Administração Pública

Fura-fila é fake news, garante
presidente da Fundação do ABC

DANIEL LIMA - 30/04/2021

Está pegando fogo a relação entre a direção da Fundação do ABC (o Clube da Saúde Pública do Grande ABC) e a Administração da Prefeitura de Santo André. A imagem da instituição de orçamento milionário recebeu mais uma pá de esculhambação ética com a notícia de que teria havido fura-fila no processo de imunização contra o Coronavírus. A repercussão na mídia é tão retumbante quanto contestada pela presidente da Fuabc, Adriana Berringer.  

O Ministério Público Estadual observa com atenção redobrada a movimentação das pedras de interesses paralelos, quando não cruzados, que sempre marcaram as atividades na Fundação do ABC. Uma realidade que prevaleceu até que Adriana Berringer assumisse o posto de comandante e se antepusesse às liberalidades do comando da Central de Convênios, que também poderia ser chamada de Central de Conveniências dos indicados a comandar o departamento. Central de Negócios também é alternativa de denominação daquela divisão sem que colida com o histórico de atuação.  

O prefeito Paulinho Serra já perdeu duas batalhas para a direção da Fundação do ABC para tentar controlar o caixa-forte da Central de Convênios, por onde passa mais da metade do orçamento de R$ 3 bilhões de recursos públicos federais, especificamente do SUS, Sistema Única de Saúde.  

Relatório explicativo  

A denúncia de suposto fura-fila partiu de assessores de Paulinho Serra, com repercussão na chamada Grande Mídia. É o máximo do orgasmo político aparecer na televisão paulistana. Quando o espetáculo ganha minutos na Rede Globo, no telejornal metropolitano, o clímax é indescritível. O Complexo de Gata Borralheira se manifesta em estado de graça – ou de desgraça. 

O Ministério Público do Estado de São Paulo, mais especificamente a divisão da Promotoria de Justiça de Fundações de Santo André, comandada por Ana Carolina Fuliaro Bittencourt, recebeu um relatório da presidente da Fundação do ABC sobre o noticiário.  

Adriana Berringer é vista pelo MP como profissional com experiência e idoneidade. Tanto que dois nomes indicados pelo prefeito Paulinho Serra à condução da Central de Convênios foram defenestrados nos últimos tempos.  

O primeiro, Carlos Alberto Fava, após a constatação de irregularidades cabeludas em negócios fechados durante a pandemia, ano passado, conforme atestou uma auditoria externa independente. Fava chegou a sofrer um atentado a bala, em forma de intimidação, provavelmente de grupos de pressão que atuam como fornecedores de produtos e serviços da instituição. 

Pedra no sapato  

O segundo a não suportar os novos critérios da Fundação do ABC foi Almir Cicote, ex-vereador. Ele foi barrado do cargo recentemente por não preencher requisitos que o MP considera essenciais à função – notadamente conhecimento técnico na área de saúde. Almir Cicote era uma carta fundamental ao controle da Central de Convênios pela equipe ligada ao Paço de Santo André. Até agora não se encontrou um substituto com as mesmas características e que atenda às exigências do MP.  

Adriana Berringer é uma pedra de seriedade no sapato apertado da Prefeitura de Santo André. A Central de Convênios sempre se caracterizou como gigantesco espaço de movimentações suspeitas. Há no manual de gerenciamento da Fundação do ABC uma preocupação específica com o setor. Daí a auditoria externa devastadora. Por isso, o lançamento de foguetes em forma de fake news é fundamental às forças que se opõem à dirigente. Os escândalos financeiros, constatados em auditoria externa, praticamente não foram noticiados. Tudo em nome de uma governabilidade política que tem 2022 como meta. Como o fora, também, 2020.  

Linha de enfrentamento  

Mas ainda há muitos passivos deixados por antecessores, de gestão tripartite entre as prefeituras de Santo André, São Bernardo e São Caetano que compartilhavam a gestão de acordo com interesses políticos e eleitorais. Tudo combinado para colocar interesses individuais e grupais acima da instituição.  

Em documento encaminhado à promotora de Justiça de Fundações de Santo André, a titular da Fundação do ABC discorre sobre o caso de supostos privilégios de profissionais da Fundação do ABC na fila de vacinação contra o vírus chinês. Adriana Berringer considera as denúncias de fura-fila por funcionários do setor administrativo da instituição como falsas. Fake news, mais precisamente.  

Afirma a dirigente da Fundação do ABC que todos os colaboradores mencionados estão à frente em suas áreas de projetos para enfrentamento da pandemia, como ambulatórios e hospitais de campanha, em contato direto com ambientes contaminados pela Covid-19, assim como com profissionais de saúde que atuam na assistência aos casos suspeitos e confirmados da doença.  

Ameaça geral  

Adriana Berringer esclarece que ao todo 20% dos colaboradores da área administrativa da Fundação do ABC já testaram positivo e um foi a óbito. Afirma também a dirigente que somente no setor de Recursos Humanos, dos seis colaboradores que atuam na área de recrutamento e seleção para as unidades de saúde, quatro foram contaminados pela Covid.  

Vai além a presidente da Fundação do ABC, ao informar o Ministério Público que todos os profissionais mencionados pela denúncia estão qualificados como “trabalhadores da saúde” e foram vacinados com doses provenientes do Centro Universitário de Medicina do ABC (FMABC), “em total concordância com o Plano Nacional de Vacinação Contra a Covid-19”. 

O documento encaminhado à promotora de Justiça de Santo André ressalta também que a Fundação do ABC não recebe doses de vacina e tampouco define os públicos prioritários. O trabalho, segundo a presidente Adriana Berringer, é realizado pelo Comitê de Contingência do Centro Universitário FMABC, que determina as prioridades conforme o Plano Nacional de Vacinação, além de distribuir e aplicar as doses.  

Lista equivocada  

Segue o documento da direção da Fundação do ABC, para descaracterizar a denúncia, que o ofício no qual o Centro Universitário FMABC solicita doses de vacina à Prefeitura de Santo André, identificou-se que praticamente 100% dos 80 nomes listados no anexo não mantêm relação direta com os setores mencionados. Sete colaboradores da Fundação do ABC e da Central de Convênios da Fundação do ABC, inclusive, foram equivocadamente classificados como funcionários do Centro Universitário FMABC.  

Também relata a titular da Fundação do ABC que, diante das inconformidades, solicitou explicações urgentes ao reitor do Centro Universitário FMABC, professor David Uip, conforme ofício anexado ao documento, “assim como a imediata retificação do documento, com a inclusão de nomes e demais dados corretos”.  

A promotora de Justiça de Fundações do Ministério Público do Estado em Santo André também foi comunicada, no mesmo documento, de que não passa de afirmação infundada a suposta tentativa de garantir a segunda dose em Santo André. Explica a dirigente que os funcionários vacinados em 20 de abril já estão com a segunda dose agendada para julho, com aplicação no próprio campus da FMABC – mesmo local onde foram aplicadas as primeiras doses.  

Convocação geral  

Adriana Berringer também explica que as vacinas aplicadas ao Administrativo da Fundação do ABC foram ofertadas pelo Centro Universitário FMABC, conforme análise técnica do Comitê de Contingência da instituição de ensino.  

Adriana Berringer considera importante a imunização de quem está à frente das atividades do dia-a-dia e cujo afastamento pela Covid poderia resultar em prejuízos na execução das atividades, em especial num momento de implantação dos hospitais de campanha. Por isso, decidiu-se pela vacinação de gestores da Fundação do ABC e da Central de Convênios. E completa: “Ademais, o argumento de fura-fila não cabe acolhida, posto que a Fundação do ABC e a Central de Convênios foram instadas a participar da campanha de vacinação do Centro Universitário FMABC após a instituição de ensino ter vacinado mais de 879 colaboradores e alunos”. 



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