Administração Pública

Santo André tenta conciliar
três almas rumo ao futuro

DANIEL LIMA - 01/08/2022

Santo André é uma cidade de três almas distintas que se confundem, que trocam cotoveladas em busca de novos espaços em conjunto e que também se retroalimentam em sincronia rumo a um futuro menos complexo, em 2053, quando se comemorarão 500 anos de fundação.  

O fantasma de 40 anos de perdas precisa ficar definitivamente no passado, interrompendo-se um circuito de prejuízos. A multitarefa que isso representa exige vigorosas transformações.  

Da economia analógica à economia digital passando pelo humanismo de políticas públicas dirigidas aos excluídos sociais, o que espera ou o que envolve Santo André é uma imensidão de desafios.  

CALDÃO DE PROBLEMAS  

O prefeito Paulinho Serra tem consciência disso e admite que não dá mais para adiar. É preciso imprimir ritmo mais célere à Administração para combater a exclusão social, para incrementar o setor de produção industrial e as atividades de serviços para surpreender no uso de tecnologia de última geração como ferramenta matricial de suporte administrativo. 

Paulinho Serra não só admite como lamenta que no primeiro mandato não tenha podido pegar pelo chifre da emergencial econômica as crises herdadas de uma Santo André quase em chamas. 

O prefeito eleito em outubro de 2016 sabia e estava informado: Santo André se tornou um caldeirão de deficiências estruturais que vieram do passado que mudanças internas e externas impuseram em forma de quebra da qualidade de vida.  

HERANÇA E PANDEMIA  

Paulinho Serra explica que passou o tempo todo daquela etapa de quatro anos apagando incêndios de antecessores. Santo André era uma casa da sogra gerencial e financeira, analisa o titular do Paço Municipal.  

Paulinho Serra lamenta também que tenha nos dois últimos anos corrido atrás de uma bola de complexidades, no caso a pandemia do Coronavírus.  

O vírus com variantes insistentes tirou o foco de tudo que não fosse a saúde pública. Impôs-se diante da debilidade contínua de uma Santo André que, como São Bernardo, na da região, mais perdeu nacos importantíssimos de participação relativa e absoluta do bolo de repasses do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), uma das métricas denunciadoras do estágio econômico dos endereços municipais.  

HORA DA VIRADA  

Agora, garante Paulinho Serra, ninguém vai segurar a Santo André com que sonha no projeto 500 Anos. Faça chuva de eventuais novas surpresas desagradáveis em qualquer campo de atividade, faça sol de possíveis contratempos igualmente insondáveis ou não, as metas definidas em direção ao futuro comemorativo não serão mais relativizadas.  

Como é jovem, Paulinho Serra tem todo o potencial para de chegar à reta de chegada da proposta de mudar a Santo André que encontrou em 2017, quando assumiu a Prefeitura.  

Paulinho Serra teria um pouco mais de 80 anos quando Santo André festejará 500 anos.  

TAREFAS COMPLEXAS  

A quem está numa escala biológica contra o relógio, só resta torcer para que a expectativa de vida seja superada. As futuras gerações de Santo André vão poder responder com propriedade o que será dos próximos 33 anos. Poucos dos cinquentões de agora terão essa possibilidade.  

Não são tarefas fáceis a que estão aí. Santo André é um dos municípios brasileiros mais impactados pela desindustrialização e de consequências sociais decorrentes da perda de vitalidade econômica. 

As três almas de Santo André em mutação permanente e que se debatem em águas desafiadoras, quem sabe para se fundirem no futuro, estão em campos distintos, mas inevitavelmente conectados na mesma estrutura.  

TODOS OS VIVEIROS  

A alma materialmente visível e escrutinada é o enfraquecimento industrial. A grandeza em forma de Viveiro Industrial está comprometida sobremodo por conta das duas últimas décadas do século passado.  

A insurreição contra o empobrecimento fez brotar o Viveiro Assistencial que salta do organograma formal em busca de respostas que amenizem a exclusão social.  

E a vitalidade intangível do Viveiro Digital agiganta-se em forma de uma força-tarefa de executivos públicos que trabalha intensamente para conectar a alma material e desativar a bomba social.   

As próximas três décadas que separam os 500 Anos do Município serão decisivas no século. Santo André de Paulinho Serra acredita que está em velocidade mais forte em relação às concorrências municipais no capítulo digital. No ataque frontal à pobreza também botou o time em campo. E nas atividades econômicas, sobretudo industriais, espera reduzir ainda mais o ritmo de perdas neste século, e obter uma reviravolta com a tecnologia digital abrangente na área de serviços de valor agregado.  

DÉCADAS DECISIVAS  

O superintendente de Planejamento e Assuntos Estratégico da Prefeitura de Santo André, Pedro Seno, mestre em Políticas Públicas pela USP, é um entusiasta dos 500 Anos. Ele afirma que o modelo de gestão e a estratégia de desenvolvimento que implantou em Santo André mostra que está no caminho certo.  

Numa publicação recentemente produzida com a finalidade de divulgar a Santo André que se estaria construindo, Pedro Seno disse também que nos últimos quatro anos modernizou os sistemas de abertura e licenciamento de obras, agora totalmente digitais. “Também evoluímos nas legislações municipais e melhoramos diversos processos internos, sendo destaque o licenciamento em telecomunicações, permitindo que Santo André seja pioneira na instalação do 5G no país”. 

O secretário Pedro Seno diz também que Santo André foi considerada o melhor endereço do País, dentre as não capitais, para investimentos em franquias. “Recebemos reconhecimentos com o Prêmio Sebrae Prefeito Empreendedor, ensinando empreendedorismo nas escolas da rede municipal.  

O secretário também lembra que Santo André ganhou o título nacional no Ranking de Serviços das Cidades Inteligentes promovido pelo SindiTelebrasil, que identifica os municípios brasileiros com a maior oferta de serviços inteligentes para o cidadão.  

PARQUE TECNOLÓGICO 

A menina dos olhos do secretário e dos profissionais que o assessoram é o Centro de Inovação do Parque Tecnológico, que abrigará fisicamente o ecossistema local de inovação, espaço para eventos e exposições, laboratórios de qualificação e coworking municipal.  

O relatório de atividades da superintendência dirigida por Pedro Seno é denso, mas não se pode colocar a Santo André Digital em proporção de resultados semelhantes à da Santo André Econômica e a Santo André Assistencial. São escalas diferentes. Há natural descompasso entre os três vértices, que formam um triângulo escaleno.  

SALVANDO A LAVOURA  

Mas há consequente tendência de recomposição ocupacional dessa mesma figura geométrica. O lado mais emergente, de recuperação econômica, poderá promover alterações relativas nos outros dois. 

A Santo André Digital é a salvação da lavoura para atenuar o peso relativo e prevalecedor da Santo André Analógica e da Santo André Assistencial.  

A herança maldita da desindustrialização de Santo André, sobretudo na última década dos anos 1990, está no amontoado de pobres e miseráveis e na quebra da dinâmica econômica que atingiu em cheio a classe média tradicional e também as famílias ricas.  

ANOS DE CHUMBO  

Os oito anos da presidência da República de Fernando Henrique Cardoso foram reestruturastes para o Estado, mas Santo André sofreu demais com a destruição de pequenas industrias familiares, sobremodo no setor metalúrgico.  

Privilegiaram-se as grandes empresas no campo tributário em detrimento das pequenas. As autopeças familiares viraram pó ou escafederam. Já escrevemos muito sobre isso. 

O rapa na grade econômica familiar não se concentrou em Santo André neste século, como rescaldo dos estragos no século passado, mas é expressivamente inquietante.  

MOBILIDADE REGRESSIVA  

Em 1999, último ano do século passado, Santo André contava com 68.819 famílias classificadas como ricas e de classe média, o que representava 39,95% do total. Neste 2022, ricos e classe média são 89.422, o que representa 35,18% do total de 254.164 moradias. O ganho em números absolutos não se reproduz na participação relativa. A mobilidade social ascendente, portanto, acabou. Mais que acabou: regrediu. 

Um ponto importante nessa equação é que as famílias de classe rica e de classe média de Santo André não são totalmente dependentes da estrutura do Município.  

RIQUEZA FORA  

Diferentemente da aferição do PIB (Produto Interno Bruto), a medição de riqueza familiar em forma de potencial de consumo se dá independentemente do local da atividade profissional dos moradores. Calcula-se que pelo menos um terço da população economicamente ativa de Santo André atua fora do Município.  

Se o confronto entre o ponto de partida do último ano do século passado e 2022 restringir-se apenas às famílias ricas, a Santo André do fim do século passado contava com 11.188 residências de Classe A, enquanto neste 2022 o total segue semelhante, com 11.881 moradias.  

A diferença é que em 1999 os ricos representavam 6,49% das moradias, enquanto que nesta temporada não passam de 4,70%. Uma queda relativa de 27,58%. 

RIBEIRÃO DE EXCLUÍDOS  

Já a parcela de pobres e miseráveis, que exigem atenção especial do Fundo Social do Município e incrementa a atuação formalizada de 119 entidades assistenciais, impacta 15,2% do total das moradias nesta temporada, com um contingente de 38.598 famílias.  

Os números representam que Santo André conta com o equivalente a uma Ribeirão Pires inteira a ser cuidada só no campo da exclusão social.  

Em 1999 eram 39.824 famílias. Em termos relativos, representavam mais do que agora (23,12% ante 15,50%), e isso se deve a uma série de pacotes de benefícios de diversas esferas do Estado, inclusive no âmbito municipal. Políticas públicas amenizam, mas não eliminam, o processo de empobrecimento. 

POR HABITANTE  

Talvez a melhor métrica para demonstrar o que Santo André sofreu desde muito tempo como consequência direta da dinâmica econômica então fortemente dependente do setor de transformação industrial seja mesmo a riqueza per capita.  

Em 1999, em valor nominais, cada morador de Santo André contava com R$ 6.341,64 mil para gastar. Neste 2020 são R$ 38.729,21. A média nominal de capacidade de consumo por habitante no Brasil, no mesmo período, saltou de R$ 3.491,41 mil para R$ 26.262,62 mil. Um crescimento nominal de 639,32%.  

Ou seja: o potencial de consumo por habitante do Brasil na virada do século representava 55,05% da média dos moradores de Santo André. Já neste 2022 a participação relativa da média nacional saltou para 67,81%.  

Não custa lembrar que a média nacional esconde dezenas de municípios que empreenderam reviravolta econômica e registraram crescimento do poder de consumo muito além disso.  

HERANÇA MALDITA  

Há inúmeros indicadores econômicos e mesmo sociais, além de tributários. Todos foram herdados pelo prefeito Paulinho Serra e exigem medidas corretivas que o mundo digital combinado com inquietações sociais sistematizadas de combate à desigualdade social poderá empreender.  

Na medida do possível e do necessário, situação que pode ser traduzida como improrrogável, CapitalSocial pretende traduzir em forma de políticas públicas não só em Santo André, mas nos demais municípios da região, igualmente ou não abalados pelas transformações determinadas pela queda da produção industrial.  

MAIS PROGRAMAS  

A experiência de acompanhar o enfrentamento da quebra do dinamismo regional tendo políticas econômicas como centro de operações é uma oportunidade tão excepcional quanto a vivida na última década do século passado, quando emergiu a regionalidade institucional do prefeito Celso Daniel.  

As três almas distintas e escalenas de Santo André se reproduzem em outros endereços municipais da região, mesmo que em proporções e combates diferentes.  

Pretendemos revelar todos esses desafios com as cores nítidas de diagnósticos e terapias sensíveis que estariam sendo aplicadas com responsabilidade social.  



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