Política

Você apostaria em Bruno Daniel
para prefeito de Santo André?

DANIEL LIMA - 18/07/2019

Antes que responda, e para não dizer que pretendo preparar uma armadilha a quem está pensando em responder, eu mesmo respondo à indagação: não apostaria um tostão furado. Mas faço a ressalva elementar quando se trata de política: tudo é possível, inclusive o impossível. Responda, responder e respondo, membros da mesma família etimológica, por assim dizer, foram escritos de propósito, para reafirmar uma proposição. 

Fiz a pergunta deliberadamente por conta da manifestação de eleitores de Santo André ouvidos pelo Instituto ABC Dados sobre as eleições do ano que vem. O irmão caçula de Celso Daniel, Bruno Daniel, cuja biografia do pai é muito menos conhecida que a história do estádio em que o Santo André manda seus jogos de futebol, aparece em segundo lugar na pesquisa estimulada. Numa, com Carlos Grana como candidato do PT, obteve 19% dos votos. Noutra, com Carlos Leite, vereador petista, como concorrente, chegou a 17%. Nas duas o prefeito Paulinho Serra lidera com 28%. 

Como pode alguém que não está e nunca esteve nas paradas mesmo que preliminares de eleições municipais dar um salto tão grande? 

Vai que pega? 

Vou explicar. E a partir da explicação mantenho a resposta que já emiti no começo deste texto. Bruno Daniel é apenas um boi de piranha eleitoral. Seu nome foi colocado para testes. Não que ele deixe de sonhar com o gabinete que o brilhante irmão ocupou durante mais de seis anos em três décadas diferentes, a partir de 1989 até ser morto em 2002.

A candidatura de Bruno Daniel me lembra aquele tipo de teste mais ou menos naquela base: vai que pega? Mas não pega. E não pega porque há um artificialismo nos números detectados e anunciados. Artificialismo instrumentalizado por uma engenharia do questionário apresentado aos leitores. Logo chego lá.  

Diria que Bruno Daniel tem um caminhão de vantagem para ser competitivo nas eleições do ano que vem. O problema é a ladeira morro abaixo que o colocaria no lugar que provavelmente jamais deixará de ocupar; ou seja, fixar-se apenas na expectativa temporária e concatenada com outros fins. 

O caminhão de vantagem de Bruno Daniel se esgota no próprio nome eleitoralmente emprestado pelo patriarca, que foi político já há várias décadas, no estádio que virou referência de conquistas do Santo André e, muito acima de tudo isso, no irmão mais que famoso e competente, também glorificado pela morte no começo dos anos 2000. O irmão com o qual Bruno Daniel mantinha relações quase protocolares. Sobre isso escreveremos outro dia, se necessário. Celso Daniel estava à direita de um PT então esquerdista demais. Bruno Daniel é um psolista de alma. 

A ladeira abaixo das possibilidades eleitorais de Bruno Daniel se reproduz na baixa aderência política pessoal, na obtusidade programática do PSOL, partido que o acolheria, e nas indigestas companhias que teria ao supostamente percorrer as ruas de Santo André e as redes sociais. 

Bruno Daniel faz parte de um trupe ideologicamente tão exótica que, caso se reunisse num encontro partidário no Parque Celso Daniel, provavelmente não faltaria algum filiado a sugerir que o nome do patrimônio público de Santo André fosse alterado e requisitado como sede mesmo que temporária da agremiação. Chamaria Parque dos Dinossauros. 

Atraso do atraso 

Não há gente que eu conheça no PSOL de Santo André (e não vou me estender à região, porque desnecessário) que ao menos sugira algum tipo de compromisso com o futuro de Santo André se o futuro de Santo André tiver alguma relação literalmente e redundantemente com os dias que virão. 

E o futuro de Santo André repetindo-se a redundância dos dias que virão está tão comprometido pelo passado redundantemente dos dias que já se foram que qualquer novo descuido poderá ser ainda mais fatal à qualidade de vista que restou.  

É impossível Santo André ganhar um rumo diferenciado de que tanto se espera contando com uma turma tão fora do esquadro de modernidade na gestão pública. O PSOL é o PT de começo de carreira, com a desvantagem de que o discurso do original envelheceu sem que os pretensos sucessores se deem conta disso. 

Museu de ideias e ideais

O professor Ricardo Alvarez, psolista que se lançou concorrente à Prefeitura, nas últimas eleições, não passou de 3% dos votos. Foram exatamente 11.099.  Um empate técnico com outro pretenso herdeiro de Celso Daniel, o sobrinho do prefeito assassinado, Rafael Daniel, que, concorrendo pelo PMDB, registrou 10.716 votos. 

Alvarez é um museu de ideias e ideais tonitruantes. É daqueles que entendem, defendem e esperneiam em defesa da fechadíssima e insensível Universidade Federal do Grande ABC e do modelo prevalecente na maioria das unidades do País que abomina relações com empreendedores privados. Por essas e outras a UFABC é isso que está aí. 

Ricardo Alvarez professa ideias muito mais desclassificatórias no mundo dos civilizados: em redes sociais chega ao ponto de defender a ditadura de Maduro, na Venezuela, entre outras extravagâncias ideológicas. 

Mais ainda: Ricardo Alvarez e alguns parceiros de viagens doutrinariamente alucinógenas vêm fantasmas bolsonaristas em todo tipo de oposição às bobagens políticas que emitem. Ou seja: Alvarez e seus parceiros imediatos de redes sociais adoram exibir musculatura extremista à altura do próprio PSOL. Guilherme Boulos é uma de suas referências. Bruno Daniel não é muito diferente dessa maçaroca dogmática. Não à toa é muito próximo de Alvarez. Eles se agarram loucamente à barcaça à deriva. 

Vício de origem 

Agora vou chegar ao ponto explicativo dos números de Bruno Daniel na pesquisa do Instituto ABC Dados. Trata-se do que chamaria de vício de origem. Como pode algum dos candidatos da alternativa de indicação espontânea (sem a mostra de cartão com os nomes dos concorrentes) não ser lembrado por nenhum dos eleitores e, em seguida, no voto estimulado, chegar a 17% das indicações, atrás apenas de Paulinho Serra, prefeito que pretende reeleger-se? 

Na pesquisa espontânea, 61,8% dos eleitores ouvidos pelo Instituto ABC Dados não souberam responder à pergunta básica: “Se a eleição para prefeito de Santo André fosse hoje, em que votaria? ”. Paulinho Serra foi lembrado por 17,3%, Carlos Grana por 3,5%, Aidan Ravin por 2,3% e Aílton Lima por 1,3%. Outros nomes foram citados, mas nenhum se referiu a Bruno Daniel. 

Não vamos entrar em detalhes sobre como Bruno Daniel saiu de cotação zero na pesquisa espontânea, foi levado ao cartão da estimulada e, ali, registrou 17% da preferência, contra 28% de Paulinho Serra, o líder. 

O que teria impulsionado o eleitorado ouvido pelo ABC Dados a jogar-se nos braços de Bruno Daniel? 

Resposta? A ordem das questões. Quando os pesquisadores chegaram à indicação do voto estimulado para ocupar a Prefeitura de Santo André, a lembrança da família Daniel já estava suficientemente azeitada, três ou quatro perguntas antes. Com a mostra do cartão sete, os eleitores foram instados a responder à seguinte pergunta: 

 Desta lista dos últimos prefeitos de Santo André, na sua opinião qual foi o melhor?

Adivinhem os leitores quem saltou para o primeiro lugar de forma avassaladora, como, aliás, os eleitores se manifestaram no começo do ano, também quando expostos à mesma pergunta? Deu Celso Daniel na cabeça, soberaníssimo, com 73% das indicações. O segundo lugar ficou com o prefeito Paulinho Serra com 7%, seguido de Newton Brandão com 4% e de Carlos Grana com 2%.

Matemática e política

Se na matemática a ordem dos fatores não altera o produto, na política, ou mais precisamente nas pesquisas eleitorais, a ordem das perguntas altera significativamente os resultados. Bruno Daniel foi apontado por 23% dos entrevistados porque pegou carona na questão que sublinarmente envolveu o irmão assassinado. Fora isso, muito provavelmente teria se situado muito aquém. 

A carona que Bruno Daniel apanhou do irmão Celso Daniel não lhe dá suporte suficiente para resistir aos sacolejos de uma campanha eleitoral que se provará tormentosa para quem está na política, e muito mais para quem pretende lançar-se na política a reboque de um passado que os leitores mais ávidos nas redes sociais não darão trégua. 

Vou fazer novas incursões sobre os dados da pesquisa. Devo me meter mato adentro dos resultados que envolvem diretamente o prefeito Paulinho Serra. As possibilidades de ter a reeleição comprometida dependem da soma dos oposicionistas. O que é bastante improvável. 



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