Política

Atenção para a anatomia de
“o resto a gente resolve depois”

DANIEL LIMA - 31/08/2022

Vou tratar mais uma vez hoje do voto no Grande ABC nesta temporada. Incorporo o mote da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André), única instituição da região que meteu a mão no balaio de gatos de interpretações de um tema controverso, como tudo na política.  Para uma entidade de classe expor-se no mundo eleitoral é preciso muito cuidado. A Acisa teve. Já o jornalismo são outros quinhentos.  

A campanha criada pelo publicitário Paulo Cesar Ferrari tem similaridades e diferenças em relação ao que escrevi dia 26 de agosto, mas as águas seguem rumo semelhante. Precisamos adensar nossa representação política na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal. O resto a gente resolve depois. 

Então vamos seguir a missão de destrinchar a manchetíssima de 26 de agosto, entre outras razões porque não faltaram leitores a me cobrar análise detalhada.  

CONFUNDINDO AS BOLAS  

Afinal, se tem alguém na praça regional que combate a ineficiência do setor público em termos de regionalidade esse alguém assina este texto.  

Não se pode confundir as bolas, entretanto. Uma coisa (apatia da classe política e da sociedade como um todo) é uma coisa e outra coisa (incentivar o engajamento dos eleitores num projeto regional) é outra coisa. 

Imaginei que já tivesse respondido a demanda por informação quando escrevi aquele texto e expus rapidamente o sentido de pregar o voto regional. Mas entendo perfeitamente que tenha subsistido um vácuo que poderia apontar incoerência .  

Portanto, vamos à anatomia de um crime editorial que não cometi. Muito pelo contrário. A manchetíssima de 26 de agosto diz exatamente o seguinte: 

 Votem no Grande ABC. O resto a gente resolve depois.  

Explicação um -- O  “Votem no Grande ABC” da manchetíssima que também pode ser tratada como mote de campanha eleitoral, o sentido foi mesmo de apontar a direção sobre a importância de colocar gente da região nas duas casas de leis.  

Explicação dois – “O resto” quer dizer que tudo é importante, mas que agora, nesse momento, perde circunstancialmente a prioridade. “Resto” ocupa de fato,  escondidinho, subjetivamente, o sentido mais nobre da proposta, por mais contraditório que possa parecer.  

Explicação três – “ a gente” quer dizer todos nós que temos relações familiares, profissionais e sociais no Grande ABC. Não é o autodirecionamento, porque não passo de um grão de areia nesse latifúndio de complexidades.” “A gente” é o coletivo de responsabilidade social obrigatória disfarçada de tratamento informal.  

Explicação quatro – “resolve depois” está conectado complementarmente e decisivamente ao pós-eleição e ao grupo de deputados estaduais e federais da região que vão emergir das urnas. Aí o jogo é outro e a expectativa mais uma vez será de produtividade e qualidade das ações dos nossos legisladores. 

O QUE INTERESSA  

Para valer mesmo, o que vai interessar depois de dois de outubro é que o grupamento de eleitos na região esteja de fato comprometido com questões reformistas deste território, algo que jamais ocorreu desde muito tempo.  

Não faltaram movimentos nesse sentido, algumas iniciativas que se apresentaram espetaculares (como o Câmara Regional do Grande ABC, no anos Celso Daniel) mas o saldo é bastante negativo. 

Estejam certos os leitores que as águas não vão rolar em direção a solucionáticas (em alusão ao atacante Dadá Maravilha) se não houver uma instância sequer que represente para valer as demandas da região. E até agora nenhuma instituição supostamente regional alcançou sucesso. Perderam-se em desvios personalistas, políticos e partidários.  

Como, aliás, a série que estou produzindo sobre os 14 anos do PT do Grande ABC em Brasília (e os anos FHC altamente destrutivos) mais que provam.  

MAIS UM CAPÍTULO 

O caráter editorial reducionista de “Votem no Grande ABC. O resto a gente resolver depois” foi proposital entre outras razões porque cada texto que edito aqui há mais de 30 anos, tendo a largada com a revista de papel LivreMercado, significa um capítulo a mais de crônicas persistentes sobre nuances cercam esse conglomerado econômico e demográfico muito especial no território brasileiro.  

Na sequência, reproduzo quase a totalidade do material preparado pela Agência Octopus, que trata da campanha “Me voto é do ABC”. Não há conceitualmente nada que quebre a sintonia entre o que temos defendido e o que a Acisa propõe e já executa. O tom crítico deste jornalista e o tom publicitário da campanha da Acisa levam ao mesmo objetivo.   

RAÍZES DO MOVIMENTO  

 Em 1998, o desejo de ver o Grande ABC devidamente representado nos legislativos estadual e federal levou o publicitário Paulo Cesar Ferrari, da Octopus Comunicação, a idealizar uma campanha de conscientização dirigida aos eleitores dos sete municípios da região. Encampada pelo jornal Diário do Grande ABC, entre outros veículos de mídia e entidades, a campanha resultou em um aumento significativo do número de cadeiras ocupadas por representantes do Grande ABC no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo. A Octopus voltaria ao tema em 2018, com a campanha Vote Pelo ABC, desta vez tendo como parceira a ACISA – Associação Comercial e Industrial de Santo André.  

MEU VOTO É DO ABC  

 Agora, nas Eleições 2022, Octopus e Acisa encabeçam novamente o movimento em prol da representatividade política da região, com o lançamento da campanha Meu voto é do ABC. A ação, que já vem conquistando o apoio de diversas entidades, figuras públicas e cidadãos, segue tão relevante e necessária quanto antes. O ABC conta com mais de 2 milhões de eleitores, e se a região fosse um município, seria a 4ª maior cidade em Produto Interno Bruto (PIB) do país, ficando atrás apenas das capitais: São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. No Estado, somente a capital paulista teria PIB mais elevado que o do conjunto dos sete municípios da região. 

No entanto, pela necessidade de maior conscientização política da população, o número de representantes na Assembleia Legislativa e na Câmara dos Deputados vem mostrando declínio acentuado.   

 O ABC, que chegou a ter 9 deputados estaduais em 2006, passou a ter 8 em 2010, e viu este número diminuir para 7 em 2014. Já com relação aos deputados federais, depois de conseguir eleger 4 representantes por duas eleições seguidas, a região viu este número cair pela metade em 2014. Nas últimas eleições de 2018, o ABC elegeu seis deputados estaduais e três federais.  

Reverter esse quadro é fundamental para que a região retome sua relevância política e receba mais verbas orçamentárias, que podem ser aplicadas na educação, na saúde, na segurança, na mobilidade urbana, na melhoria da infraestrutura, bem-estar e na qualidade de vida dos seus moradores.  

PARTIDOS E IDEOLOGIAS  

Paulo Cesar Ferrari, presidente da Octopus Comunicação e vice-presidente de Marketing da ACISA, salienta o fato da campanha Meu voto é do ABC ser totalmente apartidária. "Quando estamos juntos, somos grandes. Está na hora de reassumirmos nosso protagonismo. Estamos perdendo representantes a cada eleição e esta perda de político, entre outras coisas, já resultou em muitas perdas", justifica. "Esta campanha visa fortalecer o Grande ABC e não favorecer algum candidato ou legenda. A mobilização política é o caminho essencial para a retomada do crescimento das sete cidades, pois precisamos apoiar o voto em candidatos realmente comprometidos com o desenvolvimento da região. Estamos defendendo o Grande ABC para que tenha mais representatividade, mais influência, mais verba, mais investimentos e mais oportunidades. Para isso, o voto é a única arma para recuperar nosso espaço", reforça Pedro Cia Junior, presidente da ACISA.  

CONCEITO DA CAMPANHA  

 A campanha de comunicação criada pela Octopus reforça a ideia de que votar em candidatos do ABC é um movimento que está além de qualquer partidarismo ou ideologia, visando fortalecer a região e trazer recursos para impulsionar o desenvolvimento local. Para isso, as peças instigam o eleitor com motes como “O ABC não tem partido. Mas tem o meu voto” e "O ABC não tem horário político. Mas tem o meu voto”, tendo à frente a imagem de cidadãos do ABC, de diferentes perfis, usando orgulhosamente a camiseta e o bottom da campanha, e ao fundo uma mapa da região em cores chamativas. "Vote em candidatos do ABC” é o convite feito pela campanha, que tem como assinatura final o slogan MEU VOTO É DO ABC.   

 Essa frase resume o propósito desse esforço de comunicação: queremos que cada entidade, cada figura de relevo, cada eleitor do ABC se aproprie dessa ideia, que precisa ser disseminada e assimilada para que a nossa região retome sua merecida e necessária relevância nos cenários estadual e federal. 



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