Política

Agenda Local é quesito básico
rumo ao comando de Prefeitura

DANIEL LIMA - 17/01/2020

Iniciamos a prospecção do primeiro dos 13 quesitos que podem levar um candidato a qualquer uma das prefeituras do Grande ABC nesta temporada. Tomamos o pulso do que entendo ser a principal peça das operações de campanha. Agenda Local é mesmo o ponto-chave, mas não é mais tudo-isso ou tudo-aquilo que os chamados cientistas políticos desfilaram nas entrevistas à grande imprensa, como tenho visto a cada semana. 

Antes de enfileirar as razões que dão sustentação a condicionantes que muitos desprezam, convém lembrar que Agenda Local é um saco de avaliações em que tudo que diz respeito à ação dos candidatos no Município em que concorrerão é levado em conta pelos eleitores. 

Saúde, Educação, meio ambiente, infraestrutura física, lazer, zeladoria, saneamento básico, impostos. Tudo isso, sob a alçada do prefeito de plantão, está no empacotamento da Agenda Local. 

Complicações tecnológicas 

Antes da revolução capilarizadora da tecnologia digital, a Agenda Local (cercada de vários dos outros quesitos que formam o coquetel de competitividade eleitoral) constava como imbatível eixo de operações. Com o advento das encrencas e soluções do mundo digital postas à disposição de eleitores que também são consumidores, de eleitores que também são empresários, de eleitores que também são trabalhadores, de eleitores que são múltiplos, a situação mudou. 

Mas o peso relativo da Agenda Local, acredito que ainda seja prevalecente. Mas muito menos decisivo que antes. Nenhum candidato ganhará eleição alguma no Grande ABC no dorso da Agenda Local, imaginando-se cavaleiro intocável. 

Por mais bravio que tenha sido o animal de desafios domesticado pelo prefeito de plantão, não seria apenas por isso que a vitória em outubro estaria garantida. Isso quer dizer que opositores não começam o jogo perdendo de forma inexorável. Dependendo de situações específicas, podem até sair em vantagem.  Mesmo com a chamada máquina pública, que faz parte da Agenda Local, à disposição dos prefeitos com direito à reeleição. 

Como escrevi na matéria que anunciou esta série de textos sobre como ganhar uma eleição no Grande ABC em 13 capítulos, cada cabeça é uma sentença na qualificação do peso ponderado que a Agenda Local desempenhará como fator de sensibilização. 

Combates incessantes 

Sobram diagnósticos generosos demais. Especialistas no mercado de avaliação eleitoral parecem se esquecer de que aquele aparelhinho que todo mundo carrega nas grandes, médias e pequenas cidades faz uma diferença e tanto. Que o local perdeu espaço para o regional, para o estadual e também para o nacional.  Os entrechoques geográficos são latentes. Nas redes sociais temos embates de todos os tons partidários, ideológicos e espaciais.  Há salada de insumos a ser digerida. Há artimanhas que dão ou não realce à Agenda Local. Usuários de aplicativos são inventivos, matreiros, estratégicos. Os ingênuos são uma minoria. 

O conjunto de ações e inações de um prefeito de plantão ou de um eventual favorito eleitoral que não esteja no gozo do cargo passa obrigatoriamente pelas mídias sociais. 

Não preciso recorrer à síntese da candidatura de Jair Bolsonaro para acabar com eventual discussão. Negar que as redes sociais com temáticas não municipais ou regionais vão estremecer sim as estruturas da Agenda Local a cada nova temporada tem o mesmo sentido que santista de verdade, quando acuado numa discussão futebolística, deixará de puxar do coldre de oportunismo mais que justo a arma letal da grandeza do Rei Pelé para acabar com a brincadeira. 

Da mesma forma, diria que é burrice ao quadrado sugerir que a Agenda Local, com nuances intestinas com as demandas mais práticas dos moradores de cada Município, não influenciará em determinada porção substantiva o voto dos eleitores. Influenciará sim e consideravelmente. 

Provincianismo enterrado 

O que mudou é que antes das mídias sociais o mundo eleitoral municipal era provinciano, dependente de poucas alternativas à formação de opinião. E os entreveros partidários e ideológicos estavam longe da insanidade destes tempos. 

Havia uma centralidade mais intensa dos canais de comunicação tradicionais. No caso do Grande ABC prevaleciam publicações impressas. Não temos emissoras de rádio e de televisão com maciças audiências. Vivemos na penumbra da Capital. Sempre sofremos com o apagão televisivo. 

Os jornais, especialmente o Diário do Grande ABC, o mais tradicional veículo de comunicação da região, era Rede Globo das eleições. Se nem a própria Rede Globo sustenta mais o peso de antes, por que o Diário do Grande ABC haveria de manter? 

No capítulo específico sobre Imprensa vou detalhar essa abertura de janela interpretativa. 

Piscinão e Ford 

A Agenda Local agora passa por escrutínio mais intenso, muitas vezes raivoso, certamente degenerativo quando os decibéis das redes sociais escapolem da civilidade. Isso tem sido frequente. Nada diferente das eleições do ano passado para presidente. As redes sociais estão em combustão permanente, mas já se nota com alguma clareza que fake news já não têm tanta liberdade, intensidade e credibilidade, embora sigam atormentando a vida de muita gente. 

Ainda quanto à Agenda Local, saberia o leitor avaliar o que tem maior peso à definição de voto do eleitorado em São Bernardo (sem considerar outros quesitos listados) em outubro deste ano? O que é mais importante: a construção do piscinão que atazanava a vida de muita gente nas enchentes na região central ou uma declaração do prefeito Orlando Morando, acompanhado do governador João Doria (o inverso da equação também seria verdadeiro) ao garantir que a Ford não daria no pé e, em seguida, diante da frustração, que aquela unidade ganharia substituto antes que dezembro do ano passado chegasse? 

Vou insistir no exemplo, transportando-o ao campo da mídia social, cujos aplicativos estão recheadíssimos de guerrilheiros: uma campanha que pretendesse desidratar a força eleitoral de Orlando Morando e que tratasse da frustração da Administração Pública ao não segurar a Ford nem garantir uma fábrica substituta, provocando a perda de quase três mil postos de trabalho, teria mais força que o concreto armadíssimo que garante que a região do Paço Municipal não mergulhará mais nas águas de verão? 

O parágrafo é longo o suficiente para, quem sabe, exigir releitura, mas o fiz de propósito, num fôlego único, porque assim o leitor não perderia a oportunidade de sentir o confronto de equações. Em outros tempos, quando o peso da Economia Local também não era declaradamente questão eleitoral mais proeminente, o piscinão ganharia de goleada essa disputa. Agora, com redes sociais martelando novos conceitos e interesses nem sempre coerentes, tudo pode acontecer. 

Transferência do Semasa 

Para não dizerem que estou a criar obstáculos ao prefeito Orlando Morando (longe de mim essa intenção, pelo menos no exemplo acima, porque jornalista de verdade sempre dá um jeito de complicar a vida de quem quer que seja quando se trata de avaliar custos e benefícios), pego o prefeito Paulinho Serra, de Santo André, para Cristo. 

Exemplo? A transferência do Semasa para a Sabesp foi um grande acerto. Aquela autarquia de água e esgoto levou a sério o destino de confundir a segunda especialidade com a própria trajetória de obscuridades. Mas há contra-argumentos ligados à transparência do negócio, muito abaixo dos manuais de responsabilidade corporativa e pública mais modernos, além, claro, da oposição ao próprio modelo de transferência, bandeira dos partidos de esquerda. Como no caso do piscinão do Paço Municipal em São Bernardo, o Semasa está sujeito a desgastes da Administração Municipal no campo de batalha dos aplicativos. 

Notaram que a situação ficou complicada para quem colocava a Agenda Local como vaca sagrada de probabilidades de vitória eleitoral? Ser um bom prefeito ou ser um candidato forte ao cargo de prefeito vai muito além da conta simplista do mundo analógico. Agora o bicho tecnológico pegou e poucos concorrentes se deram conta disso na plenitude da possibilidade de usos e abusos. 

A Agenda Local continua a ser aquele instrumento que se utiliza para uma festança em campo de nudismo mais liberal, mas, surpreendentemente, uma placa de aviso impõe que há obrigação explícita nas placas de advertência de que preservativos são obrigatórios. No caso específico da disputa eleitoral, o material sintético conta com 12 camadas restritivas, entre as quais as redes sociais já mencionadas, mas ainda não esmiuçadas. E é isso que estamos levando a cabo.



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