Administração Pública

Mudar ou mudar

DANIEL LIMA - 30/04/2009

Aidan Ravin sabe que precisa mudar parte do time de secretários que montou às pressas, no calor da quase inacreditável vitória eleitoral de outubro passado. Não só sabe que precisa mudar várias peças como já decidiu que vai mudar, como anunciou, embora com cautela, que mudaria. Quem leu a entrevista que o prefeito de Santo André concedeu há algumas semanas ao jornal Repórter Diário sabe do interesse do petebista em acertar o time. Embora, propositalmente, em nenhum momento Aidan Ravin tenha se expressado com clareza, a interpretação daquelas frases e informações de bastidores bastaram para que este espaço antecipasse o que se planejava. Agora o cerco está apertando.


Aidan Ravin sabe que será impossível sustentar durante todo o tempo a estratégia diversionista de fabricar factóides um atrás do outro, enquanto, de fato, administrativamente, a máquina está emperrada. Essa operação-despiste se esgota como gelo ao sol.


Por mais que Aidan Ravin esteja convencido de que parte substancial da mídia lhe será sempre benevolente às críticas dos mais independentes, há perspectiva de ter o prestígio chamuscado com a inoperância operacional. As demandas sociais não têm paradeiro numa região que volta a sofrer com o refluxo econômico, porque sente na pele e na alma a doença holandesa da indústria automotiva.


Por isso, Aidan Ravin sabe que precisa trocar parte da engrenagem de recursos humanos de primeira linha que anunciou como secretariado. Aliás, está decidido a fazê-lo.
Só não o fez até agora por vários motivos, entre os quais o oba-oba da reportagem da revista Livre Mercado (sob o comando editorial do recuperador de impostos Walter Santos) que elevou à enésima potência de eficiência individual o secretariado então já na marca do pênalti. O tempo de validade do material supostamente jornalístico se esgotou antes mesmo que a publicação fosse às ruas. A entrevista de Aidan Ravin ao Repórter Diário foi publicada quando Livre Mercado ainda estava nas máquinas de impressão.


Não se pode exigir demais mesmo neste início de mandato de Aidan Ravin, mas também não se deve optar por comportamento oposto, de desinteresse total pelo que se passa com a administração pública em Santo André.


É verdade que o jogo do mandato mal começou, embora as pautas dos jornais sejam as mesmas de sempre, de sempre e de sempre. A velha e desgastada cronologia dos 100 primeiros dias estigmatiza ou glorifica temporária e precocemente os novos ou reeleitos mandatários.


De qualquer forma, já deu para a equipe de Aidan Ravin sacar que há gente no secretariado que não tem bola para participar dos clássicos que se esperam durante a extensão do mandato. Há embates pela frente não só no campo político eleitoral, mas sobretudo na confirmação ou na negação de que Aidan Ravin é de fato uma opção satisfatória para quem se cansou do PT, como sugeriram pesquisas que nortearam a definição de medidas oposicionistas à corrida eleitoral no ano passado.


Por enquanto, o que está mais explícito no governo de Aidan Ravin não é a produtividade de realizações, mas os holofotes de banalidades. Trata-se de uma ação de marketing quase padrão entre os prefeitos eleitos em praças do Estado de São Paulo onde o PT tem forte representatividade.


As marcas petistas precisam ser eliminadas para que não paire dúvida sobre a mudança de comando no Paço Municipal. O vermelho deve ser banido de instalações públicas. Preferencialmente substituído pelo azul. Palmeiras imperiais não podem resistir à troca por gramados. O programa de Orçamento Participativo deve ser lançado ao fundo do baú. Auditorias sob medida precisam ser divulgadas para descredenciar a gestão antecessora. Enfim, tudo que explicitamente ou mesmo subjetivamente tiver a conotação petista não pode resistir às mudanças. O mundo da política é assim mesmo. Cabe a quem tem obrigação de informar separar alhos de bugalhos.


É bom não esquecer jamais que, até o ano que vem, governo municipal que se preza e que tenha ambições de médio ou longo prazo, tem de estar de olho nas disputas à Presidência da República e ao governo do Estado. Os dois anos seguintes devem sim ser dedicados ao mandato propriamente dito.


O problema de Aidan Ravin é que descobriu que há pernas-de-pau na seleção que imaginou ter montado para dirigir Santo André. A admissibilidade de que errou tem um custo político, mas sempre será menor do que a manutenção de profissionais que não dão conta do recado e cujos limites técnicos se estendem indefinidamente, até comprometer toda a administração.


Não se pode esquecer, entretanto, que da lista de dispensáveis está um ou outro nome que sabe jogar o jogo de qualidade, mas não tem o relacionamento esperado com quem manda. E em política, isso é fatal.


Aliás, isso é fatal em qualquer situação corporativa porque, no fundo, no fundo, também no ambiente privado, ao contrário do que anunciam os anti-Estado, não faltam trambiques que muitas vezes sufocam a capacidade individual. A diferença é que no setor público quem paga a conta é o contribuinte, e no setor privado a bomba geralmente estoura na mão do acionista que cometer a burrice de acreditar no comprometimento geral e irrestrito da tropa contratada e em acionistas incompetentes ou espertíssimos.


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