Se houvesse nestas alturas do campeonato uma campanha de marketing para incentivar o voto regional nas eleições proporcionais de outubro, e levando-se em conta a situação institucional em que nos encontramos, não teria dúvida em recomendar como mote a manchetíssima acima.
A manchetíssima é incisiva ao chamamento regional e estimulativa às consequências do ato.
Chamamento à regionalidade é um de meus pontos fracos, não nego jamais. Já o fiz tantas vezes e o farei muito mais ainda porque a vida é longa.
Foi por conta disso que em 1994, quando surgiu o Fórum da Cidadania com a roupagem de quantificação e qualificação dos concorrentes à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal, não tive dúvidas em apanhar um punhado de panfletos e os distribuir nas esquinas de Santo André.
OTIMISMO COMEDIDO
Não seria, portanto, agora, que deixaria escapar pela lateral uma bola que, ao dominá-la, posso enfiar a um atacante que está livre, leve e solto correndo em direção à entrada da área, tal qual faz o Palmeiras 300 vezes por jogo com resultados especulares.
É claro que não espero resultado espetacular algum como desdobramento do voto regional, porque estamos dominados por uma cultura da mesmice. Estou vacinadíssimo.
Vamos desprezar por questão emergencial tudo que deveria ser acondicionado como cidadania para alcançar pragmaticamente o objetivo do voto regional.
“O resto a gente resolve depois” foi plasmado como complemento de incentivo ao voto regional porque se a gente pensar muito acaba tendo escassas opções e os votos daqui vão voar em direção a votos a candidatos que aqui mal fazem paragem.
CUSTO E BENEFÍCIO
Ou seja: é melhor carregar no peito a possibilidade de cobrar de quem está próximo do que ter de engolir forasteiros.
Vamos votar regionalmente porque o resto que a gente resolve depois não é muito diferente de jornadas épicas nesse sentido na região e que, tristeza, praticamente significaram frustração quanto à pauta econômica (de consequências sociais) no Grande ABC.
A fragilidade institucional do Grande ABC se acentuou desde a morte de Celso Daniel e agora está no bico do corvo porque aos divisionismos municipalistas já tradicionais se acrescentaram relacionamentos pessoais desgastados entre alguns chefes de Executivo.
Paradoxalmente, há uma vantagem que poucos admitirão, mas é impactante quando se verifica que a regionalidade foi de vez para o espaço.
Desta vez, sejam quantos forem os candidatos eleitos no Grande ABC, não ficaremos frustrados com a inapetência histórica de desprezo a questões que chamo de atacadistas.
O varejismo vai seguir em frente como, aliás, com alguma exceção aqui e ali, viceja entre os prefeitos atuais e antecessores.
Temos atualmente uma representação na Assembleia Legislativa de acordo com o tamanho participativo do eleitorado do Grande ABC no Estado de São Paulo.
Contamos com perto de 6% dos eleitores e somamos seis deputados. Nada despudorado.
UM TERÇO A MAIS
Mas podemos ter mais um terço do que temos se o que temos for mantido por conta das benesses legais do Fundo Eleitoral e dos trabalhos efetivados ao acrescentarmos candidatos protegidos por determinadas mídias.
Pelo andar da carruagem da intensa dedicação do prefeito Paulinho Serra à sua mulher, Carolina, Santo André provavelmente deixará de registrar mais uma temporada de vacância representativa na Assembleia Legislativa. Carolina Serra pegou uma vereda de fartura eleitoral em Santo André e ao que tudo indica sairá consagrada das urnas.
Que vereda pegou o que os conservadores chamam de primeira-dama? Ora, o lado cada vez mais proeminente de uma Santo André há quatro décadas em estado de depauperação econômica: o Viveiro Assistencial em que se transformou na exata medida do esvaziamento do Viveiro Industrial.
CARLA REELEITA?
Outra mulher, já deputada, Carla Morando, deverá deixar o marido Orlando Morando mais que satisfeito após a disputa de outubro. Vocacionada à política, Carla Morando não descobriu explicitamente o mesmo veio de Carolina Serra, embora o mercado de pobreza de São Bernardo não seja diferente do de Santo André. Mas Carla Morando faz um trabalho social amplo, entre outras incursões.
Talvez tanto para uma quanto para outra (e tanto para um quanto para outro) o que mais preocupa nesse momento pré-eleitoral é ir além da vitória em si.
O que estaria em disputa mesmo seria o número de votos de cada uma das mulheres dos prefeitos. Isso será ótimo na medida em que, supostamente eleitas, mantenham a concorrência em projetos e ações mais amplos em favor do Grande ABC.
THIAGO REELEITO?
Já em São Caetano, Thiago Auricchio, filho do prefeito, está em plena campanha também no Grande ABC como um todo e em outros municípios do Estado.
O colégio eleitoral de São Caetano é dividido e insuficiente à consagração de um concorrente local à Assembleia Legislativa. A ordem é botar o bloco na rua sem enxergar divisas territoriais porque o voto, assim como o choro e a alegria, é livre.
Há outras candidaturas locais que precisariam ser observadas com atenção porque podem surpreender.
Qualquer citação parecerá privilégio, mas não resisto a uma: Júnior Orosco, de automática indução a um trocadilho resolutivo, está a pleno vapor.
SEM ENROSCO?
Ex-marido e ex-conselheiro eleitoral e programático da ex-deputada estadual Vanessa Damo, Júnior Orosco está construindo uma teia de parceiros tanto na região quanto fora.
Quem pode garantir que Júnior Orosco não seja uma cota adicional retirada principalmente dos eleitores do Grande ABC?
Júnior Orosco concorre a uma vaga na Câmara Federal, onde faz presença já há algumas temporadas Alex Manente e Vicentinho Paulo da Silva.
O primeiro parece ter encontrado de vez seu lugar na política, já que não se abre uma brecha possível à Prefeitura de São Bernardo. O segundo é um fantasma regional. Ninguém o vê.
MARCELO LIMA
Outro que poderá aumentar a participação do Grande ABC em outubro, e com cadeira na Câmara Federal, é Marcelo Lima, vice-prefeito de São Bernardo.
Os 53 mil votos na disputa de 2018 não foram suficientes, mas agora, com a intensidade de exposição nas redes sociais e contando com parceira mais explícita de Carla Morando, numa dobrada tradicional da política, há indicativos de que pode mesmo chegar lá.
O que quero dizer mais uma vez e vou repetir é que não estou nada interessado necessariamente na cor do gato da qualidade dos candidatos da região nestas eleições, desde que cacem o rato da vitória nas urnas. Depois a gente resolve o problema.
E para resolver o problema não é preciso que o problema seja de fato resolvido, até porque desconfio com larga razão de que não seja, mas não custa ser insistente.
Com mais representação regional na Assembleia e em Brasília quem sabe o Grande ABC finalmente tome vergonha na cara político-institucional e descubra que a regionalidade físico-territorial-demográfica é uma vantagem e tanto à destruição inventiva de agendas que não saem do papel, partindo-se para o finalmente de mudanças?
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01/11/2024 PESQUISAS ELEITORAIS ALÉM DOS NÚMEROS (20)