Administração Pública

Brasil teria quase um milhão
de mortes se fosse São Caetano

DANIEL LIMA - 09/06/2021

É isso mesmo: se fosse a decantada primeiro-mundista São Caetano, o Coronavírus já teria feito quase um milhão de mortes no terceiro-mundista Brasil. Os dados atuais apontam o total de 477.307 óbitos no País. E se fosse o Grande ABC, o Brasil da Covid seria muito pior que o Brasil-Brasil: teria 675.474 mil mortes. Ou seja: 41% a mais.  

A pergunta que está longe de valer um milhão de dólares é: por que São Caetano e o Grande ABC vivem essa situação? A resposta é fácil. Somos uma associação de incompetências oficiais e estruturas sociodemográficas generosamente à disposição da pandemia. Para combater o mal usamos armas antiquadas, quando não insuficientes.  

Se isso tudo não basta para mostrar a realidade de fracasso da região de combate ao vírus (geograficamente) chinês, então os leitores têm mesmo de consumir fake news que saltam do jornalismo dito profissional e de muitas vezes demonizadas redes sociais.   

Rabeirinha internacional 

Disputasse uma competição internacional de letalidade do Coronavírus, o Grande ABC de sete municípios e mais de dois milhões e oitocentos mil habitantes espalhados por 840 quilômetros quadrados estaria na ponta. Tanto é verdade que perde para qualquer país latino.  

O caso de São Caetano é extraordinariamente dramático. A pandemia mata em média mais que o dobro dos registros nacionais. Santo André é o segundo colocado no ranking fúnebre, um pouco acima de São Bernardo, em terceiro. Nenhum dos municípios da região registra dados abaixo da média nacional. Isso prova a obviedade de que não há barreiras físicas para conter o invasor. Um contraste com a elasticidade de demagogia de autoridades públicas. Os representantes do Executivo dos dois municípios que lideram o ranking da morte na região, Paulinho Serra principalmente, evocam “nossa gente” como âncora de preocupação. Pesquisas o reprovam duramente no combate ao Coronavírus.  

Contabilidade sem truques  

A contabilidade para saber o tamanho da encrenca do Coronavírus em qualquer espaço territorial do País e do mundo é simples, consagrada pela ONU (Organização das Nações Unidas) e por diferentes instituições que uniformizam o que é diferente no tamanho populacional e em outros indicadores: basta dividir o número de mortos pelo total da população. Tem-se resultado por 10 mil, 100 mil e um milhão de habitantes.  

Qualquer métrica que fuja dessa bitola técnico-científica é pura enganação. É manipulação descarada. É fake news. É jogo de interesses. E tudo que não presta em matéria de informação.  

Desde os primeiros tempos da Covid tenho chamado a atenção para essa medição como ponto de partida e de chegada a qualquer avaliação. Sigo rigorosamente os ditames internacionais. Já expus vários exemplos de que quantidade sem ponderações é embuste. Tamanho nem sempre é documento de verdade.  

Repito um exemplo de outros textos: o Estado de São Paulo conta com a maior quantidade de assassinatos no País quando se consideram exclusivamente os números absolutos. Agora, quando se toma o total de homicídios e o associa à população, os paulistas ocupam os melhores postos no ranking.  

Comparações corretas  

Essa métrica vale para muito mais coisas. O saldo de contratações de trabalhadores com carteira assinada num determinado período provavelmente será sempre maior em Santo André do que em São Catano. O erro é desprezar o estoque acumulado ao longo dos tempos, confrontando-o com o saldo do período em questão.  

A variação percentual é que determina a vitalidade da atividade econômica. Os prefeitos da região e de tantos outros lugares fazem acrobacias para autoproclamarem-se eficientes diante de circunstâncias supostamente favoráveis.  

Eventual crescimento de empregos com carteira assinada no Grande ABC não significa necessariamente que estamos saindo do fundo do poço depois da chegada da pandemia. Pode ser que a região esteja se recuperando, mas abaixo do indispensável. Uma comparação com outros municípios é um teste especial. Por isso criamos o G-22, o grupo dos 20 Maiores Municípios Paulistas, completado por Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra por pertencerem ao Grande ABC. Comparar o Grande ABC com o Grande ABC é um erro. No caso do Coronavírus, o confronto com o País e outros territórios é esclarecedor.  

A situação mais grave da região e uma das mais alarmantes do País e no mundo é mesmo de São Caetano. Os números desmoralizam as manchetes triunfalistas. Nada, absolutamente nada, se sustenta como atenuante. Exceto, claro, as condições que expusemos desde os primeiros dias em que se acumulavam dados de mortalidade.  

São Caetano é um endereço fatídico à disseminação do Coronavírus. Em maiores proporções que os demais municípios do Grande ABC. Por isso mesmo exigiria cuidados redobrados. Se o fizeram no âmbito administrativo municipal, possivelmente os diagnósticos falharam. 

Fatores como fatia elevada da população de idosos, densidade demográfica e entorno metropolitano são mesmo dramáticos em São Caetano. A população acima de 60 anos, principal fator de risco, é praticamente o dobro (22%) do registrado no Grande ABC. A densidade demográfica (habitantes por quilômetro quadrado) só é inferior a Diadema em todo o território nacional. E o caos metropolitano com elevado grau de interação econômica e social, sobretudo para uma População Economicamente Ativa que atua preponderantemente na vizinhança, completa o circo de horrores.  

Traduzindo tudo isso em termos de realidade de São Caetano, o que quero dizer é que o principado em meio à desordem da Grande São Paulo virou a farra do Coronavírus. A vizinhança regional fica atrás com números menos traumáticos, mas no somatório geral, a multiplicação de infortúnios é latente: morrem no Grande ABC 41% mais pessoas capturadas pelo vírus chinês ante o Brasil.  

Clube dos Prefeitos  

Os números de letalidade do Coronavírus no Grande ABC são retrato fiel da inapetência organizacional do Clube dos Prefeitos. A falta de coordenação regional com o foco numa bateria de medidas de interação está na raiz das dificuldades.  

Algumas medidas supostamente de cunho regional não passam de assistencialismo. O básico dos básicos para o enfrentamento seria a formação de um grupo de elite, forjado na ciência, para esquadrinhar todo o território regional.  

Com uma Faculdade de Medicina e uma Fundação do ABC a oferecerem alternativas de suporte técnico, o Clube dos Prefeitos preferiu ficar a reboque do governo estadual e, em seguida, diante do desgaste, adotou parcialmente uma carta de alforria inconsistente.  

Veja o ranking regional de letalidade do vírus chinês: 

1. São Caetano com 464,32 mortes por 100 mil habitantes. São 752 óbitos para 161.957 habitantes. 

2. Santo André com 357,37 mortes por 100 mil habitantes. São 2.578 óbitos para 721.368 habitantes.  

3. São Bernardo com 321,02 mortes por 100 mil habitantes. São 2.711 óbitos para 844.483 habitantes. 

4. Diadema com 278,61 mortes por 100 mil habitantes. São 1.189 óbitos para 426.757 habitantes.  

5. Mauá com 275,78 óbitos por 100 mil habitantes. São 1.317 óbitos para 477.552 habitantes.  

6. Ribeirão Pires com 252,09 mortes por 100 mil habitantes. São 313 óbitos para 124.159 habitantes. 

7. Rio Grande da Serra com 167,20 mortes para 100 mil habitantes. São 86 óbitos para 51.436 habitantes.



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