Política

Você tem dado em casa? Então
deixe a malícia e faça esse teste

DANIEL LIMA - 30/08/2022

Acho que você entendeu a manchetíssima de hoje como um desafio. Para fazer o teste sugerido é simples: procure aquela peça de jogo de dado que você deve ter esquecido em alguma gaveta, tudo vai se resolver e a brincadeira valerá a pena. Um brinquedinho, melhor dizendo. Se não achar, mande comprar. Qualquer papelaria tem dado para vender.  

Lembrei do jogo de dado quando cheguei à conclusão de que há seis cenários preliminares a determinar o tamanho das possiblidades de Luiz Marinho voltar à Prefeitura de São Bernardo, em 2024. Todos os caminhos passam pelas eleições do outubro que está chegando.  

O cenário “Mais Que Perfeito”, o cenário “Perfeito” e o cenário “Ótimo” são, portanto, tridimensionais politicamente – todos favoráveis a Luiz Marinho. No jogo de dado, incorporariam os números 6, 5 e 4, respectivamente.  

Mas há outros três cenários em situações opostas. São os números 3, 2 e 1 do jogo de dado de cenário “Razoável”, “Preocupante” e “Desastroso”. Não esqueçam disso. Quem não dá bola ao dado não chega lá.  

A tridimensionalidade para cima e a tridimensionalidade para baixo retira a exclamação e coloca uma interrogação à frente do presidente estadual do PT e concorrente uma das 70 vagas de São Paulo na Câmara Federal. 

Simplificando a árvore genealógica político-eleitoral, vou traçar os seis cenários. Pensei em outra fórmula explicativa, mas pareceria complexa demais.  

Cada eleitor que lançar sequencialmente 10 vezes a mesma peça do jogo de dado em busca de um resultado persistentemente provável poderá constatar que se trata mesmo, ainda, de uma loteria.  

MAIS QUE PERFEITO 

O cenário Mais Que Prefeito (correspondente ao número seis do dado) é pouco viável. Dificilmente teríamos um caminhão de vantagens a Luiz Marinho. O petista teria que se eleger, teria que ver Fernando Haddad virar governador, teria que ver Lula da Silva virar presidente, teria que ver Marcelo Lima perder a eleição para a Câmara Federal e teria que ver Carla Morando deixando a Assembleia Legislativa. E ainda teria de acompanhar a derrocada da gestão de Orlando Morando nos dois últimos anos de segundo mandato a ponto de perder o destaque regional que vem obtendo. 

CENÁRIO PEFEITO 

Bastaria a Luiz Marinho eleger-se deputado federal, Lula da Silva presidente da República e Fernando Haddad governador para que o cenário fosse Perfeito (e o número cinco do jogo de dado dominasse). O restante de cenários que o contrariasse não teria a menor importância. 

CENÁRIO ÓTIMO  

Bastaria que Luiz Marinho se elegesse deputado federal e Lula da Silva virasse presidente da República para que o número quatro do jogo de dado tomasse conta do barraco real. As demais variáveis que o contrariasse também não teriam importância. 

CENÁRIO RAZOAVEL  

Bastaria que Luiz Marinho virasse deputado federal e Fernando Haddad governador do Estado para que o número três do jogo de dado prevalecesse. O restante que também o contrariasse não teria valor tão expressivo. Sobremodo porque o governo federal não estaria sob o controle do PSDB, adversário de um suposto vencedor Jair Bolsonaro.  

CENÁRIO PREOCUPANTE 

Bastaria que Luiz Marinho ganhasse a vaga de deputado federal e os demais resultados não lhe fossem favoráveis para que se incorporasse o número dois do jogo de dado. 

CENÁRIO DESASTROSO  

Bastaria que Luiz Marinho não se elegesse e que os demais resultados também lhe fossem comprometedores para se afirmar categoricamente que o jogo de dado contemplou o número um.  

CENÁRIOS CALCULADOS  

Se me perguntarem hoje sobre as possibilidades dos resultados dos seis cenários em relação à arremetida de Luiz Marinho rumo à Prefeitura de São Bernardo, diria o seguinte. 

1. Possibilidade de consagrar-se deputado federal: 95%. 

2. Possibilidade de vitória de Lula da Silva: 45%. 

3. Possibilidade de vitória de Fernando Haddad: 30%. 

4. Possibilidade de derrota do vice-prefeito Marcelo Lima: 25%. 

5. Possibilidade de derrota de Carla Morando: 10%.  

6. Possibilidades de um desastre administrativo de Orlando Morando nos dois últimos anos: 10%. 

CÔMPUTO GERAL 

No cômputo geral, entendo que, sempre tendo a fotografia do hoje como referência, Luiz Marinho poderá ter dificuldades em deixar a mais que certa cadeira na Câmara Federal e se meter na disputa municipal em 2024.  

Sem um padrinho estadual e, principalmente, ou exclusive, um padrinho federal, ou seja, sem Lula da Silva, principalmente, e Fernando Haddad, subsidiariamente, Luiz Marinho teria dificuldades imensas. As forças opositoras, como Orlando Morando, prefeito de plantão, tornariam a missão muito difícil. 

Não se pode esquecer que Luiz Marinho foi eleito a dois mandatos consecutivos em São Bernardo entre outras razões ou principalmente porque o PT administrava o governo federal com Lula da Silva nos dois últimos anos do segundo mandato que bombaram e Dilma Rousseff nos seis anos seguintes, dois dos quais, os últimos, explosivos.  

CÉU E PARAFUSO  

Luiz Marinho saiu de um céu de Brigadeiro de crescimento do PIB com Lula da Silva e entrou em parafuso com os anos terríveis de Dilma Rousseff.  

Ainda outro dia escrevi a propósito da gestão de Luiz Marinho em oito anos em São Bernardo, comparando o desempenho econômico com os antecessores e também com os quatro primeiros anos do sucessor Orlando Morando.  

Todos os prefeitos da região (e não só Luiz Marinho, mas principalmente Luiz Marinho) que enfrentaram a borrasca Dilmista e da Operação Lava Jato se deram muito mal.  

DILMA PERVERSA  

Luiz Marinho saiu de uma expectava consolidada, com base no primeiro mandato, de o maior tocador de obras dos últimos 40 anos em São Bernardo para um embaralhamento de frustrações. Tanto que tentou voltar à Prefeitura em 2020 e não passou de 25% dos votos. Morando ganhou no primeiro turno.  

O evidente confronto de realizações que se dará na disputa entre provavelmente Marcelo Lima e quem sabe Luiz Marinho em 2024 passa necessariamente pelo desempenho de Orlando Morando ante os anos de Luiz Marinho.   

A macroeconomia e os federais determinaram as diferenças que são expressivas. Os rescaldos dos anos Dilma e a Operação Lava Jato foram desgraceiras maiores que a pandemia seguida de guerra da Ucrânia.  

RETA DE CHEGADA  

Até aí, tudo bem. Acontece que a gestão de Orlando Morando, até porque menos oscilante no comportamento econômico, noves fora o primeiro ano da pandemia, mostrou-se mais estável relativamente a Luiz Marinho no conjunto da obra.  

A reta de chegada de Luiz Marinho foi frustrada por Dilma Rousseff, ao passo que a reta de chegada de Orlando Morando poderá se dar menos tempestuosamente, embora cenários combinem juros elevados, esgotamento fiscal e ambiente político irritadiço. Para dizer o mínimo. 

Não se pode esquecer do passado para projetar o possível futuro de Luiz Marinho tendo São Bernardo como âncora especulativa.  

O ex-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (que redefiniu o viés excessivamente beligerante de classe) se lançou à Prefeitura de São Bernardo quando o prefeito William Dib não poderia concorrer a novo mandato e, justamente Orlando Morando, foi o pretenso sucessor.  

AVALANCHE PETISTA  

Os tucanos não resistiram à avalanche do PT Federal em 2008. Entre outras iniciativas, os petistas puxaram para si os eleitores de Alex Manente, eterno pretenso candidato, enquanto Morando encontrava barreiras na coligação situacionista.  

Luiz Marinho ganhou a Prefeitura em 2008 e nadou de braçadas em 2012, quando Orlando Morando desistiu da disputa e Manente foi seu oponente. O PT completara 10 anos de poder federal e vivia grandes momentos. Marinho se elegeu no primeiro turno. Manente foi apenas um adversário cordato. Fez campanha a deputado federal.  

Antes de virar prefeito, Marinho foi ministro do governo Lula da Silva em duas pastas, a principal da Previdência Social. Ou seja: veio com a algibeira repleta de munição.   

OITO OU OITENTA? 

Fará de novo essa empreitada em 2024, desde que Lula da Silva seja o presidente. Sem Lula da Silva, mas com Fernando Haddad, também seria concorrente. Mas deverá permanecer como deputado federal se não tiver o respaldo do governador e do presidente da República.  

Portanto, Luiz Marinho provavelmente só se lançará candidato à sucessão de Orlando Morando se a medição de forças for algo como um elástico que se estica e se solta rumo à vitória. Em 2018 concorreu ao governo do Estado e obteve 16% dos votos válidos. Foi um treinamento para quem sabe, levar o dado a registrar as faces um, dois ou três.  

Os seis cenários que se apresentam podem ser traduzidos em outros termos como uma sincronia total e também parcial de fatores. 

SÓLIDOS E RELATIVOS  

Entram em campo pesos relativos móveis, pesos absolutos sólidos, pesos absolutos móveis, pesos mitigáveis, pesos essenciais e pesos descartáveis.  Vou explicar: 

1. Pesos relativos móveis são alguns vetores cuja importância à configuração da candidatura de Luiz Marinho à Prefeitura de São Bernardo se mostram favoráveis ou contrários. Todos os cenários desenhados seriam importantes e alimentam essa configuração. 

2. Pesos absolutos sólidos e, portanto, de fortíssima influência, são as vitórias de Lula e da Haddad em conjunto. 

3. Pesos absoltos móveis envolvem a vitória de Lula ou a vitória de Haddad, excludentemente. 

4. Pesos mitigáveis são tudo aquilo que não consta do sucesso eleitoral de Luiz Marinho e dos dois padrinhos. 

5. Pesos essenciais são exatamente os três vértices de vitorias petistas. 

6. Pesos descartáveis são os resultados dos tucanos locais, inclusive do desempenho de Orlando Morando.   

MAIS ARGUMENTOS 

Ainda não esgotei o filão de argumentos positivos, relativamente positivos, relativamente negativos e também negativos que envolveriam a disputa pela Prefeitura de São Bernardo tendo o petista Luiz Marinho como concorrente diante do indicado do grupo de Orlando Morando, provavelmente Marcelo Lima. Há outros pontos que precisam entrar em campo. E o serão no devido tempo. 



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