Política

Há muito voto disponível
para o governo do Estado

DANIEL LIMA - 16/09/2022

A grande maioria do eleitorado do Estado de São Paulo que vai às urnas em dois de outubro ainda se multiplica principalmente entre votos vulneráveis e votos desperdiçados. Votos consolidados ou votos convictos são a minoria. 

Os votos convictos, impressos hoje na Folha de S. Paulo em forma de resultado geral, em nova rodada do Datafolha, são votos quantitativamente minoritários, mas não necessariamente desclassificatórios a definições futuras.  

Diferentemente disso. São votos encaminhadores de dúvidas, mas também de certezas, mesmo que certezas instáveis. O andar da carruagem é que vai decidir. A carruagem roda até dois de outubro, embora institutos de pesquisas façam tudo para mudar o roteiro de acordo com a vontade da clientela.  

DOIS CENÁRIOS  

Tudo isso quer dizer que muita água de definições vai rolar para valer sob a ponte da consagração final? Depende. Pode ser que sim, pode ser que não.  

O “pode ser que sim” significa que, principalmente, haveria uma disputa ainda mais acirrada pelo segundo lugar, para o mata-mata do segundo turno com o petista Fernando Haddad.  

O “pode ser que não” quer dizer que nessas duas semanas que restam de caça a votos, a definição do segundo colocado ganhe elasticidade em forma de distanciamento em relação ao terceiro. Como, aliás, se via até que o Datafolha aparecesse com números que estreitam o espaço entre Tarcísio de Freitas e Rodrigo Garcia. 

Pouca gente presta atenção aos votos vulneráveis e aos votos desperdiçados.  

MARGINALIDADE ÉTICA  

Nas disputas pelo governo do Estado, e ainda mais à vaga desta temporada ao Senado, essas variantes precisam de atenção total.  

Na corrida pela Presidência da República o peso atual de votos vulneráveis e de votos desperdiçados é menos acentuado, mas não pode ser desprezado.  

Há margem a mudanças que os institutos de pesquisas sempre reservam como álibi a supostas margens de acertos  que em muitos casos não passam de margem de manobra contando para tanto com o estratagema da margem de erro.  É a marginalidade ética a serviço de interesses específicos. 

Caminhem comigo que vou tentar explicar o que se passa no Estado de São Paulo em matéria de votos consolidados, votos vulneráveis e votos desperdiçados.   

MAIS ESPAÇO  

Diz o Datafolha que 44% dos entrevistados ouvidos no Estado de São Paulo não sabem em quem votar. Ou seja: diante da pergunta do entrevistador, esse contingente de eleitores se mostra desconhecedor da situação posta. São votos vulneráveis, portanto. 

Haddad, Tarcísio e Garcia, além dos demais candidatos, não passam pela cabeça de 44% dos eleitores paulistas. Ou se passam não passam de forma  consistente à definição do voto pelo critério espontâneo. São votos vulneráveis que, somados aos 8% de votos desperdiçados, em forma de votos nulos e em branco, somam 52%.  

Mas vamos adiante com o eleitorado que ainda não assumiu uma decisão de voto, ou só o fez, em parte, quando lhe é apresentada uma cartela com o nome de todos os concorrentes. Trata-se do voto estimulado. 

MAIS DA METADE  

Entretanto, mesmo com essa cartela indutiva, que retira o lacre do voto espontâneo e chega ao voto estimulado, 8% disseram que votarão em branco ou nulo. Temos, portanto, o voto desperdiçado. 

Para reforçar o entendimento: adicione, portanto,  esses 8% decididos a votar em branco ou a anular o voto, ou seja, os votos desperdiçados, aos 44% dos votos vulneráveis, que são exatamente à porção de eleitores que, diante da pergunta do Datafolha, repito, disseram espontaneamente não saber em quem votar para governador.  

Somou? Então temos o total de 52% de votos vulneráveis e desperdiçados.  

BURACO INSTÁVEL  

É claro que esse conglomerado de eleitores sem rumo sólido vai ser reduzido. Aliás, já é reduzido com a apresentação de cartão de todos os candidatos e cujos resultados se traduzem em votos estimulados.  

A diferença entre o contingente de votos espontâneos e votos estimulados não é integralmente uma constelação de votos vulneráveis e votos desperdiçados, mas é um gigantesca montanha a ser explorada.  

Querem uma prova? Segundo o Datafolha, 62% dos entrevistados que, após a operação de votos espontâneos e votos incentivados,  afirmam que já decidiram seu voto. Portanto, os demais 38% podem mudar. Esses 38% correspondem, portanto, à margem de vulnerabilidade dos votos expressos pelos entrevistados, sejam votos espontâneos, sejam votos incentivados.  

VOTOS DISPONÍVEIS  

O que isso significa? Significa que do total de votos indicados de forma espontânea e também de forma estimulada, 62% disseram que são votos sacramentados. Há, portanto um buraco de 38% de instabilidade do voto, o que corresponde a 61% dos votos consolidados.  

Quando se somam aos 38% de votos vulneráveis o total de 8% de votos desperdiçados (nulos e brancos) ou seja, de eleitores entrevistados que não se deixaram seduzir nem pelo voto espontâneo, nem pelo voto estimulado, tem-se, portanto, um caudal imenso de eleitores ainda sujeitos a arrancada final de convencimento das máquinas partidárias.  

A Folha de S. Paulo, que traduz com vieses conhecidos os números do Datafolha, não faz essa abordagem de forma enfática nem sutil entre outras razões porque poderia sugerir que pesquisas eleitorais têm importância até determinada situação obtida no campo de batalha das entrevistas.  

VOTOS VOLÁTEIS  

Escrever o que estou escrevendo significaria dizer que o Datafolha e tantos outros institutos estariam longe de darem a seus interpretes da Velha Imprensa a sustentação a determinados enunciados, principalmente em disputas estaduais.  

A Folha de S. Paulo que trata hoje da pesquisa no Estado de São Paulo diz que o candidato que tem eleitores mais consolidados é Tarcísio, com 70% convictos e 30% voláteis. Os índices são de 67% e 33% para Haddad e de 57% e 43% para Rodrigo. 

Aparentemente, quem está em situação menos confortável quando se tem em vista a chegada ao turno final é o tucano Rodrigo Garcia.  

Na disputa direta com Tarcísio de Freitas, Rodrigo estaria 13 pontos percentuais abaixo do índice do voto convicto, aquele que não se alteraria, e os mesmos 13 pontos percentuais no formato de voto vulneráveis,  aderente à desistência de eleitores.  

FESTA TUCANA  

A Folha de S. Paulo também não escreve sobre isso, mas deveria escrever sobre isso também porque os leitores não têm obrigação de conhecer meandros mesmo que subjetivos do tamanho do eleitorado potencial de cada um dos candidatos.  

Posto isso, diria que o comando da campanha de Rodrigo Garcia deve estar comemorando os resultados do Datafolha anunciados ontem à noite e que servem de base à reportagem de hoje da Folha de S. Paulo.  

Afinal, Rodrigo Garcia subiu de 15% para 19%, enquanto Tarcísio de Freitas variou de 21% para 22% e Haddad oscilou de 35% para 36%. Ou seja: apenas Rodrigo Garcia evoluiu fora da margem de erro de dois pontos percentuais. 

FESTA CONTIDA  

Possivelmente a comemoração dos tucanos e aliados seja contida entre os mais habilidosos nos tratos estatísticos porque o vazio de votos consolidados do candidato,  quando colocado em xeque diante do muro de vulnerabilidade,  apresenta alargamento superior ao de Tarcísio de Freitas.  

Isso quer dizer que uma ação duplamente vigorosa precisa ser levada adiante nas duas semanas que restam: tornar a máquina do incumbente mais azeitada e dinâmica de votos construtivistas e, paralelamente, alimentar a fornalha de voto destrutivo na direção de Tarcísio de Freitas.  

O recrudescimento da campanha que liga Tarcísio de Freitas a políticos que andaram nas fileiras da Operação Lava Jato faz ferver o caldeirão de idiocrasias que tenta reduzir a credibilidade do ex-ministro de Jair Bolsonaro, também de desgaste utilizado pelos tucanos.  

Já os amarelados de Tarcísio de Freitas têm a retórica pronta há muito tempo: o Estado de São Paulo não seria a maravilha divulgada pelos sucessivos governos tucanos e o espantalho de João Doria não pode deixar de ser exibido permanentemente. Sem contar a junção de petistas e tucanos avalizada pela migração de Geraldo Alckmin. 



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