Quero saber e tenho o direito de saber: Aidan Ravin está morto ou está vivo? Aidan Ravin não seria um morto qualquer. E tampouco um vivo a mais. O que não pode é continuar a morrer e a ressuscitar a cada hora nas redes sociais. Está assim desde anteontem. Houve sentenças pretensamente definitivas sobre a morte do ex-prefeito de Santo André. E negativas peremptórias. Aidan já teria ido desta para outra. Como também mandou às favas outra e continua nesta. Quem dorme com um barulho deste?
Até a mulher dele, Denise, entrou na fita, com mensagem de áudio contida de alívio. O marido estaria em plena recuperação. O irmão confirma. Confirma é força de expressão. Por mais que acredite neles, também desconfio deles.
Aidan não é um candidato qualquer a ser contabilizado pelo vírus chinês. Aidan é um prato cheio para engrossar a lista de vítimas fatais. Aidan teria comorbidades, se aproxima dos 60 anos e se submeteu a cirurgia bariátrica para reduzir a pança. Aidan está na lista preferencial do Coronavírus. Só faltava ser negro e pobre. E um mulambento também. Os mulambentos dos sem-teto não contam com a misericórdia chinesa.
Trocando consoantes
Ando tão atordoado com as idas e vindas de Aidan Ravin morto e vivo que até a grafia do nome dele escrevi incorretamente nas redes sociais que frequento. Troquei o “n” pelo “m” no nome e o “m” pelo “n” no sobrenome. Estou ficando maluco. Tão maluco que a troca da troca também está errada. Aidan Ravin se escreve assim. Como nos parágrafos anteriores. Portanto, qualquer variável é ignorância ou descuido. No meu caso, é embaralhamento mesmo.
Só quem é jornalista entende o que se passa comigo nesse vai-e-vem fúnebre e renascedor de Aidan Ravin. O homem que a pandemia já teria levado, mas que a família nega ter sido levado, é candidato a vice-prefeito na chapa de Ailton Lima em Santo André. Já especulei comigo mesmo e com alguns amigos sobre as consequências de Aidan Ravin morto. E também de Aidan Ravin vivo.
Sei que não pega bem revelar essas coisas, mas seria pior ainda se as mantivesse segregada a um grupinho, como se nenhuma maledicência houvesse sido mencionada.
Interessante vivo ou morto
Vivo ou morto, morto ou vivo, Aidan Ravin interessa além da própria vida e da própria morte. Político na ativa, mesmo que no banco de reservas, é sempre motivo à especulação eleitoral. Ainda mais quando está no bico do corvo, segundo as más línguas.
Há muita solidariedade, muita reza, muito tudo pela vida de Aidan Ravin. Como cristão e um poço de bondade faço parte dessa turma fervorosa. Mas é impossível desarmar-me como jornalista. Fingir que nada aconteceria no futuro com Aidan vivo ou Aidan morto.
Fiz algumas avaliações, como disse, imaginando o que o prefeito Paulinho Serra, candidato à reeleição, estaria pensando sobre a possibilidade de ficar sem Aidan Ravin como alvo de ataques. Aidan é um prato cheio. Ainda outro dia uma juíza de primeira instância de Santo André o condenou a 20 anos de reclusão por causa do escândalo do Semasa.
Que prefeito de olho na manutenção do cargo negaria objetivamente que quer Aidan vivo como alvo de mensagens que atingiriam em cheio o candidato Ailton Lima?
Ou seja: cheguei à conclusão que Paulinho Serra bem que poderia ir ao hospital onde Aidan Ravin construiu uma imensa interrogação sobre o próprio paradeiro da alma. Paulinho Serra quer Aidan Ravin livre da pandemia. Saltitante. Feliz. Pronto para a batalha. Leve-lhe flores, portanto. Quem sabe, chocolates?
Sobrevivente incômodo
Resta saber se é mesmo uma boa ideia Aidan Ravin liberto da doença, recuperado e disposto a percorrer principalmente a periferia na garimpagem de voto para retornar como vice ao endereço em que esteve por quatro anos como titular.
Todo o mundo sabe que Aidan Ravin é um espetáculo de carisma. Está certo que a obesidade o tornava mais popular, mais simpático, mas ainda assim Aidan conta com corpanzil apropriado à sedução que começa na cara sempre alegre e nas passadas largas.
Aidan sobrevivente do Coronavírus e mesmo ameaçado de prisão é uma força da natureza política que seduz muita gente. Principalmente da periferia onde, como médico obstetra, fez tantos partos que capturou o coração das mães. Elas o homenageiam com o batismo de seu nome nas crianças saídas do ventre. Talvez seja lenda a quantidade medida em quatro dígitos.
Herói da resistência
Aidan vivo após dias e dias de expectativas sombrias tenderia a virar espécie de herói da resistência, reduzindo a carga de rejeição que passou a somar desde que deixou a Prefeitura. Aidan perdeu muito eleitorado que o via como um novo Newton Brandão, também médico, três vezes prefeito de Santo André. Com a vantagem de que teria mais empatia popular.
Na vitória contra o petista Vanderlei Siraque, em 2008, Aidan Ravin foi visto como um azougue. As redes sociais mal existiam. Aidan ralou mesmo como andarilho. Transbordava simpatia. As feiras livres que o tinham como visitante em busca de votos propiciavam catarse. A mulherada não lhe dava sossego. E Aidan sabia como seduzi-las ao voto.
Vanderlei Siraque, mais sisudo, foi aconselhado a desaparecer do entorno das andanças de Aidan Ravin. O petista que por menos de dois pontos percentuais de votos não se garantiu no Paço Municipal no primeiro turno, foi impactado no turno final. Perdeu a eleição mais ganha da história. Escrevi uma análise com um título malvisto por alguns, condenado por outros, mas que retratava a realidade: “A zebra de branco”.
Derrotas eleitorais
A diferença entre aquele Aidan e o Aidan que poderá sair do hospital com vida é que o desgaste popular o atingiu e o tornou derrotado em todas as disputas sequenciais. Mas Aidan conta com uma memória eleitoral nada desprezível. Por isso é candidato a vice-prefeito na chapa de Ailton Lima. Resta saber se, com Aidan, Ailton Lima ganha mais votos ou perde mais votos. Paulinho Serra está pronto para explorar esse calcanhar de Aquiles.
Mas há uma variável que confesso também explorei em alguns contatos feitos ontem na medida em que o ziguezague de informações sobre a saúde de Aidan Ravin pipocava no Whatsapp.
Valeria Aidan mais morto do que vivo para uma disputa eleitoral mais acirrada em Santo André?
Vou explicar: se Aidan Ravin bater as botas (desculpe a expressão, que não é desrespeitosa, mas apenas a transposição de algo que poderia virar hashtag nas redes sociais), o que aconteceria? A solução imediata, vista como nitroglicerina pura às pretensões de reeleição de Paulinho Serra, seria a substituição do morto pela viúva viva, Denise Ravin, cuja permeabilidade social, como ex-primeira dama, teria enternecido as classes mais populares.
Denise seria um Aidan de saias. Não teria nada a construir em forma de imagem, porque é a própria imagem da mulher que se preocupa com os menos abastados.
Substituindo marido
A morte de Aidan Ravin, portanto, seria vista como pesadelo para Paulinho Serra. Primeiro, porque perderia o discurso de combate à corrupção que teria como alvo um candidato a vice-prefeito condenado pela Justiça. Segundo, porque a morte tornaria Aidan Ravin imune a pancadarias eleitorais.
Quem tem coragem de bater em morto? E o custo eleitoral de incomodar quem morreu? Como é cultural a santificação dos mortos, Ailton Lima ganharia de presente a companhia da mulher do morto. Que, supostamente, atrairia todas as atenções à solidariedade eleitoral. Denise Ravin seria a alma viva e materializável eleitoralmente do marido levado pela virulência da Covid-19.
Mais que isso: Denise Ravin seria reverenciada como a mulher de um homem que morreu na batalha para combater o vírus chinês. Aidan Ravin teria sido vítima na luta por salvar vidas.
Denise Ravin seria na campanha eleitoral o Jair Bolsonaro da facada em Juiz de Fora.
Diferente de Morando
Por conta de tudo isso, e mesmo acreditando piamente que a humanidade é um espetáculo de bondade e, portanto, incapaz de construir mensagens confusas sobre o estado de saúde de Aidan Ravin, matando-o e ressuscitando-o ao sabor das intenções, insisto em dizer que quero saber o que se passa com ele.
Acho que não suporto mais um dia de vai e volta. Estou com a credibilidade abalada junto a muitos leitores por ter transmitido via Whatsapp as acrobacias informativas de terceiros de boa-fé, mas de acesso não necessariamente seguro aos médicos que cuidam do paciente mais polêmico de todos os tempos.
Com o prefeito de São Bernardo, Orlando Morando, vitimado pelo Coronavírus não houve nada disso, exceto uma ou outra insinuação de que teria feito da pandemia marketing pessoal. Uma bobagem sem tamanho.
O que difere Morando e Aidan é que o tucano é jovem sem nenhum tipo de especificidade que agrade ao vírus e jamais recorreu a processo cirúrgico para afinar o corpo. Mesmo se considerando que Morando dá uma engordadazinha de vez em quando. Nada que uma dieta, em seguida, deixe de resolver.
Isto posto, insisto na pergunta inicial: Aidan vive ou Aidan bateu as botas? O prefeito de Santo André, Paulinho Serra, mais que a maioria, quer saber. Também quero meu sossego de volta. Preferencialmente com o ressuscitamento de alguém que está vagando pelas redes sociais.
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