Administração Pública

É possível festejar aniversário
de Santo André com Paulinho?

DANIEL LIMA - 07/04/2022

O passeio reflexivo de manhã com minhas cachorras me causou uma dúvida que desfiz assim que cheguei em casa: vou preparar o que chamaria de um resumo resumido dos principais pontos da gestão do prefeito Paulinho Serra, após cinco anos de mandato. Vou publicar o material em forma de edição especial num único dia, oito de abril, aniversário de Santo André.   

O calendário gregoriano favorece a potencialização de leitura. Sexta-feira é véspera de sábado e antevéspera de domingo, dias que formam um fim de semana. Como todo fim de semana é um convite a colocar as coisas em ordem, nada melhor que expor o apanhado geral.  

A alternativa que me atormentou e que descartei dava conta de uma série de matérias, que ocuparia várias datas aleatórias. E que se iniciaria também em oito de abril.  

500 TEXTOS  

O que os leitores vão encontrar amanhã será o que sempre encontrou ao longo dos anos, quando se tratou de outros prefeitos: fundamentação técnica e coerência no sentido construtivo da expressão.  

Ainda não defini o título que será visto pelos leitores, mas isso não é problema. O principal há em abundância:  matéria-prima ampla, densa, irretocável sob o ponto de vista de fatos.  

A seleção dos insumos que comporão a edição especial não é fácil. Temos mais de 500 textos que tratam direta e indiretamente da gestão de Paulinho Serra à frente da Prefeitura e do Clube dos Prefeitos. Não pretendemos reproduzir mais que 5% do acervo.  

VOLUME SUFICIENTE  

Os possíveis 25 trechos de textos, portanto, seriam suficientes para que se compreenda a dimensão da responsabilidade de Paulinho Serra nos cinco primeiros anos de dois mandatos.  

Os leitores que não acompanham com frequência a saga desta revista digital e também não têm na memória as duas décadas da revista impressa LivreMercado provavelmente vão colocar a edição especial no barco furado de perseguição ao prefeito.  

Simplificar uma ação jornalística comprometida com a sociedade é muito fácil para quem quer se desvencilhar de omissões, desconhecimento, descaso ou mesmo não arruma tempo para atividades extraprofissionais, porque a vida está dura.  

O que se pode garantir é que Paulinho Serra não deu muita sorte em termos de contextualização do período em que é prefeito de Santo André porque a quase unanimidade da mídia que o contempla com ações típicas de relações públicas não tem extensão nesta publicação. Tanto ele quanto outros personagens atuais (e anteriores) da vida pública do Grande ABC.  

BADALAÇÃO DEMAIS  

A escolha de Paulinho Serra como personagem desta ação mais longeva de curadoria de uma administração pública no Grande ABC se prende a vários aspectos desafiadores. 

Primeiro, Paulinho Serra dirige o Município mais desindustrializado do Estado de São Paulo nos últimos 50 anos e, pior que isso, jamais se deu conta disso. Despreza o Desenvolvimento Econômico como plataforma de novos e esperados tempos. Ou seja: Paulinho Serra é um fracasso na disseminação e na aplicação de políticas estratégicas voltadas à recuperação de Santo André.  

Segundo, Paulinho Serra é o prefeito mais incensado pela mídia regional, num conluio que ultrapassa o limite do positivismo que alguns usam a bel-prazer. Chega a ser um deboche a política de relacionamento e de conteúdo da gestão Paulinho Serra na mídia da região. Paulinho Serra entende que não existe espaço a críticas. Age o tempo todo como ditador tupiniquim.  

SÓ CAPITAL POLÍTICO  

Terceiro, Paulinho Serra abdicou de realizar gestão concentrada nas dificuldades econômicas e sociais de Santo André e abriu alas a uma algazarra político-eleitoral determinado a elevar o capital político.  

Quarto, Paulinho Serra é o mais entusiástico industrializador de marketing do vazio, que corresponde àquilo que poderia ser resumido dessa maneira: o importante é produzir meias verdades e mentiras inteiras porque tudo estaria dominado e jamais sua gestão seria colhida em flagrantes delitos. Mentiras e meias-verdades, portanto, não têm limites éticos.  

Quinto, Paulinho Serra age à frente da Prefeitura tendo em vista o descaso quase generalizado com políticas do amanhã sustentável. Prioriza ações imediatistas, de fácil alcance junto à mídia, mas sem laços fortes com o futuro.  

CONDOMÍNIO MUNICIPAL  

Sexto, Paulinho Serra age com desenvoltura no campo minado da ética e da responsabilidade social convicto de que conta com suficiente cobertura dos poderosos de plantão, que o manteriam a salvo de qualquer constrangimento legal.  

Sétimo, Paulinho Serra transformou a Prefeitura de Santo André em condomínio de mandachuvas e mandachuvinhas cujos interesses passam longe dos objetivos naturais de uma administração direcionada ao futuro. Repartiu os poderes internos com grupos pantagruélicos que enxergam a gestão pública como finalidade a objetivos pessoais e grupais -- jamais e para valer em direção à sociedade.  

Oitavo, Paulinho Serra preferiu caminhar pela estrada surrada de um conservadorismo que ajuda a explicar a situação de marginalidade econômica e social de Santo André. Em cinco anos de mandato foi incapaz de organizar algo que possa ser chamado de inovação prática, de campo, de resultados, não nas planilhas e projetos que não ultrapassam os limites de virtualidades ou mesmo que na prática são incipientes ante desafios que se acumularam ao longo de décadas.  

VELHOS CACIQUES  

Esses são o que chamaria de macroeixos da gestão de Paulinho Serra, espécie de guarda-chuva que norteará a edição especial deste oito de abril.    

O ambiente de Santo André tem-se tornado propício a anomalias administrativas com Paulinho Serra à frente da Prefeitura. Anomalia no sentido de que o chefe do Executivo teve a oportunidade, a partir do primeiro dia do mandado inicial, em janeiro de 2017, de descolar-se dos antecessores e aproximar-se do legado de Celso Daniel.  

Qual nada: Paulinho Serra optou por direção inteiramente antagônica ao bom senso. Cedeu espaço ao proselitismo político e a um modelo de gestão dos velhos caciques.  

Um jovem-velho, eis o que é Paulinho Serra na direção da Prefeitura de Santo André.  

RUIM DE GOVERNO  

Reeleito com 48% dos votos disponíveis em Santo André, Paulinho Serra é mais uma comprovação de que as urnas não são sinônimos de competência.  

Basta, como foi o caso do titular do Paço Municipal, estruturar ação monolítica rumo às urnas, articulando amplos apoios e reciprocidades, e tudo estará resolvido.  

Os caciques políticos bons de voto e ruins de gestão formam exércitos em todos os quadrantes do País. O populismo que se vê por aí não é diferente do populismo que se encontra aqui.  

Não se pode esquecer que, para controlar Santo André, basta a quem está no poder Executivo articular concessões e dominar a sociedade como um assalto ao trem pagador da obscuridade informativa.  

Santo André conta com mais de 30% da População Econômica Ativa fora do próprio território durante os dias úteis. Gente que trabalha em outros municípios. Gente que desconhece completamente o que se passa no local em que mora. Uma massa de manobra ou de silenciamento fácil de ser conduzida.  

POPULAÇÃO EVASORA  

Outro ponto que ajuda a explicar o sucesso eleitoral de Paulinho Serra em Santo André, além da População Econômica Ativa dissidente do território municipal, é a quebra da mobilidade social ditada pela desindustrialização. 

O que isso significa? Significa que cada vez mais gente que não trabalha fora do território de Santo André está sujeita direta e indiretamente aos poderes do Paço Municipal. Os bons empregos rareiam e a vulnerabilidade de potenciais lideranças se esgarça.  

Tanto que entidades de classe, na maioria dos casos (e isso se repete na região) é formada por gente que não se livra dos tentáculos do Paço Municipal. São filiais do Paço.  

CAPITAL SOCIAL?  

A tradução sociológica disso tudo é que inexiste ou é rarefeito o capital social em Santo André. A opinião pública é soterrada pela opinião publicada ou pelo desinteresse provocado pela fuga de cérebros e de mão de obra.  

Santo André é uma obra de desindustrialização agressiva que afeta as relações sociais como poucos endereços.  

Alguns espertalhões enchem o peito e batem tambores em elogios à capacidade de gerar cidadania de uma sociedade que de fato é amorfa.  

O elogio improcedente tem objetivo maquiavélico de transmitir a cada cidadão a ideia de que está cumprindo os deveres que lhe cabe como contribuinte e eleitor, entre outras funções, mas, no fundo, pretende-se mesmo novas doses de anestesiamento ou de congelamento.  

Domar a sociedade amorfa é fácil quando o Poder Público é avassalador.  

GESTÃO MEDÍOCRE  

Sem oposição político-partidária sequer capaz de se organizar, o que se verifica em Santo André é uma acentuada avalanche de mandonismo de partido único, totalitário. Imperam o mandonismo, o autoritarismo e o maquiavelismo de um Paço Municipal que distribuiu bananas metafóricas a uma sociedade em larga escala crente de que o infortúnio individual ou familiar é um obra exclusivamente pessoal ou familiar, quando, de fato, é estrutural.  

Basta ver o quanto Santo André desabou no ranking do PIB Per Capita neste século. Está na 114ª posição no Estado de São Paulo.   

Em síntese, a Análise Especial que apresentaremos amanhã é uma coletânea de textos que se sincronizam compulsoriamente. Afinal, a gestão de Santo André é tão previsivelmente medíocre quanto comprometedora. Vive de ensaios provincianos de um marketing mequetrefe.



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