Amanheci com imensa dúvida na cabeça até que o passeio diário com minhas cachorras resolveu a questão. Passeio importante a cada dia porque me remete automaticamente à reflexão produtiva. São, essas jornadas diárias pelas ruas de meu bairro, minha terapia matutina.
Não sabia se escrevia sobre a pesquisa do Ibope que será publicada amanhã pelo Diário do Grande ABC, se metia a mão crítica na narrativa mais uma vez triunfalista do mercado imobiliário do Grande ABC, agora sob os cuidados avaliativos do filho de Milton Bigucci, conhecidíssimo na praça (o pai, claro), ou se botava minhas mãos no comportamento do mercado de trabalho no ano passado, com dados oficiais do Ministério do Trabalho e Emprego. Fiquei com a política. Tenho 14 perguntas a serem respondidas ou não pelo Ibope.
Quando afirmo que são 14 perguntas a serem esmiuçadas quero dizer que são 14 perguntas centrais, nucleares, que, claro, podem se desdobrar em tantas outras. A elasticidade fomentada por pesquisas eleitorais assemelha-se às intervenções da crônica esportiva para explicar o resultado de um jogo importante. A diferença é que a política é muito mais complexa e idiossincrática.
Ciência humana
Duas das 14 questões centrais são direcionadas à metodologia adotada pelo Ibope. Estão no fim da fila das questões que os leitores encontrarão logo abaixo. Estão no fim da fila aleatoriamente. Não expressam juízo de valor central da análise. Aliás, se fosse estabelecer hierarquia às questões apresentadas, as duas últimas abririam o grupo de questionamentos.
Tenho desde sempre muita desconfiança quando se anuncia pesquisa eleitoral. E tantas outras pesquisas. Os indomáveis defensores da ciência (e pesquisa eleitoral é ciência) não arredam fé da convicção de que os dados são inatacáveis. Como se não fossem produto do homem, imperfeito por natureza e safadeza.
Não quero dizer com isso que a pesquisa a ser anunciada pelo Ibope é desonesta, como tantas de vários institutos se denunciaram no passado que cansei de abordar nestas páginas.
Grife importante
O que quero dizer com clareza é que não se deve depositar sobre pesquisa eleitoral certeza numérica inabalável para quem quer que seja. Existe tanta maneira de ludibriar o distinto público intencionalmente ou não que um pé atrás parece pouco. O Ibope é a maior grife de pesquisa de opinião pública do País. O Diário faz um esforço financeiro louvável para apresentar os dados. Mas isso não pode ser confundido com algo que lembre credulidade total.
O que teremos amanhã sob contrato do Diário do Grande ABC será um Ibope providencial no sentido de que, seja qual for o farol que ilumine o campo político-eleitoral no Grande ABC a 10 dias das eleições, o resultado poderá ser melhor que a escuridão e as manipulações já oferecidas por gente sem lastro e sob suspeita de contravenções.
É melhor ter o Ibope, portanto. Entre outras coisas, haverá a condição de desvendar de tal forma a metodologia e os dados que, por mais que não sejam supostamente transparentes como deveriam, teremos mapeamento esclarecedor ou instigador da situação nos sete municípios.
Buraco do passado
O maior obstáculo para avançar amanhã (como pretendo e por ser a razão principal das questões que apresento abaixo) é a ausência do que chamaria de processo consolidado de tendência de votos nos sete municípios. Ou seja: o que o Ibope registrará amanhã nas páginas do Diário do Grande ABC será uma pesquisa solteira em termos temporais.
Os números não têm o carregamento do passado recente como veredas a avaliações mais seguras. Sem uma plataforma de oscilações e consolidações pretéritas da marcha da contagem extraoficial das urnas, tudo fica muito mais perigoso a interpretações.
Pesquisa eleitoral solteira tem o mesmo significado de análise de competência estrutural das equipes com base num único jogo de futebol. Peguem o exemplo de Flamengo e São Paulo domingo no Maracanã. Os quatro a um são tão enganadores (e não tiro o mérito do São Paulo, deixo bem claro, porque tenho no técnico Fernando Diniz um profissional de talento) que quebrará a cara o fanático ou o ignorante que imaginar o Tricolor favorito ao título da temporada.
Questões essenciais
Sou doidamente Flamengo quanto às perspectivas de bicampeonato. Entenda doidamente como dolorida, não no sentido louco de ser. O Flamengo é disparadamente o melhor time brasileiro do século desde o ano passado, quando nadou de braçadas na competição.
Voltamos ao que interessa: temo sinceramente em construir amanhã uma análise respaldada nas questões que se seguem logo abaixo porque o que temos é uma competição isolada. Não se tem o passado como fonte segura.
Teremos dados em forma de retratos imediatos de primeiro grau. O ideal é termos um filme que seria congelado no ponto terminal provisório, ou seja, da pesquisa em si programada para amanhã.
Vamos, então, às perguntas básicas que pretendo decifrar na edição de amanhã quando saltarem às páginas do Diário do Grande ABC os dados do Ibope. Antes, um adendo: há questões que parecem superpostas e redundantes, mas não o são. Como pretendemos revelar amanhã. Os números individuais dos candidatos podem indicar alguma coisa numa determinada direção que não necessariamente o conjunto da obra dos números coletivos sugeririam.
1. Paulinho Serra teria encaminhamento de votos tão contundente que garantiria vitória no primeiro turno?
2. A soma de todas as partes de oposicionistas em Santo André seria suficiente para projetar o segundo turno?
3. Quem seria o eventual concorrente de Paulinho Serra num segundo turno?
4. A soma de votos dos opositores de Orlando Morando seria em volume apropriado à projeção de um surpreendente segundo turno em São Bernardo?
5. Orlando Morando vai dar uma lavada em Luiz Marinho a ponto de projetar um massacre no primeiro e cantado único turno?
6. José Auricchio Júnior contaria com confortável vantagem numa disputa compulsória de turno único que o faria flanar nos últimos dias de campanha?
7. Fabio Palacio teria tônus de votos potenciais a indicar uma reviravolta no placar em São Caetano?
8. A soma de todas as demais partes de votos em São Caetano, exceto de Fabio Palacio, seria aliada à vitória final de José Auricchio?
9. José de Filippi estaria com potencial numérico de votos que garantiria ida a um mais que provável segundo turno em Diadema, livrando a cara do PT nas eleições da região?
10. O prefeito mais que contestado Atila Jacomussi teria votos mais que suficientes para garantir não só o primeiro lugar como também o endereçamento da vitória no segundo turno em Mauá?
11. Até que ponto o prefeito Kiko Teixeira estaria enrolado em Ribeirão Pires para sustentar um segundo mandato?
12. Rio Grande da Serra teria uma disputa acirrada também em primeiro turno?
13. A margem de erro da pesquisa acenará à segurança de interpretações ou teremos um grande ponto de interrogação que tornaria os resultados numéricos um feixe de desconfiança?
14. O contingente de eleitores que não se decidiram pelo voto e que também não teria interesse na disputa é tão substancioso a ponto de colocar em xeque a robustez interpretativa?
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)