Mais dias, menos dia, chegará o dia em que eleitores de São Caetano irão às urnas eletrônicas para votar num dos concorrentes que se apresentarão, entre os quais os principais, Tite Campanella, substituto extraoficial de José Auricchio Júnior, e Fabio Palacio, o mais viável dos opositores a chegar ao Paço Municipal.
Palacio foi derrotado no turno único temporariamente invalidado. Auricchio obteve 42% dos votos válidos (e 30% dos votos disponíveis) ante 17% (também disponíveis) do adversário.
Qualquer desdobramento contrário à impugnação da candidatura e da vitória de Auricchio em novembro último será uma zebra patrocinada pela Justiça Eleitoral em seu mais alto escalão, última cidadela de expectativa de reversão do quadro.
Não se deve duvidar de nada neste País. A punição a José Auricchio está na lei, mas é relativamente severa. Há ladrões juramentados que ganharam eleições, mas muita gente fez vistas grossas às irregularidades. Por isso, seguem no bem-bom.
Nomes pouco importam
O que será de São Caetano deste século que já superou duas décadas sem José Auricchio no comando do Executivo?
Essa deveria ser a questão principal a ser respondida pelos dois favoritos. Respondida dentro de campo, no dia a dia de possível gestão.
Se não bastasse a mais desafiadora das respostas a ser perseguida -- no caso a derrocada econômica do Município -- temos a recarga de uma política pública completamente fracassada na pandemia.
A gestão de São Caetano seguiu o manual de reação da maioria dos municípios metropolitanos. Não se deu conta das especificidades locais. Faltou um salto de inovação. Um projeto diferenciado de combate. Faltaram planejamento e visão do universo que caracteriza o Coronavírus em áreas semelhantes, metropolitana, de alta ocupação demográfica e, sobretudo, com um quarto da população acima de 60 anos.
Piloto automático
Tanto na Economia quanto na Saúde emergencial ditada pelo Coronavírus, a São Caetano de José Auricchio reagiu tendo como base o comodismo do piloto automático. Desprezou as buraqueiras e os desvios de uma longa estrada. Só podia dar no que deu e no que está dando.
Já escrevi várias vezes sobre isso, mas rememorar não é redundância. Tem tudo a ver com Fabio Palacio e Anacleto Campanella. Os projetos factíveis para São Caetano são mais importantes que o nome que comandará São Caetano.
O continuísmo no formato de José Auricchio não me parece, portanto, uma boa companhia para Tite Campanella. O filho de ex-prefeito opositor ao Regime Militar precisa ser um reformista. Como romper na campanha eleitoral que se aproximaria com o sistema indolente de José Auricchio?
O currículo de Fabio Palacio também é um limitador ao convencimento do eleitorado de São Caetano. Tanto como ex-vereador como ex-secretário-executivo do Clube dos Prefeitos, Fabio Palacio não foi além do trivial. Não é todo mundo que dá a sorte de Paulinho Serra, que, de medíocre como vereador e como secretário petista, virou prefeito de Santo André, mas segue medíocre.
Rompendo ciclo
Fabio Palacio ou Tite Campanella precisaria romper o ciclo vicioso de gestores públicos do Grande ABC, encabrestados por um municipalismo improdutivo. Isso mesmo, improdutivo. Cada vez mais está provado que, sem integração regional, qualquer política econômica especifica municipal dará com os burros nágua ou não alcançará a produtividade necessária. Será sempre um quebragalhismo administrativo.
Tite Campanella foi retirado do bolso do colete de pragmatismo do grupo de José Auricchio Júnior. Eleito presidente do Legislativo, virou prefeito interino com as bençãos do aglomerado de interesses do entorno do prefeito reeleito, mas sob restrição jurídica. Não parece haver em São Caetano, em defesa de Auricchio, marca familiar mais interessante.
O passado do pai Anacleto Campanella impacta o eleitorado mais vivido, vítima preferencial do vírus chinês, mas, nem por isso, suscetível na mesma intensidade a negar apoio aos situacionistas.
Exclusão de Saul
A falta de um veículo de comunicação de massas independente na região favorece a política desastrosa de São Caetano no combate à pandemia.
Vale mais o marketing de atenção pública em cada bairro em forma de orientações a motoristas e outros babados. E a omissão da mídia consentida, quando não aliada, quando não tantas coisas.
O calendário eleitoral poderá minimizar os estragos na campanha de Fabio Palacio. As denúncias (sem provas) de uma mulher (ex-namorada e com um currículo psicológico, para não dizer psiquiátrico, que será revelado na série que estou produzindo sobre o Caso Saul Klein) poderão ser desmascaradas até então. É claro que a verdade dos fatos não mitigará significativamente os estilhaços na imagem de Saul Klein e na campanha de Fabio Palacio.
Ainda sobre o Caso Saul Klein, a reação de Fabio Palacio às primeiras horas das denúncias não foi o que chamaria de parceira e sensata, quando não inteligente. O afastamento do candidato a vice-prefeito seria natural quando se leva em conta tudo que ocorreu após a divulgação das denúncias, mas a nota oficial assinada por Palacio foi insensível e precipitada.
Juízo precipitado
Fabio Palacio rifou sem piedade o companheiro de chapa. Tanto que a iniciativa profilática comparou o alardeado delito de estupro às irregularidades cometidas na campanha de José Auricchio, em 2016, que redundaram na impugnação ainda não deferida em definitivo.
Os termos de afastamento de Saul Klein poderiam ser outros, menos condenatórios. Os desdobramentos do caso mostram que houve precipitação em sugerir um juízo de valor peremptório. A reabilitação criminal de Saul Klein encaminha-se para o terreno da possibilidade ampla. A cada dia mais provas dão conta de que se tratou de uma farsa. Acusações sem provas foram tratadas pelo grupo de Fabio Palacio como acusações irrefutáveis. Precipitadamente. Faltou companheirismo e inteligência eleitoral.
Os interesses que cercam a manutenção do poder Executivo em São Caetano nas mãos de José Auricchio e alguns figurões da atividade política estadual colocam as eleições em São Caetano como origem das denúncias contra Saul Klein. Há mais variáveis possíveis. Já escrevi sobre isso.
Chamariz orçamentário
O orçamento anual de São Caetano não é um brinquedo da Disney ao entretenimento ocasional. Como é comum nas três esferas do Estado, o dinheiro arrecadado e gasto não é desprezível como fábrica de mobilidade social seletiva. É um cofre valioso por razões que dispensam virgulas e pontos finais. Não me peçam para ser mais explícito. Seria muita ingenuidade. Sem chamar bandido social de ladrão já me enrosquei no Judiciário, imagine se meto a mão nessa cumbuca.
Por essas e outras, repercute com alta octanagem eleitoral o que teria sido um erro clamoroso de Fabio Palacio ao escolher Saul Klein como parceiro de chapa. Trata-se da produção e do compartilhamento de vídeo sobre o material demolidor do Fantástico. A audiência nas redes sociais é tão expressiva que o repasse do material só pode ser individual. O grupo situacionista em São Caetano jamais imaginou algo tão explosivo para o que vem a ser uma espécie de segundo turno eleitoral.
A diluição parcial desses efeitos poderá se dar com certa morosidade no tempo que restaria até a votação, desde que se confirme nas investigações em curso o viés extravagante de um namorador que não nega que é namorador e que por ser namorador demais meteu-se numa encrenca com mulheres manipuladas por mulheres.
Procurando escândalos
Sabe-se que os dois comandos da disputa posta em São Caetano procuram encontrar no passado do adversário escorregões que serviriam de munição complementar ao ataque desferido pós-Caso Saul Klein. Há artilharia sempre atenta.
No caso de Tite Campanella, também passa a trafegar nas redes sociais um vídeo em que o então secretário municipal de José Auricchio se meteu em encrenca. Foi um escândalo que ocupou páginas de jornais e revistas.
A revista Carta Capital, por exemplo, escreveu o seguinte em 30 de agosto de 2012, sob o título “Após denúncia, candidato do PT renuncia à candidatura em São Caetano do Sul:
Nesta quinta-feira, 30, o vereador Edgard Nóbrega (PT) oficializou a renúncia à candidatura à prefeito de São Caetano do Sul (SP). Nóbrega foi flagrado em vídeo negociando o apoio petista à atual gestão do prefeito José Auricchio Júnior (PTB) em troca de dinheiro. Na filmagem, Nóbrega conversa com o secretário de Governo da Prefeitura, Tite Campanella (DEM). “A pergunta básica que a gente deveria fazer é: quando custa ter o PT”, diz o petista ao secretário durante a gravação. Nóbrega teria requisitado 100 mil para garantir 600 votos de militantes na disputa interna pela presidência do partido na cidade, ocorrida em 2009, segundo o jornal Diário do Grande ABC. O diálogo segue com o integrante do atual governo dizendo “o que a gente ganha com isso, qual é a nossa vantagem?”. O petista responde que “o grupo que governa a cidade vai ter ou um aliado ou um adversário leal”. Desde que o vídeo foi divulgado, integrantes do PT da região davam como certo a retirada da candidatura de Nóbrega. (....) A gravação foi divulgada no youtube por Eder Xavier, candidato a vereador pelo PCdoB, escreveu a Carta Capital.
Frentes de batalhas
É pesado o jogo que está sendo jogado em São Caetano tendo o ex-prefeito José Auricchio como articulador principal e gente estranha ao eleitorado local atuando no entorno com ferocidade. São duas as frentes de batalha: ganhar a eleição nas urnas, e evitar, principalmente, o impedimento de José Auricchio.
Por enquanto quem pagou o pato da guerra em curso foi Saul Klein. Na edição de segunda-feira mostro, no quarto capítulo do caso, que a denunciante não passa de uma farsante. Palavra de mulheres indignadas contra a mulher que o Ministério Público Estadual transformou em fonte de verdades insustentáveis. Até prova em contrário. A chamada Síndrome de Estocolmo coletiva é potencialmente uma grande bobagem. Parece pouco verossímil que mulheres estupradas passassem por critérios de seleção para novas rodadas de namoros com o namorador de Alphaville.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)