Administração Pública

Celso Daniel consagra-se após
mediocridade. E Paulinho?

DANIEL LIMA - 14/01/2021

Os quatro anos do primeiro mandato do tucano Paulinho Serra foram semelhantemente medíocres aos quatro anos do primeiro mandato de Celso Daniel. Essa é a única comparação que se pode fazer sem ofender a história e a memória do maior prefeito regional do Grande ABC. 

O que o tempo vai provar é que Celso Daniel fez dos seis anos seguintes do segundo e terceiro mandatos uma gestão insuperável como líder real do Grande ABC e formulador, com sua equipe, de políticas públicas extraordinárias. Celso Daniel era um configurador do futuro.  

Paulinho Serra seguirá medíocre, porque lhe falta a essência às transformações: competência própria, insumos próprios e liderança não terceirizada. Paulinho Serra é um inovador fracassado do passado.  

Escrevo a propósito de levar ao campo da comparabilidade entre Celso Daniel e Paulinho Serra a única peça de uma carpintaria política que cabe, ou seja, é factível ao confronto sem que se cometa o crime de heresia. 

Absolutos e relativos   

Trata-se da votação obtida por Paulinho Serra nas últimas eleições, considerada por alguns, especialmente o Diário do Grande ABC, como recorde, e a votação alcançada por Celso Daniel, também de reeleição, em 2000.  

O jornal insiste em afirmar que Paulinho Serra é o mais votado da história. Não é verdade. Perde para Celso Daniel. São contextos diferentes, mas a matemática é objetivamente clara. Não dá para suspender os dados, adaptando-os às circunstâncias. Números absolutos e números relativos são explicitamente antagônicos nessa questão.  

Antes de destrinchar os dados eleitorais, faço algumas observações que minimizam a verdade numérica, porque a superioridade de Celso Daniel frente a Paulinho Serra não pode ser simplesmente sugerida ou induzida pelos números. Vai muito, mas muito além disso. 

Alguns pontos são relevantes à relativização de qualquer análise que tenha números eleitorais como foco. Eis os pontos cardeais dessa medida: 

 Contexto político. 

 Contexto econômico. 

 Ambiente social. 

 Agregado ao futuro.   

Esses são, portanto, os pontos centrais. Pontos centrais que geram pontos secundários e terciários e tornam a vida de cada eleitor uma realidade diferente a cada nova safra de votos.  

Situações distintas  

Quero dizer com isso que priorizar ou fazer comissão de frente de confrontos numérico-eleitorais envolvendo situações distintas nem sempre é aconselhável.  

Vejam o caso de Paulinho Serra. E 2016, quando eleito pela primeira vez, navegou nas águas de destruição do PT pela Operação Lava Jato. Não sobrou praticamente nada do PT no Estado de São Paulo. No segundo caso, da reeleição na temporada passada, a pandemia do vírus chinês alterou completamente o movimento das pedras. Quase 70% dos prefeitos foram reeleitos no Brasil.  

Agora vejam o caso de Celso Daniel. Em 1996, elegeu-se prefeito em primeiro turno tendo como adversário o empresário Duílio Pisaneschi, então deputado federal como Celso Daniel. Duílio Pisaneschi era o queridinho do Diário do Grande ABC, então uma mídia mais poderosa do que hoje, como todos os jornais do mundo inteiro. Em 2000, importaram um deputado federal, Celso Russomanno, para o combate. Russomanno tinha mais prestígio que hoje e a vantagem do Gataborralheirismo regional, mesmo assim foi batido inapelavelmente. Nem poderia ser diferente.  

Seis anos fulgurantes  

Celso Daniel fez um segundo mandato acima de qualquer antecessor, mesmo contando com a fragilidade econômica de uma Santo André no ápice da pós-desindustrialização mais severa e aguda. Celso Daniel produziu na miséria. Antecessores nadaram nas águas da industrialização. Tanto que quase metade do orçamento era destinada a obras. No começo do século não alcançava um terço disso.  

Faço essa volta ao passado remoto e ao passado próximo apenas a título especulativo. Poderia invadir mais o terreno de contextualizações. Creio, entretanto, que o exposto é suficiente para explicar em linhas gerais o peso dos contextos em qualquer avaliação comparativa.  

Placar esclarecido  

Agora vamos ao que interessa. E o que interessa é explicar que Paulinho Serra, medíocre como Celso Daniel do primeiro mandato de 1989 a 1992, perde para o rival petista em termos matemáticos. Vamos então aos números. 

Na disputa pela Prefeitura de Santo André em 2000 Celso Daniel obteve 250.506 votos. Na disputa pela Prefeitura de Santo André na temporada passada, Paulinho Serra obteve 266.575 votos.  

Ora, bolas: então a vitória é de Paulinho Serra? Calma, calma que esse jogo numérico tem mais dados.  

Quem é o maior campeão do Campeonato Brasileiro da história, desde que a primeira edição foi realizada em 1971? O Cruzeiro de 2003 fez mais pontos (102) que todos os demais campeões, mas o Flamengo de 2019 (90) é o melhor.  

Como assim? O Cruzeiro disputou uma edição com 24 concorrentes e realizou 46 jogos. O Flamengo disputou uma edição com 19 concorrentes e disputou 38 jogos. O índice de produtividade do Cruzeiro chegou a 77,27%, ante o Flamengo de 78,94%.  

Para meu gosto, embora reconheça que muitos foram os campeões brasileiros de alta qualificação, nada se compara ao Flamengo do ano passado. Um time extraordinário, de movimentos táticos extraordinários, de personalidade extraordinária.  

Mais números esclarecedores  

Fosse a diferença administrativa que separa Celso Daniel de Paulinho Serra tão estreita quanto os números relativos que antepõem cruzeirenses e flamenguistas, Santo André só teria a ganhar. Mas, pelo andar da carruagem do segundo mandato do tucano, ficará cada vez mais nítido a profundidade do buraco que os separa em tudo e que, por força dos números eleitorais, alguns serão levados a aproximá-los indevidamente.  

Agora, finalmente, vamos aos números dos votos desse confronto que precisa de esclarecimentos a fim de que algo que poderia ser catalogado como fake news não prevaleça. 

Quando Celso Daniel se reelegeu prefeito em Santo André em 2000 tendo, repito, Russomanno como maior opositor, o total de 250.506 votos obtidos equivalia a 51,31% dos 488.202 votos disponíveis. Ou seja, colégio eleitoral desidratado dos votos em branco, nulos, dos adversários e as abstenções.  

Mais eleitores pesa 

Quando Paulinho Serra se reelegeu prefeito em Santo André em novembro passado, tendo um exército maltrapilho de opositores que nem puderam sair às ruas porque a pandemia impedia, os 266.591 votos amealhados correspondiam a 46,87% dos 568.760 votos disponíveis, ou seja, considerando-se o colégio eleitoral. A diferença entre votos disponíveis e votos obtidos por Paulinho Serra é formada de eleitores que não compareceram, votaram em branco, anularam ou optaram por um dos adversários.  

Para ser mais detalhista, convém ressaltar que o colégio eleitoral de Santo André de 2000 (488.202 votos) correspondia a 85,84% do colégio eleitoral de Santo André (568.750 votos) do ano passado. Traduzindo: havia disponível na praça um eleitoral 14,16% maior que o colocado em jogo 20 anos antes.  

Em votos absolutos, Paulinho Serrara de 2020 superou Celso Daniel de 2000 por 16.085 eleitores, vantagem que corresponde a 6,03%. Em números relativos (não esqueçam a comparação entre Cruzeiro versus Flamengo), os 51,31% de votos disponíveis obtidos por Celso Daniel são mais que os 46,87% dos votos líquidos destinados a Paulinho Serra. Mais precisamente 8,85%. Ou 4,44 pontos percentuais.  

E no campo criminal?  

Então ficamos combinados: quando você ler que Paulinho Serra, o medíocre, superou na reeleição os números de Celso Daniel, o ex-medíocre, não esqueça de acionar o botão de acuidade avaliativa com base na história. Embora, convenhamos, o resultado final pouco interesse, mesmo que coloque as coisas nos devidos lugares, convém sempre ficar atento ao desenrolar dos fatos administrativos.  

Numa próxima edição vou escrever o que pretendia escrever hoje: o prefeito de Santo André está caminhando para um segundo mandato devastador porque dá um tiro no próprio pé com indicações políticas sintonizadas com o desejo ambicioso de virar uma peça histórica no tabuleiro de gestores públicos do Grande ABC. É possível que, repito o que escrevi outro dia, fique em paralelo com a gestão petista de Celso Daniel apenas no campo criminal. Caminha celeremente nesse sentido. Como se o primeiro mandato já não fosse suficiente. 



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