Administração Pública

Cadê transparência no fura-fila
de Santo André e São Caetano?

DANIEL LIMA - 14/06/2021

Quando o prefeito Paulinho Serra e o prefeito Tite Campanella vão jogar limpo com a sociedade? Quando vão abrir as portas da transparência para desmentir, e não abafar, as denúncias de fura-fila em Santo André e em São Caetano? O que se pergunta também é quando um quanto outro vão olhar para o espelho da responsabilidade social até encontrar refletida a imagem de Adriana Berringer, presidente da Fundação do ABC?  

Adriana Berringer foi resoluta, reta e direta: tomou todas as providências junto ao Ministério Público Estadual para acabar com a farra de denúncia falsa sobre a existência de fura-fila naquela instituição. E provou, em parecer do próprio MPE, que fura-fila ali não existiu. Teria existido em Santo André e em São Caetano? Os prefeitos que tomem as providências. Quem acredita que tomarão?  

Na raiz da política de esconde-esconde dos dados sobre a Pandemia do Coronavírus na região e o regime de protecionismo aos prefeitos que insistem em manter as portas fechadas, está o cruzamento de privilégios e compensações da mídia mais condescendente.  Quem tem a maior parte da mídia como escudo protetor pode tudo. É assim que funciona.  

Moralismo gelatinoso  

Adriana Berringer, da Fundação do ABC, é pária dos moralistas de meia tigela. Tite Campanella e Paulinho Serra ganham de presente o refresco da indiferença dessa mesma mídia de conveniências. O que falar então dos dois Legislativos regulados segundo interesses do Executivo? 

A relação de impropriedades na Prefeitura de São Caetano alcança inclusive a secretária de Saúde, Regina Maura Zetone. Como pode uma secretária municipal que atua diretamente na zona do agrião do vírus geograficamente chinês estar catalogada como integrante do fura-fila?  

Qualquer um que use essa ponderação tem tudo para obter a desclassificação de apontamentos em contrário. O bom-senso indicaria que a secretária não cometeu crime administrativo nenhum.  

Massacre e cinismo 

Entretanto -- e sempre há um entretanto em situações levadas a sério por quem faz jornalismo independente -- o caso de Regina Maura é de outra envergadura. Já ouviram falar em ética pública? Pois é o caso da secretária que já foi candidata a prefeita de São Caetano e passou por metralhamento moral de outra magnitude, perdendo exatamente por isso a sucessão do patrono José Auricchio Júnior.  

Regina Maura Zetone sofreu o mais duro e covarde golpe de assédio moral de uma cidade ou parte de uma cidade conservadora. Não lhe deram trégua de maledicências na reta de chegada, quando as urnas se aproximam. E o resultado eleitoral final favoreceu o opositor Paulo Pinheiro. Com amplo apoio do PT Regional, que nadava de braçadas com dinheiro farto.  

Estuprada eleitoralmente no passado, Regina Maura não pode cair na tentação de manter sob proteção um comportamento inadequado agora com o vírus. Seu erro foi declarar a um repórter da TV Globo que não se vacinaria contra o Coronavírus para dar exemplo de eficiência ou algo parecido à empreitada. Proclamou-se fora da linha de frente.  

Entretanto, dois ou três dias depois socorreu-se de vacina. Tudo no mesmo período em que a presidente da Fundação do ABC, Adriana Berringer, era impiedosamente submetida a um regime de execração pública nos jornais. Regina Maura atirou ao fogaréu uma antiga conhecida de São Caetano para servir à sanha de quem quer o controle da Fundação do ABC de qualquer maneira.  

Os outros casos nominais de fura-filas em São Caetano, agora no conceito literal de que se anteciparam cronologicamente e avançaram o sinal, atropelando as normas de linha de frente, dão extensão do quanto supostamente a secretária de Saúde protegeu os mais próximos.  

O conceito de linha de frente foi flexionado ao bel-prazer – até que se prove o contrário. Provas incriminatórias, por assim dizer, CapitalSocial tem. Tanto tem que fez uso do material na lista de transmissão que mantém num aplicativo de comunicação, o WhatsApp. Resta saber se a plasticidade do conceito de linha de frente também se aplica aos fura-filas.  

A secretária de Saúde de São Caetano tem, portanto, o dever administrativo de revelar à sociedade uma defesa da política que adotou. Regina Maura deveria, portanto, repetir a política de comprometimento de Adriana Berringer. Ou seja: que remeta a relação de supostos e até prova em contrário autênticos fura-filas à apreciação do Ministério Público Estadual. Que siga a mesma trilha ética de Adriana Berringer, mulher que ousou enfrentar os poderosos de plantão, mandachuvas e mandachuvinhas construtores do túnel de atraso.  

Maior em Santo André  

A lista até agora incontestada de fura-filas em Santo André do prefeito Paulinho Serra é muito maior, com 25 nomes, segundo notícia publicada pelo ABCD Jornal. O silêncio é constrangedor também nesse caso. Não foram poucas as tentativas de abafamento. A mídia servil a Paulinho Serra não escreveu uma linha sequer sobre as irregularidades que, até prova em contrário, são irregularidades.  

O ABCD Jornal não fez registro de que disponha de provas materiais do fura-fila, mas pressupõe-se que se utilize dos mesmos cuidados e critérios de CapitalSocial em relação a São Caetano.  

Quem tentou buscar algum desdobramento diferente à apuração do caso caiu do telhado de interesses variados. O vereador psolista Ricardo Alvarez procurou de alguma forma colocar à luz do sol e da moralidade um requerimento ao esclarecimento da denúncia do jornal. Mas, foi obstado pela maioria dos vereadores de um Legislativo dócil.  

O mesmo Legislativo que jamais se preocupou com as roubalheiras na Central de Convênios da Fundação do ABC, expostas que foram por uma auditoria externa independente. Diferentemente, disso, esses mesmos vereadores decidiram partir ao ataque para decapitar a presidente Adriana Berringer às primeiras informações do pretendido e frustrado fura-fila naquela instituição.  

Reportam do jornal  

A jornalista Gislayne Jacinto está nas duas pontas de irregularidades apontadas na vacinação em Santo André. Em primeiro de junho escreveu para o ABCD Jornal que Santo André vacinou em janeiro e fevereiro deste ano 25 funcionários de áreas administrativas de Saúde.  

 “Na ocasião, a recomendação do Ministério da Saúde era para imunizar preferencialmente os servidores de linha de frente que atuam na pandemia do novo coronavírus. A prefeitura nega o fura-fila e diz que todos os funcionários são imprescindíveis”. 

Afirma também a jornalista que, na lista à qual o ABCD Jornal teve acesso, aparecem dois nomes comissionados: Caroline Regina Teixeira de Freitas (Departamento de Gestão e Estratégia da Prefeitura) e Adriana Aparecida Vari de Paula (Encarregada de Convênios da Saúde). Segue a reportagem do ABCD Jornal com a informação de que a maioria dos casos de funcionários que atuam na área administrativa está relacionada à UBS (Unidade Básica de Saúde) Espírito Santo.  

 O Ministério da Saúde alertou em fevereiro deste ano que as primeiras etapas da campanha nacional de vacinação contra a Covid-19 não tinham previsão de atender 100% dos profissionais de saúde. De acordo com o um alerta do Ministério encaminhado aos Estados e municípios, um dos focos específicos da primeira fase da vacinação era atender 34% dos trabalhadores da saúde e que era para incluir somente aqueles que atuavam diretamente na linha de frente contra a pandemia. Apesar da orientação, em algumas cidades do país a imunização incluiu uma lista ampla de profissionais da saúde, entre eles funcionários que não atuavam na linha de frente contra a Covid. Cabe esclarecer que todos os trabalhadores da saúde serão contemplados com a vacinação, entretanto a ampliação da cobertura desse público será gradativa, conforme disponibilidade de vacinas, informou o governo federal -- escreveu o jornal. 

Legislativo seletivo  

A reportagem do ABCD Jornal foi concluída com informações da Prefeitura de Santo André. A gestão de Paulinho Serra informou que as vacinações de servidores são imprescindíveis. “Não houve resposta específica quanto às duas funcionárias comissionadas”, informou o jornal.  

Dois dias depois, em três de junho, o mesmo ABCD Jornal publicou nova reportagem sob o título “Santo André rejeita requerimentos sobre denúncia de fura-fila da vacina”. Alguns trechos da reportagem: 

 A Câmara de Santo André rejeitou nesta quinta-feira (02/06) oito requerimentos de informação do oposicionista Ricardo Alvarez (Psol). Entre as proposituras, estava uma que pergunta à Prefeitura sobre denúncia de suposto fura-fila da vacinação contra a Covid-19 de 25 servidores que prestam serviços administrativos na Saúde de Santo André. “Estão cerceando o meu direito de fiscalizar. Em três mandatos de vereador nunca vi isso acontecer na Câmara. Quem não deve não teme. O que os vereadores governistas querem esconder”? afirmou o vereador. (...). Um dos requerimentos que levantou mais polêmica nos bastidores é o que pergunta ao Executivo se entre os vacinados estão pessoas com vínculo familiar com integrantes do alta escalão do governo. (...) Ocorre que na lista dos vacinados está Camila Adelaide Melito, que pela denúncia que chegou à Câmara seria irmã de Felipe Melito, assessor do gabinete do prefeito Paulo Serra. Felipe é do núcleo forte do governo, uma espécie de coringa dentro da administração do tucano. (...) O ABCD Jornal perguntou ao governo se Camila Melito é irmã de Felipe Melito e a Prefeitura não respondeu. Camila foi vacinada em 28 de janeiro deste ano. Ela consta como auxiliar administrativa no Hospital de Campanha. No dia em que foi imunizada ela postou uma foto em sua página no Facebook. – escreveu o jornal.  

Os fura-filas 

Veja a relação dos fura-filas em São Caetano. Até prova em contrário: 

Regina Maura Zetone Grespan, Anelize Rubio de Almeida Claro Carvalho, Ligia Marcelo Martins, Jorge Eduardo Grillo Bastos, Anna Karolina Aguiar Freire Santos, Danielle Gonçalves Mechi, Rafaelle Zanca Neto, Nelson Donato dos Santos Júnior, Maria Clara de Souza Barros, Thaina Larissa Rufino Leite, Renato Teixeira da Silva, Ana Paula Tavares Fonseca, Cibele Cristine Remondes Sequeira e Maria Cecília Borsol Sansone.  

Agora, a relação dos fura-filas da Prefeitura de Santo André. Até prova em contrário: 

Olinda Cristina da Silva, Zina Maria Garcia de Carvalho, Margarete Milani, Rafael Savoia de Lima, Andrea Garbin, Attila Freire da Silva, Paloma Aparecida, Rafael Christina do Prado, Simone Curti Sala, Sonia Marcia de Araújo, Vanessa Miranda Silva, Vitor Henrique Rodrigues, Zelinda Fátima Debar, Anderson Ricardo Deronsio, Agnaldo Maciel da Silva, Alline de Paula Oliveira, Camila Adelaide Melito, Carla Bosi, Cilene Guilhem Sales, Decio Maffessoni Júnior, Edela Carla Ferreira, Edeneia Multini, Eduardo Mendes Fiuza, Adriana Aparecida Vari de Paula, Caroline Regina Teixeira de Freitas.



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