Administração Pública

Emprego industrial atrapalha
planos de Orlando Morando

DANIEL LIMA - 13/08/2019

O prefeito Orlando Morando ainda não alcançou o que quer e precisa para opor aos céticos e aos independentes uma resposta mesmo que temporariamente inibidora a críticas. Depois de 30 meses de governo (limitando-se a contagem entre janeiro de 2017 a junho deste ano) o tucano contabiliza perda média mensal de 104,76 postos de trabalho industrial com carteira assinada.

É um resultado bem menos dramático que o consolidado no segundo mandato do antecessor Luiz Marinho, mas não atenua o desgaste. Afinal, Morando prometeu reviravolta no placar – transformaria o que era péssimo em bom. Até agora, chegou ao ruim e as possibilidade de registrar nível razoável não é das mais prováveis.  

Orlando Morando deve ter constatado que a reversão do estoque de trabalhadores industriais de São Bernardo não é tarefa fácil. E olhem que nos 30 meses havia grandes possibilidades de reação.  São Bernardo chegou ao fim de 2016 em situação estarrecedora: acumulou no segundo mandato de Luiz Marinho baixa de 26.130 carteiras assinadas.

Ou seja: qualquer respiro colocaria São Bernardo no polo positivo de saldo líquido de emprego industrial, que é o que mais interessa na tentativa de reequilibrar o ambiente social e econômico.

Dependência demais

São Bernardo depende sensivelmente do setor automotivo. Nos 30 meses já apurados, com base em dados do Ministério do Trabalho e Emprego, a gestão de Orlando Morando soma baixa acumulada de 3.143 carteiras na área industrial. E nem todo o efetivo da desistente Ford está nas contas.  São em média 104,76 trabalhadores dispensados a cada 30 dias. No segundo mandato de Marinho, que coincidiu com a maior recessão econômica da história do País, foram em média 435,5 trabalhadores decepados das empresas a cada 30 dias.

Imagino a mensagem que marqueteiros de Orlando Morando utilizarão para desfraldar uma esfarrapada bandeira de recuperação industrial de São Bernardo. Se não pintar saldo positivo do estoque ao fim deste mandato, mesmo que a média nacional do setor industrial exponha dados bem melhores, possivelmente o titular do Paço Municipal fugirá do assunto.

A influência da ação de um governo municipal no mercado de trabalho não é algo que se alcance do dia para a noite. Longe de mim copiar a estupidez da Folha de S. Paulo que já começou a comparar o governo Bolsonaro com o imediatamente antecessor. A dinâmica econômica obedece a determinadas nuances. Não seria num passe de mágica que eventuais medidas corretivas virariam realidade.

Falando demais

Longe disso, portanto. Mas quando Orlando Morando veio a público com rompantes político-eleitorais já conhecidos, porque não se diferenciam dos concorrentes, vendeu-se a premissa de que um novo motor de arranque econômico estaria instalado no Paço Municipal. Pura bobagem. Entre outras questões é preciso considerar que nem mesmo uma Secretaria de Desenvolvimento Econômico digna do nome o prefeito dispõe – como, aliás, nenhum dos demais ocupantes de Paços Municipais na região.

A baixa aderência de políticas municipais na atividade industrial é inquestionável, portanto. Quem escrever algo diferente cometeria estupidez. Mas planejamento bem feito, como estou cansado de sugerir, abre alas a uma reforma gradual e consistente no sistema produtivo municipal e regional. É isso que tem faltado a todos os prefeitos.

Medidas tópicas

Orlando Morando quer vender a ideia de que é um prefeito com sensibilidade econômica no campo do emprego industrial, quando de fato o que tem feito é mais marketing de socorro, como no caso do anúncio de fechamento da fábrica da Ford. Recorreu ao amigo governador do Estado, João Doria, para, entre outras implicações, tirar uma casquinha de eventual solução na recomposição produtiva daquela planta industrial. Nada que qualquer homem público de olho no futuro eleitoral não fizesse, mas que precisa ser dito e redito no aspecto circunstancial de ser, não como política estrutural.

Quanto mais a gestão de Orlando Morando desdenhar da premência de fortalecimento de uma secretaria voltada para o desenvolvimento econômico, sobretudo a partir de interdição dos canais de vazamento de empregos industriais, mais haverá decepções em forma de estatísticas que traduzem o empobrecimento social.

O desemprenho de São Bernardo no emprego industrial nos primeiros seis meses desta temporada é um dos piores entre os grandes municípios brasileiros. Só para se ter ideia, no G-7, que envolve diretamente os representantes do Grande ABC, a quebra de 0,95% em junho quando comparada com o estoque de dezembro do ano passado não tem paralelo: Santo André aumentou em 0,11%, São Caetano em 0,02%, Diadema caiu 0,44%, Ribeirão Pires aumentou 0,10% e Rio Grande da Serra aumentou 0,72%. Mais comparações? O Brasil cresceu 0,97% no estoque industrial, a Região Metropolitana de São Paulo avançou 0,22% e a cidade de São Paulo 0,50%. Está faltando Mauá? Pois foi a única cidade a superar São Bernardo, com perda líquida de 1,25% do estoque no intervalo de seis meses.

Segurando as pontas

O salário industrial em São Bernardo é o carro-chefe da economia. Os dados mais recentes, referentes a dezembro de 2017, apontam que a média salarial do setor era de R$ 5.839,72. Só perdia no G-22, o grupo dos 20 maiores municípios do Estado, exceto a Capital e com a inclusão de Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, para o polo aeronáutico de São José dos Campos e o polo petroquímico de Paulínia.

O salário industrial médio de São Bernardo é tão disparadamente acima das demais atividades que vale a pena registrar: está muito à frente dos R$ 2.271,13 dos comerciários e dos R$ 2.851,85 das atividades de serviços.

Pelo andar da carruagem parece desenhar-se contabilidade mais que inquietadora, porque enraizadamente destrutiva, no horizonte deste ano quando o assunto é emprego industrial formal em São Bernardo: teremos, desde 2012, nada menos que sete perdas anuais do estoque de trabalhadores do setor. Contando-se a partir de 2012, apenas no ano passado São Bernardo livrou-se de espécie de heptacampeonato de fracasso industrial no mercado de trabalho, com o saldo positivo de 181 carteiras.

Contextos diferentes 

Como neste ano a contagem de 1.850 baixas não parece oferecer contra-ataque, porque a economia nacional e de São Bernardo em particular continuam colecionando números negativos, a sucessão de fracassos se consolidará. Muito diferente, portanto, das declarações entusiasmadas de Orlando Morando ao assumir o cargo em janeiro de 2017.

Naquele ano, já sob sua batuta, São Bernardo chegou a dezembro com saldo negativo de 1.474 carteiras de trabalho da área industrial. Um número já superado nos primeiros seis meses deste ano. Um consolo para o tucano? Luiz Marinho, seu antecessor e futuro adversário, colecionou somente em 2015 nada menos que 8.968 trabalhadores industriais eliminados do mercado de trabalho. O contexto era outro, claro: enquanto no ano passado o PIB Nacional cresceu 1%, em 2015 houve baixa de 3,6%.  O PIB de São Bernardo caiu muito mais em 2015 e o PIB de 2017 ainda não foi apurado. Deve ter caído um pouco menos.  



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