Política

Rodrigo Garcia é o motorista
chutado na boleia eleitoral

DANIEL LIMA - 14/09/2022

Está claro que o governador Rodrigo Garcia sofre um bocado. Ele está sendo chutado na boleia do caminhão da disputa eleitoral. Os outros dois ocupantes da cabine não lhe dão folga. Não bastasse a munição pesada, ainda sofre com dois figurantes da carroceria, nanicos com bons recados.  

Todos contra Rodrigo Garcia parece ser o lema central da disputa pelo governo do Estado de São Paulo.  

O debate de ontem à noite na TV Cultura provou mais uma vez que Rodrigo Garcia é a Geni das eleições em São Paulo. 

Há um paradoxo nas eleições em São Paulo. Tem-se como expectativa que entre os candidatos potencialmente mais fortes,  Rodrigo Garcia ocuparia faixas extremas.  

FAIXA DE CIMA  

A faixa de cima daria conta de que, indo para o mata-mata do segundo turno, Rodrigo Garcia alcançaria a vitória contra Fernando Haddad. O antipetismo paulista e a máquina tucana fariam o serviço. Os bolsonaristas também não adeririam a Haddad. Fernando Haddad já está no segundo turno. Todos sabem disso.  

A dúvida é se Fernando Haddad estaria também congelado no segundo turno. Ou seja: seria uma presa relativamente fácil ao adversário. O terreno paulista é inóspito ao PT. Geraldo Alckmin não se juntou aos petistas de graça.   

FAIXA DE BAIXO  

A faixa de baixo dá conta de que Rodrigo Garcia teria a companhia passada e hoje desdenhada de João Doria como elemento-chave à derrota.  

Ou seja: ir para o segundo turno carregando o peso de antipatia de um parceiro de jornadas condenaria Rodrigo Garcia ao segundo lugar. Mesmo contra o PT. 

Como os principais oponentes não são bobos nem nada, tratam de liquidar o adversário já no primeiro turno. Até porque, esses mesmos adversários, Fernando Haddad e Tarcísio de Freitas, querem repetir o provável duelo federal entre Lula da Silva e Jair Bolsonaro. Seriam alimentados e retroalimentados pela disputa nacional.  

SOMANDO VOTOS  

O PT de Haddad mesmo supostamente derrotado reduziria a distância eleitoral em São Paulo. Que conta muito na soma geral nacional.   

Os votos adicionais de tucanos seriam disputados entre eles. É aí que entra o cacife de Geraldo Alckmin.  

O motorista do caminhão do Estado de São Paulo sabe que ocupa a direção circunstancialmente, por conta da legislação, eleito que foi para o cargo de expectativa de vice-governador.  

Rodrigo Garcia quer que o regime de transitoriedade imposto pelas urnas se amplie por mais quatro anos.  

Os outros dois ocupantes da cabine têm o foco no assento do condutor. A perspectiva imediata é retirar o motorista de cena na primeira curva de dificuldades mais visíveis, no caso as urnas de dois de outubro.  

MAIS QUE ESTOCADAS  

As estocadas, por conta disso, não param. O motorista está com as canelas doloridas. 

Ainda não chegaram os três ocupantes da cabine de comando à troca de sopapos, mas já há indicativos de que até que as urnas eletrônicas sejam acionadas, deverão se cutucarem mais e mais.  

Aliás, em algumas situações não são mais cutucadas. São chutes mesmo. Cutucões doloridos não são cutucões. Rodrigo tem reagido discretamente.  

Os chutes nas canelas deverão ser mais agressivos e se libertarem, portanto, da tolerância ética dos cutucões.  

Há quem sugira que está na hora de os ocupantes da boleia eleitoral incorporarem o espírito de guerra dos zagueiros sanguinolentos do passado, que cravavam solas de chuteiras sem dó nem piedade.   

TARCÍSIO FORTE  

O debate de ontem à noite mostrou que Tarcísio de Freitas estaria retirando com classe o esparadrapo depreciativo de forasteiro.  

Na medida em que responde a questionamentos provocativos, a insinuações clássicas da política, tem-se a impressão de que ao invés de band-aid, tem mesmo a proteção típica de boxeadores para punhos argumentativos de aço.  

O ex-ministro da Infraestrutura é uma máquina de informações e conceitos. 

Sabe de cor e salteado tudo ou quase tudo do que seria básico em forma de cromossomos reformistas do maior Estado do País.  

É muito provável que chegaria em primeiro lugar em qualquer competição do gênero. Um Show do Milhão sobre o Estado de São Paulo faria de Tarcísio de Freitas milionário.  

MAIS TARCÍSIO  

Mais ainda: Tarcísio de Freitas passa com louvor pelas provocações de concorrentes e também de jornalistas que o acossam, como devem ser acossados mesmo os políticos que buscam votos.  

A jornalista Vera Magalhães procurou repetir com Tarcísio de Freitas o que deu certo com Jair Bolsonaro e se lascou.  

Ao tratar da Lei Rouanet claramente em defesa de estrelados que mamavam nas tetas do Estado, Vera Magalhães ouviu da boca de Tarcísio de Freitas uma aula de descentralização de recursos em forma de investimentos numa diversidade de programas culturais que já existem, que podem ser aperfeiçoados e que poderiam ser criados.  

Ou seja: Tarcísio de Freitas mostrou ao presidente da República como sair de uma enrascada mais que esperada. E o fez em tantas outras situações durante o debate. É um candidato que não provoca ojeriza ostensiva dos eleitores adversários.  

Tarcísio de Freitas associa firmeza e flexibilidade sem sacrificar a coerência.  

PESO DE DORIA  

Rodrigo Garcia carrega o peso de um João Doria demonizado pelos eleitores à direita e à esquerda.  

Além, claro, da hegemonia administrativa contestável dos tucanos no Estado mais rico da federação.  

Conciliador, comedido, sereno, Rodrigo Garcia não empolga nas respostas. O mote escolhido para a campanha, de neutralidade entre direita e esquerda, espécie de terceira via sem parecer terceira via, parece descolado do ambiente eleitoral de extremos no campo nacional.  

Estadualizar uma eleição na qual os candidatos (os ocupantes da cabine do caminhão) têm aderência em âmbito nacional, não parece estar surtindo efeito.  

IMAGENS AGREGADAS  

Quem olha para Fernando Haddad enxerga um Lula mais elegante, mas é o Lula da Silva sempre.  

Quem olha para Tarcísio de Freitas enxerga um Jair Bolsonaro mais apetrechado e diplomático, mas é um Jair Bolsonaro sempre.  

E quem olha para Rodrigo Garcia vê João Doria em carne e osso, vacina e tudo o mais. Menos os exageros de marketing que, a bem da verdade, Garcia se excede em informalidade. Tanto excede que parece não ter marketing algum. Os óculos fora de moda e de lentes sombreadas o tornam espécie de Zorro.   

ÔNUS DO DESGASTE 

A contradição na campanha eleitoral de Rodrigo Garcia é que de incumbente, ou seja, de quem exerce o mandato em plena disputa, só resta mesmo o ônus do antecessor. Ou mais abrangentemente dos antecessores tucanos, entre os quais Geraldo Alckmin, candidato a vice na chapa de Lula da Silva.  

O petismo demonizado principalmente em pequenas e médias cidades do Estado, e que divide muitos eleitorados de grandes municípios, estaria provocando erosão de credibilidade na campanha de Garcia, que flutua entre o conservadorismo de centro e a social-democracia.  

Não se trata, como no passado, de um latifúndio sob controle. Longe disso. Apareceu um comandante do centro do centro e do centro de direita que inviabilizou os sonhos dos antigos ocupantes. 

DUPLO NEGATIVO?  

Resumo: o pretendido reforço petista em forma de Geraldo Alckmin pode ter efeito duplo negativo: não daria ao PT um adicional de votos que reduziria consistentemente a aversão paulista ao partido e paralelamente a isso teria desmascarado a aproximação histórica entre petistas e tucanos, desde o assassinato de Celso Daniel.  

Na disputa para ver quem vai ficar no controle do caminhão político de São Paulo, não haveria muita margem de manobra para o atual titular.  

Não há mais tempo a uma parada no acostamento. O calendário eleitoral não permite qualquer movimento fora das regras do jogo. Tampouco um cavalo de pau está na agenda. O Estado de São Paulo não é um caminhão qualquer.  

Os tempos de motocicleta, com tucano ao volante e petistas como acompanhante conformado, porque contavam com o controle do Palácio do Planalto, parecem tempos passados. 



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