Política

Quando Ailton e Paulinho vão
assumir os erros do passado?

DANIEL LIMA - 14/10/2020

A guerra entre os dois principais adversários nas eleições deste ano em Santo André (a opção por Bruno Daniel ainda não está consolidada e talvez não chegue a isso) corre solta nas redes sociais.  

O prefeito Paulinho Serra e seu ex-secretário de Desenvolvimento Econômico Ailton Lima têm artilharias pesadas de combate. O passado, principalmente em forma de gravações de vídeos, virou presente. E o presente virou disfarce e caradurismo. Tanto um quanto outro parecem impenetráveis ao bom senso. Consideram-se acima do bem e do mal em matéria de compreensão da dinâmica social que escarafuncha biografias de homens públicos.  

Paulinho Serra e Ailton Lima agem como autistas políticos. O que pergunto é o seguinte: seria essa a melhor resposta à demanda da sociedade em forma de eleitores, mesmo que parte desses eleitores sejam cabos eleitorais digitais?  

Contas a acertar 

Uma disputa eleitoral é sempre um campo de batalha mais cruento a cada novo dia. Um arsenal está disponível a incrementar combates em campo aberto agora de dimensões gigantes na palma da mão. Nestes tempos de massificação de redes sociais, o bombardeio é intenso.  

Paulinho Serra e Ailton Lima contam com batalhões de guerrilheiros digitais. Alguns são profissionais do ramo de marketing e, portanto, com ações elaboradas, algumas inclusive engenhosas. Outros combatentes ultrapassam os limites da patetice, de gabinetes do ódio. O radicalismo somado à ignorância ganha a forma de idiotices.   

Tanto o prefeito quanto o ex-secretário do prefeito têm contas a acertar com a sociedade em forma de esclarecimentos. Preferem, entretanto, fazer de conta que não assistem a nada nos smartphones.   

A mesma trilha  

Paulinho Serra cometeu equívocos como aliado do PT e como prefeito, mas parece ter saltado ao mundo político em combustão espontânea. Não tem satisfação a dar a ninguém. Mesmo que tenha sido medíocre como secretário de Mobilidade Urbana de Santo André e colecione besteiragens como prefeito.  

Ailton Lima segue a mesma trilha, sobremodo como ex-reforço da campanha eleitoral que levou Paulinho Serra ao Paço Municipal. Um aliado desnecessário a Paulinho Serra, que venceria de qualquer forma por falta de adversário. O PT de Carlos Grana estava abatido pelo impeachment de Dilma Rousseff e pela Operação Lava Jato.  

Paulinho Serra virou um aliado incômodo para Ailton Lima. Derrotado no primeiro turno de 2016, Ailton Lima poderia ter ganhado mais fôlego e força caso se mantivesse na oposição e organizasse programa de governo para enfrentamento mais liberto nesta temporada. Teve quatro anos inteiros para construir pontes com o capital de votos daquele primeiro turno. Um capital promissor.  

A opção pelo tucano no segundo turno custou caro a Ailton Lima em termos de reputação. Inclusive como concorrente atual. Sem esclarecer as intenções do passado de forma convincente, os vídeos bem-elaborados pela equipe de profissionais de campanha sempre destilarão desconfiança de que mais que projetos, Ailton Lima teria ressentimentos.  

Peças implacáveis  

As peças de vídeo que as redes sociais exibem são implacáveis com os dois candidatos. Paulinho Serra está amarrado a um acordo com o PT. O vínculo segue em frente, com quase duas centenas de comissionados que, diante da exígua força da candidatura de Bete Siraque, deverão, na surdina, trabalhar pelo tucano. Assim querem mandachuvas do partido.  

Esses mesmos servidores abençoados pelo tucano (e tantos outros da imensa leva de assessores políticos) nada fizeram para combater a pandemia. Deveriam ir às ruas, organizados e uniformizados, para educar a população e encurtar o caminho de proteção à saúde da comunidade. Agora estão nas ruas, discretamente, atuando como correligionários do prefeito.  

Quem paga são os contribuintes cada vez mais importantes como fontes de extração de dinheiros que minguam de riquezas minguantes.  

Túmulo de ocupantes 

Ailton Lima aparece como concorrente recalcitrante e oportunista, porque esteve ao lado de Paulinho Serra durante dois anos. E deu inúmeras entrevistas apoiando a política administrativa do chefe. Inclusive na área em que o tucano é o mais miserável dos incompetentes, ou seja, o Desenvolvimento Econômico.  

Aliás, a pasta na qual Ailton Lima engrossou a lista de improdutividades acumuladas a partir da criação da própria secretaria, na administração de Celso Daniel, em 1997. O primeiro a ocupar o cargo, Nelson Tadeu Pereira, foi uma decepção geral, vindo que veio da livre-iniciativa com apoio de classes empresariais. Uma revolução na época. O PT era avesso ao capitalismo. Celso Daniel era outra coisa. Via Santo André em primeiro lugar.  

Contexto importante 

Não custa lembrar aos predadores que Celso Daniel declarou publicamente que a introdução (tardia em todo o Grande ABC) da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Santo André (seguida pelos demais prefeitos) se deu por conta da campanha editorial da revista LivreMercado, conduzida por este jornalista.  Batemos tanto na mesma tecla que Celso Daniel, assim que eleito em outubro de 1996, anunciou a medida. 

Também não custa lembrar que muito antes da descoberta da regionalidade pelo Poder Público Municipal, em forma de criação do Clube dos Prefeitos (em dezembro de 1990) e mesmo assim sem levar em conta a prioridade ao Desenvolvimento Econômico (só acionado bem depois), a revista LivreMercado foi lançada no mercado editorial regional. Era março de 1990, logo após o estúpido Plano Collor.  

A manchetíssima, manchete das manchetes da primeira página de um tabloide em papel especial, versava sobre a dependência do setor automotivo. Um tabu até então na imprensa regional. Que preferia o endeusamento acrítico do setor.  

Os intolerantes podem desprezar essa contextualização, mas o simplismo não ajuda em nada a explicar as razões de o Grande ABC ser o que é. E nessa fervura toda de explicações virou prioridade absoluta o relacionamento de agentes públicos e pretensos agentes públicos com a sociedade consumidora de informação. É nesse ponto que ressalto os vídeos de campanha eleitoral em Santo André como centralidade reflexiva.  

Descendo do palanque  

Já passou da hora de Paulinho Serra e Ailton Lima descerem do palanque de conservadorismo de tempos analógicas e enfrentarem para valor o presente de digitalização massiva e revolucionária – para o bem e parta o mal, não importa.  

Que Paulinho Serra e Ailton Lima assumam seus erros. Explique-os à sociedade. Justifique-os. Prestem contas do que fizeram. Sejam receptivos às cobranças. Deixem de fazer leitores e eleitores de otários. Deem as respostas que os questionamentos exigem. Mas que não sejam novamente pecadores.  

Há diversas formas de errar. A pior é a deliberada, maliciosa, zombeteira. Errar porque apoiou ou aceitou o apoio de outra agremiação no passado faz parte do jogo. Errar porque virou secretário de um prefeito com o qual rompeu também está entre as possibilidades humanas relativamente defensáveis. Negar os erros é abusar da confiança de todos. É estender o tapete do descompromisso com o futuro. É tratar o eleitorado como bando de idiotas.    

Acirramento digital  

Centralizei o conceito de erros com repercussões políticas e eleitorais nos dois candidatos à Prefeitura de Santo André porque é o que tenho observado de mais latente nas redes sociais que acompanho por meio do aplicativo WhatsApp.  

O combate em Santo André parece o mais feroz na região. Mas não posso afirmar categoricamente porque não tenho acesso frequente às redes sociais dos demais municípios.  

Consultei alguns especialistas na matéria, gente que faz das redes sociais a própria vida, e a resposta confirma a percepção de que o galo canta mais mesmo em Santo André. Gostaria muito de ter certeza sobre isso, mas não há na praça um xerifão tecnológico que forneça o mapa de ocupação digital das candidaturas nos sete municípios do Grande ABC. 

Vou ficar na torcida para que Paulinho Serra e Ailton Lima sejam transparentes com a sociedade consumidora de informações. Ignorar o que está nas redes sociais é um acinte que só seria superado por respostas evasivas. Aí o que teríamos seria um embuste.



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