Estamos apresentando mais 10 questões respondidas por CapitalSocial, mas que deveriam fazer parte do currículo do prefeito Paulinho Serra como prova de que enfrenta qualquer desafio. É claro que responder à Entrevista Especial é mesmo um desafio que impomos ao titular do Paço Municipal de Santo André com a certeza de que haveria refugo. O tucano não pratica o jogo democrático da informação porque está acostumado ao jogo encomendado da informação. E, como se sabe, CapitalSocial não tem o formato físico nem intelectual de um tapete estendido à consagração de mesmices. Sobretudo em respeito à sociedade de Santo André, no caso de Paulinho Serra, um dos endereços mais empobrecidos no País nos últimos 40 anos.
CapitalSocial -- O noticiário recente o coloca, como presidente do Clube dos Prefeitos, na condição de preocupação enorme com um casamento regional pouco viável, caso da área que poderia ser chamada de Grande Mogi das Cruzes, que abarca também Guarulhos. O senhor poderia explicar quais são os pontos de sinergia econômica que justificariam a mobilização em torno dessa aproximação? Ou o senhor admite que o que interessa mesmo são relações políticas e partidárias que impulsionariam num futuro breve a especulada campanha eleitoral ainda indefinida quanto ao cargo a ser pretensamente ocupado?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Jamais na história frustrada de regionalizar ações político-administrativas das prefeituras do Grande ABC sequer foi cogitada à expansão do conceito em direção à chamada Grande Mogi das Cruzes. O prefeito Paulinho Serra alcançou esse milagre que não passa de embuste discursivo. Muito mais importante e necessário -- e que por isso mesmo foi pauta embora de passado da regionalidade sofrida do Grande ABC -- seria a aproximação estratégica com a Baixada Santista, por causa do Porto de Santos. Nada disso, entretanto, foi levado adiante. O que Paulinho Serra pretende não é outra coisa senão usar o regionalismo mambembe como força de interesses político-eleitorais, para supostamente reforçar o cacife rumo a alguma candidatura em 2022. Além, claro, de alimentar um marketing de pé quebrado de integração regional.
CapitalSocial -- Quando houve a grande crise do IPTU de Santo André, ocasião em que voltou atrás acertadamente ao retirar a cobrança de adicionais escandalosamente equivocados, o senhor prometeu criar uma comissão especializada em mercado imobiliário. Por que a medida não passou de promessa? Houve pressão do mercado imobiliário, player importantíssimo no financiamento eleitoral nem sempre transparente?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Entre as várias razões que colocaram Paulinho Serra distante de uma reforma para valer do tecido imobiliário de Santo André com a finalidade de redefinir valores monetários e outros apetrechos importantes na condução de políticas públicas está a preguiça em lidar com questões estruturais. A gestão de Paulinho Serra não é diferente da de antecessores que têm no mercado imobiliário um dos aliados que, como se sabe, oferece reciprocidades. Mexer na planta genérica de valores imobiliários de forma a que se dê maior eficiência e justiça arrecadatória é tarefa para quem enxerga o todo do Município.
CapitalSocial -- O senhor poderia lembrar alguma decisão que tenha tomado para dar transparência no tratamento público nas demandas dos empresários do setor imobiliário? Já pensou numa comissão de contribuintes do IPTU, integrada por gente especializada na área, e independente, para atuar como curadoria na aplicação da legislação na área?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Já imaginaram quanto seria tormentoso para Paulinho Serra responder a essa questão, sendo ele um admirador profundo, e um praticante incansável, da opacidade? Nem pensar em colocar na Administração de Santo André -- mesmo que em algum departamento -- profissionais fora de alinhamento às determinações do chefe. Um conselho independente para valer, que vasculharia e colaboraria com políticas do governo de plantão, é uma boa ideia. Menos para o prefeito de plantão.
CapitalSocial -- A denúncia de fura-fila no Coronavírus na Fundação do ABC é atribuída a seus assessores. Trata-se de uma decisão de governo?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Há vários indícios de que partiu da gestão de Paulinho Serra a informação e a documentação de suposto esquema de fura-fila na Fundação do ABC. Nada mais natural. Afinal, a direção daquela instituição é desafeta do prefeito de Santo André. A gestão da Central de Convênios, casa da moeda da Fundação do ABC, foi retirada de dois representantes da Prefeitura de Santo André. O histórico de corrupção naquele departamento até então subordinado apenas estatutariamente à presidência é estarrecedor. O mais recente, de uma consultoria independente contratada pela presidente Adriana Berringer, é caso de Polícia Federal. Mas ainda não foi incorporado aos assaltos proporcionados pela pandemia do Coronavírus.
CapitalSocial -- O senhor perdeu as batalhas pelo controle da Central de Convênios da Fundação do ABC e agora anuncia a recriação da Faisa como espécie de Central de Convênios paralela, livrando-se das garras da presidência daquela entidade. Acredita que é a melhor alternativa? A Fundação do ABC está em extinção?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Anunciou-se nos últimos dias que a Faisa, marca consagrada no passado de atenção à saúde de crianças em Santo André, vai ser ressuscitada com a finalidade de, na prática, substituir a Central de Convênios da Fundação do ABC nos gastos da gestão de Paulinho Serra. E quem vai comandar a nova unidade, uma autarquia que terá todos os poderes e recursos de dinheiros públicos, será o ex-vereador Almir Cicote, o segundo nome indicado e apeado do poder na Central de Convênios da Fundação do ABC. No caso, a decisão formal foi da Promotoria de Justiça de Fundações. Almir Cicote não reunia requisitos básicos para dirigir uma instituição de saúde. Parece que nem mesmo um curso intensivo debelaria o buraco no currículo.
CapitalSocial -- Há pelo menos um secretário de linha de frente de sua Administração entre os maiores devedores do IPTU em Santo André. O senhor poderia informar se ele já aproveitou uma das sempre repetitivas oportunidades de ajustar o débito contando para isso com descontos sempre generosos?
Paulinho Serra --
CapitalSocial -- Esperar transparência dentro da legalidade de gestores públicos em questões relativas a débitos de contribuintes é acreditar em Papai Noel. O discurso moralista morre na primeira esquina de interesses miúdos. A chamada dívida ativa e as respectivas políticas de arrecadação são um jogo de intensa nebulosidade técnica. Tudo é resolvido fora dos trilhos da clareza. E não há quem decida acabar com a farra fiscal. As pedaladas arrecadatórias são de conhecimento de especialistas que, entretanto, preferem o silêncio.
CapitalSocial -- O senhor não aumentou nesta temporada os valores reais do IPTU, mas, por outro lado, preferiu aplicar a correção inflacionária. Acha justa a medida quando se sabe que os moradores de Santo André, como de todo o País, sofreram grandes perdas de rendimentos salariais, além de desemprego? Não haveria uma alternativa de colaborar sem infringir a Lei de Responsabilidade Fiscal? Houve algum estudo nesse sentido?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Paulinho Serra segue rigorosamente o figurino da maioria dos executivos públicos do País. O que interessa é arrecadar cada vez mais. Pior que a decisão de sustentar valores atualizados na arrecadação de impostos que afetam diretamente os contribuintes em processo de empobrecimento constante é contar com a cumplicidade da mídia que abre manchetes festivas à decisão, sem, portanto, o contraponto social implícito. A perda em valores reais da maior parte do acervo imobiliário dos moradores de Santo André, por causa da quebra da economia ao longo de décadas, não é levada em conta nas políticas públicas arrecadatórias.
CapitalSocial -- O senhor acredita na versão que parece majoritária de que é bafejado pela sorte de não contar com quase nenhuma posição crítica da maior parcela da imprensa da região? Qual é o segredo de tanto sucesso em tornar visível o que supostamente é bom e em esconder o que comprovadamente é ruim?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – O esfacelamento econômico do Grande ABC tornou a mídia, em larga escala, suscetível demais aos recursos públicos. Está cada vez mais difícil, quando não improvável, sustentar modelagem informativa distante dos cofres públicos que, por sua vez, cobram reciprocidades editoriais. Paulinho Serra é um dos principais expoentes de práticas que estão a léguas de distância do que se chamaria de democracia informativa. Há vício na engrenagem de relações entre imprensa e prefeitura cada vez mais escancarado.
CapitalSocial -- O Clube dos Prefeito, instituição que o senhor preside temporariamente, virou ao longo dos tempos o que poderia ser chamado de um balaio de gatos temáticos, porque não produz praticamente nada no campo econômico, área que deveria ser prioridade absoluta. Não lhe causa tristeza ver o Grande ABC desgarrar-se cada vez mais dos trilhos do desenvolvimento econômico com equilíbrio e ver uma montanha de deserdados, entre pobres e miseráveis, que é mais que a soma das populações de São Caetano e Diadema?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Mais uma vez Paulinho Serra está à frente do Clube dos Prefeitos e mais uma vez soma o comum ao improdutivo. É verdade que agora, de olho no futuro político, decidiu colocar à frente da instituição, como secretário-executivo, um gestor vindo da Capital com os desígnios definidos por grupos políticos alinhados aos sonhos de Paulinho Serra. Mais uma vez se lançam produtos que fogem completamente do escopo de emergências econômicas de uma região que, entre outras demandas, exige planejamento. Não faltarão reproduções de conceitos varejistas de Paulinho Serra aplicados no âmbito municipal. O tempo passará e manterá mais uma vez a entidade no compartimento de quinquilharia pública regional.
CapitalSocial -- Não lhe causa certo rubor a informação sustentada por estatísticas de que o Grande ABC como um todo, e inclusive Santo André, apresenta mortes por Coronavírus em quantidade relativamente maior que o Distrito de Sapopemba, na Capital, cujos índices de qualidade de vida são bastante inferiores?
Paulinho Serra –
CapitalSocial – Essa questão deve ter levado o prefeito à irritação. Afinal, tem-se comprovada insuperável a dificuldade de aplicar alguma coisa que lembre planejamento regional sustentado no enfrentamento ao vírus chinês. O discurso repetitivo das autoridades municipais -- Paulinho Serra principalmente -- de sucesso na empreita é um crime de informação irresponsável. O Clube dos Prefeitos, sob a presidência de Paulinho Serra, é um entreposto de incompetências também na gestão regional do vírus geograficamente chinês. O Grande ABC tem peculiaridades demográficas, etárias e logísticas que se aliam à ferocidade do Coronavírus. Por isso mesmo, esperavam-se medidas de especialistas. Nada disso foi colocado nos campos de batalha.
Total de 197 matérias | Página 1
10/05/2024 Todas as respostas de Carlos Ferreira