Política

Pesquisas eleitorais: cuidado
com os truques mais comuns

DANIEL LIMA - 23/07/2020

O que apresento em seguida é um breve manual para o leitor entender (e também se precaver) o mundo versátil, quando não fatídico, senão embromador, de pesquisas eleitorais.

Entender, no caso, tem o sentido de voo panorâmico. Voo rasante, entre outros, fiz ainda outro dia ao desvendar cromossomos do Datafolha, ferramenta utilizada pela Grande Mídia para a caça ao presidente da República bem como à circunstancial canonização do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal.

Vamos às tipologias dos objetivos centrais das pesquisas eleitorais. O assunto é por demais importante quando se sabe que as disputas municipais se aproximam. E, ao contrário do que imaginam os ingênuos, o jogo de pesquisas eleitorais já começou. Ainda não está na mídia, mas já começou. Veja os tipos em questão:

1. Pesquisa eleitoral informal dissimulada.

2. Pesquisa eleitoral informal privativa.

1. Pesquisa eleitoral formal e manipulada.

2. Pesquisa eleitoral formal e sustentável. 

Antes de partir para os finalmentes, fico a imaginar o que cada leitor perscruta na imaginação sobre o que vem em letras de forma. O que estaria esse jornalista metido a besta tenta me ensinar? Nada disso.

Exercito apenas algo que considero de interesse público. O mundo está mudando e como tal entendo que é relevante alertar leitores sobre variáveis do jogo político que, todos sabem, não está destinado a selecionar candidatos ao Vaticano. Vamos então à tarefa. Rapidamente.  

 Pesquisa eleitoral informal dissimulada.

Essa modalidade está em franca movimentação e tem como principais alvos os entornos dos paços municipais. Notadamente servidores públicos do Executivo e do Legislativo. Eles, os servidores (e principalmente os comissionados) são observados como transmissores, não fosse a comparação desumana, semelhantes ao vírus chinês. O que os corredores dos poderes liberam intencionalmente aos servidores dissemina-se sociedade afora.

A pesquisa informal dissimulada é falsidade travestida de verdade. Geralmente é repassada com ares de suspense. De cuidados supostamente extremos. De segredo da Coca Cola. Os números são fajutos. Colocam sempre o Executivo de plantão na linha de frente. Disparadamente, por sinal. Os concorrentes comem poeira.

O jogo na pesquisa informal é correia de transmissão motivacional.  Embora se dê o jogo como encerrado, tanta é a vantagem do candidato do paço, a capilaridade de repasse dos dados deve continuar de modo que o placar seja ainda mais elevado numa próxima etapa de nova pesquisa, retroalimentadora do placar final. O intento, dizem, é humilhar os adversários. Ganhar no primeiro turno onde tem primeiro turno. Massacrar no primeiro turno onde só se disputa o primeiro turno. 

 Pesquisa eleitoral informal privativa.

Essa é uma modalidade proibida a qualquer tipo de vazamento. Principalmente se o placar detectado não for lá essas coisas. Se a vantagem for escassa, seria contraproducente o repasse de dados aos mais próximos para que esparramem à tropa motivacional. A iniciativa poderia colocar em dúvida a liderança do prefeito de plantão. Poderia abater o ânimo no sentido de que estariam todos mais suscetíveis à guerra de informações dos adversários.

As pesquisas informativas privadas retratam fatos geralmente abominados. Mostram todos os pontos positivos, mas os negativos também aparecem. A empresa contratante está expressamente proibida de vender gato por lebre. As tomadas de decisões táticas se dão tendo esse mapeamento à frente, como bússola. Enganar a terceiros com pesquisas eleitorais informais dissimuladas é uma coisa. Enganar a si próprio com pesquisa viciada é atentado de burrice. E um convite à derrota em novembro.

 Pesquisa eleitoral formal e manipulada.

Com todo o respeito que os institutos de pesquisa merecem (e não merecem tanto assim, até prova em contrário, individualmente falando), há na maioria dos casos a chancela de pesquisa eleitoral como sinônimo de transparência, independência, equidistância e tudo o mais. Tudo isso não se confirma na prática. Mas mesmo assim e exatamente por terem, essas pesquisas, suposta configuração científica, prevalece a tortura numérica.

As pesquisas formais manipuladas dependem bastante do grau de credibilidade dos veículos de comunicação aos quais se associam. Quanto mais representativa (veja o caso do Datafolha como símbolo máximo) mais há a possibilidade de manuseio indevido do questionário e da aplicação das entrevistas.

Quando chegar a temporada de pesquisas eleitorais oficiais a vertente de manipulação vai se tornar constante. Não perderei oportunidades que se abrirão para expor os truques metodológicos que as tornam vulneráveis a olhos mais atentos.

É claro que importa muito distinguir a eventualidade de uma abordagem, por força de descuido dos formuladores, da frequência de distorções propositadamente alocadas em forma de questionário para sustentar uma lógica de desvio da avaliação dos entrevistados. Também sobre isso o Datafolha é pérola de competência.

 Pesquisa eleitoral formal e sustentável.

Está aí uma raridade que precisa ser valorizada. Esse perfil resiste a todos os questionamentos. Não deixa brechas à desconfiança. Traz dados sólidos até prova em contrário. Ergue em torno se si uma barreira em forma de transparência, clareza e aplicabilidade pouco comuns. 

Entretanto, toda vigilância é pouco ante armadilhas antepostas à pesquisa sustentável. Há variável de cumulatividade de manipulações sutis que leva à consolidação de números aparentemente intocáveis.

Tudo está relacionado ao influenciamento popular de resultados obtidos em seguidas etapas de acavalamento de incorreções com o objetivo específico de montar um cenário estatístico compatível com os interesses em jogo.

Um exemplo: um candidato que ao longo de pesquisas eleitorais é estigmatizado com determinado viés reiteradamente veiculado na mídia sangra na reta de chegada. Nesse caso, a pesquisa é mesmo sustentável, mas obtida por métodos pouco éticos. 

Conclusão final

Tudo isto posto, perguntaria o leitor qual o tipo de pesquisa eleitoral que mais transmite segurança avaliativa. A resposta é simples, mas geralmente pouco acessível.

Trata-se de pesquisas eleitorais informais privativas. Custa-me crer que alguém que pretenda manter ou chegar ao poder se dê ao luxo de contratar um instituto especializado para produzir mentiras adocicadas.

Até porque, convenhamos, há entre os adversários deliberação recorrente: contrata-se pesquisadores profissionais para desenvolver bateria de questões que escarafuncham todos os pontos positivos e negativos do gestor de plantão a ser batido nas urnas.  

Se os adversários querem saber os dois lados da moeda de uma Administração na reta final de mandato com direito à reeleição, seria estupidez o próprio candidato desprezar o melhor caminho para organizar a bateria rumo à batalha final.

A melhor pesquisa, portanto, é geralmente aquela à qual somente os diretamente interessados dos dois lados do balcão têm acesso. 



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