Política

LulaLivre aumenta cacife de
Morando contra Luiz Marinho

DANIEL LIMA - 14/11/2019

Consultando meu Ibope especulativo que mira as próximas eleições municipais em São Bernardo, aumento a vantagem do prefeito Orlando Morando contra o petista Luiz Marinho. Até outro dia estava de 60 a 40 dos votos válidos. Agora está para 65 a 35.

Tudo por conta do que se viu com o LulaLivre no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Morando foi o único prefeito da região a botar a cara para bater, com peças de marketing que condenam a decisão do Supremo Tribunal Federal. Outros tucanos da região preferiram fugir da briga. Aliás, tucanos fugindo da briga é quase redundância. Alguns fingem que brigam, mas não passam mesmo de metidos a besta ante supostos adversários sem o mesmo poder de fogo. 

Orlando Morando sente cheiro eleitoral. Ele sabe que Lula da Silva na pele de LulaLivre perdeu pontos de prestígio na região. Ninguém é solto mesmo que provisoriamente (mas juntamente com nomes consagradas na literatura de corrupção lavajatense do País), sem carregar mais ônus que bônus.

Temporário e definitivo

É verdade que o lucro registrado por Orlando Morando pode ser temporário, mas também pode ser prolongadíssimo e chegar em ponto de bala até as urnas em outubro do ano que vem.

Tudo vai depender do vai-e-vem da política, da economia, dos acontecimentos macroeconômicos e macropolíticos. Mas também dessas possibilidades de contextos locais.

LulaLivre não está desgarrado especialmente de São Bernardo e de toda a região. O que fizer por aí sempre se refletirá aqui. Goste-se ou não. O eleitorado está empoderado nas mídias sociais. A mídia tradicional já não comanda monoliticamente o baile.

Orlando Morando contrapôs aos 580 dias de prisão de Lula em Curitiba os 580 dias de Administração de São Bernardo. Uma jogada de marketing que deve ser respeitada. Do ponto de vista político é genial. Aliás, para enfrentar direta ou indiretamente um gênio da política, que é o caso de Lula, somente ações à altura. Sobremodo quando o LulaLivre abre brechas à ocupação adversária.

LulaLivre descalibrado

Aqui não vai nenhum resquício de juízo de valor partidário ou ideológico sobre a vantagem obtida por Orlando Morando com o desembarque de LulaLivre em São Bernardo. É constatação pura.

Não consigo enxergar uma nesga sequer de produtividade eleitoral de LulaLivre num território em que, como no País, o jogo de preferências está demarcado. São um terço à direita, um terço ao centro e um terço à esquerda. O terço ao centro pende cada vez mais para candidatos à direita. A biruta virou desde que Bolsonaro fez das redes sociais um campo de batalha. E aquela facada ajudou demais.

Em São Bernardo, berço petista, a porção potencial da esquerda é relativamente maior que a porção potencial da esquerda no País. Mas a porção à direita também pode ser maior que a média brasileira. Tudo depende do tom e dos decibéis de LulaLivre.

E LulaLivre começou mal a jornada pós-Curitiba, como reconhecem algumas cabeças coroadas do próprio PT Nacional. Enraivecido, exagerou na dose de críticas. Sem contar que também está defasado nas narrativas políticas, econômicas e de ordem judicial.

Contrariedade social

LulaLivre emula na sociedade, como outros beneficiários da decisão do STF, uma certa porção de contrariedade, quando não de algo mais duro. Está longe de caracterizar, como pretende, um exemplo de perseguição e demonização fora do prumo da meritocracia punitiva.

Enquanto outros prefeitos da região ficaram na muda, inclusive com conhecidos bate-paus de redes sociais fugindo da raia dos desdobramentos do LulaLivre, Orlando Morando foi à luta e demarcou terreno de contrariedade ética e moral. Claro que há bate-paus que de jornalismo não entendem nada e confundem declarações protocolares com enfrentamento.

Quem acha que essa situação é de menor importância despreza o estágio a que chegou o eleitorado brasileiro. As mídias sociais aquecem as turbinas de radicalizações e ponderações de forma permanente. As eleições do ano que vem já começaram tanto quanto as eleições presidenciais de 2018 ainda não se encerraram. É pau puro. É jogo pesado.

Paulinho Serra na moita

Prefeito que ficou na moita porque tem compromissos com o PT pode se dar mal. Caso do tucano Paulinho Serra em Santo André, na verdade um condomínio multipartidário cuja finalidade está mais que desenhada nas urnas do ano que vem. Basta que um candidato relativamente forte do centro ou mesmo de centro-direita decida botar a boca no trombone. Como Orlando Morando.

Nada é definitivo na política. Da mesma forma que o provisório pode estender-se além da conta. O definitivo provisório e o provisório relativamente definitivo são nuances que vão além da redundância e das contradições temporais.

O que quero dizer com isso é que Orlando Morando ganhou pontos preciosos na mente do eleitorado em geral (menos dos esquerdistas, claro) e com isso safou-se em parte da bobagem anterior de antepor-se ao presidente Jair Bolsonaro por conta do alinhamento ao governador João Doria. Essa não é iniciativa inteligente para quem quer capturar votos dos menos empedernidos na disputa entre direita e esquerda. A decisão de hostilizar de alguma forma o eleitorado da direita bolsonarista que não morre de amores por João Doria provoca danos.  

Desgaste popular

O futuro próximo ou um pouquinho mais esticado vai consolidar ou não a percepção ainda não medida por pesquisas de que Orlando Morando deu um tiro certo ao expor-se no combate à liberdade de Lula da Silva e de outros nomes famosos da política que mergulharam nas águas da corrupção.

Tenho a mania de ouvir gente em tudo que é lugar. No elevador, nos restaurantes, numa fila qualquer. Gente geralmente de classe social baixa. Muitos do norte-nordeste. Gente com raízes populares que representam muitos parentes igualmente sofridos. LulaLivre caiu mal para o PT porque, repito, veio como espécie de combo de fast-food.

O que supostamente havia de percepção de injustiça contra o ex-presidente ganhou foro de anedota quando começou a desfilar a sucessão de nomes estrelados igualmente aquinhoados pelo Supremo. Lula foi colocado no mesmo balaio de gatos, ou de gatunos.

O tiro saiu pela culatra no subconsciente dos eleitores de uma classe social que, na dúvida entre direita e esquerda, optava pelo gênio que fez de São Bernardo plataforma de embarque no mundo da política.

Lidando com a situação

Orlando Morando mostrou, especialmente a Paulinho Serra, como se comportar em situações fora do padrão do cotidiano da política local.

Santo André é mais conservadora que São Bernardo, porque a matriz da classe média da primeira é mais pronunciadamente sólida do que o da segunda. Isso significa que Paulinho Serra, bem mais que Morando, podia ter pegado carona na espinafração do petista. O centro e a direita comemorariam.

O que coloca Morando e Paulinho em cantos opostos são as definições que tomaram na vida para se viabilizarem eleitoralmente. Os dois tucanos são distintos, quase que água e vinho.

Paulinho Serra amarrou-se ao burro da baixa personalização política. Morando soltou as rédeas contra o petismo na terra do petismo. Um enfrentamento inexorável, é verdade, mas igualmente inteligente. Quem ficou no meio do caminho entre a direita e a esquerda, como Alex Manente, virou deputado eterno.

A sociedade regional, especificamente, está saturada de gente que faz do muro permanência constante. É preciso posicionar-se sim. Com mais ou menos radicalismo, não interessa. Estamos vivendo uma etapa da vida nacional e internacional de reposicionamentos barulhentos, muitas vezes anárquicos, mas indispensáveis para o avanço da humanidade.  

Haveremos de encontrar um caminho. O bom-mocismo enganador de um passado prolongado nos levou ao quadro que está aí. A sociedade já não tem muita paciência para lidar com hipocrisias e cinismos.



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