylbra, Irmãos Parasmo, Wickbold, Panex, Krones e a ETCD (Empresa de Transporte Coletivos de Diadema). Do outro, o pior passivo social da cidade: a Vila Nova Conquista, a maior favela do Município, com cerca de 10 mil pessoas sobrevivendo em péssimas condições de vida. Entre as duas partes, uma avenida degradada, suja, mal iluminada, com montes de entulho e lixo, além de levas de barracas de comércio informal de bebidas alcoólicas e comidas.
"A avenida era um caos. Várias empresas queriam deixar o local e algumas chegaram a mudar suas portarias" -- revela o vice-prefeito Joel Fonseca, até o começo de outubro secretário de Desenvolvimento Econômico, responsável pelo contato da Prefeitura com os empresários. O resultado da negociação que se seguiu foi uma ação conjunta entre administração municipal e empresas para revitalizar a via pública. O projeto já em andamento prevê nova pavimentação do corredor, novas calçadas, plantio de árvores, troca de iluminação e sinalização. "O número de barracas foi reduzido e as que sobraram foram regularizadas. O comércio de bebidas alcoólicas acabou" -- relata Joel Fonseca.
Entulho e lixo foram retirados e a Prefeitura construiu no local um posto de coleta de sobras de construções, além de material reciclável. O posto terá à frente uma cooperativa de catadores que receberão noções gerenciais. Associações de moradores, líderes comunitários e representantes de igrejas foram chamados para reuniões com a Prefeitura e orientados para o descarte de entulho e lixo. O preço de toda a operação ficou em torno de R$ 600 mil, dos quais R$ 350 mil foram assumidos pelos empresários. "A parceria realmente valeu a pena, porque hoje usamos o exemplo como argumento para outros empresários participarem do programa" -- afirma Luiz Carlos Theóphilo, secretário de Obras, Habitação e Desenvolvimento Urbano, responsável pelo gerenciamento do Mudando de Cara.
"Embora as empresas já contribuam com sua parte social, passamos aqui 80% do nosso tempo. Tínhamos problemas com lixo, entulho, iluminação e marginalidade. Havia na avenida um comércio bastante ilegal e danoso de bebida alcoólica, que acabava prejudicando o ambiente de trabalho" -- relata Ricardo Medrano, diretor da Makeni Chemicals, um dos integrantes do grupo de trabalho que contribuiu com a revitalização do local e que fiscaliza as obras. Para atuar no projeto de revitalização, os empresários criaram um consórcio. "Entramos com verba e experiência administrativa e traçamos ações para o período de um ano" -- conta Ricardo Medrano.
Investimento -- A Prefeitura investiu em todo o programa Mudando de Cara R$ 2,6 milhões em 2002 e R$ 1,18 milhão em 2003. Luiz Carlos Theóphilo lembra que a parceria entre poder público e iniciativa privada começou com a remodelação dos centros comerciais, com a Prefeitura encarregada das obras e os empresários comprometidos em reformar a fachada dos estabelecimentos. "Num primeiro momento tivemos de custear as obras, reformar calçada, melhorar a iluminação e mostrar o resultado" -- conta o secretário de Obras, Habitação e Desenvolvimento Urbano de Diadema. A Prefeitura ainda não tem levantamento dos resultados do Mudando de Cara, mas Luiz Carlos Theóphilo lembra que a chegada de uma loja 24 horas da Drogaria São Paulo e outra das Casas Bahia ao Largo de Piraporinha podem ser contabilizadas a favor do programa.
Quem não tem dúvida sobre o retorno do programa é o presidente da ACE Diadema (Associação Comercial e Empresarial de Diadema), José Manuel Vieira de Mendonça. "Quando há uma cidade mais disciplinada, as possibilidades de novos investimentos aumentam" -- analisa o dirigente empresarial. Outra ação do Mudando de Cara aprovada por Mendonça é a construção do Shopping Popular no Centro, onde foram abrigados 241 camelôs retirados da Praça Lauro Michels, urbanizada em 2002 pelo programa. "Reduziu em 99% o número de camelôs no Centro, mas se não colocar fiscalização, volta tudo como antes" -- cobra o presidente da ACE Diadema.
Depois do Shopping Popular, onde a Prefeitura investiu R$ 1,2 milhão, o Mudando de Cara iniciou estudos para construir outro centro comercial e retirar mais ambulantes das ruas, desta vez no Bairro Serraria. "Temos de organizar novos espaços desse tipo. Nossa idéia é construir uma cadeia desse segmento, com novos empreendedores populares. Queremos incentivar a economia solidária com o comércio de produtos de cooperativas e pequenos empreendedores" -- aposta o vice-prefeito Joel Fonseca.
É a capacidade de unir num mesmo programa incentivos para empresários de todos os portes que faz crescer o otimismo do vice-prefeito. "Com certeza, criamos em torno de três mil empregos diretos em dois anos, num momento de retração econômica. Não só com o Mudando de Cara, mas com outras ações como a parceria com o governo do Estado para construir dois piscinões na cidade" -- afirma.
Além de evitar a saída das empresas descontentes da Avenida Presidente Juscelino, Joel Fonseca aponta que desde 2001 a ação da Prefeitura facilitou a vinda para o Município de novos empreendimentos como TNT e AGI, do setor de logística, Indústria Brasileira de Aerossóis, do ramo químico, Empório Bothânico no setor cosmético, Stanfix, Heidelberg do Brasil e Imacon Metalúrgica, da área de tecnologia, sistemas e máquinas. No segmento de comércio, o vice-prefeito festeja a chegada de empresas como Kallan Calçados e Coop.
O mais recente vizinho é o centro de distribuição da AmBev (Companhia de Bebidas das América), considerado o segundo maior complexo do gênero na América Latina e que ocupará área de 85 mil metros quadrados em Piraporinha. Para Joel Fonseca, a atração de novos empreendimentos é fruto da preservação do bom ambiente de negócios. "O poder que o Município tem é muito pouco. Mas se desburocratizarmos a relação com a iniciativa privada, já é um fato determinante para a entrada de novos investimentos. O empresário quer saber se o Poder Público é um aliado para trabalhar. Isso pode fazer a diferença" -- garante o vice-prefeito, ex-sindicalista que, como executivo público, vem conhecendo de perto as agruras de empreender no Brasil e particularmente no Grande ABC, que passou por forte processo de desindustrialização. Na última década, Diadema perdeu empresas como ByK Química, Krones, Coldex-Frigor, Plasflex e Isolet e registrou queda de 27,1% nos últimos cinco anos no Valor Adicionado, principal componente do ICMS.
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15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ