Política

Morando versus Marinho: uma
disputa muito além das urnas

DANIEL LIMA - 17/05/2019

O prefeito Orlando Morando sabe que Luiz Marinho é o adversário a ser batido nas urnas eletrônicas do ano que vem para renovar o mandato por quatro anos. Luiz Marinho reconhece em Orlando Morando o foco de atenção total para retornar ao Paço Municipal que comandou durante oito anos de governo federal petista. Os dois sabem que as urnas eletrônicas devem decidir mesmo a parada, mas fazem de tudo nos bastidores para que o adversário chegue trôpego ou nem apareça no pedaço, facilitando a chegada ao pódio. O deputado federal Alex Manente é um reserva de luxo. Acompanha tudo como terceira via que pode virar favorito. 

Repararam que a disputa pela Prefeitura mais rica do Município mais complexo do Grande ABC não é para amadores? Aliás, nunca foi. 

Há duas veredas a ser percorridas. A primeira é oficial, da disputa democrática pelo voto a ser votado. A segunda é de bastidores, de disputa acirrada que pretende inviabilizar juridicamente o adversário. 

Traquinagens administrativas 

Inviabilizar juridicamente o adversário é neologismo que utilizo para não impactar demais os leitores. E que em termos populares quer dizer o seguinte: Morando e Marinho querem mesmo ir ao limite máximo para tornar o adversário inelegível, por conta de supostas traquinagens administrativas. 

Se a operação não chegar exatamente ao ponto que pretendem, cada concorrente espera utilizar arsenal de marketing tão eficiente que torne o adversário mais vulnerável à rejeição popular. 

Quem chegar mais cambaleante às urnas do ano que vem teria perdido a guerra de versões e fatos que não encontrariam amparo da legalidade punitiva nas esferas ministeriais e jurídicas. 

O embate que coloca o petista e o tucano numa espécie de rinha de galos conta com alguns coadjuvantes, além da expectativa de sempre de Alex Manente. 

Mulher de Orlando Morando, a deputada estadual Carla Morando ainda outro dia deu o tom da rivalidade entre as duas correntes de pensamento e de interesses. Numa sessão na Assembleia Legislativa, Carla Morando mobilizou mulheres deputadas em retaliação ao deputado petista Luiz Fernando Teixeira, primeiro amigo de Luiz Marinho. 

A origem do enrosco foi algo sobre uma ofensa do deputado petista às mulheres em geral ou a Carla Morando em particular. Juro por todos os juros que procurei encontrar a motivação nas mídias sociais e nos jornais locais. Não encontrei por negligência ou porque não houve mesmo informações massificadas. Só tive acesso ao desenlace do caso pelo aplicativo de redes sociais. 

Um desenlace que dispensa a origem motivacional, por assim dizer. Luiz Fernando Teixeira teve a humildade de reconhecer o erro. Ou seja: mais importante que o fato em si que gerou revolta das deputadas foi a reparação do que teria sido classificado como ofensa ao decoro parlamentar ou algo parecido contra as mulheres. 

Esperava, sinceramente, que, na tribuna da Assembleia Legislativa, Carla Morando repetisse as antecessoras que ocuparam o microfone fizeram: que aceitasse o pedido de desculpas do deputado petista. Qual nada. Carla Morando foi incisiva na resposta. Chegou à jugular de Luis Fernando Teixeira. Acusou a gestão petista em São Bernardo de fonte de corrupção. 

Constrangido, Luiz Fernando Teixeira respondeu quase que candidamente sobre três escândalos que já se teriam acumulado na Administração de Orlando Morando. 

Disputa fortíssima 

Ficara explicitado naquele episódio que Morando e Marinho contam com lideranças impeditivas de disputa fora do regulamento de luta-livre de verdade. Petistas e tucanos vão para a arena do vale-tudo dentro e fora das quatro linhas do gramado eleitoral. 

Há múltiplas possibilidades à deflagração de operações de guerra para chegar ao Paço Municipal de São Bernardo, entre as quais duas no campo da macropolítica. 

Até que ponto Luiz Marinho poderia beneficiar-se de possível degradação do eleitorado da direita e da centro direita a partir das trapalhadas de Brasília? E Orlando Morando? Até que ponto os efeitos ainda presentes, mas muito distantes da centralidade de outros tempos da Operação Lava Jato, vão servir de foco de rejeição aos petistas? 

Em que medida a recomposição do eleitorado de esquerda e de centro-esquerda numa São Bernardo emblemática para o Partido dos Trabalhadores será compensada com o desencanto da presidência da República, cuja estupidez de trocar a agenda midiática de reformas econômicas inadiáveis por tranqueiras ideológico-comportamentais só beneficia a oposição? 

Não há dúvida de que o eleitorado de centro, que representa pouco mais de um terço do total, tende como sempre a flutuar ao sabor de circunstâncias políticas e econômicas. Seria Morando mais prejudicado relativamente aos entreveros desgastantes da direita bolsonarista do que Marinho beneficiário do refluxo do estrangulamento a que foi submetido o PT assim que a Lava Jato apareceu nas praças? 

Peso de João Doria 

Ainda que a distância entre o presente e a abertura das urnas seja enorme, a construção de cenários de viabilidades e inviabilidades permite muitos ensaios teóricos. Daí a equação que procurará sensibilizar o eleitorado não se esgotar no enfraquecimento do bolsonarismo tipicamente do eleitorado de Orlando Morando e no lulismo clássico de Luiz Marinho. 

Há um ingrediente favorável ao prefeito Orlando Morando como fonte mitigadora dos estragos bolsonaristas. Chama-se João Doria, governador do Estado que rompeu com o tradicionalismo mureteiro dos tucanos. João Doria tem-se apresentado como governador com qualidades muito acima dos primeiros tempos de prefeito da Capital. Deixou de recorrer a fanfarronices populistas e se comporta como chefe de Estado. O secretariado escolhido é bem mais equilibrado que o emanado das hostes de Jair Bolsonaro. Menos, claro, na área econômica, apesar de Henrique Meirelles. 

O apoio de João Doria a Orlando Morando no ano que vem poderá ser o eixo em torno do qual o tucano sustentaria vantagem sobre o petista Luiz Marinho na reta de chegada. Morando e Doria são irmãos siameses ideológicos. Têm comportamento público semelhante. 

Mania tucana 

Talvez a diferença irrecuperável entre eles seja a formulação verbal de Orlando Morando, que lembra manifestações pasteurizadas de Geraldo Alckmin. Morando é bom de palanque, diga-se de passagem, mas tem vícios verbais e expressionistas dos tucanos da velha guarda que João Doria botou para correr. 

Acho que vou me divertir muito escrevendo sobre esse embate do século em São Bernardo. Ou alguém tem dúvida de que, pelo andar da carruagem, o jogo que já está sendo jogado é um clássico hitcockiano? 

Morando, Marinho, Manente, Carla Morando, Luiz Fernando Teixeira, João Doria, Jair Bolsonaro, intrigas sobre mútua corrupção -- tudo isso não é nada desprezível. Um jogo bem melhor que o reservado para Santo André, por exemplo. Que, mesmo assim. Conta com condimento em formato de maldição: desde a morte de Celso Daniel, ninguém conseguiu se reeleger no antigo “Viveiro Industrial” que virou “Viveiro de Serviços”.  



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