Política

Vamos especular sobre as
eleições no Grande ABC?

DANIEL LIMA - 03/07/2020

Não gosto de especulação, mas em ano eleitoral dou asas à imaginação e à percepção, quando não à idiossincrasia sobre as possibilidades reais dos candidatos mais fortes aos paços municipais da região. 

Vou me restringir a cinco dos sete endereços da região. Não pretendo passar de voo panorâmico. O que quero mesmo é testar minha capacidade de fazer o que não gosto e o que não gosto de fazer é escrever sem ter certeza. Ainda bem que a política permite elasticidade sem comprometer outras áreas e, também, a ética. Afinal, política não é ciência exata. Melhor dizendo: é a exatidão da multiplicação de versões. 

O problema no jornalismo é quando escrevem sem ter certeza sobre o presente de muita certeza, derivada de informações e fatos escrutináveis. 

Escrever sobre campanha eleitoral dá, portanto, margem a uma plasticidade textual cuja credibilidade claramente dependerá de nexos e convexos. Entendam como quiserem o que é uma coisa e outra. 

Para dizer a verdade, o que pretendia mesmo hoje era escrever sobre economia. O professor Jefferson da Conceição, da USCS (Universidade Municipal de São Caetano) disse nesta semana ao Diário do Grande ABC que o Grande ABC vai perder 147 mil trabalhadores com carteira assinada até dezembro próximo. Tudo por conta da pandemia do Coronavírus. 

Certos e duvidosos 

Estou prontíssimo para fazer uma abordagem sobre esse número extravagante, mas deixo para a semana que vem. Jefferson tem a mania de errar previsões. E de metabolizar o conceito de desindustrialização. Nada surpreendente para quem, acadêmico, está intimamente ligado a forças sindicais. 

Falemos então de política. Favoritos a caminho do título, mas nem por isso solidamente assegurados, seriam Orlando Morando em São Bernardo e José Auricchio Júnior em São Caetano. Paulinho Serra provavelmente não matará o jogo no primeiro turno e deve ter dores de cabeça no segundo. 

Em Diadema, o candidato do prefeito Lauro Michels, um tal de Pretinho do Água Santa, terá muitas dificuldades para bater o ex-prefeito petista José de Filippi Júnior. Em Mauá de um prefeito Atila Jacomussi sobrevivente além da conta, apeado do cargo pela Justiça em três oportunidades, tendo cumprido até pena de prisão, poderá enfrentar forças petistas e também o ex-prefeito Donisete Braga. É jogo jogado. 

Conglomerado temático 

Já expus algumas ideias sobre o que pesaria mais nas próximas eleições. E cheguei à conclusão que nenhum vetor pesará mais intensamente de forma suficiente para desequilibrar as ponderações. Entendeu? Se não entendeu é sinal de que preciso explicar. 

Não haverá, provavelmente, nenhuma temática que se traduziria em bala de prata. Corrupção pautou as últimas eleições municipais a ponto de derreter as monolíticas posições do PT na região. Acredito que a eleição de Jair Bolsonaro foi uma espécie de acerto do eleitorado com a banda podre da política. A conta não foi zerada, por assim dizer, mas já não está pendurada como antes. 

O ex-juiz e agora político Sérgio Moro deverá cair do cavalo se for mesmo candidato à presidência da República em 2002. Salvo muita mudança até lá os efeitos da Lava Jato já não serão o regramento basilar aos votos. Embora, claro, a ladroagem seguirá na alça de mira dos eleitores. Somente um grande escândalo de repercussão midiática explosiva na linha de chegada poderia entornar o caldo. 

Acho que o conjunto da obra de preocupações da sociedade vai dar o tom na hora da definição de votos. 

Municipalismo relativo 

Não faltarão pesquisas internas dos concorrentes mais competitivos para apurar a bateria de inquietações dos eleitores. Segurança Pública, Saúde, Corrupção, Mobilidade Urbana, Educação, infraestrutura física -- tudo isso entra no bolo. E o ambiente estadual e nacional também. 

Bolsonaristas, petistas e tucanistas locais vão ser observados também sob a ótica micropolítica. O municipalismo sustentará, claro, o andaime de votos. Mas qualquer desgarramento além da zona do perdoável de temáticas estaduais e principalmente nacionais pode virar um complicador. 

Sei que o texto está um pouco hermético, mas esse é um instinto de sobrevivência mesmo sob o critério especulativo.  

Morando no primeiro turno? 

O maior favorito até agora é o prefeito Orlando Morando. Mesmo com eventuais contratempos como os expostos recentemente, sobre a denúncia do Ministério Público Federal no caso da Operação Prato Feito, Morando tem atenuante relativamente a votos porque seu principal concorrente, o petista Luiz Marinho, está na origem do caso.

Talvez a única dúvida a envolver a disputa em São Bernardo seja se teremos um turno apenas ou haverá rodada adicional. 

Tudo vai depender, acredito, do comportamento de uma terceira via bastante improvável de justificar a denominação, no caso o vereador Rafael Demarchi. O placar atual, uma métrica de probabilidades sem fundamentação técnica, aponta vitória de Morando no primeiro turno com uns cinco pontos além da exigência regulamentar de 50% mais um voto. Se houver segundo turno, daria 65% a 35%. Números provisórios, não esqueçam. O hoje vira amanhã num café da manhã. 

Surpresa em São Caetano? 

Em São Caetano de José Auricchio Júnior é preciso que desponte uma surpresa concorrencial para reverter um quadro de favoritismo que só encontra barreira na Justiça Eleitoral. Auricchio está pendurado numa decisão liminar para se sustentar no cargo. Fábio Palácio é um adversário que entraria na disputa com mais vigor se não houvesse errado ao se candidatar a deputado estadual e sair menor do que entrou, quando vinha de quase 20% dos votos em 2016 para a Prefeitura. Foi uma terceira vira apostando no mercado futuro de segunda via e se mantém assim, mas com menos bala na agulha. Ele saiu das eleições municipais com uma cobertura de votos em Ipanema e saiu, dois anos depois, na disputa pela Assembleia Legislativa, numa quitinete na zona do balacobaco em São Paulo. 

Uma terceira via estaria sendo costurada em São Caetano com tônus suficiente para absorver a segunda e, na soma, tornar-se competitiva. Não seria tarefa confortável. Auricchio teria o prestígio chamuscado se uma operação que massifique o fracasso na condução econômica de São Caetano abalasse a autoestima dos moradores, que ainda não entenderam o quanto empobreceram, em média, neste século. 

Os moradores de São Caetano podem ser chacoalhados quando caírem na real de que Auricchio vai completar 12 anos dos 20 deste século à frente da Prefeitura e a situação econômica só piorou. Pior que só piorou é que piorou sem reação. Bovinamente, portanto. 

Concorrentes demais 

Seguindo a rota especulativa, sabe-se que Paulinho Serra corre para se desembaraçar da fortíssima possibilidade de a disputa ir ao segundo turno em Santo André. Quanto mais candidatos na parada, mais segunda etapa aparece no radar de inquietações do Paço. 

Evenson Dotto já caiu fora. Fala-se que João Avamileno também o fará. Há tentativas de minar o prestígio de Ailton Lima, colocando-o na cesta de negociações que o retirariam do páreo. O PT de Bete Siraque também entra no rol de deserção ou puxada de freio se subir nas pesquisas sem dar indicações de que iria ao segundo turno. Refluir o ímpeto para exércitos petistas permanecerem nos cargos da gestão de Paulinho Serra é a segunda e provável opção. A primeira seria o crescimento de Bete Siraque a ponto de sinalizar que poderia ir para o segundo turno. E aí, portanto, disputar um jogo para valer com Paulinho Serra. 

O segundo turno em Santo André é uma quase compulsoriedade ditada pela numerosidade de concorrentes e algo como uns 10% que Bruno Daniel enlaçaria pelo PSOL abraçado à memória do irmão assassinado. Uma memória para lá de oportunista. O PSOL jamais engoliu o esquerdismo mais maneiro de Celso Daniel. 

QueMauá? Ou QueMauá! 

Para completar esse show de horrores especulativos, possivelmente em Mauá a temática lavajatense tenha efeito mais pronunciado, palpável, rentável e devorador de reputações. 

Ou o leitor acha que os adversários de Atila Jacomussi vão jogar na latrina do desperdício retórico as seguidas passagens do prefeito pela cadeia? Se já parece um descalabro o prefeito eleito em 2016 seguir à frente do Paço Municipal mesmo após tantas vicissitudes, o que pensar então de reeleição? 

A troça “QueMauá?” vai deixar de ser questionamento nutrido de inconformismo com variável à sarcasmo para ingressar no léxico cultural em forma de exclamação zombeteira de quem entregou a rapadura da autoestima. Experimente a diferença entre “QueMauá?” e “QueMauá!”.



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