Administração Pública

Paulinho Serra é o campeão
regional em gastança salarial

DANIEL LIMA - 21/10/2019

O prefeito Paulinho Serra completou os dois primeiros anos de administração de Santo André em dezembro do ano passado ostentando um título regional nada honroso e do qual dificilmente se livrará nos dois anos seguintes a serem estatisticamente confirmados: a gastança com o funcionalismo público em forma de crescimento médio de salários é espécie de ofensa aos trabalhadores das demais atividades econômicas que sofreram e sofrem com o congelamento econômico após um duro período de recessão nacional.

Enquanto os servidores municipais de Santo André acumularam nas duas temporadas crescimento de 22,75% em termos nominais, sem considerar a inflação, a média salarial dos trabalhadores da indústria de transformação não passou de 1,72%. A inflação do período foi de 9,40%, segundo o IPCA do IBGE.

Se alguém tem alguma dúvida do que se transforma em riqueza para a sociedade, se o desempenho industrial ou a burocracia pública, é melhor procurar algum manual de desenvolvimento econômico.

O prefeito Paulinho Serra tem sempre um discurso pronto em defesa do desenvolvimento econômico, mas a prática é desastrosa.

Caindo pelas tabelas

Santo André não consegue se livrar de insistente rebaixamento em ranking que leve em conta a geração de riqueza. CapitalSocial produz sistematicamente dados sobre isso tendo como base de comparação o G-22, grupo dos 20 maiores municípios do Estado de São Paulo, exceto a Capital.

Somente se Paulinho Serra abrir a caixa-preta com o perfil de gastos com o funcionalismo público seria possível uma análise mais profunda que exporia todos os ângulos. Sem essa transparência, é possível inferir que os novos contratados que substituíram aposentados, pensionistas e comissionados, passaram a ter tratamento seletivo.

Além disso, é provável que servidores então já contratados por prefeitos antecessores receberam reajustes salariais incompatíveis com a realidade econômica nacional e, principalmente, de uma Santo André estagnada economicamente neste século.

O aumento da média salarial dos servidores públicos de Santo André, de 22,75% no período de 12 meses, é bastante superior ao do segundo colocado no ranking regional, no caso São Caetano, que elevou os vencimentos em 16,70%. São Caetano também é um caso à parte. A economia local degringolou nos dois anos, mantendo o ritmo de queda dos anos anteriores de recessão nacional.

Mauá e Ribeirão Pires também aumentaram o salário médio dos servidores municipais além de um dígito e acima da inflação do período. Em Ribeirão Pires foram 15,60%, enquanto em Mauá o aumento chegou a 12,04%. Diadema (8,65%), São Bernardo (4,98%) e Rio Grande da Serra (2,70%) elevaram os vencimentos abaixo da inflação de 9,4%.

Números dos gastos

Vejam quanto era o salário médio dos servidores municipais em dezembro de 2016 (antes da posse dos atuais prefeitos) e como estavam em dezembro de 2018 (com dois anos de mandato cumpridos):

1. Santo André – de R$ 4.140,98 para R$ 5.083,04, com crescimento nominal de 22,75%.

2. São Caetano – de R$ 3.411,90 para R$ 3.981,69, com crescimento nominal de 16,70%.

3. Ribeirão Pires – de R$ 2.286,37 para R$ 2.643,20, com crescimento nominal de 15,10%.

4. Mauá – de R$ 2.934,95 para R$ 3.288,45, com crescimento nominal 12,04%.

5. Diadema – de R$ 5.364,12 para R$ 5.828,21, com crescimento nominal de 8,65%.

6. São Bernardo – de R$ 4.038,01 para R$ 4.239,05, com crescimento nominal de 4,98%.

7. Rio Grande da Serra – de R$ 2.286,37 para R$ 2.116,42, com crescimento nominal de 2,70%. 

Diadema na frente

Os resultados evidenciam que Santo André só perde em termos de valores médios de assalariamento dos funcionários públicos da ativa para Diadema. A liderança de Diadema é justificável historicamente: durante quase três décadas foi administrada por partidos políticos à esquerda do espectro ideológico e em algum grau de sintonia com o crescimento econômico.

Já no caso de Santo André o segundo lugar mais próximo dos números de Diadema do que da terceira colocada São Bernardo é resultado preocupante. Afinal, o Município conhece há três décadas a maior desindustrialização da região, juntamente com São Caetano. Tanto que não passam de 12% os trabalhadores industriais de Santo André --- o nível mais baixo em todos os tempos. Na década de 1970, Santo André detinha mais de 70% dos empregos formais no setor industrial.

O aumento médio dos salários dos servidores municipais do Grande ABC nos dois primeiros anos dos atuais prefeitos ultrapassou levemente a inflação do período, chegando a 11,19%. O que poderia parecer senso de responsabilidade dos administradores públicos locais não passa de descaso ante a situação econômica do País nos primeiros dois anos subsequentes à maior recessão da história, que começou no primeiro trimestre de 2014 e se estendeu por três anos.

Aquém da inflação

Crescimento acima da inflação, por menor que seja, é um ataque frontal à iniciativa privada. O salário médio industrial cresceu nominalmente apenas 1,72% no período, enquanto no setor de serviços chegou a 6,09%, também abaixo da inflação.

O salário médio geral do Grande ABC, inclusive com o adicional dos servidores públicos, cresceu apenas 4,25% no período, ou seja, mais de cinco pontos percentuais abaixo da inflação medida pelo IBGE.

A média salarial dos servidores municipais de Santo André, de R$ 5.083,04 em dezembro do ano passado, é 77,27% maior que a média geral dos trabalhadores com carteira assinada. Uma diferença que se elevou nos primeiros 24 meses da Administração de Paulinho Serra, como também de outros prefeitos da região, embora não tão acentuadamente.

O crescimento médio do salário dos trabalhadores registrados em Santo André em dezembro do ano passado em relação a dezembro de 2016 não passava de 4,71% em valores nominais, ou seja, sem considerar a inflação. Uma distância quilométrica dos mais de 22% do aumento do salário médio dos servidores municipais.

Esta é a primeira análise de uma série que procurará esmiuçar os novos números do mercado de trabalho no Grande ABC, relativos a dezembro do ano passado e contrapostos a 24 meses antes.

 Santo André e os demais municípios do Grande ABC confirmam a tendência de o PIB Público superar largamente o PIB da iniciativa privada. Ou seja: o PIB Ruim derrotando o PIB Bom. PIB Público bom é quando caminha em sintonia com o PIB da iniciativa privada. No Grande ABC isso é heresia neste século. Por isso caímos pelas tabelas, ocupando as piores posições entre os 39 municípios da Região Metropolitana de São Paulo.



Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André