Não parece haver dúvida consistente de que minorias serão maioria tanto em números absolutos quanto relativos na disputa presidencial do ano que vem. E que a maioria absoluta e relativa será minoria. Há uma torcida organizada principalmente da Grande Mídia órfã de benesses do Estado gastador no sentido de sensibilizar antagônicos a se unirem para destronar um dos finalistas potenciais, principalmente o atual presidente da República. Deverão todos dar com os burros nágua. Jair Bolsonaro e Lula da Silva (salvo surpresa jurídica) vão jogar o jogo final do segundo turno. O resto, até prova em contrário, é enganação.
Querem ver como estou certo? “Estou certo” é força de expressão, porque qualquer brasileiro mais ou menos bem informado sabe que a coleção de opositores de Jair Bolsonaro e de Lula da Silva não passa de um ajambrado mal posto e que certamente será malconduzido porque não haveria entre eles um nome sequer para dizer que tem viabilidade eleitoral de fato.
Uma pesquisa irrefutável
O jornal Valor Econômico publica hoje uma pesquisa encomendada ao Instituto Travessia para saber como está o quadro pré-eleitoral e notadamente qual é a força do centro político a eventual ruptura da lógica que leva Bolsonaro e Lula ao turno decisivo.
O resultado foi desastroso para quem gosta de buscar ilusões, desprezando-se a realidade nacional de polarização. Bolsonaro e Lula são minorias relativas e absolutas que prevalecem sobre a maioria de votos ou pretensos votos de um grupo de candidatos que -- exatamente por ser um grupo de candidatos -- não encontra respaldo individual nas urnas.
Vou reproduzir alguns trechos da matéria do Valor Econômico:
Os dois polos bem definidos, tanto à esquerda com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como à direita, com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), quais as chances de sucesso de uma candidatura de centro nas eleições presidenciais de 2022? Esta, observam os analistas do ramo, é a pergunta de US$ 1 milhão da política nacional na atualidade. Pois algumas pistas para dirimir tal dúvida estão presentes em uma pesquisa realizada pelo Instituto Travessia, de São Paulo, com exclusividade para o Valor.
Nada de milhão
Antes de prosseguir com novos trechos, cabe uma observação: a pesquisa contratada desmonta a ideia de que seja algo digno de um milhão de dólares o que chamaria de achado da resposta. As respostas estão postas de forma clara: não existe no momento nada que induza alguém a acreditar, fora o fanatismo e a cegueira política, que exista uma candidatura que ameace a hegemonia de Lula e Jair Bolsonaro. Nada. Prosseguimos com o Valor Econômico:
A enquete constatou que, sim, em tese, há espaço para um nome de centro na disputa. Por dois motivos: a grande massa de eleitores que ainda não definiu seu voto e, paralelamente, a alta rejeição a Bolsonaro e Lula. Hoje, aponta a sondagem, a lista dos mais cotados é encabeçada pelo ex-juiz Sergio Moro, seguido por Ciro Gomes (PDT), o ex-governador do Ceará. A relação inclui ainda o empresário Luciano Huck, o governador paulista João Doria (PSDB), o deputado federal e ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), além de João Amoedo, o fundador do Partido Novo, e o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS). Aqui começam os problemas. “O centro é um espaço fragmentado, no qual nenhum nome se destaca de maneira especial”, diz Renato Dorgan Filho, analista e sócio do “Travessia”. Acrescenta-se mais um fato: “ele é antagônico demais”.
Terceira via inviável
Viram por que a terceira via é uma falácia pré-eleitoral que, repito, está umbilicalmente relacionada aos poderosos de plantão que não suportam a quebra de determinados comportamentos duramente sentidos pela Grande Mídia, sem que essa constatação, minha, tenha uma extensão de juízo de valor sobre Lula da Silva e Jair Bolsonaro -- embora o primeiro tenha sido cooptado durante muito tempo por essa mesma Grande Mídia e acene um reencontro de conversão de interesses? Vamos seguindo com mais um trecho do Valor Econômico:
Na primeira rodada, os entrevistados apontaram em quem votariam para presidente caso as eleições fossem hoje. Não lhes foi apresentado nenhum nome. Na opinião de especialistas, o resultado desse tipo de abordagem traz à tona quantos votos firmes a pessoa indicada tem de fato neste momento. Bolsonaro ocupou a diante, com 23% das intenções, seguido de perto por Lula com 21%. Um empate técnico, pois a margem de erro é de três pontos percentuais para cima ou para baixo. Juntos, os outros somam 14% das menções. Moro comandou esse bloco com 6%. Depois dele, veio Ciro Gomes com 2%, além de Huck e Amoêdo, cada um com 1%.
Apenas o piso mínimo
Retomo a ancoragem para enfatizar a importância do voto consolidado tanto de Bolsonaro quanto de Lula. E mais que isso: os números expostos são o que chamaria de piso, não a preferência do momento, como menciona a reportagem. A margem de consolidação imediata, em pesquisas de voto espontâneo, quando não se tem à mão a cartela com o nome dos concorrentes, é de 30% tanto para o presidente quanto para o petista. Eles contam com quase dois terços do eleitorado. Maioria na soma, mas minoria na individualidade. Vamos a novo trecho do Valor Econômico:
Em uma segunda fase, a enquete foi “estimulada”, com uma lista previamente definida. A relação incluía Bolsonaro e Lula, além de outros dez nomes que ocupam o centro do espectro ideológico nacional – ainda que, aqui, a definição de “centro” tenha incorporado inclinações mais intensas à esquerda ou à direita, com os principais nomes que têm sido cogitados para a disputa da Presidência em 2022. Nesse caso, Lula e Bolsonaro voltaram a manter tanto a dianteira como o empate, mas com idênticos 28% para cada um. No restante, a ordem da fila da “estimulada” foi parecida com a da “espontânea”. Ela trouxe Moro (10%), Ciro (8%), Huck (5%), Doria e Rodrigo Maia (3%), Amoêdo e Mandetta (2%). Eles foram seguidos pela empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, pelo tucano Leite e pelo prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD). “Esses três últimos obtiveram apenas 1% das indicações, diz Dorgan Filho. “São desconhecidos das massas”.
Batalhão disforme
Parece não haver dúvida de que esse batalhão disforme na essência individual, mas projetado pela Grande Mídia como exército chinês numa manhã de movimentação cívica, é a síntese do canibalismo eleitoral, como se verá um pouco mais adiante na mesma pesquisa. Mais Valor Econômico:
No mais, a sequência principal manteve-se em uma terceira rodada, da qual participaram somente os integrantes do centro expandido. O resultado: Moro (19%), Ciro (13%), Huck (11%), Maia (6%), Doria (5%), Amoêdo e Mandetta (4%). “Isso mostra consistência na organização da fila”, diz o analista. E o que se extrai de tudo isso? Em primeiro lugar, indicam os especialistas, o gatilho da polarização está desde já acionado – e se fortalece --, com Bolsonaro e Lula em posições sólidas, algo evidente quer nas respostas abertas, quer nas estimuladas. Por outro lado, os dois são rechaçados por contingentes expressivos de brasileiros. Hoje, 45% dos eleitores rejeitam o atual presidente da República e 42%, o líder petista. Em tese, esse é um ponto que pode pesar a favor do centro.
Retrato eleitoral
Discordo do enunciado do Valor Econômico quando se refere “em tese” ao naufrágio das candidaturas de Lula e de Bolsonaro por conta da rejeição do eleitorado, respectivamente de 42% e 45%. Basta verificar, principalmente no caso de Bolsonaro, qual foi a votação para a presidência da República em 2018. Esqueceram? 44% dos brasileiros, nos votos válidos, desprezaram Jair Bolsonaro. O contraponto de alerta ao presidente da República (e que vale também para Lula da Silva) é o ônus que carrega em forma de incapacidade de enfrentamento ao vírus chinês (apesar de todos os pesares que a Grande Mídia não registra) e as roubalheiras comandadas por Lula da Silva, detectadas pela Operação Lava Jato processualmente reprogramadas, mas tecnicamente comprovadas.
Para completar a transposição da reportagem do Valor Econômico, uma constatação que confirma a incoerência de se aventurar, no momento, à consolidação de uma terceira via:
“Tudo se resume à seguinte questão: é muito difícil que somente uma pessoa consiga atrair a maior parte dos votos que hoje estão dispersos por esse amplo leque político chamado de centro”, afirma Melo (Carlos), do Insper. “Mesmo porque não é nada fácil unir o eleitor de Moro ao de Ciro, assim como é bastante difícil conectar o de Ciro ao de Doria. Isso para não dizer impossível”. A conclusão: “Muitas pessoas dizem que existe uma grande avenida para o centro transitar o Brasil. Isso é verdade. O complicado é dar um nome a essa avenida”.
Ficção inconformista
Só faltou dizer que a grande avenida é uma ficção gerada pelo inconformismo (em vários graus consistentes, em outros convenientes, quando não retaliatórios) dos mandachuvas e mandachuvinhas de sempre da política e da Grande Mídia nacional que não suportam (com razões e sem razões) o cavalo de pau na divisão do bolo publicitário (com razões e sem razões) de um governo federal disposto a tudo (com razões e sem razões) para botar fogo no circo de horrores que ao longo de décadas alimentou relações escandalosas entre Imprensa e Poderes.
Um escandaloso concubinato que deu no que deu neste País em que Moro vira bandido (com razões e sem razões) e Renan Calheiros posa de mocinho (sem razões, sempre).
Vou deixar para outro dia o que acredito que possa aconteceu entre Lula e Bolsonaro no ano que vem. Se bem que o que vou escrever será uma fotografia do momento, que poderá sofrer alterações no percurso que já se iniciou. Candidatura de centro, portanto, só como resultado de um fato extraordinariamente novo.
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19/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (24)