Tenho a sensação de que nem mesmo os petistas acreditam no resultado da rodada de pesquisa do Datafolha publicada hoje na Folha de S. Paulo. Já não tenho certeza alguma sobre situação menos clamorosamente antagônica e mais provável envolvendo a Consultoria Atlas. O que está em jogo de credibilidade eleitoral é a disputa presidencial entre o ex-presidente Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro.
O Datafolha, do qual desconfio profundamente, com bases técnicas já expostas, parece descolar-se da percepção dos fatos. Mas isso não me impede de dizer que, fosse hoje, Lula da Silva venceria Jair Bolsonaro. Em outubro do ano que vem podem ser outros quinhentos.
Vamos aos fatos, antes que os meliantes de redes sociais se manifestem apressadamente com o viés de sempre. Terça-feira passada, dia 11 de maio, o jornal Valor Econômico publicou uma pesquisa da Consultoria Atlas em que num eventual segundo turno do ano que vem Lula da Silva venceria Bolsonaro por 45,7% a 41%. Hoje a Folha de S. Paulo afirma com base no Datafolha que Lula da Silva venceria por 55% a 32%. O distanciamento vai além, muito além, da margem de erro no caso do Datafolha.
Datafolha ou Atlas?
A pergunta que faço é a seguinte: você acredita na Consultoria Atlas ou no Datafolha? A resposta que posso oferecer é que a Consultoria Atlas está mais próxima da realidade. O Datafolha faz parte de uma grande e intrincada engrenagem demolidora da imagem por si só complicadíssima do presidente da República.
A máquina que tritura os erros frequentes do presidente da República não é a mesma máquina que usa da memória impressa e digitalizada para questionar e dilacerar outras candidaturas.
O resumo da ópera é que a classe política é um amontoado de equívocos em todas as áreas. Bolsonaro expressa essa depauperação técnica que, a bem da verdade, é longeva e resistente. Daí à conclusão de que o Estado não deve ser gigantesco nem minúsculo. O Estado precisa e deve ser eficiente. E para ser eficiente requer uma sociedade atenta e exigente. Não temos nem uma coisa nem outra. Exceto nichos organizados que brigam por filões específicos, distantes do interesse coletivo.
Autenticidade preservada
Para dar autenticidade aos dados das pesquisas, nada melhor que reproduzir os melhores trechos das matérias publicadas no Valor Econômico (no caso da Consultoria Atlas) e na Folha de S. Paulo (no caso do Datafolha). Acompanhem o Valor Econômico de 11 de maio sob o título “Bolsonaro recupera popularidade”.
Pesquisa da Consultoria Atlas divulgada ontem mostra que, mesmo em meio aos trabalhos críticos da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, o presidente Jair Bolsonaro vem conseguindo recuperar parte da popularidade perdida nos meses anteriores. No levantamento feito entre 6 e 9 de maio, a taxa dos que avaliam seu desempenho como ótimo ou bom subiu de 25% em março para 31%. Na contramão, o grupo dos que avaliam o governo como ruim ou péssimo recuou de 57% para 53%. Outros 15% o classificam como regular. O Atlas também perguntou aos entrevistados se aprovam ou desaprovam o desempenho de Bolsonaro, questão sem o oferecimento de uma alternativa intermediária equivalente ao regular. A aprovação aumentou de 35% para 40%. A desaprovação variou de 60% para 57%. Com 3.828 respostas colhidas de eleitores em todo o país por meio de um questionário online aplicado via convites randomizados, a pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais.
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Em outro capítulo, os entrevistados foram convidados a dizer se têm imagem positiva ou negativa de personagens listadas. Com 40% de imagem positiva, Bolsonaro foi o primeiro colocado neste critério. Aparece seguido de Lula, 37%; do vice-presidente Hamilton Mourão, 35%; e do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM) com 34%. (...). Na parte eleitoral, a pesquisa Atlas identificou uma tendência de intensificação da polarização Bolsonaro-Lula. Tecnicamente empatados na liderança da simulação do primeiro turno, a dupla ampliou vantagem que já tinha sobre os demais possíveis concorrentes. Bolsonaro alcançou 37% agora; Lula marca 33,2%. Em março, Bolsonaro e Lula já disputavam a liderança. Mas ambos tinham taxas menores: 32,7% e 27,4%, respectivamente. (...). Na simulação de segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o petista venceu o atual presidente por 45,7% a 41%, uma vantagem ligeiramente acima do limite máximo de margem de erro. Com vantagem dentro da margem de erro outros dois nomes também marcam mais que Bolsonaro em simulações de embate final: Mandetta (42,9% a 40,5%) e Ciro Gomes (41,9% a 40,9%).
Trechos da Folha
Agora vamos aos principais trechos da Folha de S. Paulo sobre a pesquisa do Datafolha:
Pouco mais de dois meses após ter seus direitos políticos restabelecidos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida para a Presidência com margem confortável no primeiro turno e venceria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na segunda etapa, revela pesquisa Datafolha. O presidente alcança 41% das intenções de votos no primeiro turno, contra 23% de Jair Bolsonaro. (...). O levantamento ouviu 2.071 pessoas de forma presencial, em 146 municípios, em 11 e 12 de maio. (...). Num eventual segundo turno, Lula contra Bolsonaro, Lula levaria ampla vantagem, com uma margem de 55% a 32%. Receberia a maior parte dos votos dados a Doria, Ciro e Huck, enquanto o presidente herdaria a maior parte dos que optaram por Moro, seu ex-ministro da Justiça e atual desafeto.
Desconfiança fundamentada
Não estou a fim de destrinchar os pontos antagônicos das duas pesquisas, até porque são flagrantes e se consolidam nos números finais da simulação para o segundo turno do embate entre Bolsonaro e Lula. O que quero mesmo é apontar mais uma vez o cano longo da espingarda da crítica e da desconfiança tendo como alvo os institutos de pesquisa, a maioria dos quais frequentadores assíduos de interesses cruzados da política e da gestão pública.
Parece que não se sustenta o buraco numérico entre os dois institutos já que as entrevistas foram realizadas em datas próximas e não houve nada, absolutamente nada, que levasse à discrepância. Nem mesmo eventual argumento de que a CPI teria provocado um rombo na imagem do presidente da República. Tanto que alguns dias antes, em sete de maio, o mesmo Valor Econômico publicou uma matéria sob o título “Narrativa Bolsonarista sobre a CPI da Pandemia predomina nas redes sociais”. Vamos a alguns trechos mais importantes:
Embora parlamentares governistas estejam em minoria da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, a base pró-governo dominou, com larga vantagem, o debate sobre o tema nas redes sociais. A constatação aparece em medição de atividades no Twitter e no Facebook entre 27 de abril e ontem, trabalho realizado pela Diretoria de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (Dapp/FGV). Pelo menos até agora, a força bolsonarista na internet vem servindo de contrapeso ao noticiário crítico ao governo. No estudo sobre o Twitter, a Dapp analisou 2,72 milhões de mensagens relacionadas à CPI. O momento de maior intensidade ocorreu na terça-feira, dia 4, com 572 mil postagens, data do depoimento do ex-ministro Luiz Henrique Mandetta. Em todo o período, praticamente dois terços das interações ocorreram no que os pesquisadores da Dapp chamam de grupo azul, a reunião dos perfis mais fechados com o bolsonarismo.
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No Facebook, a Dapp analisou publicações feitas pelos perfis de 594 deputados e senadores no mesmo período. Em 2.011 postagens de 335 parlamentares, foram detectados 5,5 milhões de interações. Nesse campo, o bolsonarismo também prevaleceu. (...). Apesar do evidente empenho dos oposicionistas em postar, os três parlamentares que mais conseguiram interações foram da base bolsonarista. A campeã, com enorme vantagem, foi a deputada Carla Zambelli (PSL-SP), com 1,7 milhão de interações. Em segundo e terceiro lugares foram os deputados Felipe Barros (PSL-PR) e Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Para o pesquisador Marco Aurélio Ruediger, coordenador do estudo, os dados mostram que “por todos os ângulos”, Bolsonaro é o personagem principal da CPI. (...) Outro aspecto destacado por ele é a confirmação do domínio do bolsonarismo nas redes: “A oposição tem se esforçado para ser mais ativa, é visível, mas a capacidade de organização e de mobilização dos que estão em torno de Bolsonaro segue sendo bem mais efetiva”.
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