Administração Pública

Paulinho joga a toalha: desiste
de Celso Daniel e mira Aidan

DANIEL LIMA - 17/03/2022

Os dados do Valor Adicionado do ano passado ainda não saíram do forno da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, mas preocupam o prefeito Paulinho Serra.  

Os quatro anos do segundo mandato serão decisivos a uma empreitada nada extraordinária, mas suficientemente importante para não se tornar vexatória: superar a média de crescimento anual do antecessor do antecessor -- Aidan Ravin.  

Trocando em miúdos de explicações básicas e essenciais, afirmo o seguinte: para começo de conversa, isso significa que o atual prefeito de Santo André já jogou a toalha na disputa com Celso Daniel, a quem pretendia superar em oito anos de Paço Municipal.  

O que resta a Paulinho Serra nos quatro anos a contabilizar é superar a marca de Aidan Ravin. Uma marca que não é lá essas coisas, mas é alguma coisa.  

BAJULAÇÃO DEMAIS  

A má notícia para Paulinho Serra é que terá muitas dificuldades em alcançar a nova meta. Os primeiros anos de administração de Santo André foram discretíssimos quando se tem como referencial o comportamento do Valor Adicionado, medidor de geração de riqueza importantíssimo a cada temporada.  

O discurso de Paulinho Serra seguido por uma turma barulhenta que fecha os olhos e ouvidos à realidade dos fatos e transforma estudos de papel em obras feitas (como esses rankings em que subjetividades imperam) rolará ladeira abaixo na medida em que nem mesmo a média de Aidan Ravin for superada.  

E olha que a média de Aidan Ravin, prefeito entre 2009 e 2013, é das mais baixas, considerando-se as necessidades urgentes de Desenvolvimento Econômico de Santo André, o endereço mais desindustrializado do País nos últimos 40 anos.  

MÉDIA VERSUS MÉDIA  

Afinal, qual foi a média de crescimento anual do Valor Adicionado do prefeito Aidan Ravin que Paulinho Serra e sua turma tanto perseguem?  

Como mostramos ainda outro dia numa das análises sobre o comportamento da economia dos municípios do Grande ABC desde a implantação do Plano Real, o Valor Adicionado médio anual de Aidan Ravin não ultrapassou a 1,06%. Isso mesmo: 1,06%.  

E, afinal, qual foi o resultado de crescimento médio da gestão de Paulinho Serra ao suceder o petista Carlos Grana, em janeiro de 2017? Exatamente 0,64%.  

Em termos acumulados, Santo André teve o Valor Adicionado aumentado de forma real, ou seja, acima da inflação do período de Aidan Ravin, em 4,27% em quatro anos.  

Paulinho Serra, também em quatro anos, viu o Valor Adicionado elevar-se em 2,58%.  

Será que nos quatro anos que restam Paulinho Serra transformaria parte do trololó ufanista das páginas de jornais em resposta efetiva à sociedade. Ou a sociedade voltará a cair na lábia de um marketing requenguela? Esta é a pergunta-chave que precisa ser respondida.  

CELSO DANIEL, NÃO 

Seria uma covardia jornalística sugerir que Paulinho Serra sem planejamento estratégico algum no campo econômico, até porque não entende nada do riscado, teria alguma possibilidade de superar uma possível meta que levasse em conta o maior prefeito regional que o Grande ABC já teve.  

É claro que estou me referindo a Celso Daniel. O petista morto em janeiro de 2002 governou Santo André de janeiro de 1997 a janeiro de 2002. Foram cinco anos. O período anterior, de 1989 a 1992. Faltam dados estatísticos e, mais que isso, ou principalmente, o Brasil vivia a esbórnia inflacionária.  

O Plano Real, de 1994, estabeleceu modus-operandi administrativo dos prefeitos, além de governadores e presidentes da República. Correção monetária deixou de ser a força-motriz dos administradores. Eles tiveram de encarar números menos inflacionados.   

MASSACRE NUMÉRICO  

Como mostramos na semana passada, mas sem destaque além do normal, Celso Daniel superou todas as barreiras econômicas de uma Santo André (e de um Grande ABC) que vivia sob os efeitos catastróficos de um governo federal (Fernando Henrique Cardoso) que sacrificou pequenas indústrias de autopeças, familiares por excelência, por privilégios alfandegários e fiscais às montadoras.  

Mesmo assim, Santo André avançou no Valor Acionado: cresceu de forma efetiva, superando a inflação do período, em acumulados 13,84%, com média anual de 2,77%. 

Compare a média anual de crescimento do Valor Adicionado de Santo André no período de cinco anos de Celso Daniel com os quatro primeiros anos da gestão de Paulinho Serra. Sabe o resultado final: vantagem de Celso Daniel de 76,89%. Uma outra conta: o crescimento médio anual do Valor Adicionado de Paulinho Serra corresponde, em termos de avanço, a apenas 23,10% do crescimento médio anual do período de Celso Daniel.  

SOBROU AIDAN  

Se há algo proibido ou muito mal-recebido, ou exorcizado ou desclassificado ou abominado ou intragável no Paço Municipal de Santo André e no entorno do Paço Municipal de Santo André é colocar a gestão de Aidan Ravin como meta a ser alcançada pela gestão de Paulinho Serra no campo econômico.  

Embora não faltem correligionários do ex-prefeito no Paço Municipal, até porque no Paço Municipal tem de tudo, desde que a contrapartida seja o silêncio reverencial que também pode ser chamado de silêncio acumpliciador, quando não coercitivo, é quase que envergonhadamente que se admite a necessidade de registrar Valor Adicionado melhor que o daquele titular de um único mandato.  

A diferença entre a gestão de Aidan Ravin e o que se tem ao fim de quatro anos de mandato de Paulinho Serra é que Santo André virou uma maçaroca político-partidária inerte, quase inútil, para não dizer irrelevante, quando se tem como contrapartida o democrático contraditório.  

Santo André perdeu a viscosidade do PT que jamais chegou a ser o PT de São Bernardo, mas que não era um PT de linha auxiliar do prefeito de plantão, como tem sido no caso atual.  

APENAS UM TIME  

A contraface do conservadorismo discreto dos tempos em que o Brasil não respirava e transpirava intolerâncias políticas e comportamentais era um PT organizado em Santo André, ainda sob eflúvios da liderança de Celso Daniel morto anos antes.  

Quem acha que democracia boa é democracia de lado ideológico único, como tem sido Santo André desde o Mensalão e o Petrolão, possivelmente vai consagrar a mediocridade.  

Sem embates conceituais que podem ser velharias aqui ou ali mas precisam ser oferecidos à análise e ao consumo da sociedade, dá-se de cara com grupo organizado como o que temos em Santo André.  

Que tipo de grupo organizado conta Santo André? Com gente interesseira, pronta para qualquer coisa que signifique vantagem e a manutenção do poder a qualquer custo.  

ESTÁDIO EMBLEMÁTICO 

O caso da concessão do Estádio Bruno Daniel é apenas a ponta do iceberg do que temos na praça andreense. Há um massacre contra aqueles que ousam divergir e um descaso àqueles que pretendem colaborar. O grupo está fechado no sentido de explorar o máximo as benesses do poder.  

Fosse Santo André de Paulinho Serra a Santo André dos tempos anteriores ao Mensalão e do Petrolão, certamente não teríamos de suportar a cada dia a manipulação de projetos e de resultados. Haveria embates sólidos, consistentes, desafiadores. 

O contraditório adensado morreu em Santo André. O que existe é uma cidade de ambiente institucional de via única, burra e exploratória. 

Prestar atenção ao que acontece com o Esporte Clube Santo André vai muito além do campo esportivo. Há uma massa acrítica que permite tudo, inclusive a invasão despudorada de domicílios.  

RADICALISMOS NOCIVOS  

Portanto, quem propaga no radicalismo da direita intolerante que a esquerda deve ser morta e enterrada, assim como o radicalismo de esquerda intolerante pretende que a direita deve ser morta e enterrada, quem acha que essa é a melhor fórmula à prática de uma sociedade sadia, combativa e crítica, está trocando a pluralidade por um autoritarismo burro e exclusivista cujas emendas de resultados são piores que os sonetos de contraditórios fervilhantes e democráticos.  

A movimentação política e social em Santo André deveria ser estudada a fundo como prova provada de que a bajulação prevalecente é consequência de um ambiente de mediocridades que começam no Paço Municipal e se espraiam a toda a sociedade, pobre sociedade induzida a acreditar no Papai Noel da gestão atual. A conta final de tudo isso vai diretamente para a rubrica de Desenvolvimento Econômico paquidérmico.  



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