Política

Experiência pode virar tiro no
pé de Auricchio rumo ao tetra

DANIEL LIMA - 01/09/2020

José Auricchio Júnior adotou mote de múltiplas avaliações, positivas e negativas, na campanha rumo ao tetramandato na Prefeitura de São Caetano.  Exatamente porque reúne condimentos positivos e negativos, “Experiência que você conhece”, o mote em questão, é um erro, quando não redundância. E por ser redundância, desnecessário.   

O desprezo a uma mensagem mais prospectiva reflete a ausência de plano estratégico para tirar São Caetano de permanente decadência econômica com fundos reflexos sociais. Auricchio é um dos responsáveis por isso. Nada indica que, com mais quatro anos, corrigiria a rota que durante os 12 anos anteriores mais que degringolou.  

Entretanto, a adoção de “Experiência que você conhece” não significa necessariamente que Auricchio perderia a eleição. Talvez não seja o preço maior do equívoco que definiu a frase mágica que ancoraria a campanha. Mas a medida marqueteira é espécie de potencial tiro no pé, que motivaria os oposicionistas a tornar a disputa tóxica.  

Duplo sentido positivo  

Resta saber que tipo de oposição lhe será imposta. Mais do mesmo não alteraria em nada o roteiro. Experiência ativa e experiência em expectativa são quase a mesma coisa. É o executado numa face da moeda administrativa e o possivelmente a ser repetido na outra face da mesma moeda administrativa.    

Fico a imaginar os debates internos com os marqueteiros de sempre para definir o mote de uma campanha. Parece bobagem, mas é muito importante psicologicamente junto aos eleitores definir uma linha-mestra que sustentará as demais incursões.  

“Experiência que você conhece” tem claramente um duplo sentido positivo. Que provavelmente levou os interlocutores ou examinadores da proposta de aprovação a desprezar os sentidos negativos, potencialmente mais deletérios.  

Metade saudável  

Não sei se o leitor captou a mensagem, mas a banda positiva de “Experiência que você conhece” remete a duas situações complementares. Primeiro, o fato de José Auricchio estar há três mandatos à frente da Prefeitura de uma das cidades mais privilegiadas da Grande São Paulo. Segundo, porque essa mesma cidade tem uma população de média etária das mais altas do País. Um a cada quatro moradores de São Caetano tem 60 ou mais anos de idade.  

Essas duas situações formam a metade saudável da laranja da campanha eleitoral do atual prefeito. Não estão por aí por acaso, claro. O mote deve ser fruto de pesquisas sistemáticas que a gestão de José Auricchio sempre colocou em primeiro plano.  

O problema é que nem sempre a elaboração de enunciados de pesquisas cria ambiente compulsório à espontaneidade avaliativa dos eleitores. Traduzindo: há voluntariamente ou não imposições dos chamados cientistas sociais que não correspondem necessariamente aos anseios dos entrevistados. Há percepções que se alteram ante transformações políticas e sociais. Ainda mais nestes tempos de mídias sociais portáteis. E num ambiente de terrorismo provocado pela pandemia.  

Experiência e longevidade  

“Experiência que você conhece” é desnecessária porque redundante. Até os holofotes do Estádio Anacleto Campanella sabem que José Auricchio é prefeito há muitas temporadas em São Caetano. Resta saber se, por outro lado, os eleitores mais idosos entenderão a subliminaridade que os levaria a uma conexão e a uma empatia ainda maiores. Há relação estreita entre experiência e longevidade, claro. Mas quem garante que a avaliação pessoal positiva dos mais experientes na vida é transferida simetricamente à gestão pública?   

“Experiência que você conhece” carrega alta octanagem de idiossincrasias sob olhares e mentes de opositores que pretenderem mostrar o outro lado de São Caetano. E esse outro lado de São Caetano é a emblemática perda de riqueza, de mobilidade social, de assalariamento, de tudo que está na esteira de Desenvolvimento Econômico.  

A São Caetano de José Auricchio, uma São Caetano genuinamente deste século de três mandatos praticamente completados, é uma São Caetano que enfileira derrotas.  

Casa da sogra  

Já revelei em estudos que São Caetano tem um dos piores desempenhos do PIB (Produto Interno Bruto) deste século na Região Metropolitana de São Paulo.  Essa é a metade podre da laranja da administração de José Auricchio Júnior. Nada muito diferente dos demais prefeitos que ocuparam paços municipais do Grande ABC neste século. Mas de efeitos locais mais comprometedores.  

Cada vez mais a vizinha Capital recebe parcelas caudalosas da população economicamente ativa com domicílio em São Caetano. Evasão de cérebros significa evasão de cidadania. Quem vive fora de casa não se entrega à própria casa. Vira casa de ninguém. Quando não da sogra.  

“Experiência que você conhece e não quer que se repita” poderia ser o contragolpe dos adversários de José Auricchio, caso haja convergência da pauta eleitoral em direção à Economia.  

Agenda definidora  

O triprefeito dificilmente chegaria ao tetra se a massificação da agenda econômica soterrar a metade saudável da laranja, construída ao longo de décadas, e que está sintetizada numa infraestrutura física e social de elevado nível. Sobremodo a infraestrutura social. A física, sintetizada em mobilidade urbana lastimável, é um dos senões mais graves do Grande ABC, e de São Caetano em particular. O território de 15 quilômetros quadrados é um caos logístico. Sobremodo porque o respiro em forma de Avenida dos Estados virou trambolho. 

Ao completar 12 anos à frente de São Caetano, José Auricchio é a experiência mais decepcionante no campo econômico de um Município que não resiste a um inventário que leve em conta todos os indicadores de empreendedorismo.  

Aliás, nenhum dos antecessores imprimiu uma grande jornada rumo ao futuro de resistência à inovação administrativa que reduzisse a carga da desindustrialização em equilíbrio com o fortalecimento para valer e com valor agregado de outros setores, especialmente de serviços.  

Guerra fiscal  

Luiz Tortorello, biprefeito, teve a iniciativa de implantar uma guerra fiscal do ISS, quebrando unidade estratégica ensaiada por Celso Daniel à frente do Clube dos Prefeitos. Foi um gesto de desespero de quem via São Caetano esfarelar-se na indústria. Nada, entretanto, que alterasse significativamente a contínua perda de receitas orçamentárias da Prefeitura. A queda do ICMS avolumou-se e segue em ritmo acelerado.  

As gestões de José Auricchio Júnior são nocivas no campo econômico e também na relação com os contribuintes. Cada vez mais a linha compensatória à desidratação de transferências governamentais converge em direção ao aumento da carga tributária local, notadamente no custo imobiliário, de transações e moradias.  

São Caetano custa caro para cada morador e não entrega alternativas de crescimento econômico, sobremodo no mercado de trabalho. A guerra fiscal do ISS gera empregos de papel, de empresas que só estão documentalmente na cidade. São Caetano não soube historicamente enfrentar a borrasca da fragilização da indústria de transformação. O emagrecimento foi encarado com desprezo, despreparo e arrogância.  

Vírus complicador 

Não coloco como peso preponderante, mas também entra na conta de experiência malfadada a gestão da crise sanitária do vírus chinês. São Caetano de indicadores sanitários muito superiores à média brasileira apresenta dados finais muito piores.  Por razões peculiares, mas também porque não fez a tarefa fora do quadradismo dos versos alheios, São Caetano perde de goleada com índices indecorosos de letalidade. Já é 1% de casos fatais em relação à população. Uma marca que o Brasil dificilmente atingirá e que ultrapassa lideranças negativas da Europa.  

“Experiência que você conhece” não é e jamais será composta de boas lembranças no campo sanitário em São Caetano quando a ideia remeter ao vírus chinês. O médico José Auricchio e sua equipe provavelmente fizeram tudo o que era possível com o uso da cartilha-padrão de especialistas nacionais. Deixou de fazer ou fez de forma insuficiente caso levasse em conta o padrão europeu da demografia local.  

O que falta a São Caetano é um grupo de empreendedores privados com vocação pública para promover um cavalo de pau histórico que, sem negar os ganhos acumulados, desperte a sociedade para o amanhã sem se prender excessivamente à experiência vivida que, quando congelada, torna-se improdutiva. 



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