Administração Pública

Grande ABC é secundário
no Ranking de Saneamento

DANIEL LIMA - 25/03/2022

Diferentemente do que andam publicando por aí, o Grande ABC não tem destaque nenhum no que chamaria de Campeonato Brasileiro de Saneamento, restrito aos municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas também não passa vergonha. Mais que isso: sobrevive bem a duas catástrofes simultâneas. 

Se os 100 municípios concorrentes forem instalados em cinco divisões, de 20 cidades cada, a melhor colocação, de Segunda Divisão, seria de Santo André. São Bernardo, Mauá e Diadema ocupam a Terceira Divisão com dados muito próximos.

A distância que separa a nota média final de Santo André dos demais municípios da região não é alarmante. O que existe em comum entre os quatro municípios é que o Poder Público Municipal terceirizou o atendimento. A Sabesp comanda três endereços locais. 

TORTURANDO DADOS 

Torturar dados para pinçar determinada cidade como destaque na região no Ranking Nacional do Instituto Trata Brasil é política equivocada. 

Os quatro municípios do Grande ABC que estão na métrica de água e esgoto não envergonham a sociedade. Por isso não precisam de fake news e derivativos para conjunção de complicações que mais que atenuar posicionamentos dos quatro municípios, os valoriza. 

Afinal, somente neste século, a partir de 2000, o Grande ABC desses quatro endereços municipais teve sobrecarga de obrigações públicas na área de infraestrutura básica de 300.928 mil residências. 

De 542.667 habitações em dezembro de 1999, Santo André, São Bernardo, Diadema e Mauá chegaram a 843.595 ao fim de 2021. Um aumento proporcional de 55,45%. 

MAIS 300 MIL 

Quando se completa o cenário com a informação de que a maioria dos novos moradores, formada por migrantes, ocupou áreas periféricas, que demandam investimentos públicos permanentes, tem-se, afinal, um quadro intelectualmente mais honesto e eticamente preservador de credibilidade.

Querem saber o que significa essa sobrecarga de mais de 300 mil residências? 

Junte todas as moradias de Diadema e de Mauá e chega-se aos mais de 300 mil domicílios que se criaram nos quatro municípios no período. 

Se você encontrou dificuldade de entendimento, vou repetir: some o total de residências de Diadema e de Mauá e terá o adicional de moradias nos quatro municípios da região que constam do ranking do Instituto Trata Brasil. 

É gente demais para uma região que (e agora vem o complicador complementador) segue ritual de perda neste século de riqueza em forma de PIB (Produto Interno Bruto) e consequente quebra da mobilidade social, com avanço da desigualdade.

Dessa forma, não passa mesmo de provincianismo pretender filtrar alguns dados do Campeonato Brasileiro de Saneamento para dar ênfase a endereço municipal específico. Isso é mais que um exagero descabido, é também sobreposição de vassalagem. 

CAMPEÃO DE ARAQUE 

Quem propaga que Santo André é campeã em determinado indicador do Ranking de Saneamento do Instituto Trata Brasil tem o mesmo sentido lógico do torcedor de um determinado time de futebol que comemora suposto título de uma competição com turno e returno quando mal se completou a décima rodada. 

Campeão da décima rodada não existe. Os 12 indicadores do ranking de saneamento são todas as rodadas de um campeonato de futebol, não apenas um dos indicadores. 

Portanto, é o conjunto da obra estatística do Instituto Trata Brasil que deve ser avaliado. E com ponderações socioeconômicas que aquela organização não produz. A entidade trata exclusivamente de saneamento no estrito valor da especialidade. 

SANTOS NA FRENTE 

Santos é a campeã do Brasileiro de Saneamento com média final de 9,94 pontos de 10,00 possíveis. A vigésima colocada, que completa o quadro da Primeira Divisão, é Montes Claros, em Minas Gerais, com nota média de 8,57. 

A Segunda Divisão do Brasileiro de Saneamento, que vai do vigésimo-primeiro ao quadragésimo lugar, tem apenas Santo André como representante regional, na trigésima-segunda colocação, três abaixo da temporada anterior. A média geral de Santo André é de 8,00.

Os outros três municípios da região enquadrados nos rigores regulamentares (ou seja, contar com pelo menos 100 mil habitantes) estão na Terceira Divisão, mas não muito distantes de Santo André: Diadema é a quadragésima colocada com nota média final de 7,60, Mauá é a quadragésima-oitava colocação com média de 7,44 e São Bernardo é a quadragésima-nona com média geral de 7,31.

SÃO BERNARDO COMPLEXA 

Em números absolutos, São Bernardo é o endereço da região que consta do ranking com maior incidência de novas moradias neste século: passou de 189.086 para 287.873. Nada menos que o acréscimo de 98.787 moradias. Um pouco menos que a soma do total de residências de São Caetano e Ribeirão Pires. 

Traduzindo: o Poder Público de São Bernardo teve de lidar com um acréscimo cavalar de atendimento na área de saneamento porque boa parte desse excedente demográfico veio de fora e ocupou regiões ribeirinhas que demandam serviços públicos básicos. 

As quase 100 mil novas residências em São Bernardo são um terço do acréscimo geral nos quatro municípios neste século.

A situação de Santo André é menos dramática no atendimento porque ganhou 47,05% de novas residências, num total de 81.051 unidades familiares. Eram 171.243 e passou para 253.294. 

Em Diadema o acréscimo foi de 65,90%: eram 86.404 residências em 1999 e passou para 143.340 em 2021. Em Mauá, o crescimento de moradias foi de 67,58%: eram 94.933 e passou para 159.088.

CONJUNTO DA OBRA 

Tudo isso significa dizer que é mais apropriado a qualquer avaliação descartar a tomada de pulso de determinado indicador. Até mesmo o uso dos 12 indicadores do ranking deve contemplar cuidados. Um olhar mais apurado em direção ao histórico econômico deste século e ao fluxo migratório contribui a análises mais responsáveis. 

O que parte da mídia regional ainda não entendeu e ao que parece não vai entender jamais é que o excesso de triunfalismo conjugado com interesses oficiais desqualifica a informação, colocando-a num departamento de desconfiança social porque ganha corpo, cabeça e mente de proselitismo político-partidário. 

Da mesma forma, tomar os dados do Campeonato Brasileiro de Saneamento para avacalhar posicionamentos dos quatro municípios, desconsiderando-se todos os condicionantes, seria bobagem igualmente desclassificatória. 

O que se pretende dizer é que se prefeitos que ocuparam os paços municipais dos sete municípios da região ao longo deste século deixaram muito a desejar no campo econômico, postergando ou ignorando medidas reativas e, principalmente, de planejamento, na área de saneamento de água e esgoto fizeram a lição de casa dentro das condições com que foram contemplados.  

PREFEITOS OBREIROS 

Transformando em miúdos: se na regionalidade institucional o Grande ABC é um fracasso continuado, no saneamento é uma prova de resistência municipal. 

Faltam dados históricos do comportamento dos quatro municípios da região no Campeonato Brasileiro de Saneamento. Já pesquisei e ainda não encontrei um eixo garantidor de conexão metodológica entre o que se tem na edição desta temporada, que mede os dados do ano passado, e rankings anteriores. Parece haver mudanças que alteraram o ritmo da chuva de conectividade lógica. 

De qualquer forma, numa nova edição, na próxima semana, vamos esmiuçar os principais indicadores nos quais os quatro municípios da região se destacam e também se complicam. 

O que existe em comum no quarteto é que são concessionárias que cuidam da água e do esgoto. A Sabesp, empresa de capital aberto controlada pelo governo do Estado de São Paulo, cuida de Santo André, São Bernardo e Diadema). A Sama cuida de Mauá. A líder Santos também está sob os cuidados da Sabesp. Outros municípios são atendidos por empresas municipais. 



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