Alex Manente é portador aparentemente irrefutável de algo que remete ao Efeito-Tostines. Manente é deputado porque é incapaz de virar prefeito ou é incapaz de virar prefeito porque prefere ser deputado? Nas três disputas eleitorais para a Prefeitura em São Bernardo o atual deputado federal não passou de coadjuvante. Na primeira, em 2008, foi linha auxiliar do PT na vitória de Luiz Marinho. Na segunda, em 2012, foi adversário amistoso do PT de Luiz Marinho. E na terceira (2016) tomou o lugar do PT no confronto com Orlando Morando após herdar o espólio do PT por conta da Operação Lava Jato.
No fundo, no fundo, Alex Manente tem vocação conservadora e doutrinada ao voto proporcional, ou seja, ao compartilhamento de atuação na esfera legislativa. Manente pode e deve ter ambições para ocupar o Executivo, mas não expôs até hoje talento para sair da condição de terceira via.
Uma terceira via que, de tão pouco provável a se tornara primeira via, gera especulações sobre outras terceiras vias nas disputas deste ano em São Bernardo. Passar de terceira via única a mais uma terceira via é a prova do Efeito-Tostines, cuja dúvida eterna em forma de mote é uma das peças de maior sucesso no mundo publicitário: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais?”.
Trata-se, aquela peça publicitária, de uma ovação ao sucesso de um produto. Em oposição, portanto, ao fracasso ou ao conformismo da carreira de Manente. Afinal, não há quem não almeje ser prefeito de São Bernardo em antagonista ao cargo de deputado federal ou estadual.
Terceiras vias condenatórias
Fosse mesmo liderança política que há muito deixa de ser porque insiste em enxergar a política como prova de tiro curto, não de desafiadora maratona, Alex Manente não teria sido colocado em dúvida como a melhor alternativa às candidaturas do tucano Orlando Morando e do petista Luiz Marinho.
Aliás, essa operação aparentemente de marketing que pretenderia destilar a mensagem de que há candidatos à rodo em São Bernardo para se oporem a Marinho e a Morando é um tiro no pé. Esparrama o que poderia ser concentrado.
Alex Manente deputado parece rejeitar o desafio a Alex Manente prefeito. Não faz nada para construir carreira fora das lides legislativas. Segue figurino naturalizado pelos políticos que sonham em chegar a uma Prefeitura, mas que encontram candidatos mais fortes como obstáculos. Não os confronta diretamente. Mais que isso: não preenche espaços sociais de votos potenciais. Prefere sustentar a proximidade ao PT mesmo quanto o PT está esfarelado. Bandeasse para os tucanos o sentido autofágico eleitoral seria o mesmo.
Conluio com eleitores
Alex Manente parece ter incorporado de tal maneira o figurino de deputado que perdeu a apetência à função de Executivo. Mais que isso: parece torcer por um lance do destino, uma lotérica oportunidade para se colocar em condições de disputar para valer um segundo turno, ao invés de servir de apoio ao potencial vencedor.
Alex Manente tri-candidato derrotado a prefeito conta com votos suficientes que sustentam a memória eleitoral de se tornar deputado. Viciou-se nessa prática retroalimentadora da função legislativa e excluidora da função Executiva. Faz das disputas à Prefeitura marketing à próxima eleição proporcional.
Os eleitores de Alex Manente parecem ter entendido perfeitamente essa manobra e não lhe dão o devido crédito quando o alvo é o Paço Municipal. Há um jogo bilateral de comodismo. Parente muito próximo do conformismo.
Oportunidade perdida?
A oportunidade que se lhe apresenta nesta temporada provavelmente é a melhor de todas para virar prefeito, mas praticamente já a desperdiçou. Deixou escapar o desgaste petista e não soube ocupar as rachaduras proporcionadas pelo prefeito tucano Orlando Morando e pelo PSDB como um todo no Estado de São Paulo.
As circunstâncias eleitorais desta temporada erigiram uma montanha de potencial eleitoral a ser preenchido em São Bernardo. Imagina-se, ante as circunstancias, um caudaloso contingente de votos brancos e nulos, além de abstenções.
Fosse Alex Manente candidato para valer à Prefeitura e não um deputado sempre em busca de plantio que facilite a reeleição, esse amplo espaço poderia ser traduzido em muitos votos. A direita e a centro-direita de São Bernardo, reserva supostamente de Orlando Morando, deixará de ser um reduto confiável ao tucano nesta temporada.
Os embates do governador João Doria com o presidente Jair Bolsonaro vão causar estragos locais. Tanto que Orlando Morando, cuja imagem se ajusta ao figurino de João Doria como um par de chinelos à areia de praia, deverá escassear os convites para o governador engrossar a campanha eleitoral em São Bernardo. Quanto mais aproximação, mais os bolsonaristas vão rejeitar a reeleição de Morando.
Operação Lava Jato
Já à centro-esquerda do espectro eleitoral, uma reserva de Alex Manente, o eleitorado potencialmente o fortaleceu após as estripulias petistas. Sem entrar em bola dividida, Alex Manente poderia recolher os votos pouco ideológicos à direita de Orlando Morando e à esquerda dos refratários ao petismo.
Parece uma equação pouco provável, mas que resistiria à seguinte lógica: bastaria a propagação de um programa de governo municipal conectado às variadas imposições do eleitorado diante do enfraquecimento econômico de São Bernardo. Manente poderia ser um candidato mais confiável aos menos explosivos bolsonaristas deserdados e aos petistas apeados do poder.
Como isso seria possível? Primeiro, tanto tucanos quanto petistas vão se desgastar mutuamente ainda mais durante a campanha eleitoral porque há um jogo de interesse nesse sentido. A máscara que os mantinham no poder estadual e federal caiu com o bolsonarismo e o rompimento provocado por alas menos condescendentes dos dois partidos.
Sobretudo porque a Operação Lava Jato botou tanto um quanto outro em compartimentos semelhantes de safadezas com o dinheiro público. Claro que o PT em maior proporção. Até porque ocupava o governo federal. Mas o PSDB do Rodoanel e do Metrô bordaram à margem da moralidade pública.
Alex Manente poderia emergir como escoadouro de votos de inconformados e de outras coisas mais. Entretanto, como age o tempo todo como deputado e não como candidato a prefeito, o buraco eleitoral permanece.
Bolsoguerismo no jogo
Cabe um parêntese explicativo sobre a possibilidade de um Manente previdente e prospectivo como candidato a prefeito, não a deputado, ampliar o eleitorado tendo o bolsonarismo como alvo. Há três criaturas políticas a subdividir o bolsonarismo, duas das quais compatíveis com pressupostos imaginados como aliados de Manente.
O bolsonarismo central, que gerou inclusive essa marca de cunho preconceituoso dos esquerdistas (como lulismo o é para os direitistas) são usuários contumazes de uma liturgia conservadora nos costumes. O outro tipo de bolsonarismo é marcado pelo bolsoguedismo, relativo a Paulo Guedes, superministro da Economia, um liberal que pretende reduzir a carga de incompetência do Estado. O terceiro vértice do bolsonarismo é o bolsomorismo, relativo a Sérgio Moro, que dispensa adjetivos. Portanto, bolsoguerismo seria a expressão que melhor retrataria o governo atual. É lógico que a esquerda detestaria essa variável, porque bolsonarismo é mais estigmatizador, porque de face única. Como o lulismo, repito.
Apenas política, só política
Alex Manente tem mais de uma década de política e jamais organizou um grupo de especialistas, voluntários e competentes, para desfraldar uma ou duas bandeiras de intrínseco interesse de São Bernardo fora das linhas dos gramados partidários. Seriam essas bandeiras abre-alas de comprometimento social efetivo com o futuro.
As múltiplas questões regionais, sobretudo no campo econômico, jamais merecerem um mínimo de atenção de Alex Manente. Ele vive para Brasília e de Brasília não arreda-pé. E segue a velha e surrada cartilha de políticos pouco produtivos que exibem emendas para entidades sociais e obras que pouco mudam a vida regional. São os chamados redutos de velhos caciques a assaltarem o coração e a alma de um jovem político.
Embora prevaleça um chute eleitoral lotérico para o colocar como candidato viável nas urnas, o que poderia ser traduzido como um bombardeio de rescaldos da Lava Jato e filhotes sobre os dois candidatos já postos e que centralizam atenções, Alex Manente poderia tentar recuperar o atraso da incapacidade de planejar a própria carreira.
Como assim? Basta transformar como aliados os candidatos que se apresentam como novas terceiras vias. A individualização múltipla de terceiras vias seria a consagração das duas vias já colocadas. A condensação das terceiras vias numa única terceira via poderia dar mais robustez à candidatura do deputado federal.
Repasso na sequência os trechos principais das três matérias publicadas na revista LivreMercado e em CapitalSocial logo após as eleições de 2008, 2012 e 2016, todas com referências à campanha de Alex Manente:
Manente dá mais
força a Marinho
DANIEL LIMA - 21/10/2008
O PT de Luiz Marinho chegou na frente do PSDB de Orlando Morando ao final do primeiro turno em São Bernardo. Foram 11 pontos percentuais de vantagem, ou três em cada 10 votos. Faltaram menos de dois pontos percentuais para o ex-ministro do Trabalho e da Previdência Social garantir em 5 de outubro o partido do presidente da República de volta ao Paço Municipal – exatamente depois de 20 anos que separam a vitória do então advogado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Maurício Soares. Negar o favoritismo de Luiz Marinho no segundo turno seria agredir a lógica, principalmente depois de adicionar potencial de votos do deputado estadual Alex Manente, terceiro colocado no primeiro turno com 12%. O apoio de Alex Manente a Luiz Marinho foi uma caçapa cantada desde que as primeiras mobilizações eleitorais em São Bernardo indicavam que entre ele e Orlando Morando imperava o que talvez possa ser chamado de incompatibilidade geracional. Jovens com perspectivas paralelas, esses ex-vereadores elegeram-se deputados por caminhos diferentes. Morando contou com o apoio do prefeito William Dib. Manente formou dissidência de grupo que dava sustentação à administração, liderada por Otávio Manente, pai de Alex e ex-secretário de Serviços Urbanos, uma máquina de capitalização e fidelização de votos. Quando os jornais impressos anunciaram a incorporação de Alex Manente à campanha de Luiz Marinho, fotos estamparam parceria que poderia até ter sido antecipada na semana final do primeiro turno. Manente reduziu lentamente a mobilização quando percebeu que faltariam recursos estruturais para ameaçar o segundo lugar de Orlando Morando. Depois de ver no primeiro turno seus eleitores menos fiéis caminharem em larga escala em direção a Luiz Marinho, a ponto de o petista saltar à frente nas pesquisas em proporção semelhante à sangria, Alex Manente passou a levar mais a sério a parceria com o petista.
Prorrogações vão desempatar jogo
eleitoral na Província. Quem vence?
DANIEL LIMA - 08/10/2012
Urnas apuradas, jogo inacabado: três dos sete municípios da Província do Grande ABC levaram à prorrogação a disputa eleitoral entre petistas e oposicionistas. Uma vitória de Luiz Marinho abaixo da expectativa numérica em São Bernardo, muito longe da marca consagradora de William Dib nas eleições de 2004, e o esperado triunfo em São Caetano, com um Paulo Pinheiro disfarçado de peemedebista, asseguraram dois gols, mas o PT sofreu dois reveses igualmente esperados, embora menos impactantes: em Ribeirão Pires na vitória do peemedebista Saulo Benevides ante Maria Inês Soares, e em Rio Grande da Serra com o tucano Gabriel Maranhão ante Claudinho da Geladeira. Mário Reali foi surpreendido pelo verde Lauro Michels, enquanto Carlos Grana e Donisete Braga chegaram à frente em Santo André e em Mauá, mas ainda estão longe da segurança de que são gols certeiros. O jogo regional está empatado e tanto pode terminar em goleada como em placar apertado. Como o foi há quatro anos, quando os azulados (tucanos e afinados) venceram os petistas (ainda sem as misturebas pontuais de agora) por 4 a 3. O prefeito Luiz Marinho ficou frustrado com o resultado, porque os 65,79% de votos válidos (contra 30,94% de Alex Manente) não foram exatamente o esperado. Ficou o placar muito aquém da vitória do agora tucano William Dib, que, em 2004, obteve 76,37% dos votos válidos ante o petista Vicentinho Paulo da Silva.
Arrasado no segundo turno,
PT perde tudo na Província
DANIEL LIMA - 31/10/2016
Não custa nada fazer autopropaganda, necessária em se tratando de revista digital que consolida credibilidade num meio em que não faltam aventureiros e também bandidos sociais de aluguel: escrevi na edição de 15 de junho último o que o Estadão e o Diário do Grande ABC publicaram sem muita convicção nas edições de domingo, entre outros veículos retardatários. O título daquela análise diz tudo: “PT corre o risco de não contar com um prefeito sequer em 2017”. Dito e feito. Os resultados de ontem na Província do Grande ABC foram arrasadores para a agremiação que, desde 1982, com Gilson Menezes em Diadema, construiu uma nova história política na região e particularmente no País. Até se esborrachar todo, como se sabe. (...) os resultados de ontem confirmaram a expectativa aqui enunciada de que Paulinho Serra (Santo André), Orlando Morando (São Bernardo), Lauro Michels (Diadema) e Atila Jacomussi (Mauá) ganhariam as eleições. Os resultados mais folgados no número de votos válidos se devem sobretudo às deficiências e estigmas dos candidatos petistas de Santo André e de Mauá. É indispensável relativizar as qualidades e o preparo dos vencedores. Quem concorresse com o PT teria possibilidades de massacre. Paulinho Serra e Atila Jacomussi são agudos pontos de interrogação. (...). As vitórias mais suadas, de Orlando Morando e de Lauro Michels, se deram contra adversários que contaram com o suporte petista, mas não eram petistas. Fossem também, Morando e Lauro os goleariam. Ou alguém duvida que o PT esteve nas eleições da Província assim como o Jabaquara convidado a eventual torneio reunindo equipes da Série A do Campeonato Brasileiro? (...). Agora, retomando os resultados de ontem, em São Bernardo o tucano Orlando Morando passou com certa facilidade pelo deputado federal Alex Manente. O resultado de 59,94% a 40,06% dos votos válidos desnuda o incômodo desastre que o PT provocou a Alex Manente, apoiando-o não oficialmente no segundo turno. Dos 611.777 eleitores cadastrados, 356.478 foram às urnas.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)