Política

Paulinho Serra responde a
entrevista mais que desejada

DANIEL LIMA - 24/07/2019

O leitor por acaso sabe a diferença entre uma “Entrevista Desejada” e uma “Entrevista Indesejada”?  Entrevista Desejada exemplar pode ser obtida com facilidade no site do jornal Repórter Diário, versão televisiva, com o prefeito Paulino Serra, de Santo André. Entrevista Indesejada pode ser obtida na Internet, no site da TV Globo, com os candidatos à presidência da República nas últimas eleições.

Entrevista Desejada é tudo com que um gestor público sonha. Na imprensa da região temos Entrevista Desejada a dar com pau. Aliás, praticamente só temos isso.

(Santo André perdeu 31,33% do Produto Interno Bruto por habitante neste século)

Entrevista Indesejada é odiada pelos políticos de agora, de ontem e de amanhã. Poucos se submetem a interrogatórios com conotações naturalmente belicosas. Somente em situação incontornável, como numa disputa eleitoral, temos encontros que constrangem os entrevistados. 

A Entrevista Desejada com Paulinho Serra é tudo que não gostaria de ter ouvido, mas ouvi atentamente para sobretudo escrever o que estou escrevendo.

Tirei meus 50 minutos de pedalada ontem na hora do almoço para, smartphone em punho, pernas para que te quero, acompanhar o interrogatório com Paulinho Serra. Interrogatório é força de expressão. Tivemos de fato e para valer um bate-bola amistoso, uma tabelinha seguida da outra, uma jogada de efeito aqui, uma bicicleta ali, e um gol atrás do outro.

(Santo André perdeu 31,33% do Produto Interno Bruto por habitante neste século) 

Paulinho Serra é craque em entrevistas amistosas. Ele tem informações na ponta da língua. Nada como um treinamento antes para não incorrer em falha. Ainda mais nestes tempos em que tudo que se fala e se vê pode virar artilharia pesada dos adversários eleitorais. 

Sem entrar no mérito das declarações do prefeito de Santo André, mas já entrando, é inacreditável que durante 60 minutos de bola rolando não se fizesse uma única pergunta sobre os maiores dramas de Santo André. 

Dramas econômicos que vêm do passado e sobre os quais a parcela de responsabilidade do prefeito atual deve ser restrita ao desleixo dos dois anos e meio de mandato. 

Responsabilizá-lo pelo esfacelamento da economia de Santo André seria um ultraje semelhante ao que os botocudos oposicionistas do governo federal que mal chegou a Brasília e já reclamam que a economia não sai do marasmo. Até parece que o monumental estoque de barbaridades dos presidentes anteriores, sobretudo dos petistas, não retardará em muito, mas muito tempo uma guinada tão esperada. 

(Santo André perdeu 31,33% do Produto Interno Bruto por habitante neste século) 

O que Paulinho Serra mais martelou durante a Entrevista Desejada do Repórter Diário é que estaria exumando todos os graves problemas de Santo André, colocando-os no rumo e no prumo. Desde obras simples, como a recuperação do Ginásio Pedro Dellántonia, até a réplica do Big Ben londrino na Vila de Paranapiacaba, passando é claro pela Avenida dos Estados e pelas catracas de ônibus ultramodernos para servir à população. 

Paulinho Serra está se consolidando como mais um prefeito varejista do Grande ABC. Ou seja: um gestor que pensa pequeno porque é cercado de medíocres, de bate-paus na Internet, de puxa-sacos incondicionais. O desafio de pensar grande, para a próxima década, e instrumentalizar-se nesse sentido, com planejamento, não passa de estupidez dos mais comprometidos com elementos estruturais. 

(Santo André perdeu 31,33% do Produto Interno Bruno por habitante neste século) 

Também o prefeito de Santo André demonstrou viés populista e vazio de pregação pró-autoestima dos moradores de Santo André. Acredita ou diz acreditar que tudo o que faz ou afirma que está fazendo alterará o rumo do desencanto que não é de hoje e não estancará amanhã. Ou alguém acredita que, sem uma ação coordenada regional, espancaremos nosso Complexo de Gata Borralheira? 

O que sei e não posso dizer que não sei é que Paulinho Serra não resistiria a 30 minutos de Entrevista Indesejada ao vivo com este jornalista. Tampouco a uma Entrevista Indesejada com o uso de e-mail, como tantos outros personagens da região que se escafederam, como foi o caso mais emblemático do empresário Milton Bigucci, seis vezes em anos diferentes inquerido a uma prestação de contas do fracasso à frente do Clube dos Construtores. 

(Santo André perdeu 31,33% do Produto Interno Bruno por habitante neste século) 

Sem ir a qualquer fonte nutriente de informações, exceto minha memória, eis algumas perguntas que faria ao prefeito com a certeza de que o incomodaria, porque as respostas não satisfariam às demandas sociais e econômicas de Santo André e da região:

1. O senhor acredita mesmo que com um Parque Tecnológico tão esperado e tão decepcionantemente retardatário Santo André sairia da pasmaceira econômica e social em que se encontra?

2. O senhor acredita que uma ou outra ponte na Avenida dos Estados, como se está anunciando, retirará aquela serpentina asfáltica da lista de um dos modais mais pronunciadamente improdutivos do sistema logístico do Grande ABC?

3. O senhor está decepcionado com o fluxo de recuperação diretiva do Clube dos Prefeitos, do qual é o titular há sete meses, levando-se em conta que os dissidentes ainda não voltaram, não pagaram os atrasados de filiados rebeldes e incompetentes e a entidade continua sem foco no desenvolvimento econômico muito além do proselitismo político?

4. O senhor se pronunciou favorável ao BRT e não ao monotrilho somente depois de o governador João Doria decidir dar um drible na vaca no Diário do Grande ABC e apresentar um menu completo de intervenções logísticas no Grande ABC. Por que não o fez antes, durante a campanha maciça do Diário em defesa do monotrilho?

5. Como o senhor explica que a chamada Casa do Grande ABC em Brasília é um desperdício de dinheiro público e está muito longe da imperiosidade de ações conjugadas com preparo técnico das iniciativas?

6. Como o senhor mantém no organograma da Prefeitura uma mais que manjada inutilidade chamada Ouvidoria, quando se sabe que se trata de penduricalho sem qualquer conotação crítica à Administração Pública, atuando, portanto, num esquema chapa-branca de suporte político-partidário?

7. Por que o senhor anunciou após a crise da cobrança tresloucada do IPTU de Santo André no ano passado que formaria uma comissão para equacionar o problema e desistiu da ideia sem dar satisfação ao interesse público?

8. O senhor seria capaz de dizer de supetão quem é o seu Secretário de Desenvolvimento Econômico, ou seja, o homem com a responsabilidade de liderar ações para recolocar nos trilhos o desenvolvimento indispensável que escapuliu do controle da Prefeitura desde muito tempo?

9. O senhor concorda ou tem fortes argumentos em contrário, empiricamente defensáveis, com o encalacramento logístico de Santo André, outrora o centro de desenvolvimento econômico do Grande ABC? 

10. O senhor discorda da constatação de que com a saída diária de 50% da População Economicamente Ativa em direção a outros municípios da região e da cidade de São Paulo, Santo André sofre há muito tempo com a fuga de cérebros, cujos resultados se espalham por vários campos culturais, inclusive na baixa apetência de participação social?

(Santo André perdeu 31.33% do Produto Interno Bruto por habitante neste século)

Encerro com essas 10 questões uma rapidíssima saraivada de inquietações ao prefeito de Santo André. Poderia, em mais 10 minutos de dedilhar, encaixar outros 10 torpedos. 

O prefeito está convidado a responder cada uma dessas perguntas, que seriam incluídas na Editoria de “Entrevista Indesejada”. Se topar, prometo que vou formular novas questões, porque não poderemos perder a oportunidade de a democracia informativa prevalecer sem vieses de compadrio. 

Mais que isso: se Paulinho Serra topar responder as questões acima e se não fizer oposição a novas perguntas, também providenciaríamos eventuais reperguntas sobre as questões já aplicadas. 

(Santo André perdeu 31,33% do Produto Interno Bruto por habitante neste século) 

O que quero dizer com tudo isso é que não precisamos de nenhum prefeito como o suprassumo da Administração Pública. Queremos que cada um deles demonstre apetite pelo futuro que não se segurará com varejismos. Nada contra varejismos, como asfaltamento de ruas, limpeza de terrenos baldios, cuidados adicionais com a Segurança Pública. 

Longe disso. Entretanto, o que faz a diferença é o que teremos de encaminhamento para as próximas décadas, porque já gastamos duas décadas deste século e o desempenho econômico de Santo André e da região como um todo, como provamos estudos que desenvolvo no G-22, é simplesmente estarrecedor. 

Apenas para reforçar o passado que pesa no presente de Santo André: entre os integrantes do G-22, o antigo e mais que sofrido viveiro industrial ocupa o antepenúltimo lugar, com queda de 31,33% no PIB (Produto Interno Bruto) por habitante desde a chegada do novo século. 

Um prefeito que ignora a economia em 60 minutos de entrevista incorpora o pesado passivo histórico dos antecessores porque transmite a certeza de que a derrocada não será interrompida.

Paulinho Serra talvez tenha entranhado de forma indelével e irrecuperável todos os vícios de vereador que foi por dois ou três mandatos. Ou seja: ainda não entendeu que Santo André precisa de um estrategista do futuro que, não necessariamente, sufocaria o pau para toda obra do presente. 



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