O prefeito Paulinho Serra e a turma (e bota turma nisso!!) que o cerca, que o envolve, que o atrapalha, que o atormenta e que o satisfaz, vão completar quatro meses do segundo mandato sem terem um horizonte satisfatório. O sonho de afastar o pesadelo de virar ex-prefeito de Santo André quando o fim do mandato chegar deixa o titular do Paço Municipal inseguro. Por isso, aceita ou topa qualquer parada. Até porque é tão jovem quanto ambicioso. Nada diferente de parcela da humanidade entregue aos prazeres e aos horrores do tudo ou nada. Quando a propulsão ao poder é grupal, a situação se exacerba. E Paulinho Serra é multifacetado no comando da Prefeitura. Uma casa da sogra administrativa.
Não é porque fiquei fora de combate durante algum tempo que deixo de ter às mãos a cronologia material das gestões municipais do Grande ABC. Os prefeitos seguem na mesma toada de rejeição, quando não de ojeriza, à regionalidade e de luta desesperada, em meio ao vírus chinês, de marcar presença a qualquer custo.
Paulinho Serra é o mais prestigiado entre eles. Querem-no líder regional de qualquer maneira. Talvez os apoiadores imaginem facilidade em reproduzir um Celso Daniel. Desprezam estes tempos de intolerâncias radicalizadas, quando o sistema de aferição produtiva está mais vivo. Mesmo que as pretensões sejam mais modestas, Paulinho Serra não é diferente em nada da média geral dos prefeitos do Grande ABC neste século. Todos desafiados pelo empobrecimento da população e impotentes às razões internas e externas. Falta-lhe a grandeza dos visionários. Sobra-lhe a estreiteza dos imediatistas.
Vulnerabilidade defensiva
O resumo parcial da ópera de segunda gestão de Paulinho Serra e de seus apoiadores nem sempre insuspeitos é que a bola está rolando defesa adentro. A proposta era exatamente o contrário, fazer com que Paulinho Serra chegasse ao gol adversário com o talento coletivo do Flamengo (que já foi bem maior) ou o pragmatismo alucinante do Palmeiras. Nem uma coisa nem outra.
Paulinho Serra conta com assessoria frágil. Nominar integrantes é perder tempo. Os leitores ficariam petrificados. Muito petrificados, aliás. São tão complicados que o melhor mesmo é escolher com cuidado a expressão que os identificariam mediante uma pergunta mais ousada.
O noticiário de ontem do Diário do Grande ABC dá subsídios do quanto Paulinho Serra ainda vive no século passado. Ele declarou, em mais uma carga crítica ao governador João Doria, que pretende revitalizar a Avenida do Estado a ponto de torná-la referência de Desenvolvimento Econômico. Não faltaram antecessores com a mesma ideia fora de época e de exequibilidade.
Levar empreendimentos econômicos representativos àquela área é uma lastimável e gigantesca fonte de desinformação e despreparo. Nem a parte daquele endereço que toca à Capital muito mais reluzente resiste à decadência. A Avenida do Estado está condenada a continuar o que é, uma serpentina fétida malcuidada no sentido de trafegabilidade e inapropriada a qualquer coisa que supostamente lembraria investimento e produtividade.
Doria de Bolsonaro
Pretendia deixar para mais adiante, mas antecipo o ponto central dessa abordagem, embora ainda pretenda retomar questões econômicas e institucionais. Trata-se do desvencilhamento oportunista de Paulinho Serra da influência e liderança do governador João Doaria.
Até outro dia o tucano maior do Estado era referencial obrigatório às mesuras de Paulinho Serra e sua turma barra-pesada. Tudo mudou a partir da guinada do prefeito em direção ao grupo de Gilberto Kassab, do PSD. Assessores do ex-prefeito de São Paulo povoam a gestão de Santo André e do Clube dos Prefeitos, do qual Paulinho Serra segue mandando e desmandando já que no ano passado contou com o preposto Gabriel Maranhão, então prefeito de Rio grande da Serra.
Paulinho Serra está para João Doria assim como João Doria está para Jair Bolsonaro. O abandono e a crítica feroz ou dissimulada são armas do momento. A diferença entre o governador e o presidente da República é que João Doria erra muito menos na condução do Estado, embora também faça lambanças. É um governador com planejamento e responsabilidade fiscal. Paulinho Serra é um traidor sem talento administrativo e muito menos apetrechado para lançar luzes de esperança numa Santo André órfã desde que Celso Daniel se foi.
Pegando carona
O grupo que e se apossou da Prefeitura de Santo André enquanto Paulinho Serra faz política pensando em não virar um ex-prefeito inexpressivo é um grupo da pesada na prática do jogo político-eleitoral.
Paulinho Serra tem esperanças de pegar carona numa campanha de um candidato que possa chegar à sucessão de João Doria já em 2022 e, também, arrumar uma boquinha de deputada estadual à dona da casa. Ou seja: Paulinho Serra vive num mundo em que o céu é o limite.
Paulinho Serra tem todo o direito a qualquer coisa. Desde que, claro, qualquer coisa não seja igualmente uma forma de destruir ainda mais a expectativa de recuperação econômica e social de um Município entre os últimos colocados em desenvolvimento econômico neste século, depois de amargar resultados vexatórios nas três últimas décadas do século passado.
Armadilha preparada
Ainda outro dia, num novo lance que se poderia chamar de desleal não fosse a naturalização da maldade na política, Paulinho Serra desafiou em nome do Clube dos Prefeitos (mas sem a anuência da maioria do colegiado) o governador Doria a introduzir o chamado lockdown na Região Metropolitana de São Paulo, como antídoto à pandemia do Coronavírus.
Utilizou o prefeito de Santo André de bem articulada avaliação da situação. Disse que é impossível ao Grande ABC estabelecer a medida estando, como estão os sete municípios, engolfados numa área que, embora não citasse, reúne 22 milhões de habitantes. Praticou Paulinho Serra uma equação político-administrativa perfeita, desde que não fosse autoritária quando instrumentalizada em nome de um colegiado e, mais que isso, politicamente repulsiva porque se pretende jogar a bomba da antipatia popular no chefe do Estado de São Paulo, aliado até outro dia.
Como se observa, para alcançar o objetivo fissurado de que precisa estar nas manchetes todos os dias e retroalimentar o noticiário na busca de espaço maior que ultrapasse de preferência as fronteiras dessa Província, Paulinho Serra é capaz de qualquer coisa. Inclusive de fabricar uma inútil e suposta cooperação com os municípios da região de Mogi das Cruzes (que incorpora Guarulhos) cuja identificação com os interesses do Grande ABC é tão complementar quanto a mistura de água e sal para preparar o chá das cinco.
Derrotas seguidas
A gestão de Paulinho Serra e sua turma brava coleciona derrotas seguidas nesta temporada. Desde o fim das ilusões o lobby para implantar o monotrilho inadequado de sistema de transporte coletivo entregue pelo governo do Estado à Metra, empresa de uma inimiga em comum de empresários de transporte coletivo da região.
Também deu com os burros nágua com o impedimento de um especialista em cofre público assumir a casa da moeda da Fundação do ABC, no caso o ex-vereador Almir Cicote. O Ministério Público de Fundações expulsou Cicote de campo.
Poderia desfilar outros tropeços imaginados como plataforma de embarque a novos tempos de Paulinho Serra e sua turma. É dispensável, O tucano que deve bater asas em algum tempo para exercer o direito de criticar o governador sem passar por ingrato praticamente não acerta uma.
Título mundial
Uma obra de complementação de um viaduto é festejada como um título mundial do Palmeiras quando, diferentemente do que disse o prefeito, a iniciativa não altera praticamente nada o fluxo logístico daquela área. É preciso muito mais que um puxadinho de cimento para restaurar a competitividade perdida em meio à logística estraçalhada no conjunto de artérias de Santo André. Paulinho Serra sabe tanto disso que foi secretário do que poderia ser chamado de Logística do prefeito petista Carlos Grana. Implantou inúteis corredores e faixas de ônibus.
Fizesse a obra que corta a Avenida do Estado, mas ressaltasse que se trata de algo que não significa a redenção, seria muito mais ético. Paulinho Serra, entretanto, pratica com exacerbação o jogo mais que manjado de marketing a qualquer custo. Copiou-o do governador do Estado, principalmente. Com a diferença de que João Doria enfeita o pavão, mas tem pavão para enfeitar. Paulinho Serra é dono temporário de um abacaxi a descascar.
Polo de ilusões
Paulinho Serra também segue vendendo um polo tecnológico que jamais sai do papel. Transforma a obra virtual em noticiário que confunde ficção e realidade. Um polo tecnológico que, mesmo materializado, jamais fará Santo André ingressar na literatura de recuperação econômica. Afinal, não passaria de amostra-grátis que jamais se desdobrará em tentáculos sedutores.
O mais espantoso dessa operação fantasiosa é que a sede do polo tecnológico seria exatamente na tumultuadíssima Avenida dos Estados. Os municípios mais importantes do Estado, reunidos no G-22, não contam com polos tecnológicos como carros-chefes de grandeza desenvolvimentista.
Paulinho Serra se agarrou a um fetiche para levar a plateia no bico. A turma barra-pesada que acompanha Paulinho Serra o incentiva a essas empreitadas porque subestima o senso crítico da população e dos formadores de opinião. No que, cá entre nós, está certíssima. A vassalagem voluntária ou involuntária produz gestores medíocres que têm todo o direito a grandes sonhos.
Mais complicações
Para complementar, de fora sucinta, Paulinho Serra também tropeçou como gestor público no combate ao vírus chinês e na escandalosa omissão sobre planejamento estratégico, farol que iluminaria o futuro de Santo André e, mais que isso, incorporado pelo Clube dos Prefeitos, colocaria a região em novo patamar de observação atenta às mudanças macroeconômicas e suas implicações sociais.
Paulinho Serra tem se esmerado cada vez mais em ações varejistas. Recorre à anúncios de restauração de acervos culturais e esportivos que o remetem às catacumbas administrativas.
O passado recuperado sem um futuro consistentemente planejado é um quebragalhismo para enfeitar currículo provinciano que não muda a ordem classificatória no placar de competitividade econômica e desenvolvimento social. Os tempos bravios que impactam o Grande ABC e particularmente Santo André de um prefeito que se pretende liderança regional exigem muito mais em forma de respostas. O silêncio em resposta a blefes contínuos é o fim da estrada da cidadania.
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