Administração Pública

Um apelo ao prefeito Paulinho
Serra: pare de mentir ao povo

DANIEL LIMA - 20/06/2022

Caro prefeito Paulinho Serra, me permita duas considerações inadiáveis sobre as quais a sociedade consumidora de informação exige ser respeitada. Primeiro: pare de mentir. Segundo: parando de mentir, prometo que vou me limitar a escrever apenas sobre a mediocridade que o caracteriza como gestor.  

Está certo que uma coisa está ligada a outra, ou seja, as mentiras cabeludas ou discretas estão conectadas à pobreza técnico- intelectual do governo que o caro prefeito comanda, controlado por grupos de interesse igualmente medíocres. 

A dificuldade de conciliar uma coisa e outra como jornalista seria a mesma se qualquer profissional independente que desembarcar em Santo André, vindo de qualquer lugar sério do mundo, tomar conhecimento do que está fazendo há um bocado de tempo. 

NICHOS DE REAÇÃO  

Aliás, sobre a descoberta de que seu governo mente sem parar e não deixa de fazer um varejismo administrativo voltado às eleições desta temporada já há vários nichos consolidadamente críticos.  

Um governo medíocre chega ao extraordinário feito de despertar a cidadania violentada de uma região agora sobressalente em gataborralheirismo, porque à cultura analógica advém a escravatura digital. A cerca está se rompendo? Só o futuro responderá. 

O imperialismo da informação de viés único há muito tempo morreu. E está morrendo já há algum tempo também em Santo André. Agora só falta uma conjugação de alinhamentos críticos. Os nichos que já surgem contrário ao modelo da Prefeitura de Santo André é um alento, embora ainda escasso.  

BURRICE GERAL?  

Essa mania de achar que todo mundo é burro, que não enxerga o que se passa, é um dos primeiros sinais de arrogância ilimitada. Quando a arrogância ganha a estratosfera, tudo que é absurdo parece natural.  

Por isso apelo, caro prefeito: deixe de destilar mentiras. Mande seus marqueteiros terem um mínimo de compaixão com a cidadania em frangalhos em Santo André. Não tripudiem sobre a ignorância de alguns, a negligência de outros, e a sensibilidade ainda omissa da maioria.  

Vou direto ao ponto, embora transfira para amanhã o âmago dos dados: o anúncio de página inteira do Diário do Grande ABC de ontem, no qual sua Administração veicula informações ultrajantes para quem sabe que Santo André é há muito tempo uma nau sem rumo, também são informações que agridem a ética pública, transforma os moradores da cidade em bando de idiotas e muito mais. 

Mais respeito com Santo André, caro prefeito Paulinho Serra. Muito mais respeito. 

CARONA ELEITORAL  

O senhor pegou carona no período mais favorável a não só ganhar duas eleições em Santo André como, principalmente, a produzir uma gestão reformista.  

O desfalecimento do PT no Grande ABC, com recuperação parcial apenas nas últimas eleições municipais mas gravemente ferido sobretudo em Santo André, entregou de bandeja uma cidade cujo perfil de decadência seria a mais extraordinária possibilidade de construção de pontes, quebrando uma escalada de empobrecimento longeva.  

Conversamos sobre isso antes do caro prefeito assumir, o senhor se lembra? Essa conversa foi transformada aqui, neste endereço independente, em espécie de agenda psicossocial de sua gestão. O senhor, caro prefeito, preferiu fazer vistas grossas. Mais que isso: gataborralheirizou a administração.  

COMO ANTECESSORES  

Meteu-se, como se sabe, na mesma trilha de antecessores. Enquanto Santo André afunda faz 40 anos, comprovadamente por dados estatísticos e também por quem sai às ruas sempre entupidas de uma logística insana, o senhor mantém o discurso político-eleitoral, agora terceirizado à dona Carolina.  

Que fez o senhor, caro prefeito? Deixou-se levar por uma confraria de inúteis, para não dizer outras coisas, e há mais de cinco anos está à frente da Prefeitura como se dirigisse um calhambeque sem charme.  

Um Jovem Velho administrador é o que temos na cidade. Com todos os vícios dos políticos mais abomináveis que esse País ainda produz, sem ter qualquer virtude dos novatos ou daqueles mais experientes que resistiram às tentações de cargos e outras coisas tão conhecidas que a Operação Lava Jato, agora demonizada, cansou de mostrar e provar.  

MENOS MENTIRAS  

Tenho muito o que escrever sobre a regionalidade do Grande ABC em todos os sentidos da especialidade, mas o caro prefeito tem-me obrigado a ocupar tempo demais com incompetência, desaforos, cinismo e falsa liderança.  

Falsa liderança sim, porque aqueles que estão no seu entorno é que dominam a cena. O entorno é apenas uma formalidade dissimuladora. O caro prefeito não passa de um fantoche nas mãos daqueles que, espertos, tomaram o poder sem conquistar um único voto nas urnas.  

São agentes estranhos ao Paço Municipal, além daqueles agentes públicos, carcaças de imprestabilidade não estão no Paço Municipal. Muitos dos quais, aliás, com ramificações naqueles que são agentes estranhos ao Paço Municipal.  

E, verdade seja dita, o caro prefeito fez bonito nas urnas, tanto na primeira eleição quanto na segunda. Quase igualou em votos válidos, na segunda, o desempenho eleitoral de Celso Daniel em 2000. Seria uma heresia a ultrapassagem, mesmo que admitida por conta de cenários macroeconômicos e micropolíticos bastante diferentes. 

DIFERENÇA ABISSAL  

O que difere Celso Daniel das urnas de 2000 e o caro prefeito das urnas de 2018 é que o petista que via o Grande ABC ecumenicamente quando a regionalidade estava em pauta não se curvou jamais às forças locais de pressão.   

Mas vamos ao que interessa: vou publicar amanhã, com dados sólidos, as razões que me levaram a afirmar categoricamente que sua administração é mentirosa. Mentirosa, mentirosa e mentirosa.  

Não é de hoje, ou do anúncio de ontem, claro, mas agora as digitais são claras e evidenciam o desastre que é deixar-se submeter por forças ocultas e incultas. 

Para não esticar muito a conversa, caro prefeito incapaz de dar um mínimo de horizonte de que Santo André tanto carece (a 114ª posição no ranking de PIB Per Capita no Estado de São Paulo parece não incomodar a ninguém no Paço, tanto quanto a derrocada industrial que vem do passado), sugeriria que siga uma sugestão que tem tudo a ver com aquela nossa conversa antes da posse em 2017, logo após a consagração das urnas.  

ENTREVISTA ELUCIDATIVA  

Lembra-se que lhe disse que a melhor maneira de fazer de Santo André uma nova experiência de sucesso administrativo (nada que chegasse próximo a Celso Daniel, claro, mas que demarcaria novos tempos) era jogar limpo com a sociedade?  

Como jogar limpo? O caro prefeito deve se lembrar que não se poderia tergiversar sobre a realidade econômica e social da cidade, de resto do Grande ABC, depois de décadas de perdas sucessivas de musculatura.  

Em suma, Santo André precisava que o novo prefeito, um jovem prefeito, um prefeito que mesmo de passado obscuro como vereador poderia, até por isso mesmo, tornar-se uma sensação, Santo André precisava, repito, dar uma guinada.  

MOSTRAR A REALIDADE  

Dar uma guinada significa falar a verdade ao povo, às instituições, ao diabo a quatro. Mostrar com dados históricos que a missão de recolocar o Município numa rota de desenvolvimento econômico exigiria atenção, desprendimento e determinação das forças pulsantes. 

Qual nada, caro prefeito. O senhor preferiu cair no conto de vigaristas sociais que só retiraram de Santo André o que ainda sobra de grandeza. Deu no que deu: de Viveiro Industrial passamos à degradante plataforma de Viveiro Assistencial. Tudo com finalidade político-eleitoral. 

DADOS COMPROMETEDORES  

Os dados que compartilharei amanhã com os leitores – e que tratam da página inteira de propaganda no Diário do Grande ABC– são mensuráveis e consolidadamente verdadeiros como contrapontos identificadores de mentiras deslavadas e publicadas.  

Mais que isso: os dados deixarão o seguinte recado para quem, como este jornalista, não acredita nas informações da Administração de Santo André: cuidado para não comprar gato por lebre em tantas outras numeralhas que frequentam páginas de jornais de papel e digitais com assiduidade orquestrada como peças publicitárias marotas. 

Talvez seja interessante ao caro prefeito (e posso lhe enviar o material assim que o desejar) assistir à entrevista coletiva do técnico Vitor Pereira, português que o Corinthians contratou na esperança de disputar apenas e olhe lá o quarto lugar no Campeonato Brasileiro.  

Sei que o caro prefeito torce para outro time, mas jamais perco a oportunidade de ouvir coletivas de treinadores de futebol no calor dos acontecimentos para traçar linhas de verossimilhanças com muita coisa da vida fora dos gramados.  

Abel Ferreira, do Palmeiras, é um deles. Rogério Ceni, mesmo sem empatia, também. Tite é sempre um show, embora empolado.  

EXEMPLO PRAGMÁTICO  

Pois assista o que Vitor Pereira disse a respeito do time do Corinthians. Mais que isso: faça uma conectividade com o tempo e volte àquele nosso encontro de 2016, antes de tomar posse, numa das poucas vezes em que nos encontramos (acho que foram mais cinco, no máximo, ao longo de cinco anos e meio, e todas decepcionantes).  

Assista, caro prefeito, o que disse o treinador do Corinthians. Quanto conhecimento, sinceridade, clareza, objetividade e tudo o mais que não estamos mais acostumamos a ouvir nesses tempos chatíssimos do politicamente correto e de servilismo estonteante da mídia.  

E não esqueça: amanhã vou destroçar a peça publicitária vergonhosa que o senhor mandou publicar. Parece pouca coisa aquilo que foi divulgado, mas expressa claramente o jeito irresponsável de lidar com questões viscerais de Santo André. 

Senhor prefeito, por favor, pare de mentir ao povo. E aproveite para, juntamente com os leitores, ler abaixo um dos textos em que tratei da melhor forma de lidar com uma cidade decadente que passaria a contar com novo prefeito. Um prefeito jovem-velho.   

 

Paulinho Serra sabe que Santo

André é uma grande encrenca 

 DANIEL LIMA - 24/11/2016

 

O prefeito eleito de Santo André sabe o tamanho da encrenca que o espera a partir de janeiro próximo. O diálogo que mantivemos durante quase uma hora, no escritório que ocupa no Bairro Jardim, não foi um voo rasante. Preferimos voo panorâmico. É impossível ir a detalhes durante tão pouco tempo. Mas a conversa foi suficiente para arrancar do novo prefeito uma promessa importante. Trata-se do seguinte: Paulinho Serra não vai mais falar de Santo André com o entusiasmo típico de quem ganhou a eleição mais fácil da história, mas sim com a preocupação de quem sabe que a herança maldita das últimas administrações e o encalacramento econômico da ex-capital econômica da Província do Grande ABC são desafios demais para enfrentar durante pelo menos quatro anos. Exibir sorriso a todo instante soaria alheamento.   

MAIS 2016  

O ambiente econômico e social de Santo André não permite o que chamaria de tom comemorativo nas declarações de qualquer agente público ou privado. Até mesmo em respeito aos concidadãos de um Município órfão industrial e capenga nos setores de serviços de baixo valor agregado. Quem está a festejar muito é uma minoria de ricos com a vida resolvida e também um bando de hienas que riem da própria desgraça. Paulinho Serra precisa ser austero inclusive na postura pública. Paulinho Serra custou a admitir na conversa informal haver desfilado sorrisos de dentifrício famoso nos dias sequenciais à vitória. Negou que houvesse transformado a gestão de Santo André em algo sem maiores conotações de desafio.  

MAIS 2016  

Mas aos poucos o diálogo foi avançando de modo que pude perceber no novo prefeito uma característica que possivelmente o auxiliará a domar as feras que pretendem prendê-lo a um figuro conservador e improdutivo. Paulinho Serra aparenta saber sair de uma pergunta prospectiva incômoda sem levar ao interlocutor a ideia de que seja arrogante. Não gosto e não pretendo estabelecer comparações entre Celso Daniel e Paulinho Serra como de vez em quando o prefeito tucano parece estimular. Mas há entre eles, separados no tempo, no espaço e no ambiente, algo que poderia ter alguma semelhança e que supostamente auxiliaria o próximo prefeito de Santo André a dar um nó nas dificuldades mais prementes: como Celso Daniel, Paulinho Serra parece ter vocação de deixar para depois questão à qual não estaria preparado para responder de imediato. 

MAIS 2016  

Se Paulinho Serra não sabe mesmo é bom, portanto, que saiba que Celso Daniel dava sempre um jeito de deixar para depois uma eventual decisão que haveria de tomar porque a demanda sobre um chefe de Executivo municipal é intensa. Responder de imediato pode ser armadilha a erro de avaliação apressada. O que poderia sugerir segurança traveste-se, portanto, de irreflexão. Quem me contou essa característica de Celso Daniel foi Sérgio Gomes da Silva, o bom amigo que perdi materialmente, mas que está vivo nas minhas lembranças como a segunda maior vítima do assassinato do prefeito. Sim, o Sérgio Gomes da Silva a quem foi imposto malandramente o codinome de “Sombra” para incriminá-lo judicialmente e ante a opinião pública. De fato, Sérgio Gomes era mais conhecido entre os grupos de amigos do PT como “chefe” do que como “Sombra”. Mas isso é outro assunto. 

MAIS 2016  

Sérgio Gomes foi-se embora outro dia mas me contava sorrindo, nas muitas tardes que convivemos em seu apartamento, em Santo André, que Celso Daniel era um sujeito esperto e tranquilo o suficiente para não se meter em enrascadas de compromissos que eventualmente não poderia cumprir. O “sujeito” da frase anterior era sempre usado por Sérgio Gomes, um homem tão inteligente e debochado que seus detratores nem imaginam o quanto era rico em sabedoria. Misturo as tardes com Sérgio Gomes e o a conversa informal com Paulinho Serra porque acho importante o novo prefeito de Santo André compreender o jogo do poder. Uma coisa é ser vereador, outra é ser prefeito. Paulinho Serra já deve ter sentido parte da diferença nesses dias pós-eleições. Deixar para amanhã o que não se pode resolver hoje é estratégia autopreservativa.  

MAIS 2016  

Por isso mesmo Paulinho Serra não poderia ter dito ao Diário do Grande ABC como disse logo após as eleições que Santo André não perdeu praticamente nada economicamente nos últimos tempos, depois da duríssima desindustrialização de mais de duas décadas. Também não poderia ter falado, porque comete um erro pré-gerencial, que daria preferência a titulares político-partidários nas secretarias, mantendo como adjuntos profissionais técnicos. Aliás, especificamente sobre esse assunto nós não tratamos. Veio-me à mente agora. Se Paulinho Serra precisar acomodar muito político em cargos técnicos teremos a clara sinalização de que vendeu a alma para ganhar uma eleição facílima. Como, aliás, apontei aqui nesse espaço logo após a disputa do primeiro turno. 

Sobre o secretariado, o prefeito eleito de Santo André desconsiderou de imediato a lista de nomes que o Diário do Grande ABC publicou outro dia. Sem entrar em detalhes, assegurou que se trata de abstração. Menos mal, porque a maioria dos apontados colocaria a Administração do tucano a um passo da degringolada. Paulinho Serra sabe que Santo André perdeu muito e continua a perder na medida em que mesmo eventualmente com dados econômicos congelados acaba por comer poeira porque outros concorrentes, no caso municípios, seguem alargando a diferença.  

MAIS 2016 

O que retirei de Paulinho Serra naquele, sem ferir a condicionalidade de manter a conversa no compartimento de of-the-record é que ele vai apagar totalmente ou quase totalmente as digitais que deixou durante o período em que atuou como secretário de Mobilidade Urbana de Santo André. Paulinho Serra sabe que foi um secretário muito aquém do desejável. Ele entrou na onda petista, sobretudo do prefeito paulistano Fernando Haddad, de criar corredores e faixas de veículos, privilegiando o transporte coletivo em detrimento dos de passeio e caminhões. 

MAIS 2016 

Deu-se mal Paulinho Serra porque Santo André faz parte da Província logística do Grande ABC enquanto a Capital de Fernando Haddad tem respaldo do ex-prefeito Faria Lima, nos anos 1960, em formas de radiais que facilitam o sistema viário. Não fosse a Capital do Estado vítima preferencial dos bandidos imobiliários conjugados com os bandidos públicos que permitiram a construção de selvas de pedra sem critérios abrangentes de qualidade de vida, teríamos um centro de metrópole de dar gosto.  

MAIS 2016 

Não que faltem bandidos imobiliários e bandidos públicos nos escaninhos dos poderes municipais em Santo André e na região. Aqui o problema maior, que não exclui o suplementar da exploração indevida de uso e ocupação do solo, é que não existe infraestrutura física para um salto rumo ao futuro que, goste-se ou não, há disponível na Capital planejada no século passado. Corredores e faixas de ônibus, portanto, só poderiam dar no que deu: um imenso furo nágua.



Leia mais matérias desta seção: Administração Pública

Total de 813 matérias | Página 1

15/10/2024 SÃO BERNARDO DÁ UMA SURRA EM SANTO ANDRÉ
30/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (5)
27/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (4)
26/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (3)
25/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (2)
24/09/2024 Quem é o melhor entre prefeitos reeleitos? (1)
19/09/2024 Indicadores implacáveis de uma Santo André real
05/09/2024 Por que estamos tão mal no Ranking de Eficiência?
03/09/2024 São Caetano lidera em Gestão Social
27/08/2024 São Bernardo lidera em Gestão Fiscal na região
26/08/2024 Santo André ainda pior no Ranking Econômico
23/08/2024 Propaganda não segura fracasso de Santo André
22/08/2024 Santo André apanha de novo em competitividade
06/05/2024 Só viaduto é pouco na Avenida dos Estados
30/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (14)
24/04/2024 Paulinho Serra segue com efeitos especiais
22/04/2024 Paulinho Serra, bom de voto e ruim de governo (13)
10/04/2024 Caso André do Viva: MP requer mais três prisões
08/04/2024 Marketing do atraso na festa de Santo André