Administração Pública

Regionalidade compromete
nota final de Orlando Morando

DANIEL LIMA - 05/11/2019

Três anos de mandato e um contraste de desempenho que compromete duramente a média geral de notas do prefeito Orlando Morando na Prefeitura de São Bernardo. Esse é o resumo da ópera da primeira análise sobre a atuação dos três principais executivos públicos do Grande ABC. Fosse observado apenas como prefeito de São Bernardo a nota média de Morando seria 5,5 pontos em 10 possíveis. Como São Bernardo está incrustrada na geoeconomia regional, e também na geopolítica, a nota média cai para 3,4, também em 10 possíveis. 

O peso da Regionalidade maltrata a média geral do prefeito de São Bernardo. Nem poderia ser diferente. Ele destruiu o que restava de supostamente produtivo do Clube dos Prefeitos. 

O tucano foi muito bem em Administração, não passou de razoável em Política, caiu pelas tabelas em Economia e fracassou em Regionalidade. Os pesos ponderados mais elevados de Economia e Regionalidade transformaram em decepção os primeiros 36 meses de mandato do principal político da região nos últimos anos. 

Pesos ponderados 

O resumo da ópera é que Orlando Morando tem tido mandato bastante satisfatório quando se trata de Administração no sentido restrito do termo, quanto à capacidade de colocar em ordem as finanças de São Bernardo, e, mesmo com erros gritantes que afetaram o vetor Regionalidade, tem resultado satisfatório em Política no âmbito municipal. Agora, quando sai para a área de Economia e, principalmente, de Regionalidade, tropeça inescapavelmente. 

O resultado final leva em conta o peso ponderado de cada quesito em que dividi a gestão dos prefeitos mais importantes da região. Regionalidade vale 40%, Economia 30%, Administração 20% e Política 10%. Morando foi bem justamente nos quesitos de pesos inferiores. 

O espectro conceitual desta revista digital, expresso ao longo das três últimas décadas, levando-se em conta a antecessora LivreMercado, revista de papel que circulou no Grande ABC entre os anos 1990 e 2018, explicita o conceito dessa análise e também da atribuição de notas. 

 Administração Nota 10 

A gestão fiscal da Prefeitura de São Bernardo nos dois primeiros anos do mandato de Orlando Morando não deixa margem de dúvida: é extraordinária. Sempre sob o ponto de vista de cuidados com as finanças, Orlando Morando fez o que até opositores não podem negar: colocou São Bernardo no topo da hierarquia de desempenho na região. 

Prova disso: São Bernardo saiu do 18º posicionamento no Estado de São Paulo, registrado em 2016, último ano do mandato do petista Luiz Marinho, e subiu para o quarto posto. 

Se não descambar nos dois últimos anos do mandato (sempre é possível esse tipo de desequilíbrio entre os prefeitos em busca de reeleição), Orlando Morando ficará na história de São Bernardo como alguém que cuidou de forma excepcional das finanças. 

O macroindicador mais confiável de desempenho fiscal da Administração Pública Municipal é produzido todo ano pela Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), que lança o IFGF (Índice Firjan de Gestão Fiscal), um conjunto de indicadores com quatro medidas temáticas. 

Chamo o IFGF de Campeonato Brasileiro de Gestão Fiscal. São Bernardo subiu dezenas de pontos entre a saída de Luiz Marinho e a chegada de Orlando Morando e já está em 51º lugar na classificação nacional – ocupava a posição 154. Está entre os municípios de Gestão de Excelência, com índice superior a 0800 (quanto mais perto de 1,00, melhor). A pontuação de 0,8923 reflete os cuidados da gestão fiscal de Morando. Nos quesitos Autonomia e Gastos com Pessoal, São Bernardo atingiu o resultado máximo, de 1,00. Em Investimentos atingiu 0,9359 e em Liquidez chegou a 0,6332. 

 Política Nota Cinco 

Orlando Morando ficou no meio do caminho na atividade política, sintetizada como a capacidade de articulação com instituições e a sociedade em geral.

Os erros cometidos à frente do Clube dos Prefeitos, quando cultivou contratempos com vários dos prefeitos, tudo sob o guarda-chuva do partidarismo, só não o levou à reprovação sumária porque houve o contraponto do governo do Estado. 

A afinidade com o governador João Doria, que provavelmente o levaria a um ministério em caso de virar Presidente da República, evitou que Orlando Morando fosse catalogado como intratável. 

Mas há uma máxima consagrada, sobretudo no meio político-partidário, que explica a dualidade de Orlando Morando ser demonizado no âmbito municipal e regional por conta de atropelamentos generalizados e reverenciado externamente, sobremodo no Palácio dos Bandeirantes. 

Trata-se da constatação de que Morando é pragmático ao extremo. Ele não teria vocação à perda de tempo e a ganhos de articulação que não sejam desbravadores.  Mesmo que causem muitos estragos no entorno. 

 Economia Nota Três 

Nem mesmo se a Ford ganhasse um substituto longe da altura do quanto representa de ganhos agregados o prefeito Orlando Morando teria escapado da nota baixa, de zero a dez, nesse quesito. 

O titular do Paço de São Bernardo está muito aquém das necessidades de um Município que não consegue dar um drible da vaca de alternativa na Doença Holandesa Automotiva. São Bernardo está preso ao sucesso do passado em que produzir veículos era quase que um monopólio paulista e, especialmente, uma especialidade intocável do Grande ABC. 

Agora as pedras desse jogo de xadrez de competitividade são outras, mais fortemente tecnológicas. Orlando Morando dá declarações enfáticas de investimentos das montadoras de São Bernardo, mas não percebe que há dois vértices nocivos: a desigualdade social e a desigualdade produtiva. 

Ou seja: quanto mais as montadoras e as sistemistas que dão suporte à produção aplicarem recursos em inovação e tecnologia (e isso é indispensável frente à concorrência nacional e internacional), mais São Bernardo sofrerá com a armadilha automotiva. 

Haverá mais pequenas e médias empresas que perderão o rumo e o prumo ao se verem afastadas das linhas de produção das montadoras e das sistemistas (isso já se dá com o cada vez maior volume de importação de peças e acessórios) e um menor contingente de trabalhadores constará da folha de pagamentos por conta do desemprego tecnológico. Resultado: a mão-de-obra industrial na região seguirá em desfiladeiro e o valor agregado da indústria será ainda mais reduzido. 

O mínimo que Orlando Morando deveria ter deflagrado assim que assumiu a Prefeitura seria a montagem de uma força-tarefa de especialistas em indústria automotiva e de autopeças para definir política econômica que evitasse a continuidade do crime da mala de dependência às cegas. 

São Bernardo sempre cuidou mal e pessimamente da estrutura econômica que os bons ventos trouxeram antes mesmo dos anos JK.  E sempre deixou que o vento da fortuna cuidasse do destino dos trabalhadores e da sociedade como um todo. 

A biruta da descentralização produtiva do setor virou e nenhum prefeito se dedicou à tarefa de reduzir os danos. Orlando Morando é mais um. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico segue a régua de retribuição político-partidária na ocupação de postos. São amadores num mundo automotivo voraz. 

 Regionalidade Nota Zero 

Não existe a menor possibilidade de Orlando Morando receber nota maior que zero. O prefeito de São Bernardo dirigiu o Clube dos Prefeitos nos dois primeiros anos de mandato. Foi uma catástrofe ao se deixar levar pela política partidária. 

O somatório de erros de Orlando Morando no Clube dos Prefeitos ocuparia muito espaço. É melhor sintetizar a questão. Ele proporcionou o afastamento de três dos sete prefeitos, desativou praticamente toda a estrutura da entidade (que já não era lá uma Brastemp), não colocou nada como substituto, criou inútil, sobreposta e dispendiosa Casa do Grande ABC em Brasília e, para completar, destruiu as balizas da Agência de Desenvolvimento Econômico. 

Faltou a Orlando Morando como prefeito dos prefeitos do Clube dos Prefeitos algo que poderia ser chamado de estratégia de comprometimento. Bastaria que seguisse o trem da baixa eficiência daquela instituição desde a retirada de cena do prefeito Celso Daniel, no fim dos anos 1990. Não precisaria avançar o sinal. Mas o partidarismo falou mais alto. Tudo que se refere ou que lembre o PT no Grande ABC conta com a inscrição compulsória de Orlando Morando como mecanismo de combate. E foi assim no Clube dos Prefeitos. 

Não interessa ao prefeito de São Bernardo nada que diga respeito a qualquer território regional que não seja São Bernardo. O cálculo político de Orlando Morando está acima de qualquer preocupação com eventuais repercussões na vida prática de quem mora na região. 

O relacionamento de Orlando Morando com os prefeitos vai de mal a pior, mas o modus operandi dos políticos é conhecido como a capacidade de sustentar o cinismo e o politicamente correto em nome da próxima eleição.

Embora também tucano, o prefeito José Auricchio Júnior é um dos adversários regionais de Orlando Morando. Paulinho Serra, prefeito de Santo André, é um adversário menos arredio, mas está longe de deixar de trocar cotoveladas com Orlando Morando numa competição em que a amizade e a generosidade sejam testadas. 

 Municipalismo Nota 5,50 

Não houvesse o componente Regionalidade na equação geral que toma o pulso do desempenho do prefeito Orlando Morando, o resultado final seria de aprovação por margem escassa, com nota 5,50 entre o Dez possível. Sem o peso de 40% de Regionalidade na média geral, sobram três quesitos à aferição: Política, Administração e Economia. Desta forma, enquanto Política passa de 20% na grade geral de notas, Administração sobe para 30% e Economia para 50%. 



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