Esportes

Nairo coloca São Caetano à
beira de insolvência. E agora?

DANIEL LIMA - 12/11/2019

Das três, uma: ou Saul Klein volta à função mesmo que temporária de mecenas, ou o presidente Nairo Ferreira coloca dinheiro que nunca colocou ou o São Caetano desaparece. Esse é o resumo da ópera em que se encontra o time sensação da primeira década deste século no futebol brasileiro.

Um vídeo que invadiu as redes sociais na tarde de ontem corroborou o texto que fiz e publiquei ontem de manhã nesta revista digital. O material revela sem maquiagem a situação de penúria em que se encontram os jogadores diante do vácuo financeiro do São Caetano. Os mesmos jogadores que, neste final de semana, decidem a Copa Paulista com o XV de Piracicaba no Estádio Anacleto Campanella. O jogo será transmitido pela Fox. Tudo é possível antes que os 90 minutos comecem. Outro dia a equipe entrou em campo com a camisa do avesso. Claro que em protesto.

Quem duvidou do que escrevi ontem sobre o momento de desarrumação total em que vive o São Caetano Futebol Limitada presidido por Nairo Ferreira deveria ficar mais atento. O vídeo liderado pelo médio-volante Esley, que descreve o momento do São Caetano, é mais que explicativo, é espécie de convocação geral à sociedade de São Caetano.

Existência em jogo

O resultado será pífio. São Caetano esqueceu o Azulão em larga escala. Só comparece ao Estádio Anacleto Campanella em dias muitos especiais. Contra o XV de Piracicaba, se bobear, verá a torcida adversária dividir não os espaços, mas o incentivo aos atletas.

Não é a ressonância social do São Caetano que interessa nesse momento. Está em jogo e para valer a própria existência do futebol profissional na cidade. As informações que me chegam dão conta de que Saul Klein não colocará mais a mão nessa cumbuca devoradora de milhões de reais. E que Nairo Ferreira, que jamais colocou a mão em algo que se traduza como solidariedade de investimentos, está à beira de um ataque de nervos.

Tanto Nairo Ferreira está em desalinho emocional que pode renunciar também ao clube-empresarial a qualquer momento. Ou simplesmente solicitar falência. Os compromissos com fornecedores se acumulam. Com os jogadores, fornecedores de resultados em campo, chegou ao máximo da tensão. Como mostra o vídeo.

Mecenas ludibriado?

O noticiário que envolve Saul Klein não parece o mais sensato quando se trata de responsabilidade de um dos executivos que tornaram a rede Casas Bahia pujança de varejo.

Saul Klein deu ao São Caetano muito mais que qualquer pessoa sensata daria. Foram mais de R$ 80 milhões somente nos últimos cinco anos, período no qual estavas à nocaute, impactado por uma doença de repercussão físico-mental arrasadora: depressão. Tenham cuidados de ir ao dicionário médico e vejam o que a depressão representa. Enquanto isso, Nairo Ferreira nadava de braçadas num rio de dinheiro.

Condicionar ou sugerir mesmo que subjetivamente a desgraça financeira do São Caetano (que tem todas as digitais do presidente Nairo Ferreira) à liberdade de investimentos de Saul Klein não me parece adequado. Se há um vilão em toda essa história que coloca o São Caetano à beira da falência, ele tem nome e sobrenome: Nairo Ferreira.

Presidente incompetente

Com o dinheiro que recebeu de Saul Klein, o São Caetano deveria estar na Série B do Campeonato Brasileiro, como o Red Bull-Bragantino desta temporada, e não rebaixado dentro de campo, embora roubado pela interpretação normativa fraudulenta da FPF.

Como antecipei ontem, antes que a gravação-bomba viesse a público, o São Caetano pode deixar o Estádio Anacleto Campanella no próximo final de semana com uma vaga garantida na Série D do Campeonato Brasileiro; entretanto, dramaticamente inviável como sociedade esportiva.

Aliás, já se inviabilizou como sociedade esportiva porque sempre dependeu do dinheiro de um mecenas que cansou de ser driblado. Além de montanhas de dinheiros que aplicou no clube, cujos registros estão legalizados na Receita Federal, Saul Klein viu-se surpreendido por uma cordilheira de dívidas.

Nairo Ferreira é um contraponto de Saul Klein. Enquanto o filho de Samuel Klein é o maior mecenas do futebol brasileiro, Nairo Ferreira é o mais perdulário e ineficiente dos presidentes de clubes-empresa que se tem conhecimento.

Responsabilidade presidencial

Nestas alturas do campeonato não interessa para onde eventualmente vão os dinheiros de Saul Klein, entre as variadas agremiações que pretendem tê-lo como investidor.

Fala-se na parceria com uma das maiores empresas brasileiras do setor, comandada por Giuliano Bertolucci, tendo como alvo a Ferroviária de Araraquara. Tenho minhas dúvidas sobre a viabilidade desse negócio, mas não interessa o que vai dar porque dinheiro particular com dono demarcado é dinheiro cuja aplicação diz respeito apenas a quem é o titular das contas bancárias.

O que deve mesmo ficar mais claro no horizonte próximo do São Caetano é que só existe um responsável pela situação em que o clube-empresa se encontra. Deixar que manchetes que colocam o Azulão de salários atrasados muito à frente do Azulão finalista de uma competição é a síntese da incapacidade de Nairo Ferreira gerenciar um clube profissional.

Futebol dá visibilidade

Os esforços que o prefeito José Auricchio empreendeu para segurar a General Motors em São Caetano não se repetirão com o futebol da cidade. São quadros distintos.  Mas que São Caetano vai sentir no tempo o quanto terá perdido com o fim do São Caetano, não tenham dúvida.

A cidade não estaria na memória de todos os brasileiros se não fosse o futebol. Seria apenas um ponto perdido na Região Metropolitana de São Paulo.

Um ponto perdido lembrado sazonalmente quando se trata de qualidade de vida. Que não é a mesma coisa que futebol. No fundo, cá entre nós, São Caetano jamais mereceu o São Caetano vencedor da primeira década. E o São Caetano de Nairo Ferreira jamais teve competência para tornar aquele período mola propulsora de engajamento duradouro e fortalecedor de identidade municipal. 

Quem acha que futebol é emoção vazia não entende nada da vida. Futebol está entranhado na alma do povo como substância cultural indissociável de cidadania.  Veja o XV de Piracicaba que pretende trazer três mil torcedores. Enquanto isso, o São Caetano levou 52 torcedores a Piracicaba, segundo contagem do repórter de campo da Fox.



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