Administração Pública

Paulinho Serra faz tudo e muito
mais para não virar ex-prefeito

DANIEL LIMA - 26/01/2021

O pior desafio reservado ao prefeito de plantão é ser ex-prefeito. Já escrevi sobre isso. Trata-se da Síndrome de Prefeito. Resumidamente, é a impossibilidade histórica de prefeito no Grande ABC ser alguma coisa supostamente mais importante. Deputado estadual e deputado federal são apêndices de poder. O bom mesmo é ser senador da República, governador do Estado, ou até mesmo vice-governador do Estado.  

Paulinho Serra quer alguma coisa assim. Por isso está traindo os 47% dos eleitores de Santo André que o reelegeram. Ele quer o poder continuado a qualquer custo. E a operação já começou. Uma estratégia em que o peso do individualismo e grupal vale mais que que o conjunto da população.  

Para chegar aonde pretender chegar, Paulinho Serra fez acordo a torto e a direito com várias falanges partidárias. Quem ingressou para valer na gestão de Santo André é o presidente do PSD, Gilberto Kassab, ex-prefeito da Capital.  

Kassab manda mais  

Kassab está escalando vários protegidos em Santo André. José Police Neto, ex-vereador de São Paulo, é o principal deles. Virou primeiro-ministro de Paulinho Serra. Tudo em nome da visibilidade e da viabilidade eleitoral de Paulinho Serra rumo especialmente à vice-governança de um Geraldo Alckmin, que pretende voltar a governar o Estado de São Paulo.  

Há outras opções em vista, claro. O que vale mesmo é assegurar que Paulinho Serra e o grupo de interesses sigam em frente na política. Desta forma não ficarão órfãos ao fim do segundo mandato iniciado neste mês.  

Mas é o ex-governador do Estado que seria supostamente o mais indicado. Uma costura eleitoral o tornaria bastante competitivo numa área estadual em que João Doria não tem mais interesse e provavelmente nem votos suficientes para reeleger-se.  

Sacolejadas do jogo  

Paulinho Serra (e provavelmente a população de Santo André) vai sofrer muito para chegar ao objetivo obcecado que o move. O jogo é pesado.   

Está certo que o tucano está acostumado aos sacolejos de pelejas políticas, para não dizer esportivas como tricolino que é, mas possivelmente já tem consciência de que está virando fantoche travestido de liderança.  

E quem o torna fantoche travestido de liderança em nome de grupos agregados é o novo superintendente de Planejamento e Assuntos Estratégicos, o supersecretário, espécie de primeiro-ministro, José Police Neto.  

Não conheço o enviado de Gilberto Kassab, mas basta acompanhar entrevistas para compreender o tamanho da enrascada em que se meteu Paulinho Serra. Resta saber se o bônus superará o ônus de uma concorrência implícita, embora também possa ser observada como parceria.  

Police Neto está atropelando Paulinho Serra. Diria que em loquacidade que o caracteriza supera largamente o titular do Executivo. Paulinho Serra é ruim de oratória. Police Neto é uma metralhadora de argumentos, muitos dos quais furadíssimos.  

Aliás, sobre argumentos furadíssimos, vou tratar em texto específico. Prometi aos leitores que me acompanham no WhatsApp que trataria desse assunto hoje, mas deixo para depois. O que interessa agora é registrar o contexto em que se dá o início do segundo mandato de Paulinho Serra. 

Segunda onda  

Haverá uma onda de proselitismos políticos que tentarão fazer de Paulinho Serra o suprassumo do Poder Executivo em Santo André. Essa onda na verdade é uma segunda onda. A primeira, patética, durou os quatro primeiros anos pós-vitória sobre o esmerilhado PT de Carlos Grana em 2016, bombardeado pela Operação Lava Jato.  

Uma recente matéria publicada no Diário do Grande ABC de 14 de janeiro último sob o título “Sto. André será referência, avalia Police”, é, ao contrário da intenção contida na manchete de página, uma condenação ao primeiro mandato de Paulinho Serra. E quem produz a condenação é exatamente Police Neto. Claro que sem intenção, acreditam todos aqueles que o consideram homem de grupo, embora não falte quem o aponte como homem de grupo desde que o grupo o ouça como senhor das sentenças mais importantes.  

Vou reproduzir alguns trechos da matéria do Diário do Grande ABC seguidos de observações que considero relevantes para explicar o atropelamento de Paulinho Serra, ao qual me referi. 

Matéria do Diário 

 Escolhido pelo prefeito de Santo André (...) o ex-vereador paulistano José Police Neto (PSD) traçou que a cidade irá recuperar protagonismo de ser referência nacional no quesito de exportar projetos bem-sucedidos. “Vou ser o cara da inovação”. Em entrevista ao Diário, o pessedista refutou a tese de forasteiro, apontado àqueles que vêm de fora, e sustentou que conhece os principais problemas do município e do Grande ABC, diante de estudo in loco na Região Metropolitana de São Paulo. “Estudei a Região Metropolitana nos últimos 20 anos. É uma questão que esteve inserida no meu patrimônio de vida. Por isso, vim muito para o Grande ABC, Santo André principalmente. As disputas políticas que aconteceram aqui, por exemplo, permitiam diálogo mais atrevido para quem é de fora. Devido a isso, me sinto muito pouco forasteiro. Já vim para cá de bicicleta, ônibus, carro, trem, metrô. Na verdade, quando se está em área estratégica para ser garçom, até acho que a leitura do forasteiro pode ser positiva, alguém que rodou o mundo (como delegado da ONU) e pode trazer o que outros países têm de experiência. Adaptar o que o mundo acertou e evitar repetição de erros”, pontuou o parlamentar.  

Minhas observações 

Police Neto chutou o balde de incompetência inovadora de Paulinho Serra ao se autoconsiderar o papa do assunto. Tudo que o prefeito tucano teria feito nos quatro anos passados não são nada. Nesse ponto, não está equivocado. Paulinho Serra produziu mais barulho que obras inteligentes. O que não se esperava de um suposto aliado é que apontasse o criminoso administrativo, por assim dizer. Quanto ao suposto conhecimento que teria de Santo André e da região, é muita pretensão. Estou na labuta há trezentos anos e não seria capaz de repetir a frase. Mas o desafiaria a um debate público para desmascará-lo. Tanto que estou reservando para os próximos dias algumas correções de rumo de declarações posteriores de Police Neto sobre a economia de Santo André.  

Mais Police no Diário 

 Para o pessedista, o fato de Paulo Serra ter obtido adesão de quase 77% dos votos válidos na eleição de novembro confere a ele “valor muito grande”. “Sarrafo foi lá em cima. Passar não é tão simples. Teremos que ser muito mais competentes”. Police Neto disse que Santo André não ficará a reboque da Capital no mandato. “Depois da morte do Celso (Daniel, em 2002), a cidade não encontrou seu líder até a eleição de Paulo Serra e, talvez, tivesse dúvida se era ele na primeira (em 2016). A segunda mostrou que ele é um líder. Nesse período, a cidade tinha prefeito, mas não líder. Santo André, em certos momentos, inspirou. Tem debate nacional, no Senado, sobre o marco das startups, que vai permitir novos arranjos, recepção da indústria 4.0. O prefeito vai a Brasília para discussão.  

Minhas observações 

Police Neto precisa entender que Santo André jamais teve dúvida sobre a possibilidade de Paulinho Serra ser líder antes da eleição de 2016. Como agora, vitorioso nas urnas em circunstâncias especiais, a cidade também não tem dúvida alguma: Paulinho Serra jamais será liderança para valer porque não tem apetrechos diversos para tanto. É um pretenso inovador do passado, não tem olhos para o futuro. Não será uma orquestração político-eleitoral que alterará a realidade dos fatos que sempre serão mensuráveis, ao contrário da oratória ufanista. Paulinho Serra é uma sequência de administradores pouco preparado que sucederam a Celso Daniel. A simples comparação é uma ofensa à sanidade mental.   

Mais Police no Diário 

 (...) “Venho para oferecer cardápio de soluções reais, oferecer alternativas para enfrentar problemas velhos”, alegou. “Política na habitação não pode ser mais oferecer casa subsidiada do jeito que foi. Precisamos voltar a ser referência nacional. Consigo testar mais rapidamente modelo de locação e serviço de moradia social do que em São Paulo”. 

Minhas observações 

Quando menciona “enfrentar problemas velhos”, Police Neto está chutando os fundilhos de Paulinho Serra e dos antecessores sem dó nem piedade. 

Mais Police Neto 

 (...) Pela quinta vez fiquei entre os 50 mais votados (a vereador em São Paulo). Por obra do acaso, não deu coeficiente eleitoral. Fui cinco vezes candidato a vereador, nas cinco fiquei entre os 50 mais votados. São 55 cadeiras. Tem nove eleitos com menos votos que eu. A população, por assim dizer, me escolheu. Isso me diminui? Nada. Se tivesse (encolhido politicamente) o Paulinho não teria me convidado para vir para cá”.  

Minhas observações 

Talvez tenha faltado ao superministro de Santo André a explicitude de dizer que perdeu a eleição para vereador na Capital Cinderela, mas ganhou o cargo de mandachuva na Borralheira Santo André.  

Ainda vou voltar a escrever sobre Police Neto e o entreguismo do mandato de Paulinho Serra ao grupo político de Gilberto Kassab, entre outros que gravitam em torno do Paço Municipal e encabrestam aquele que pretende ser vice-governador ou senador. 



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