Política

Ailton, Fábio e Rafael vão
mudar as eleições na região?

DANIEL LIMA - 12/08/2020

Um novo mandato para o trio tucano do Grande ABC depende dentro do campo eleitoral propriamente dito de três adversários em busca de um lugar ao sol. Todos são ex-vereadores ou vereadores em atuação. Ailton Lima é potencialmente um adversário duro de roer para Paulinho Serra em Santo André. Rafael Demarchi poderia ser apenas um trapalhão para Orlando Morando em São Bernardo. E Fábio Palácio quer evitar o tetra de José Auricchio Júnior em São Caetano.  

Os três estão em desvantagem no placar retirado de percepções, não de pesquisas eleitorais.   

Quem aparentemente entre os três adversários mais se está aparelhando para atrapalhar a vida do prefeito atual, no caso Paulinho Serra, é Ailton Lima. Quem apostava que Ailton Lima abandonaria o tablado em troca de vantagens financeiras, como se propagou até outro dia, pode tirar o cavalinho da chuva. Ele está mais vivo do que se imagina. E conta com retaguarda de apoiadores que querem mudança em Santo André.    

O problema é que Ailton Lima vive um dilema: precisa conquistar votos suficientes para ganhar espaço e disputar o segundo turno ao mesmo tempo em que tem de torcer pelo PT e o PSOL também irem bem, mas não o abortarem rumo à vaga decisiva.   

Quanto mais, melhor  

Quanto mais votos as três candidaturas obtiverem no primeiro turno, mais o prefeito Paulinho Serra se sentirá ameaçado num eventual segundo turno. O primeiro tempo, portanto, dará o ritmo de emoções no tempo posterior e decisivo.  Quanto mais se distanciar de 50% dos votos válidos, mais Paulinho Serra terá de reorganizar os planos para o segundo turno.  

Há conjecturas que colocam o PT de Santo André com os pés em duas canoas. De um lado como eventual finalista em Santo André, a cúpula deixaria para valer os interesses que a une à Administração do tucano. Um acerto que vem de longe e assegura quase duas centenas de empregos de comissionados. De outro, fora da finalíssima, teria de decidir quem apoiar no turno decisivo. Seria melhor ficar com quem já está ou uma negociação com o outro finalista faria a diferença?   

Muita água ainda vai rolar sob a ponte de probabilidades em Santo André. Não apostaria, hoje, um tostão furado na ida do PT ao segundo turno. E também em não mais que 10% de votos para Bruno Daniel, do PSOL. Ailton Lima ultrapassaria os dois esquerdistas e garantiria um lugar no segundo turno, mas talvez perca na soma de votos para PT e PSOL no primeiro turno. Resta saber quanto desses nacos o embalaria na rodada decisiva.   

Circunstâncias complexas  

Espero que no futuro não se retire o contexto dessa afirmativa. O “por enquanto” é a salvaguarda que adoto sempre que o temário é eleição. Estamos navegando em mar aberto e escuro. Ondas hostilizam o comandante. Ventos fortes ameaçam a embarcação.  

Vivemos período de tormenta na saúde com o Coronavírus, na Economia com abastecimento das classes pobres e miseráveis com dinheiro público a rodo, que impacta a dívida pública, na política polarizadíssima. Enfim, não há espaço para certezas.    

Além disso, faltam pesquisas sérias, isentas que forneçam uma bússola avaliativa mais consistente. Vivemos, portanto, de percepções. E percepções na política é uma viagem a destino incerto.   

Um boi de piranha  

O jovem vereador Rafael Demarchi carrega na algibeira de probabilidades o nome tradicional de uma família que em termos políticos já foi mais impactante. O tradicionalismo dos Demarchi não tem mais tanto peso assim. São Bernardo mudou tanto que nem mesmo a Rota do Frango com Polenta, que se confundia com os Demarchi, existe mais. Fecharam-se todas as portas referenciais daquele tipo de comida que hipnotizava gente de todos os cantos.  

Rafael Demarchi é aquele reserva aparentemente sem valor expressivo que saiu do banco para uma disputa em que se lhe exige o sacrifício de ganhar votos suficientes para o PT de Luiz Marinho classificar-se ao segundo turno e para o embate com Orlando Morando.   

Quem interpretava esse papel nas últimas quatro eleições municipais era Alex Manente, braço auxiliar do PT. Mas, num golpe de mestre, Orlando Morando tirou o deputado federal da disputa.  O peso de Manente era loucamente superior ao de Rafael Demarchi.  

Os correligionários exigem demais de Rafael Demarchi. Talvez a melhor prerrogativa do novo candidato seja o partido que o absorveu, o PSL que levou o presidente Jair Bolsonaro à presidência da República. Mesmo há muito sem filiação partidária, Bolsonaro é uma referência aos eleitores do PSL. Tanto que Demarchi move-se na campanha municiado pelo receituário liberal na economia. Demarchi é Paulo Guedes desde criancinha.    

Esperando pelo tribunal?  

Já em São Caetano de um José Auricchio controverso, porque ameaçado de ser alijado da disputa por conta de pendência no Tribunal Superior Eleitoral, o jovem e ex-vereador Fabio Palacio tenta encaixar um golpe temático que o catapulte ao Palácio da Cerâmica.   

O desempenho numérico de letalidade do vírus chinês, que coloca São Caetano entre os piores endereços do País, é um dos pontos que provavelmente ganhará densidade na estrutura de comunicação. A degringolada econômica ao longo deste século em que José Auricchio esteve à frente do Município durante 12 anos, também é passivo contundente.   

Superar um adversário que ocupa a Prefeitura de São Caetano não é tarefa fácil porque a disputa é em turno único. A estratégia de dividir para reinar é uma alavanca importante de quem está no poder. E de quem pretende chegar ao poder. Ou seja: dependendo da escolha de uma terceira via, que na verdade é uma terceira via de araque, tudo pode acontecer na disputa pela ponta eleitoral.   

Até que ponto um terceiro candidato com estoque eleitoral suficiente para se aproximar de 20% dos votos beneficiária quem está no poder?    

Fábio Palacio foi a terceira via nas últimas eleições, chegou a esse tanto de votos e o prefeito Paulo Pinheiro perdeu a disputa para José Auricchio, que retornou ao Paço Municipal após ser derrotado pelo mesmo Paulo Pinheiro quatro anos antes, superando a médica Regina Maura, indicação do prefeito impedido de concorrer.   

Salvo equívoco de memória, Paulo Pinheiro é o único caso de derrota desde que se legitimou a reeleição ao Paço Municipal de São Caetano.  

Brasa e sardinha  

Fábio Palácio saberia das dificuldades que se anteporão, por isso mesmo está de olho na brasa do desgaste do prefeito José Auricchio e na sardinha do próprio desempenho, que não admitiria erros de cálculo e de operação numa equação em que a estratégia estaria bem definida.   

Ailton Lima, Rafael Demarchi e Fabio Palacio são alternativas supostamente mais sustentáveis a novidades do front eleitoral nos três municípios mais importantes da região.  

Acho que vale a pena ficar de olho neles. O primeiro vem para jogar o jogo de verdade, o segundo foi lançado como boi de piranha e o terceiro talvez esteja mesmo apostando as fichas em duas possibilidades: a inelegibilidade de José Auricchio, com consequente escalação de um reserva sem o mesmo lastro popular, no caso Marcos Bassi, da USCS (Universidade de São Caetano), e uma poupança em forma de memória eleitoral para a eleição seguinte. A primeira alternativa é bem mais convincente.



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