Administração Pública

Caso Semasa: sugestão para
melhorar imagem do prefeito

DANIEL LIMA - 05/06/2019

Não é a primeira vez que faço proposta semelhante, mas esse parece ser o momento apropriado para o pontapé inicial. O que está em debate é muito sério e por ser muito sério exige transparência e didatismo, como escrevi em artigo anterior.

É claro que estou me referindo à proposta de transferência do acervo de água e esgoto do Semasa de Santo André à Sabesp. O prefeito Paulinho Serra pode marcar um gol de placa e recuperar-se substancialmente das estripulias do IPTU no ano passado como prova de maturidade administrativa.

Isso mesmo, como prova de amadurecimento de gestão. Não há quem em primeiro mandato, caso do tucano, não caia na besteira de fazer besteira. O noviciado sempre acompanhado de arrogância dos jovens políticos é o primeiro passo à sandice gerencial. Celso Daniel que o diga: enviou ao Legislativo uma bomba-relógio de socorro salarial que, em seguida, foi incorporado como conquista e gerou precatório do tamanho de um bonde.

Que sugestão teria ao prefeito Paulinho Serra que quer se livrar, com muita dose de razão, do trambolho do Semasa, herdado de antecessores a partir da cadeia de calote em forma de resistência de Celso Daniel?

Coletiva de imprensa

O que sugiro ao prefeito tucano é que marque uma coletiva de imprensa, uma coletiva para valer, e seja sabatinado à exaustão. Trata-se de oportunidade de ouro para esclarecer inúmeros pontos obscuros que tornaram o envio do projeto de lei ao Legislativo de Santo André uma caixa de Pandora. Prova disso é que nem situação nem oposição destrincham o monstro a ponto de dar segurança avaliativa.

O inferno de versões descabidos e o céu de questionamentos mais que procedentes tomaram conta das redes sociais, enquanto o jornalismo profissional diário, por assim dizer, não acompanha nem sugere bulhufas.

Pois é do meu cantinho, integralmente à distância do varejismo jornalístico, que lanço a proposta da entrevista coletiva que sabatinaria o prefeito porque o prefeito não teria porque ter receio de eventual constrangimento dos mais afoitos ou dos mais curiosos ou dos mais responsáveis ou dos mais inconformados.

Mais que coletiva

Mais que uma entrevista coletiva a jornalistas credenciados, a Administração de Santo André poderia engrossar o caldo de representatividade da sociedade com o chamamento de lideranças institucionais para acompanharem os questionamentos, reservando-lhes, inclusive, espaço específico a intervenções.

Sonho há muito tempo com a democratização efetiva da gestão pública. Nada mais imperativo nesse sentido que a aproximação entre governante de plantão, mídia e representantes da sociedade. Ouvidorias não têm e jamais terão essa compleição social porque foram formatadas originalmente e se mantêm assim apenas como jogo de cena.

Sei que entre jornalistas e supostos jornalistas haveria a turma que previamente seria doutrinada a lustrar as respostas do prefeito e também sei que não haveria como conter quem pretendesse, deliberadamente, criar embaraços ao chefe do Executivo.

Mas isso faz parte do jogo. Só teme jornalista independente ou jornalista militante quem acha que o mundo é uma maravilha e nada substitui a interlocução somente com os apaniguados travestidos de jornalistas.

Sei também que o nível de avaliação crítica de representantes de instituições de classe é potencialmente aquém do indispensável. À falta de conhecimento sobram interesses de aproximação com o Poder Público. Mas isso não inviabiliza a legitimidade do encontro. Muito mais que isso: em situações assim é que se conhece quem faz política de boa vizinhança por motivos pouco nobres e quem busca esclarecimentos importantes.

Tirando as dúvidas

O prefeito terá, portanto, oportunidade de cobrir-lhes de agradecimentos, mas também poderá encontrar pela frente ossos duros de roer. Democracia não se faz apenas com lantejoulas encomendadas.

Pensando bem, acho também que não somente jornalistas e dirigentes de entidades de classe poderiam participar da sabatina com o prefeito e eventuais secretários convocados a prestar esclarecimentos.

Cidadãos em geral também poderiam ter acesso ao encontro. Conheço meia dúzia deles sem instituições, mas cujas intenções seriam as melhores possíveis, ou seja, querem participar sem qualquer tipo de viés partidário, ideológico e classista. Eles se sentem órfãos de informações porque os tomadores de decisões e grande parte dos formadores de opinião formam maçaroca pouco prospectiva.

E esses leitores não poderiam se sentir diferentes. Se, como jornalista estou na corda bamba da insegurança, como imaginar que o cidadão comum, ou seja, fora do eixo da obrigatoriedade de informar, seria diferente?

Faltam respostas

Mas esses cidadãos comuns, por assim dizer, têm conhecimentos específicos que alimentam o jornalismo independente. Tanto é verdade que reúno série de questões a apresentar ao prefeito Paulinho Serra sobre o desencaixe do Semasa do organograma oficial da Prefeitura de Santo André com origem nos leitores agoniados com a falta de respostas por trâmites convencionais.

Ainda vou localizar nesta revista digital quando foi a primeira vez que sugeri aos prefeitos da região que adotassem como estratégia de comunicação o que chamo de entrevistas coletivas. Se não me engano sugeria que os encontros se dessem a cada seis meses, mas acho que a dinâmica do Poder Público e suas responsabilidades junto à sociedade não podem esperar tanto.

A cada 30 dias o titular do Paço Municipal deveria estar acompanhado dos respectivos assessores técnicos para esclarecer pontos colocados em dúvida na agenda de produção da máquina pública.

O caso Semasa é exemplar. Houvesse a prática de coletivas de imprensa, que abarcaria mais que representantes da imprensa, como sugiro acima, convocatória a encontro de esclarecimentos seria compulsória e inclusive antecederia o envio do projeto de lei a um Legislativo que todos sabem alinhado ao chefe do Executivo porque é assim que funciona em todos os níveis de governo.

Ou alguém acredita que o presidente Jair Bolsonaro se debate com congressistas porque é um idiota juramentado ou não está disposto a ceder além do que se convencionou chamar de republicano?

Ainda não será desta vez que vou apontar questões que me chegaram em mensagens de leitores e que se somaram àquelas que minha inquietude jornalística colecionou com vistas a colocar luz onde só existe treva na concessão do Semasa.

Repito com convicção que a transferência da autarquia de inúmeros casos de irregularidades e durante muito tempo cabide de emprego eleitoral é uma necessidade que vai além da contabilidade financeira.

Entretanto, por mais legitima que seja, a negociação ingressa no terreno movediço da desconfiança generalizada na medida em que autoridades que participam dos arranjos de transferência alimentam sombras de idiossincrasias.

Estatal sem controle

Seria totalmente contrário à transferência do Semasa diante da segurança de que a chamada sociedade civil, que é uma fantasia, participasse ativamente do monitoramento do desempenho da autarquia como espécie de guardiã da responsabilidade social.

Bate em meu peito esse conteúdo socialista que persiste residualmente em mim porque entendo que o capitalismo dos capitalistas ou o capitalismo de Estado devem ser vigiados permanentemente contra abusos e invariavelmente não o são.

Entretanto, entre um modelo e outro, ou seja, do estatismo sem vigias e do capitalismo sem monitoramento adequado, minha preferência é pelo segundo porque, como é o caso da Sabesp, há acionistas individuais e corporativos que não admitem, não querem e não aceitam perderem investimentos por conta de incompetência e roubalheira.

Já que a inexistente sociedade civil de Santo André não tem competência e compromisso em cuidar do Semasa, como o tempo provou desde sempre, não resta saída senão a transferência dos cuidados de suprimento de água e esgoto a organização que conta com configuração nem inteiramente capitalista nem inteiramente estatal, já que a Sabesp tem ações inclusive na Bolsa de Valores de Nova Iorque.

O prefeito Paulinho Serra tem uma oportunidade de ouro para inovar na Administração Pública do Grande ABC. Se abrir a porteira de entrevistas coletivas sempre que a temática em questão for de grande interesse público, certamente terá seguidores nas demais prefeituras.

Seria ótimo uma coletiva do prefeito Orlando Morando para debater vantagens e desvantagens de São Bernardo contar com o traçado do monotrilho ou do BRT, por exemplo.  



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