Administração Pública

Mostramos tudo da pesquisa
que diviniza Paulinho Serra

DANIEL LIMA - 12/07/2021

A pesquisa que o Diário do Grande ABC encomendou ao desconhecido e controverso Instituto Badra para medir o tamanho do prestígio dos atuais prefeitos da região é uma moeda de marketing de desprezo à cognição da sociedade. Temos duas faces de interesses nem sempre capturáveis e que se chocam quando desvendados. Os engenheiros de alquimias político-eleitorais acreditam piamente que existem filas quilométricas de jumentos na região.  

A cara da moeda é de clareza escancarada de propósitos seletivos. A coroa é de obscuridade generalizada em detrimento da sociedade como um todo.    

O resultado geral não poderia ser mais trágico. Afinal, quando a esmola do marketing é abusiva demais, até o santo da ingenuidade desconfia. 

O resultado do Instituto Badra induz que o prefeito Paulinho Serra é o suprassumo dos titulares de paços municipais em todo o Brasil, com estupendos 82,2% de aprovação e apenas 14,6% de reprovação.  

Orlando Morando chega a 70% de aprovação e 25,2% de reprovação, José de Filippi Júnior registra 60-32, Tite Campanella 59,8 -31,8, Clovis Volpi 55,9-36,5, Claudinho da Geladeira 51,9-37,3 e Marcelo Oliveira 44,3-45,9.  

Fora de órbita  

Em todos os casos, mesmo no caso do prefeito de Mauá, Marcelo Oliveira, o último no ranking do Instituto Badra, os números são extravagantemente positivos. Basta colocar a lupa da contextualização econômica e social para encontrar o roteiro da falsificação.   

Os dados revelados sem cerimônia como se o Grande ABC fosse detentor de uma safra de extraordinários prefeitos e a qualidade de vida um show de bola estão completamente fora da órbita quando comparados sob as mesmas condições a qualquer esfera de poder nestes tempos de crise econômica, crise sanitária e crise política.  

O prestígio da classe política está ao rés do chão. Mesmo os melhores quadros executivos sofrem com isso, porque não são ilhas. Vivemos num mundo globalizado em comunicações conflituosas, enviesadas, esclarecedoras e demolidoras de reputações.  

Sociedade mutilada?  

A unanimidade em torno de Paulinho Serra é tão estrambólica que não está fora da ordem acreditar em duas possibilidades: a sociedade andreense é um caudal de estupidez ou a sociedade andreense é uma cordilheira de imbecis.  Como se sabe, não é uma coisa nem outra.  

É claro que, por mais omissa que seja, mais gataborralheiresca que seja, a sociedade de Santo André e da região têm nichos críticos que reverberam no geral. São grupos desorganizados que têm uma visão mais apurada da situação específica municipal e da situação específica da região.  

Feita essa breve exposição, vamos aos fatos. E às interpretações.  

Primeiro, vamos explicar o lado “cara” da moeda da pesquisa que, longe do suposto viés administrativo, é mesmo de fundo político-eleitoral. No ano que vem há eleições para governador, deputado estadual e deputado federal, senador e presidente da República. As maquinações políticas já estão nos gabinetes e invadem páginas e páginas de jornais impressos e virtuais.  

Os resultados envolvendo os sete prefeitos são extratos de um marketing político-administrativo que pretende transformar a mediocridade em liderança regional. No caso, claro, o prefeito de Santo André, Paulinho Serra.  

Forçada de barra  

Há uma forçada de barra tão despropositada que remete àquela frase atribuída a Mané Garrincha antes de um jogo da Seleção Brasileira, depois da exposição do técnico Vicente Feola, referindo-se aos russos, adversários de então.   

No caso, “os russos” de Paulinho Serra são as ações de Paulinho Serra. Opacas, pobres, rudimentares. O industrializador de impostos municipais do primeiro mandato na região quer seguir enfiando goela abaixo dos contribuintes mais ônus de tributos. Em plena pandemia. Como se o empobrecimento de Santo André não fosse suficiente.  

Empobrecimento contra o qual, aliás, Paulinho Serra não moveu uma palha em quatro anos e meio de mandatos. Distante disso: vende ilusões de varejo como joias de atacado reestruturante. Um Celso Daniel às avessas.  

Orlando bem melhor  

O mesmo Celso Daniel que Paulinho Serra tanto elogiava antes de virar prefeito na esteira de um PT destruído em 2016 e um PT aliado em 2018. Possivelmente, Paulinho Serra descobriu que seria improvável chegar àquele que foi o maior prefeito regional da história do Grande ABC. Então, passou ao desprezo dissimulado.  

Colocar Paulinho Serra no pedestal da competência não é o único objetivo da pesquisa de um instituto de baixíssima credibilidade. O sufocamento de Orlando Morando, prefeito de São Bernardo e desafeto do jornal, é a peça principal da mesma engrenagem.  

Qualquer idiota político da praça regional sabe que Orlando Morando tem muitos defeitos quando se colocam na balança determinadas exigências contemporâneas de grandes agentes públicos, mas que, mesmo assim, é disparadamente muito melhor que qualquer outro prefeito da safra atual. Nada, entretanto, que garanta um sucessor de seu agrado. Luiz Marinho é o favorito em 2024. 

Paulinho Serra só tem algo que Orlando Morando não tem: um apetite enorme de submeter a própria personalidade ao escrutínio permanente de um entorno nefasto. Vale tudo pelo poder.  

Confronto desigual  

Prometi outro dia aos integrantes da lista de um aplicativo de celular de CapitalSocial que prepararia uma comparação entre Orlando Morando e Paulinho Serra. Estou devendo, mas vou pagar.  

Faço reparos aos dois. Os reparos a Orlando Morando são infinitamente menos drásticos. Paulinho Serra é um preposto de forças que o tornam silencioso escravo nos escaninhos internos e um prepotente chefe municipal externo.  

Orlando Morando é petulante demais (no bom sentido da expressão, e no mau sentido também) para se submeter às forças que tutelam Paulinho Serra.  

A “cara” da moeda da pesquisa do Instituto Badra, portanto, não parece deixar pedra sobre pedra de dúvida. Foi feita escandalosamente para fabricar um resultado conectado à hierarquização de supostas competências gerenciais dos sete municípios da região. São números estarrecedores. Sem qualquer aderência à realidade dos municípios e Estados brasileiros. Quanto mais do desgastadíssimo governo federal.  

Números ofensivos  

São números que ofendem o ambiente político geral. Números que batem de frente com o ambiente sanitário. O Grande ABC é um dos piores endereços de letalidade do Coronavírus. Recentemente, o Instituto ABCD Dados mostrou índices de reprovação elevadíssimos dos prefeitos no combate ao vírus geograficamente chinês. Paulinho Serra não escapou da degola. O Instituto Badra expõe uma maravilha numérica de combate à Pandemia na região. Cada prefeito é um abraço. Um acinte.  

Quem acredita que o vírus não influencia o resultado de uma gestão pública deveria preparar um estudo minucioso e concorrer ao Prêmio Nobel de Imbecilidade.  

Agora, vamos ao lado “coroa” da moeda da pesquisa do Instituto Brada. Trata-se de alinhamento contraprodutivo à credibilidade do jornal. Que alinhamento? O prevalecimento de uma política editorial que faz dos quadros políticos praticamente a razão de circular.   

O Diário do Grande ABC ocupa-se desproporcionalmente, além de seletivamente, em defesa do aparelho político-administrativo de determinados prefeitos de plantão. Sobremodo em Santo André e São Caetano.  

As críticas renitentes são reservadas aos demais, sobretudo a Orlando Morando. Algumas ocasionais lufadas de carinho são estratagemas a suposta imparcialidade. O jornalismo diário faz isso desde sempre. Os leitores acreditam. Não tanto quanto antes. A chegada das demonizadas (em muitos casos mais que justificáveis) redes sociais mexeu no tabuleiro de truques antes imperceptíveis aos leigos. 

Olho no Estado  

O que a pesquisa do Instituto Badra sonega é a orquestração que pretende fortalecer os laços de suporte à gestão de Paulinho Serra e o encaminhamento do prefeito de Santo André à condição de ponta-de-lança de um ajuntamento regional que sonha chegar ao poder estadual em alguma negociação com quadros mais poderosos. É um projeto de porteira fechadas. Santo André é apenas boi de piranha.  

Paulinho Serra e seu entorno querem nacos do governo paulista. Não à toa, o padrinho de todos que giram no entorno de Paulinho Serra (ou o entorno que tem em Paulinho Serra um dos polos) é o ex-prefeito paulistano, ex-deputado federal e ex-ministro de Lula da Silva, Gilberto Kassab, presidente do PSD. O Ministério Público Estadual tem uma coleção de acusações à atuação de Kassab no mercado imobiliário.  

Mas o grupo de Gilberto Kassab não está sozinho no encabrestamento político-administrativo de Santo André. O ex-governador tampão Marcio França, amigo do dirigente que responde publicamente pelo Instituto Badra, integra a rede partidária que planeja tomar o Palácio dos Bandeirantes dos tucanos. Contam para tanto com a chegada do ex-governador Geraldo Alckmin. Todos contra João Doria, que expurgou diplomaticamente os alckimistas da direção tucana no Estado.  

Verdade exagerada  

Fosse republicana a empreitada da turma de Santo André, de Kassab e de Márcio França-Alckmin, nada seria mais fantástico para o futuro da região. Mas o interesse da coletividade é apenas pretexto. A base da reestruturação regional ultrapassa largamente os escaninhos de individualidade e de grupos que falam em nome do Grande ABC. 

A revelação de novos dados da pesquisa do Instituto Badra nas páginas do Diário do Grande ABC de hoje, com direito à manchetíssima de primeira página, reforça a equação multipartidária. O título da página interna (“Pesquisa aponta que eleitorado da região rejeita Doria e Bolsonaro”) expressa uma realidade sonegada à imagem dos prefeitos, também intensamente afetados pelos estragos do Coronavírus.  

Diz o jornal que oito entre 10 entrevistados pelo Badra reprovam a gestão do presidente Jair Bolsonaro, enquanto seis entre 10 o fazem em relação a João Doria. Não há mesmo escapatória ao presidente da República e ao governador do Estado, mas os dados ultrapassam outras pesquisas assemelhadas.  

Supõe-se ante a divinização dos prefeitos locais e o amaldiçoamento de presidente e governador que o Instituto Badra retirou dos titulares dos paços municipais e repassou a Bolsonaro e Doria grande parcela de desgaste político-administrativo destes tempos pandêmicos.  

Instituto complicado  

Num dos raros registros do Badra no campo político-eleitoral, a Folha de S. Paulo e outros jornais impressos e digitais apontaram em novembro do ano passado que o instituto teve a divulgação de pesquisa de intenção de votos barrada pela Justiça após PSDB e PSOL denunciarem viés pró-Márcio França (PSB). As siglas argumentaram que o nome de França foi apresentado antes da pergunta sobre quem o entrevistado votaria, o que beneficiou o político do PSB.  

A chapa de Bruno Covas também apontou conflito de interesses – o instituto Badra fez vídeo de campanha para França. Mais que isso: enquanto França foi vice-governador e governador de São Paulo (2015-2018), Maurício Juvenal era chefe de Gabinete da secretaria de Desenvolvimento Econômico (chefia da por França) e secretário de Planejamento. Maurício Juvenal responde pelas pesquisas da Badra.



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