Política

Grande ABC é petista e quase
tão bolsonarista como o Brasil

DANIEL LIMA - 03/10/2022

O resultado final do primeiro turno da disputa pela Presidência da República revelou um perfil do conjunto dos sete municípios do Grande ABC semelhante ao da média brasileira. São resultados preliminares. O segundo tempo vai ser uma loucura.  

O placar final na região mostrou números praticamente iguais para o candidato Lula da Silva e um pouco abaixo do registrado por Jair Bolsonaro. Já para governador, foram diferentes. Fomos menos avermelhados em relação à média nacional. O azulado Rodrigo Garcia, foi o canto do cisne do PSDB no comando do Estado mais importante do País.  

MOLDANDO TAMANHO  

O segundo turno moldará o tamanho do vermelho e do amarelo na região. A disputa presidencial é a locomotiva cromática.  

Somente com o segundo turno será possível construir o placar geral e confrontá-lo com o passado de antes, durante e depois do PT na Presidência da República.  

Tenho uma agenda recheada de incursões para tentar desvendar e explicar os resultados das eleições realizadas ontem. Inclusive a mais que esperada ascensão de novos deputados que supostamente defenderão os interesses do Grande ABC na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal.  

Sei que tem gente que detestará o “supostamente” da frase anterior. Eles devem entender que tenho todo o direito de usar uma vacina que se tem mostrado eficiente ao longo dos anos. Testada e aprovada. Lamentavelmente. 

1999 INSUPERÁVEL  

Passamos de oito para 11 deputados estaduais e federais – sete e quatro, respectivamente.  

 Não é o melhor resultado da história, mas é um avanço numérico.  

Em 1994, sob os efeitos do Fórum da Cidadania de valores inesquecíveis (e de bobagens igualmente inesquecíveis) elegemos 14 deputados. Uma situação sociopolítica e socioeconomicamente totalmente diferente de agora.  

O avanço numérico registrado no Grande ABC de Legislativo Estadual e Legislativo Federal é uma coisa que não tem nada a ver com representatividade, etiquetagem utilizada para distinguir arbitrariamente formalidade de efetividade.  

Há quem confunda representatividade com representação.  

No conjunto, jamais na história o Grande ABC teve representatividade na Assembleia Legislativa e na Câmara Federal.  

Teve representação. Mesmo com Celso Daniel durante quatro anos em Brasília.  

VENCER E FAZER 

Há quem, como Alex Manente, de novo eleito, e Vicentinho Paulo da Silva, derrubado, que estão há muito mais tempo e também pouco fazem quando se olha a regionalidade como cláusula avaliativa pétrea.  

Nenhum dos dois resistiria a uma sabatina para valer. Dessas às quais são submetidos treinadores de futebol ao final dos jogos.  

Pior que isso: quando Vicentinho e Manente tentaram engabelar o distinto público, foram patéticos. Triunfalismo a qualquer preço, eis o que patrocinaram.  

Os políticos do Grande ABC, uma classe que não distingo de qualquer outra, jamais poderão esquecer que aqui, neste endereço, há memória regional para valer. O que fazem ou não fazem parte da história contada com independência.  

SITUAÇÕES DESIGUAIS  

Agora que as eleições proporcionais já foram consumadas, darei conta do recado que deixei implícito e explícito com dois textos específicos.  

Lembram-se do “Vote no Grande ABC, o resto a gente resolve depois”? Pois é: o “depois” vai chegar nos próximos dias.  

Vou deixar a curadoria interpretativa dos votos de nossos deputados provavelmente para a edição de amanhã. 

Antecipo que, assim como nas eleições municipais, não se pode estabelecer com um mínimo de honestidade intelectual comparações que desconsiderem o contexto geoeconômico, geopolítico e o escambau.  

PREFEITOS VITORIOSOS  

Nem tudo que parece ouro é ouro de fato. Competitividades internas, ou seja, municipais, tendem a turvar a inteligência e assanham holofotes a oportunismos.  

Nem sempre mais é mais de fato. Nem sempre menos é menos para valer.  

Talvez o que parece menos contestável, porque é fruto de estratégia, é o sucesso dos três prefeitos da região. Eles bancaram parentes próximos.  

Carla Morando, Ana Carolina Serra e Thiago Auricchio estão garantidos na Assembleia Legislativa. Carolina é a novata. Estourou nas urnas de Santo André.  O governo de Paulinho Serra é bom de voto. Precisa ser bom de governo.  

VOTO E GOVERNO 

Se a frase “bom de voto, bom de governo” está na memória dos leitores, sinal de que acompanham os 32 anos desta publicação. A mensagem foi utilizada de forma complementar e explicativa em duas Reportagens de Capa da revista impressa LivreMercado, antecessora de CapitalSocial nas campanhas vitoriosas de Celso Daniel.   

Convém lembrar um ponto importante do sucesso do trio de parentes próximos dos prefeitos dos municípios mais tradicionais da região. 

Trata-se do seguinte: não faço parte da corrente que execra o que chamam de protecionismo eleitoral contando-se com a máquina pública como correia de transmissão de votos.  

Entendo que as regras da democracia não impedem esse e tantos outros elementos de persuasão do eleitorado.  

LEGALIDADE OPERACIONAL  

Se há legalidade e não me parece que existam insumos suficientes para deslocar a disputa do terreno político convencional, tentativas desclassificatórias parecem moralistas em demasia, quando não exalam ressentimentos.  

Quem deve (se deve) colocar impedimentos dentro das regras do jogo são os eleitores.  

Fui acionado por muitos leitores e candidatos a condenar peremptoriamente os três concorrentes ligados aos prefeitos de Santo André, São Bernardo e São Caetano. Nada fiz nem farei.  

TRABALHEM, TRABALHEM  

O jogo com todos eles e os demais é outro. Que trabalhem pela região, notadamente pela regionalidade. O que temos é uma tradição de decepções que se agigantam na exata medida em que o Grande ABC virou o que todos sabem que virou – um endereço problemático demais,  recheado de políticas varejistas que, além de não promoverem alterações,  mascaram a realidade.  

Mas vamos ao que interessa nesta primeira edição pós-eleições presidenciais.  

O Grande ABC ficou praticamente com a cara média do Brasil. Lula da Silva arrebanhou aqui 48,48% dos votos válidos, enquanto em nível nacional foram 48,43%.  

Já o presidente Jair Bolsonaro registrou números um pouco abaixo do que seria uma margem de erro: obteve na região 39,85% dos votos válidos, ente 43,20% em nível nacional. 

VOTOS PERDIDOS  

Foram registrados no Grande ABC durante o dia de ontem 1.625.265 votos válidos para a Presidência da República. Votos válidos desconsideram votos nulos e votos em branco. O colégio eleitoral do Grande ABC é de 2.151.530. Portanto, tivemos a soma de 24,46% de votos desperdiçados em forma de abstenções, votos nulos e votos em branco.   

O domínio de Lula da Silva nas urnas do Grande ABC era esperado. O PT recupera-se parcialmente de um passado de catástrofe esclarecedora revelado pela Operação Lava Jato. Isso não significa que vá repetir o domínio em 30 de outubro.  

O destino dos votos dos candidatos que não passaram ao segundo turno ainda precisará ser atentamente acompanhado. Principalmente os votos de Simone Tebet e Ciro Gomes.  

REGIONAL E NACIONAL  

As semanas que separam anova disputa serão decisivas. Os 10 pontos percentuais de diferença a favor de Lula da Silva na região são uma montanha de difícil acesso a Jair Bolsonaro.  

Será uma jornada bem mais complicada que a montanha nacional, onde a diferença foi a metade e as condições de jogo se alteraram significativamente. Bolsonaro obteve muitas vitórias para o Senado e a Câmara de Deputados, além de governos estaduais.  

O Grande ABC não tem tanta flexibilidade de alternativas de marketing para uma reviravolta. Ainda é muito cedo para conjecturas regionais. Vamos ficar atentos às manobras. 

HADDAD E TARCÍSIO 

É pouco provável que se desnude o que vai sair das urnas. Não há pesquisas eleitorais específicas na região. E talvez seja melhor assim. Todo mundo viu o que houve com os principais institutos, completamente desmoralizados. Vamos tratar disso em texto específico nesta semana.  

Essa turma que industrializa dados precisava mesmo ser desmascarada. São, em larga escala, abutres numéricos. Cenaristas profissionais.   

Também estamos de olho nas nuances da disputa pelo governo do Estado. O petista Fernando Haddad obteve nas sete cidades da região o que lhe faltou em nível estadual. Registrou Haddad 43,34% dos votos válidos no Grande ABC, ante 34,39% de Tarcísio de Freitas. No Estado, houve placar inverso: Tarcísio somou 42,34% dos votos válidos ante 35,70% de Fernando Haddad.  

INTERIOR E METRÓPOLE 

Tenho a impressão que Tarcísio de Freitas vai ajudar e muito a votação de Jair Bolsonaro no Grande ABC no segundo turno. Sem contar que os conservadores do PSDB de Rodrigo Garcia não seguiriam a cartilha progressista do PT.  

Os paulistas do Interior menos metropolitana decidem as eleições. Haddad entrou na corrida estadual para amenizar os estragos que os paulistas sempre causam a Lula da Silva.  

Geraldo Alckmin foi rebocado com esse objetivo também, mas acrescenta quase nada. Confundiram capital eleitoral de Alckmin com máquina partidária tucana. São coisas distintas. Alckmin sempre foi muito menos que os tucanos.  

Como também era esperado, São Caetano é o único endereço regional que deu vitória dupla aos amarelados. Jair Bolsonaro e Tarcísio de Freitas conquistaram a maioria dos votos.  

Vamos expor os placares em cada Município. 

Em São Caetano, Jair Bolsonaro teve 50,33% dos votos válidos (57.617) ante 44,34% de Lula da Silva (38.172).  

Em Santo André, Jair Bolsonaro teve 43,42% dos votos válidos (188.805), ante 42,66% de Lula da Silva (185.501).  

Em São Bernardo, Lula da Silva teve 49,17% dos votos válidos (240.348) ante 38,02% de Jair Bolsonaro (185.834). 

Em Diadema, Lula da Silva teve 56,34% dos votos válidos (144.525) ante 32,95% de Jair  Bolsonaro (84.519). 

Em Mauá, Lula da Silva teve 49,27% dos votos válidos (116.755) ante 38,91% de Bolsonaro (92.196). 

Em Ribeirão Pires, Lula da Silva teve 43,58% dos votos válidos (29.374) ante 42,97% de Bolsonaro (28.959). 

Em Rio Grande da Serra, Lula da Silva teve 52,38% dos votos válidos (13.757), ante 36,89% de Bolsonaro (9.689). 



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