Administração Pública

Sugestões para Paulinho e
Auricchio sobre economia

DANIEL LIMA - 14/07/2020

Vou tentar mostrar ao prefeito de Santo André e também ao prefeito de São Caetano porque desperdiçaram três anos de mandato conferido pelos eleitores (e o quarto também, porque agora têm uma boa desculpa em forma de vírus chinês) para estancar, pelo menos estancar, o processo de desindustrialização comum a todos os municípios do Grande ABC, mas muito mais grave nos dois endereços que eles representam.

Afinal, São Caetano e Santo André disputam a lanterninha em matéria de estoque de emprego industrial quando confrontado às demais atividades.

Para ser mais claro, objetivo e peremptório: Paulinho Serra e José Auricchio fracassaram completamente como prefeitos na área econômica pela simples razão de que não fizeram nada de efetivo que pudesse alterar o rumo das coisas. Por mais restritos que sejam os poderes de prefeitos ao movimentar as pedras municipais no jogo macroeconômico, sempre há espaço a evoluções. Tanto é verdade que muitos municípios crescem sob as mesmas circunstâncias externas.

Caso mais grave

O caso de São Caetano, claro, é mais grave. O prefeito José Auricchio está completando 12 anos de três mandatos e não fez um gesto sequer para retirar São Caetano do desfiladeiro cada vez mais profundo. Pior que isso: viu se aprofundarem as perdas econômicas que afetam diretamente o potencial de riqueza dos moradores. Como já mostramos em outras análises.

Pensando exclusivamente nos dois prefeitos, eis que preparei breve lista com os principais quesitos aos quais deveriam ter-se lançados para dar novo rumo aos respectivos municípios. Vejam: 

 Reorganização do sistema logístico tendo como base a Avenida dos Estados.

 Destinação produtiva a áreas desocupadas ou subocupadas.

 Definição de estratégia para construir novas vocações econômicas.

 Qualificação de mão-de-obra específica para as atividades econômicas centrais.

 Varredura fiscal no âmbito municipal para tornar o Município mais atrativo economicamente.

 Descobrir vácuos de suprimentos às indústrias locais. 

Análise expositiva

O que se segue não é uma análise profunda, missão que deve ser obrigatória a profissionais contratados pelas respectivas prefeituras. Fossem as secretarias de Desenvolvimento Econômico organizadas, articuladas e aderentes ao mundo dos negócios, os pressupostos que listei soariam como tentativa de ensinar Tostão a analisar futebol, ele, Tostão, o maior craque nacional nessa seara.

É uma pena que tenha que ser um jornalista o suposto iluminador de algo que, dada as condições históricas de enfraquecimento econômico da região, deveria ser prioridade das prioridades dos chefes de Executivos.

Diria, sem exagero, que tratamos de uma vergonhosa obviedade. De algo surreal. Onde já se viu um jornalista ter que se dedicar a sugerir medidas de reconstrução do tecido regional porque um bando de inúteis ou de mal-aproveitados, quando não de apaniguados, está pendurado em empregos públicos. E que tenha, como chefes, prefeitos descuidados, que só pensam no horizonte mais próximo.

Os principais vetores

Pois vamos objetivamente a uma breve avaliação de cada um dos pontos listados. O leitor vai reparar que não são vetores autárquicos. São medidas que devem manter diálogos entre si. O sistêmico e complementar é a alma da reconfiguração de Santo André e de São Caetano. É preciso ganhar tempo com racionalidade. Perde-se um jogo de goleada. Somar é muito pouco. Multiplicar é o ideal.

Não coloco os demais municípios da região nesse pacote. Os dois municípios mais carentes de uma programação que amordace a virulência com que a desindustrialização ataca a região precisam mesmo de grande sacudidela.

Além disso, como são interdependentes e há potencialidade imensa de absorção da pauta que se segue, porque nada há que chegue próximo em aplicação prática, todos os municípios acabariam beneficiados caso resolvam produzir cópias adaptadas às especificidades próprias.

Como escrevi ontem, tanto Santo André quanto São Caetano não chegam a contar, cada um, com 15% de empregos industriais formais em relação ao conjunto de trabalhadores de todas as atividades. O desmilinguamento é escandaloso. Vamos à breve análise: 

 Reorganização do sistema logístico tendo como base a Avenida dos Estados.

Santo André e São Caetano estão encalacrados como alternativa logística que dê celeridade à mobilidade urbana. Desde que virou passarela malcuidada e saturada, agravada pela concorrência da Anchieta e em seguida da Imigrantes, o entorno da Avenida dos Estados perdeu o rumo de competitividade industrial.

Qualquer movimento das pedras de recuperação de Santo André e São Caetano passa em larga porção pela Avenida dos Estados. Um modelito de investimentos em forma de maquiagem, como anunciou ainda outro dia o prefeito Paulinho Serra, e, mesmo assim, exclusivamente voltado a Santo André, não modificará o enredo. Sem uma Avenida dos Estados reestruturada, os dois municípios seguirão sem futuro logístico. 

 Destinação produtiva a áreas desocupadas ou subocupadas.

As duas prefeituras devem conhecer o estágio de ocupação, desocupação e subocuparão do espaço físico público e privado que detêm para atividades econômicas, sobretudo da indústria. Uma operação de caça a cada metro quadrado improdutivo deve ser encetada. Dispositivos tecnológicos podem contribuir à empreitada.

O mapeamento deve ser rigoroso e com base num banco de dados. As prefeituras devem ser espécie de macroimobiliária para fins estratégicos. Ações devem ser desencadeadas tendo como palavra de ordem competitividade.  

 Definição de estratégia para construir novas vocações econômicas.

As novas vocações econômicas de Santo André e São Caetano seriam extraídas de buracos negros que o banco de dados de atividades permitiria identificar. As medidas teriam fina sintonia com o uso de espaços físicos mais permeáveis a investimentos. Algo que seria possível buscar no mapeamento municipal de áreas livres ou potencialmente livres à ocupação dos empreendimentos. 

 Qualificação de mão-de-obra específica para as atividades econômicas centrais.

Contar com novos empreendimentos e, sobretudo, com novas modalidades de desenvolvimento econômico, é uma parte das medidas. Por isso a relação entre o empreendedorismo na forma prática de investimentos e a preparação de mão de obra qualificada nos berços acadêmicos constituiriam modelagem pragmática que potencializaria a produtividade que tanto exigem os investidores privados. 

 Varredura fiscal no âmbito municipal para tornar o Município mais atrativo economicamente.

Da mesma forma que uma investigação profunda dará subsídios para a gestão pública detectar espaços físicos que deverão ser ocupados por novos empreendimentos, o escrutínio minucioso do perfil da carga tributária municipal possibilitaria esquadrinhar vantagens e buracos produtivos. O que isso significaria?

Ora, que medidas de efeito fiscal, com definição de carga tributária adequada a competitividade pretendida, poderiam ganhar corpo e forma. Um setor econômico de baixa representatividade poderia ser beneficiado com política de incentivo fiscal na medida em que novos investidores não provocassem prejuízos a quem já está estabelecido.

A legislação poderia valer para todos, inclusive aos já atuantes no Município. As regras do jogo fiscal seriam as mesmas. E mais adequadas à concorrência metropolitana e paulista.

 Descobrir vácuos de suprimentos às indústrias locais.

A medida exigiria relação bastante próxima às principais indústrias do Município. Essa parceria é indispensável para encontrar um ponto em comum de reciprocidades que resultem em ventos favoráveis contra a concorrência.

Quem são os fornecedores das principais indústrias de cada Município? Quantos são dos respectivos municípios. Quais são os espaços setoriais dos fornecedores locais? Como transformar esse vazio em incentivo à chegada de empreendimentos que atendam à demanda local dos grandes empreendimentos?

Ninguém jamais seria capaz de responder a uma pergunta simples que mais do que justa, torna imperiosa essa proposta. Que pergunta? Qual é o volume financeiro das relações das grandes e médias industriais locais com os fornecedores locais. Essa estratégia de vizinhança contorna parte dos problemas logísticos.

Cada um desses quesitos comporta aprofundamento ao qual não me lançarei porque essa, repito, é tarefa das prefeituras. O que os leitores podem testemunhar é que jamais houve qualquer iniciativa de gestores públicos municipais que levassem em conta os pontos aqui abordados. Talvez falte competência. Talvez falte iniciativa. Talvez sobre desdém. Talvez impere tudo isso. E quem paga caro é a sociedade de uma região há mais de três décadas em sistemática derrocada.



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