Administração Pública

Paulinho Serra apanha feio
do vírus chinês. Surpresa?

DANIEL LIMA - 07/01/2021

As manchetes dos jornais de papel e digital não deixam dúvida sobre a manchetíssima deste texto. Embora façam tudo o que é possível para atenuar a inoperância do novo prefeito dos prefeitos do Grande ABC, porque prefeito do Clube dos Prefeitos, as reportagens não deixam de transpirar incômodo ao autodenominado gestor público que tem muito a fazer para justificar tamanha pretensão.  

Paulinho Serra prometeu nos últimos dias do ano passado que priorizaria no Clube dos Prefeitos a luta contra o vírus chinês. Até agora o que fez foi contratar um especialista em questões constitucionais para comandar a instituição. Seria algo como requisitar um motorista de ônibus para pilotar uma aeronave. 

E o que dizem as manchetes de hoje da mídia regional? Que a Prefeitura de São Caetano, à cargo de um prefeito interino, Tite Campanella, anunciou a compra de 180 mil doses de Coronavac, a vacina do governador João Doria, para um enfrentamento que tem sido cruel porque é goleada a cada dia que se passa, independentemente de quem ocupa a chefia do Executivo.   

Liderança internacional 

São Caetano é o principal endereço nacional e um dos líderes do ranking mundial de fracasso na luta contra o Coronavírus. Fosse São Caetano o Brasil, teríamos hoje contabilizados 421 mil óbitos. O índice de letalidade do Coronavírus em São Caetano é de 198,75 para cada 100 mil habitantes. Basta multiplicar esse número pelo total da população brasileira, subdividido em grupos de um milhão de habitantes.  

Como já escrevi neste espaço, o sistema prisional faz muito menos vítimas fatais do Coronavírus do que São Caetano, sempre utilizando a proporção de mortes/100 mil habitantes.  

Tradução? É estatisticamente menos delicado sob o ponto de vista epidemiológico (apenas epidemiológico, claro) tirar umas férias forçadas em qualquer departamento de reclusão (gostaram da tucanagem?) do que morar em São Caetano.  

Obstáculos desafiadores  

É verdade e isso precisa ser dito e digo desde o princípio:  não é fácil São Caetano combater esse combate. Não custa repetir que são três os vértices que dão sustentação à tragédia sanitária do Município de melhor qualidade de vida na Grande São Paulo.  

Um quarto da população conta com mais de 60 anos de idade (o dobro da média regional e nacional), a densidade demográfica é uma das maiores do País e a geolocalização metropolitana num mundaréu de mais de 20 milhões de habitantes é um convite à tragédia.  

O contraditório disso tudo é que exatamente por isso tudo São Caetano deveria ter saído do quadradismo da marcha fúnebre que passou a ecoar a cada novo dia de Coronavírus em seu território e buscar medidas mitigatórias onde fosse possível.  

E o que não falta no mercado de combate à morte por Coronavírus são exemplos a ser seguidos. O Japão, com 60 milhões de habitantes, é prova disso. Será que a literatura internacional de resistência ao vírus chinês não registra um quesito sequer que possa ser adaptado pela recordista São Caetano?  

Espelho enganador  

Diria que o problema maior de São Caetano é olhar no espelho da vaidade urbanística, social e sanitária e acreditar que possa contar com dispositivos próprios de combate ao vírus chinês.  

O acachapantemente contraditório é que ao se olhar no espelho São Caetano encontra a imagem do governador do Estado e uma metodologia padronizada de execução da tarefa sanitária.  

Só o fato noticiado de que São Caetano está se virando por conta própria, sem dar a menor pelota a qualquer coisa que lembre o Clube dos Prefeitos do prefeito Paulinho Serra,  já diz o que acontece desde sempre naquela instituição e no Grande ABC como um todo: somos um arquipélago de sete ilhas que raramente se fortalecem mutuamente, exceto, como se sabe, e mesmo assim com rupturas circunstanciais, na farra do dinheiro do SUS da Fundação do ABC, a única regionalidade de que deu certo no Grande ABC – uma regionalidade que dá certo porque tudo se acerta.  

Medalha de mérito  

Quando me refiro a rupturas circunstanciais na farra do dinheiro do SUS, quero dizer que é o que se dá desde que Adriana Berringer assumiu a presidência da Fundação do ABC, indicada pelo prefeito José Auricchio Júnior.  

Relatos de poucos conselheiros curadores com autonomia de trabalho e de ação revelam que Adriana Berringer deveria entrar para os anais de grandeza moral e ética na história do Grande ABC pelo simples fato de combater os ladrões juramentados que atacam a Central de Compras (e de Falcatruas), escolhidos pelo prefeito Paulinho Serra.  

Escrevo nestes termos de criticidade operacional sem o menor receio judicial sobre aquele departamento praticamente autônomo de uma instituição que lida com orçamento anual de quase R$ 3 bilhões anuais. Estou respaldado (e absolutamente seguro) por resultados de auditoria externa que se desdobrou em ação criminal do Judiciário. 

Não se trata, portanto, de um encadeamento de palavras que formam uma frase ou várias frases sem qualquer compromisso como a realidade dos fatos. Aqui não existe fake news.  

Já fui criminalizado por bandidos imobiliários porque o Judiciário que me ofendeu com uma sentença descabida não é o Judiciário que respeito. Mas isso é outra história. 

Orquestra mambembe  

Vamos voltar ao que mais interessa agora. E o que interessa é o que falta para o Grande ABC, 10 meses depois do primeiro óbito por conta do vírus chinês.  

Não se aprendeu a lição de que o combate precisa ser centralizadamente organizado a partir de uma força-tarefa doutrinada pelos ditames da ciência sem contaminação política.  

Aliás, é imprescindível que a ciência esteja vacinada contra a invasão da política. Quando um trompetista desastrado em busca de voto sufoca o solista da eficiência técnica, a orquestra de resultados é tomada por um pandemônio de sons que levam a uma cacofonia ensurdecedora.  

Imagine então quando aparece na parada um megafone desastrado que parte e reparte o poder executivo da Federação, dos Estados e dos Municípios. Só pode dar no que está dando.  E olha que não estou nem citando o maestro, pateticamente desautorizado e inabilitado.  

Força-tarefa do ramo  

Fosse Paulinho Serra minimamente competente em chefiar o Clube dos Prefeitos e honrasse as declarações pronunciadas nos estertores do ano passado em forma de promessa de novos dias, essa força-tarefa já estaria formada e pronta para o combate.  

Entretanto, como o prefeito de Santo André gosta mesmo é de praticar marketing como discípulo do governador do Estado, com o qual, paradoxalmente, não tem relações profícuas, pouco se pode esperar de novidade.  

Os prefeitos do Grande ABC que formam o Clube dos Prefeitos (a repetição é proposital) deveriam ter a humildade de se reconhecerem incompetentes à tarefa de enfrentar o Coronavírus e entregar o planejamento, a organização e a execução a uma força-tarefa regional do ramo, integrada por gente que conhece as nuances da pandemia.  

Gente que não precisa e não deve pensar nas próximas eleições, mesmo que as próximas eleições ainda estejam distantes.  

Despreparo prolongado  

Quando digo gente do ramo quero dizer gente que conhece os atalhos para uma ação regional cooperativa, incisiva, prospetiva e participativa. Levem, caros prefeitos, especialistas da Faculdade de Medicina do ABC e profissionais da Fundação do ABC (não os profissionais da malandragem, claro) para comandarem as ações. Deixem o campo desimpedido.  

No caso do prefeito dos prefeitos Paulinho Serra, seus defensores seriam muito caras de pau se argumentassem algo como o início de mandato à frente do Clube dos Prefeitos como explicação à inação deste começo de ano.  

Para começo de conversa, Paulinho Serra e todos nós convivemos com o vírus chinês há quase um ano.  

Para prosseguimento de conversa, Paulinho Serra tutelou o então presidente do Clube dos Prefeitos, Gabriel Maranhão, durante um ano inteiro, no caso o ano passado.  

Tanto tutelou que enfiou entre os mandachuvinhas da entidade o sabetudo e sabenada Edgard Brandão, agora deslocado a uma divisão da Prefeitura de Santo André, após ser apeado do cargo em favor de um enviado de Gilberto Kassab, um dos pontos do entorno que governa Paulinho Serra.  

Terceiro, e por fim, Paulinho Serra antecedeu formalmente a Gabriel Maranhão, em 2019, e não desenvolveu a sabedoria da prática para entender que Grande ABC não pode ser apenas uma retórica de integração.  

A individualização de São Caetano em busca de socorro vacinal no governo do Estado não é uma dissidência que afronta o histórico de integração regional. Distante disso. É uma atitude administrativa que confirma em todos os pontos o distanciamento histórico entre os municípios do Grande ABC.  

Essa turma de isolacionistas precisa saber que o vírus chinês não reconhece fronteiras. Aliás, não fosse assim não seria o vírus chinês, que os próprios chineses reconhecem ser vírus chinês. Reconhecem mais que alguns malucos ideológicos brasileiros que veem fantasmas em tudo, inclusive ideologia na definição geocientifica de vírus chinês. 



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